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Do enfoque dado as TIC no PPC por professores e tutores

SEÇÃO 5 – DAS ANÁLISES E EMERGÊNCIA DAS FALAS DOS PARTICIPANTES

5.1 Categoria 1 – Projeto pedagógico do curso e planejamento acadêmico das

5.1.2 Do enfoque dado as TIC no PPC por professores e tutores

Tendo em vista que a utilização das TIC nos cursos da modalidade EaD é essencial, buscamos conhecer como os três professores e os dois tutores participantes da pesquisa, avaliam o destaque dado as TIC no PPC de Química.

Logo a princípio, chamou-nos a atenção a resposta dada pelo PQ1: “Resposta ausente por falta de definição de TIC”, pelo fato de este docente atuar a oito anos na EaD causando- nos estranheza que com este tempo de experiência não conheça sobre Tecnologias de Informação e Comunicação – TIC. Acreditamos que este professor não teve acesso ao PPC, tampouco a resolução que o aprova.

Para o PQ2:

A estrutura curricular do curso de química EaD é a mesma que a utilizada no presencial. Entretanto, o enfoque as TIC estão restritas a pequenos componentes ou até mesmo a depender da abordagem pedagógica do docente. A disciplina de Ferramentas Computacionais para o Ensino de Química é a que apresenta maior proximidade com esse enfoque. Entretanto, ressalto o que já descrevi, o trabalho docente influencia muito no uso desse enfoque, pois em muitas disciplinas podemos sim, abordar, trabalhar, utilizar-se das TIC seja no ensino, para a aprendizagem, avaliação.

A visão do PQ2 corrobora com nossa compreensão ao analisar a estrutura curricular do curso. Conforme já discutido anteriormente, a única disciplina do núcleo obrigatório que trata do uso das TIC no ensino-aprendizagem é a FCEQ. A fala do professor sugere ainda que este reconhece que o uso dessas tecnologias pode ser estimulado conforme a proposta pedagógica definida por ele.

Segundo o Art. 9º da Resolução nº 126/2006/CONEP que aprova o PPC de Química Licenciatura a distância, o processo de ensino-aprendizagem deve prover o planejamento de ações pedagógicas e tecnológicas, considerando as necessidades de aprendizagem dos alunos, o uso de novas tecnologias (a qual chamamos simplesmente TIC), além de instrumentalizar o futuro professor para o uso da informática nos processos educativos (SERGIPE, 2006).

A resolução ressalta ainda a utilização de diversos recursos de aprendizagem tais como textos, web, aulas em vídeo, filmes, atividades prática, desenvolvimento de projetos e estágios supervisionados. Estas propostas metodológicas do processo de ensino-aprendizagem aproximam-se da opinião dada pelo PQ3:

Penso que é preciso ainda muito investimento em equipamentos e softwares e treinamento de pessoal. Por exemplo, aquisição de mesas digitalizadoras, montagem de infraestrutura para videoconferências, equipe especializada em preparar vídeo-aulas, dentre outros.

O PPC em questão sugere a utilização de interfaces tecnológicas variadas como fórum de discussão, blogs, chat/sala de bate-papo, AVA Moodle, entre outras. A escolha da plataforma, além de sugestão do MEC, deve-se aos seus objetos que vão ao encontro do PPC, como:

Estudar, aplicar e integrar as mais modernas tecnologias de programação em rede e multimídia na construção do ambiente virtual de aprendizado; projetar o ambiente de forma modular potencializando sua manutenção, integração e avaliação; integrar educandos de diferentes áreas geográficas através da Internet, permitindo-lhes acessar a escolaridade universitária pública, gratuita e de qualidade; desenvolver um ambiente de aprendizagem através da Internet que auxilie na construção do conhecimento por meio de interfaces amigáveis e de fácil uso para educandos e educadores; fornecer mecanismos de comunicação assíncrona, permitindo assim que o educando trabalhe dentro de seu próprio ritmo de aprendizagem e em seu tempo disponível, além da comunicação síncrona, que lhe exige uma participação efetiva no grupo de trabalho para uma avaliação do seu progresso pelo educador; superar o ambiente de sala de aula tradicional, apresentando a informação de uma forma mais interativa, propiciando ao educando participar mais ativamente da elaboração e construção do conhecimento, tanto individual como em grupo; criar um sistema de fácil implantação, fazendo uso ao máximo de tecnologias próprias ou de origem freeware, pretendendo obter um produto de baixo custo e de alta taxa de flexibilidade e manutenção, entre outros (ANDRADE et al., 2012, p. 36-37).

O projeto ressalta que o uso do AVA deve ser complementado por atividades presenciais nos laboratórios de informática nos polos presenciais, o uso de vídeo digital e vídeo conferência com a possibilidade de transmissão e/ou gravação de aulas por professores e a realização de reuniões a distância entre tutores e alunos, professores e alunos, entre alunos, bem como a interação com pessoas de outros cursos ao redor do Brasil para troca de experiências.

Segundo Mattar (2012), deve-se ter em mente que projetos pedagógicos para EaD não se constituem de atividades neutras, ao contrário, estão envoltos em paradigmas e influências históricas e culturais. Neste sentido, em tempos de cibercultura, onde as práticas educativas demandam interatividade entre os sujeitos, é imprescindível a presença de elementos de uma arquitetura pedagógica37 (BEHAR, 2009).

Para Behar (2009), a arquitetura pedagógica deve ser composta por aspectos organizacionais, ou seja, a proposta pedagógica em si, incluindo planejamento, objetivos de

37 Segundo Behar (2009) refere-se a “sistema de premissas teóricas que representa, explicita e orienta a forma

como se aborda o currículo e que se concretiza nas práticas pedagógicas e nas interações professor-aluno-objeto de estudo/conhecimento”.

aprendizagem, organização do tempo e do espaço, expectativas em relação ao rendimento dos alunos; conteúdo – materiais, objetos de aprendizagem, softwares e outras interfaces; aspectos metodológicos envolvendo atividades, formas de interação/comunicação e avaliação e aspectos tecnológicos, sobretudo o AVA e outras interfaces de interação. A ênfase nesses aspectos contribui para intensificar a participação dos alunos pautada nos princípios e tipos de interação e interatividade, como sugere Anderson (2003), Primo (2011) e Silva (2012).

Em síntese, esses elementos estão presentes no PPC, que por sua vez, segue as orientações preconizadas nos Referenciais de Qualidade da EaD (2007), e cabe aos agentes do processo ter pleno conhecimento para sua efetiva execução.

A função do professor que coordena a disciplina, além de planejar as ações pedagógicas que serão desenvolvidas, é também orientar o trabalho do tutor a distância. O papel do tutor tem em si a essência do trabalho do professor, como pode ser observado em suas atribuições na Instrução Normativa nº 01/2014 do CESAD/UFS. É ele quem atua de frente aos alunos, auxiliando-os no processo de ensino-aprendizagem e porque não dizer ensinando através do AVA.

Desta forma, é de fundamental importância que o tutor tenha conhecimento do projeto do curso, tomando conhecimento não só de suas atribuições, mas sim do curso como um todo. Buscando identificar isso, perguntamos aos dois tutores a distância que participaram da pesquisa, TQ1 e TQ2, se tiveram acesso a este projeto pedagógico e em caso afirmativo, o que eles destacariam como pontos positivos e o que estaria ausente.

O TQ1 disse conhecer o projeto e destaca a “atenção na aprendizagem do aluno”. Tendo o aluno como centro do processo educativo, com um papel ativo na construção do conhecimento, um curso a distância deve propiciar aos estudantes o desenvolvimento de competências cognitivas, habilidades e atitudes continuamente. Desse modo devem-se articular mecanismos que estimulem essas capacidades e identifiquem eventuais dificuldades durante o processo de ensino-aprendizagem (BRASIL, 2007).

É preciso que o licenciando, na sua formação, compreenda qual a relação entre o que está aprendendo e o currículo que ensinará na educação básica pois, nenhum professor conseguirá criar, planejar, realizar, gerir e avaliar situações didáticas eficazes para a aprendizagem e para o desenvolvimento dos alunos se ele não compreende a situação escolar, os conteúdos das áreas do conhecimento que serão objeto de sua atuação didática, os resultados de pesquisas em ensino de ciências e os contextos em que se inscrevem

(ANDRADE et al., 2012, p. 33).

Não tive acesso. Penso, sinceramente, que sou uma pessoa de apoio a execução de tarefas e não de decisão. Assim, serão os coordenadores e professores das disciplinas que devem articular a missão e objetivo do CESAD no tutor, de forma que oriente nossas ações. A bolsa de tutoria deveria ser maior para que houvesse maiores responsabilidades.

De fato a fala do TQ2 explicita a complexidade docente na EaD, pois, ao mesmo tempo que são designadas inúmeras funções ao tutor a distância, condizentes ao trabalho de um professor, os próprios documentos oficiais o colocam em uma posição hierárquica inferior ao professor responsável pela disciplina. Isso não ocorre apenas na UFS, como aponta Mattar (2012), a questão da atuação profissional do tutor na EaD é vista por muitos de maneira pejorativa, como um rebaixamento da função docente.

No sistema UAB, por exemplo, o tutor não tem vínculo empregatício e recebe uma bolsa inferior a um salário mínimo, independente de sua titulação acadêmica. No caso dos tutores que contribuíram com a pesquisa, estes, possuem título de doutorado.

Verifica-se que no geral, o PPC na íntegra, procura dar suporte para a articulação teórico-prática por professores e tutores com vistas à formação do futuro licenciado em Química, tanto com relação as TIC como a EaD. Entretanto, é pouca a abordagem dada aos processos de comunicação pautados na interação e interatividade entre professores, tutores e alunos, por meio das TIC, especialmente as interfaces interativas que não se limitam apenas ao AVA, chat e fórum.