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CAPÍTULO 2 APROXIMAÇÕES TEÓRICAS:

2.2. POLÍTICA DE ATENDIMENTO:

2.2.3. Os programas de abordagem

Dentro do mesmo programa que realiza abordagem de rua, mas não necessariamente apenas esse serviço, educadores sociais podem exercer outras atribuições, ao mesmo tempo, ou exclusivamente por um tempo, pois há rotatividade deles entre essas funções. Pode-se dividir o trabalho deles, encontrando diferenças ou semelhanças entre os programas, a partir de outros critérios, como o tipo de clientela (atender a moradores de rua ou àqueles em situação de vivência de rua, ou a ambos). Porém, verificou-se outra distinção de tarefas presente entre os educadores de ambos os programas, que os distribuía entre as seguintes demandas:

• atendimento de rua;

• atendimento nas comunidades ou/e de visita domiciliar;

• atendimento em espaço institucional;

• atendimento a denúncias.

assumidas por educadores em ambos os programas em foco, contudo, de diferentes maneiras. O mesmo já não acontece mais. O Ponte de Encontro, por exemplo, não é mais o órgão que também responde pelo atendimento às denúncias de violações de direitos contra crianças e adolescentes que chegam à Prefeitura

Para melhor efeito de comparação decidi começar a apresentação dos programas pelo projeto Ponte de Encontro, por este requerer mais a referência de elementos já trazidos na exposição até este momento, enquanto que o programa estadual, também traria esse efeito se apresentado logo, porém em nível menor. Além disso, este sendo exposto por último favorecerá o trabalho de apresentação, pois sua descrição necessariamente remeterá mais ao conhecimento prévio do programa da Prefeitura do que o inverso, o que poderá ser percebido claramente ao final desta seção.

Projeto Ponte de Encontro

O Projeto Ponte de Encontro é um programa desenvolvido pela Fundação da Criança e da Família Cidadã (FUNCI), esta fundada em 1986, órgão vinculado à Prefeitura Municipal de Fortaleza. Atende a crianças e adolescentes em situação de moradia e de permanência na rua, o que o difere do PCFRDE, que se destina a crianças e adolescentes trabalhadores, perambulantes, pedintes, mas frequentadores e não moradores de rua. O programa nasce do antigo projeto Da Rua Para Cidadania que também era programa de abordagem de rua.

Em entrevista, em 2006, um dirigente da Fundação falou sobre essa reformulação do trabalho de rua.

A gente tem tentado desde o ano passado implementar um programa que a gente chama Pontos de

encontro, que é exatamente esse espaço de passagem, de criação, proximidade com a família e com

esses adolescentes. Não havia na antiga gestão (administração Juraci Magalhães, 2000-2004) – e aí é de quem via a FUNCI de fora e de quem está na FUNCI hoje – uma prioridade em nenhum trabalho para o desenvolvimento do atendimento a criança moradora de rua (Dirigente da FUNCI).

Com essa visão crítica sobre como a administração municipal tratava a pauta em questão a nova gestão reformula seu programa de rua. Mudanças têm marcado esse programa desde então e o programa teve seu contingente ampliado e possui atualmente espaço próprio.

O responsável pelo Espaço Ponte de Encontro é chamado de coordenador de programa, que possui assessores para o trabalho organizativo. Os serviços de Casa de Passagem e Abordagem tem no seu comando um supervisor cada. Estes dispõem de uma equipe técnica própria composta por um psicólogo, 1 assistente social e 1 pedagogo e contam com um mesmo auxiliar administrativo.

visitei o Espaço, no mês de março de 2011, estavam lá alojados 6 assistidos, dentre eles uma adolescente mãe e dois bebês.

Desde sua proposta pedagógica o projeto já se coloca como parte da rede do sistema de garantia e reitera sua valorização e busca por atuar de forma integrada com os demais órgãos e instituições governamentais e não-governamentais para fortalecer as políticas públicas específicas do público-alvo.

Organograma Funcional do Ponte de Encontro

Fonte: Ponte de Encontro. Elaboração: do próprio autor

Define em linhas gerais o trabalho dos seus educadores sociais de rua que

realizam um contato inicial no ambiente onde se encontra o público alvo e onde são analisados a vivência, a sobrevivência e as motivações que levam essas crianças e adolescentes à situação de contato com os aspectos negativos da rua, à moradia ou a outros vínculos de permanência (trabalho, mendicância, perambulância, exploração sexual) (Proposta Pedagógica do Projeto Ponte de Encontro, p.1, 2007).

Portanto, se diferenciam também do Programa estadual por designar seus profissionais por educadores sociais de rua e por realizar um trabalho processual, paulatino, gradativo com a criança no ambiente em que esta se encontra e não busca, em lugar disso, retirá-la de lá e ficar no local para garantir que essa não apareça. Pois parece que para o PE só há sentido do educador deste programa estar na rua se justamente houver uma criança lá, que permaneça lá.

A ação de seus educadores se dá através de: articulação coletiva (arte, esporte, mobilizações político-comunitárias) que definem como meios de aglutinação e constituem momentos propícios ao encontro, à escuta qualitativa, à troca de saberes e experiências e à contextualização do universo em que estão inseridos as crianças e adolescentes atendidos, ao ressaltarem o seu fundamento norteador principal: a arte do encontro e do encanto. Pelos elementos apresentados,

Educadores Educadores Equipe Técnica Equipe Técnica ESPAÇO PONTE DE ENCONTRO Casa de Passagem Abordagem de Rua

mobilização político-comunitária, encontro, escuta, troca de saberes e contextualização este programa possui claramente embasamento no pensamento de Paulo Freire, o que não é algo surpreendente, haja vista este ser o principal autor de referência e uma unanimidade para os educadores sociais.

Em sua proposta pedagógica faz uma justificativa politizada contextualizando a problemática da criança e do adolescente. Nela aponta o processo de globalização como fator de exclusão social, cita a forte concentração de renda no Brasil e em Fortaleza, para chegar à situação de crianças e adolescentes. O texto não tem tom técnico, mas de texto militante, típico de movimentos sociais.

Faz-se necessário um olhar atento e profundo para nossos jovens, que chegaram ao limite de suas forças e não conseguiram submeter-se à violência em casa, na escola e na comunidade, saindo às ruas como forma de denuncia e sobrevivência. Tendo em uma sociedade crianças e adolescentes morando e vivendo das ruas, fica claro que na ordem e no progresso vivenciados há algo errado (Proposta Pedagógica do Projeto Ponte de Encontro, 2007, p. 2).

Como se pode ler, denuncia a violência contra acriança e o adolescente, toma a ida a rua como uma forma de resistência, dá explicações ao fenômeno, não se centrando na família e valorizando o assistido.

No mesmo documento empreende-se uma análise sócio-histórica, inclusive sobre as políticas de atendimento, como é comum nos documentos desse campo, particularmente os de âmbito nacional que têm sido produzidos nos últimos anos.

Entendemos também que o problema tem raízes históricas iniciando na época do descobrimento- invasão com desrespeito a cultura dos primeiros habitantes do nosso continente, os povos indígenas. Passando pela escravidão, os códigos de menores e chegando até os tempos de hoje onde temos uma lei que avançou muito, reconhecendo os direitos humanos, mas uma sociedade com práticas enraizadas na história e cultura remotas, dificultando assim a efetivação dos direitos adquiridos através do Estatuto da Criança e do Adolescente (Id., ibid., p. 2).

No texto ainda aparecem uma flexibilização do programa frente a dar respostas (não podemos ser prepotentes em apontar soluções, porém não vamos ser omissos...), um enfoque também subjetivo quanto ao seu público alvo (usando do bom senso que nos diz que devemos cuidar de nossos jovens urgentemente, não só porque são o futuro, mas porque são gente no presente e precisam ser felizes agora) e noções da tradição cristã (nossa proposta é baseada na lei, mas fundamentada na solidariedade e no amor ao próximo, como valores a serem cultivados ), indício da presença de membros oriundos da militância na Igreja Católica.

Tabela 7 – Projeto Ponte de Encontro pelos dados oficiais Objetivo

GERAL:

Promover a participação e o protagonismo das crianças, adolescentes e jovens atendidos pelo projeto Ponte de Encontro, na elaboração, execução e avaliação do processo educativo visando à garantia de seus direitos fundamentais.

ESPECIFICOS:

a) Estimular a construção de projetos de vida do público sujeito, baseado no processo criativo e reflexivo de valores positivos;

b) Favorecer o fortalecimento e a interação dos vínculos familiares e comunitários saudáveis para a promoção da vida; c) Legitimar a promoção e a defesa dos direitos do público sujeito através das ações executadas pelo projeto; d) Minimizar o contato de crianças e adolescentes com o ambiente desfavorável da moradia e permanência da rua, desenvolvendo atividades de arte educação, esportivas, acompanhamento familiar e encaminhamentos;

e) Fazer o ECA ser conhecido pelo público atendido direta e indiretamente (crianças, adolescentes, família, escola, comunidades)

Público Alvo

Constitui-se de crianças, adolescentes e jovens de ambos os sexos que se encontram no município de Fortaleza, que tiveram seus direitos fundamentais negados ou negligenciados, sendo vítimas dos mais diversos tipos de violências, como: vínculos familiares fragilizados ou rompidos, exploração sexual, violência doméstica, trabalho infantil, situação de moradia nas ruas, mendicância, perambulância, contato com a dinâmica do uso e tráfico de drogas.

Nesse contexto entendemos também como público alvo às famílias e comunidades de onde são oriundas essas crianças, adolescentes e jovens.

Matriz Institucional PMF

Situação Atual Em execução

Curioso que este programa faz uma flexão comparado ao do Governo do Estado, ao usar a expressão “minimizar o contato com o ambiente desfavorável da rua” que é bem distinto de retirar da rua. Um dirigente da FUNCI tratou dessa questão em entrevista, esclarecendo que

coisa que a gente tem sempre colocado é que são abordagens diferentes, né? A nossa política não é tirar a criança e o adolescente da rua, né? Não é como a política do “Fora da Rua”, do Programa Fora... [...]Porque é assim: a rua também é um direito da criança... [...] A ideia é: nós num vamos facilitar a vida da criança, adolescente na rua pra que ele permaneça mais, mas oportunizar espaços... Então, assim, a rua é um espaço e a criança e o adolescente, eles também têm o direito de estar lá (Dirigente da FUNCI).

De sua proposta pedagógica, observei uma preocupação com a realização de pesquisa, de se alimentar do levantamento amplo de dados empíricos, uma concepção reflexiva, científica sobre o atendimento que devem prestar (privilegiar a prática como norteadora da reflexão; a partir da realidade, da experiência na rua, do conhecimento das causas através de visitas às famílias e comunidades, como também de estudos das conjunturas econômica, social, política e cultural as quais estão inseridos nosso público). Também cita como finalidade sua realizar uma práxis transformadora, o que se entende quando no parágrafo seguinte afirma se apoiar na teoria da Educação Popular.

A proposta define as seguintes atividades como as linhas de ação do projeto:

Arte Educação – ações educativas que tenham como estratégia a interação positiva com as diversas manifestações artísticas, possibilitando o contato dos jovens com o universo simbólico e humanizador da arte. Essas ações incentivam o protagonismo juvenil dentro de uma perspectiva da valorização do processo criativo, pessoal e coletivo, da aceitação da heterogeneidade cultural do povo e da viabilização do desenvolvimento de capacidades artísticas. Visam ampliar o coletivo das possibilidades de atuação de crianças e adolescentes, fazendo com que estes sejam sujeitos gestores de suas histórias.

Esporte e Lazer – de acordo com o artigo 16 do Estatuto da Criança e do Adolescente, o direito de brincar, divertir-se e praticar esportes são entendimentos relacionados ao sentido de liberdade. Possuem como estratégia de aproximação e mobilização das crianças e adolescentes a realização de atividades lúdicas e esportivas que proporcionam a organização e participação coletiva, a redução de danos, o desenvolvimento físico e psicológico e o fortalecimento de vínculos afetivos. Esses valores são vivenciados em momentos prazerosos, mas que têm em suas dinâmicas regras específicas que incentivam à disciplina, cooperação e ao compartilhamento de responsabilidades.

Articulação Comunitária – a articulação comunitária nasce da compreensão de se trabalhar as problemáticas vivenciadas pelas crianças e adolescentes dentro de uma perspectiva holística e que considere as organizações sociais (grupos de meninos (as), famílias, comunidades) como constituintes das causas e soluções dos problemas sócio-gênicos. Nesse contexto se inicia o trabalho direto nas comunidades, que consiste em oficinas sociopedagógicas e de arte educação, priorizando atividades já experimentadas no bairro

através de levantamento realizados em conjunto com as próprias crianças, adolescentes, suas famílias e a vizinhança, dando visibilidade às experiências de organização popular e à cultura tradicional que existe na periferia de Fortaleza. Essas atividades mobilizam níveis diferentes de organização familiar e político-comunitária e ocupam os espaços e equipamentos públicos. Temos como objetivo fortalecer os vínculos entre crianças, adolescentes e suas famílias, conscientizando a comunidade acerca das suas responsabilidades com os seus membros e favorecendo o reencontro de meninos e meninas moradores ou frequentadores de rua com as suas raízes.

Estratégia Político-Pedagógica – é a estratégia que perpassa por todas as linhas de ação acrescentando-se a uma articulação junto ao poder público, as comunidades, aos equipamentos sociais da prefeitura, as organizações não governamentais e aos movimentos sociais criando uma tessitura que viabilize a formação de uma ampla rede que facilite e possibilite o alcance do objetivo do projeto.

Pode-se destacar dessa proposta algumas noções e valores que convém serem assinalados para melhor se entender as concepções subjacentes do modelamento técnico e moral que esse programa institui sobre o profissional que nele ingressa para nesse processo tecer seu tipo esperado de educador, em conformidade com o que a instituição preconiza. Tais valores e noções identificados foram: protagonismo juvenil, autonomia do educando, primado do coletivo sobre o individual, disciplina (mento), flexibilidade, dialogicidade, integração e articulação em rede e aposta na imersão em grupos sociais como ingrediente de fortalecimento dos indivíduos.

Algo bem interessante é que no mesmo documento analisado até aqui o PE define sua visão de educador social, ou melhor, o tipo de educador que este programa estabelece como ideal, e como seu perfil de educador, o que é definido como -ser se trata aqui de um -dever ser.

Na parte “papel do educador” o “Ponte” define esse profissional e quais são as suas posturas básicas fundamentais para o trabalho de um educador social. Na ausência de legislação regulatória e de conselho e código de ética e de prática profissional, as entidades de atendimento, autores que produzem sobre o assunto, os educadores e suas formas de organização têm que fazer esse trabalho, ou de outra forma, que disputar por essa e nessa produção de verdades.

O programa define da seguinte maneira o profissional:

A figura do (a) Educador (a) Social nasce em razão da necessidade de se estar junto com as crianças e adolescentes que tiveram os seus direitos violados, propondo-se à retomada da sua força organizacional enquanto sujeitos de suas histórias, respeitando e enfocando suas potencialidades na construção da sua autonomia (Id., ibid., p.4).

Universal dos Direitos Humanos, a Convenção Internacional dos Direitos da Criança, a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente, no que estes se referem à prática educativa:

• Compreender as crianças e adolescentes como pessoas sujeitos de direitos, reconhecendo seu potencial de transformação;

• Despojar-se de todo tipo de preconceitos, sendo flexível, capaz de reavaliar suas concepções e limitações e, com as crianças e adolescentes descobrir na convivência do conflito, novas perspectiva de vida;

• Abrir-se a novos valores, o que exige um repensar constante;

• Respeitar até as ultimas consequências o direito à vida em todas as dimensões;

• Trabalhar com o grupo e em grupo visando sempre uma organização mais ampla;

• Procurar sempre atualizar seus conhecimentos, pois também vive em processo educativo;

• Ter uma postura critica diante do desejo da sociedade que visa domesticar as crianças e adolescentes (por isso não estariam sujeitos a uma cobrança qualquer da “sociedade” se esta não fosse o considerado melhor para a criança e o adolescente);

• Ficar atento às ações e omissões, que negligenciem os direitos das crianças e adolescentes, assumindo alguma forma de denuncia.

O projeto, em sua proposta, esclarece que fez opção por metodologias que primem pela discussão, o debate e o questionamento como meios de conduzir a criança e o adolescente ao que chamam processo de conhecer-refletir-agir sobre sua realidade, visando transformá-la. Esse processo segue dois eixos que são a abordagem de rua e as atividades comunitárias. Aqui interessa- me a primeira que segue os seguintes passos: observação, formação de vínculos, processo educativo participativo e encaminhamentos. Passarei a ver como cada um é definido.

A observação se refere aos primeiros contatos quando são observadas as dinâmicas desses meninos e meninas e do espaço onde se encontram, a fim de se apropriar do dia-dia desses sujeitos quanto às relações afetivas, as estratégias de sobrevivência, os papeis sociais ocupados e os demais aspectos que são próprios da situação peculiar em que se encontram.

Formação de Vínculos surge a partir de uma presença efetiva (lembra alguma coisa?), afetiva e ativa, em que os educadores vão, através do diálogo, exercitar a escuta e a troca de experiências, visando à construção de uma confiança recíproca para o fortalecimento dos vínculos entre educador e educando. Essa, como outras fases desse processo que se seguem abaixo, é concomitante com outras etapas dessa metodologia.

Processo Educativo Participativo é como chamam o momento em que são planejadas ações respeitando as propostas, a vontade e participação do público alvo no processo de concepção

e realização das mesmas. A partir daí são elaboradas uma série de atividades e encaminhamentos que transformem o espaço da rua em um ambiente de reflexão numa perspectiva libertadora, tendo como encaminhamento primordial o fortalecimento dos elos familiares e comunitários sadios e a construção da autonomia e da consciência cidadã como protagonistas de suas próprias histórias individuais e sociais.

Os encaminhamentos devem ser efetuados em conformidade com a especificidade de cada caso, depois de um diagnóstico, no qual constem os direitos das crianças e adolescentes que foram violados, observando os processos psicológicos e emocionais em que os mesmos estejam tal como a itinerário elaborado por educador e educando atinentes à Abordagem de Rua.

Para a realização dos encaminhamentos os educadores devem contar com os órgãos que compõem a rede do Sistema de Garantia de Direitos a que chamam de retaguarda.

Os educadores têm certa autonomia e liberdade para definirem as temáticas a serem trabalhadas nas áreas de abordagem. Cada educador pode atuar em, no máximo, duas áreas de abordagem objetivando uma maior qualidade ao trabalho visado. Para auxiliar-lhes na efetivação dessa proposta afirmam se apoiar nos seguintes instrumentos: diário de campo, aliado típico e imprescindível dos educadores sociais de rua, em que registram dados acerca da família, moradia, dinâmica cotidiana, contextualização socioambiental e observações complementares acerca de seus atendidos; reuniões, que servem para planejamento, avaliação, troca de informes, observações e experiências, elaboração das agendas e cronogramas de atividades, realização de diálogo sistemático e contínuo entre toda a equipe do programa; formação e grupos de estudo; guia do educador, que contêm as orientações sobre o trabalho, indicações de retaguardas de atendimentos (conselhos tutelares e de Direitos, abrigos com perfis, unidades de saúde etc.) e relatórios que devem ser preenchidos com as informações qualitativas e quantitativas referentes aos atendimentos prestados as crianças e adolescentes e suas respectivas famílias, para que esses dados possam ser utilizados na avaliação e elaboração das políticas públicas.

Em suma, o Ponte de Encontro parece buscar atender tanto às concepções presentes nos paradigmas vigentes dos serviços socioassistenciais e não simplesmente reproduzir seus jargões, quanto se apropriar do legado da educação social de rua, distanciando-se de uma elaboração tecnicista, mais burocratizada e rígida. É como se fosse um ente de militância profissional- institucionalizada. Cabe indagar que efeitos para o educador social poderá ter o fato deste pertencer a um programa que assume para si o seu discurso, ou que, supõe-se, deve ser o seu, que dispõe a formá-lo dentro da perspectiva ideológica criada por seus predecessores como educador? Isso elimina as relações de poder que, via de regra, marcam as relações empregador e empregado na construção do trabalho a que se propõem, ou somente lhes dá nova roupagem? Abordarei estas