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Das interações segundo professores e tutores

SEÇÃO 5 – DAS ANÁLISES E EMERGÊNCIA DAS FALAS DOS PARTICIPANTES

5.3 Categoria 3 – Interação e interatividade

5.3.2 Das interações segundo professores e tutores

Para traçar uma relação com o que fora expresso pelos alunos nos diálogos discutidos no decorrer deste estudo, é relevante aproximar às visões de professores e tutores no tocante as interações envolvidas entre os sujeitos.

Perguntamos aos tutores: Você discute com o professor da disciplina estratégias para melhorar a interatividade com os alunos? Como se dá a interação com seus alunos por meio das interfaces? Quais as dificuldades que mais comprometem o processo ensino- aprendizagem?

O tutor TQ2 disse discutir sempre nos encontros com o professor durante o semestre letivo, já o tutor TQ1, enfatiza a participação do aluno no seu processo de aprendizagem ao dizer que:

Normalmente a interatividade com o aluno é feita através do tutor. Ele é o articulador no processo de aprendizagem. Assim, pode ter autonomia das ferramentas de uso além do AVA. Como por exemplo, utilizo o aplicativo

WhatsApp para ter maior velocidade em termos de espaço-tempo. Porém,

isto é apenas possível porque as turmas são pequenas. Desta forma, através desta ferramenta instigo a resolução de exercício de cálculo e digo os erros possíveis (TQ1).

Sobre como se dá a interação por meio das interfaces e as possíveis dificuldades que a comprometem e podem interferir no processo de ensino-aprendizagem, os tutores atribuem esta fragilidade a interface AVA e acesso dos alunos. Para o TQ2 os alunos acessam pouco as ferramentas disponíveis no ambiente e isso acarreta na pouca interação com o tutor e consequentemente na aprendizagem dos conteúdos.

No caso do chat, por exemplo, interface incorporada ao AVA e presente em todas as disciplinas, o TQ2 questiona por meio do fórum (Figura 20), a ausência dos alunos em um momento previamente agendado para esclarecimento de dúvidas para avaliação presencial.

Figura 20: Mensagem do tutor sobre participação no Chat

Fonte: Capturado do AVA/CESAD/UFS (2018)

Para o TQ1:

o AVA precisa ser atualizado em sua interface. É inconcebível não haver atualizações desde o seu início. Há muita tecnologia que pode ser incorporada. Pouquíssimos alunos usam a interface e não se comunicam através dela, pelo menos comigo. Apenas postam as AD.

Diante das falas, percebemos que, assim como os alunos, os tutores também veem problemas quanto a utilização do AVA. Estes problemas podem ser ocasionados tanto pelo

design da interface, mas também por características individuais dos alunos perante a

tecnologia e a relação com seus tutores.

Destacamos dois tipos de interação que ocorrem na EaD e que podem contribuir para compreender os motivos explicitados: a interação aluno-interface e a interação vicária.

A interação aluno-interface (MARTINS, 2017) considera as interações que ocorrem entre aluno e tecnologia, já que o aluno precisa utilizá-la para interagir com o conteúdo, o professor e os outros alunos. Por outro lado, a pouca interação por meio das interfaces, que aparentemente sugere uma passividade do aluno, pode envolver características individuais e

psicológicas dos alunos, ocorrendo o que Sutton (2001 apud MATTAR, 2012) chama de interação vicária, pois, muitas vezes o aluno prefere observar as discussões e os debates ao invés de participar ativamente.

Os diferentes aspectos das interfaces discutidos anteriormente e ressaltados pelos tutores, influenciam na aprendizagem e nas interações. Para melhorar a interação no curso de Química, o tutor TQ2 disse que busca “sempre contato através do AVA, de forma a permitir uma interatividade contínua”. Para o tutor TQ1, é importante “ter um encontro presencial com todos os envolvidos do CESAD/UFS para apresentar os tutores e os alunos se conhecerem entre si. A interatividade maior será depois deste início, pois as relações pessoais nunca serão substituídas”.

A fala deste tutor abre espaço para refletir sobre as interações aluno-aluno e aluno- professor, que podemos compreender também como aluno-professor/tutor. Para reforçar esta reflexão, convém expor as opiniões dos professores quanto a pergunta: Você participa e/ou acompanha a interação dos alunos e tutores da sua disciplina no AVA? Como você avalia essa interação?

Os três professores afirmam que acompanham e participam da interação entre alunos e tutores. De fato, isso foi verificado nas falas dos alunos que se reportaram algumas vezes a participação dos professores nas atividades propostas e utilização das interfaces. Sobre isso, destacamos as falas dos professores PQ1 e PQ3:

Após popularização dos smartphones, o meio mais utilizado tem sido grupo de WhatsApp do(a) tutor(a) com os alunos matriculados na disciplina. Como coordenador da disciplina, acompanho indagando o tutor(a) se os alunos estão participando, discutindo e resolvendo as atividades propostas, sempre planejadas no AVA. Percebo que tem funcionado bem (PQ1).

As disciplinas que normalmente leciono são da área da licenciatura/ensino e julgo essencial o contato entre todos – Tutor, Coordenador de disciplina e Alunos. Tem os momentos únicos entre os alunos e tutor, mas também há os que envolvem a todos como nas mensagens no AVA, chats, fóruns, outros. Todos esses momentos são de suma importância no processo de ensino e aprendizagem. São períodos norteadores para os discentes, os quais possibilitam o auxílio na realização de alguma atividade, leitura (PQ3). A participação do PQ3 na interação com os alunos e tutores, pode ser vista nos diálogos representados na Figura 21. Nesta, O professor da disciplina participa de um chat para esclarecimento de dúvidas.

Figura 21: Chat com participação do professor

Fonte: Capturado do AVA/CESAD/UFS (2018)

Pelo exposto, tutores e professores creem na importância de garantir uma boa relação entre os sujeitos, seja por meio das interfaces ou ainda em encontros presenciais que eventualmente ocorrem durante os semestres. A depender da disciplina, os encontros podem ser mais frequentes, a exemplo das disciplinas com prática de laboratório principalmente, como também atividades de estágio supervisionado. Nas reuniões entre professores e tutores discute-se entre outros aspectos, a participação do aluno no curso.

Os encontros presenciais podem incentivar a relação aluno-aluno e aluno- professor/tutor, como sugerido pelo TQ1, pois, a partir disso a interatividade por meio das interfaces será maior, já que as relações pessoais estariam intensificadas. Concordamos com o tutor que o contato presencial inicial poderá favorecer as interações virtuais, pois servirá de motivação para o aluno estabelecer relações mais efetivas entre seus pares e com seus professores e tutores.

Para Anderson (2003) e Mattar (2012), a interação aluno-aluno por meio das interfaces síncronas e assíncronas estimula o aprendizado colaborativo e cooperativo, desenvolve o senso crítico e a capacidade de trabalhar em equipe, motiva e diminui a sensação de isolamento do estudo a distância, pois os alunos sentem-se pertencendo a uma comunidade. Segundo Machado Jr. (2008, p. 65), “por meio das interações entre os alunos, os ambientes se enriquecem sob vários aspectos, ampliando suas potencialidades didático-pedagógicas”.

A interação aluno-professor que ocorre por meio das diversas interfaces, através de textos, áudios e vídeos, deve favorecer o diálogo, o compartilhamento e a coparticipação do

Aluno 1 Aluno 1 Professor Professor Aluno 2 Professor

aluno, além de fornecer motivação e feedback, auxiliando no aprendizado (ANDERSON, 2003; VALENTE; MATTAR, 2007). Para Silva (2008, p.71) as interfaces são capazes de oportunizar a construção coletiva do conhecimento na internet e possibilitar aos alunos “agregações, associações e significações como autoria e coautoria”. Assim, alunos e professores se interfaceiam mutuamente durante o processo de ensino-aprendizagem.

São muitos os fatores envolvidos quando falamos de relação professor-aluno na EaD. Deve-se levar em conta, o contexto da cibercultura, onde diante das TIC, professores e alunos são levados a assumirem posturas diferentes daquelas convencionalmente adotadas durante a formação na educação básica.

Na categoria 4, discute-se a relação dos alunos com tecnologia e EaD e busca-se relacionar alguns aspectos que envolvem os papéis dos sujeitos nesta modalidade e que estão diretamente relacionados com os diferentes tipos de interação discutidos anteriormente, com os binômios da interatividade e com as interações mútua e reativa.