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DAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – LEI 8069/90.

Com é de conhecimento, as medidas protetivas são aplicáveis sempre que a criança ou adolescente se encontrar em situação que revele que está sem a devida proteção, intercedendo, no caso, o Poder Estatal.

Tal previsão já havia no Decreto nº 17.943-A, de 12/10/1927, no artigo 1º, da seguinte forma:

“O menor, de um ou outro sexo, abandonado ou delinquente, que tiver menos de 18 anos de idade, será submetido pela autoridade competente às medidas de assistência e proteção contidas neste Código.”

Nos capítulos VI e VII, nos artigos 55 a 91, mencionou diversas medidas aplicáveis aos menores abandonados e delinquentes, dentre elas a perda do pátrio poder ou a destituição da tutela.

Em 10/outubro/1979, foi editada a Lei nº 6.697, nomeada como “Código de Menores”, a qual estabeleceu normas visando a assistência, a proteção e a vigilância de menores em “situação irregular”, conforme disposto nos artigos 1º e 2º, ambos do referido diploma legal.

No seu artigo 14, instituiu rol de medidas aplicáveis ao menor, que até hoje vigoram algumas delas, como a advertência, entrega aos pais ou responsável, ou a pessoa idônea, mediante termo de responsabilidade, imposição do regime de liberdade assistida, colocação em casa de

semiliberdade e internação em estabelecimento educacional, ocupacional, psicopedagógico, hospitalar, psiquiátrico ou outro adequado.

Finalmente, foi editado o atual Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei 8.069/90, em obediência aos direitos das crianças e dos adolescentes, trouxe mecanismos aptos a protegê-las, inclusive as medidas socioeducativas.

III.I – DAS ESPÉCIES DE MEDIDAS PROTETIVAS – LEI Nº 8069/90.

As medidas socioeducativas visam salvaguardar crianças e adolescentes que tenham seus direitos violados ou estejam ameaçados de violação, causando-lhes constrangimento ilegal.

É o que diz o artigo 98 da Lei 8069/90, fornece inclusive as possibilidades em que as medidas de proteção podem ser aplicadas.

In verbis:

“I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;

II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável; III - em razão de sua conduta.”

Sobre o tema, a Doutrinadora Kátia Regina F. L. A. Maciel (Maciel, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, p. 680):

“Quando o Estatuto cita que as ameaças ou violações de direitos

podem acontecer por ação ou omissão da sociedade ou do Estado, traz uma concepção diferente do Código de Menores, que só responsabilizava a própria criança ou o adolescente e a sua família. Neste sentido, o legislador compreendeu que tanto a sociedade quanto o Estado têm violado os direitos destes infanto-juvenis e que agora, devem ser responsabilizados por isto. O Estado ameaça ou viola os direitos desta população quando não prioriza as ações necessárias para esta área, ou, quando deixa de deliberar, orçar e implementar políticas sociais públicas. Da mesma forma a sociedade, quando se omite diante da violência, crueldade, opressão, dos abusos de toda a forma; além de alimentar um processo de exclusão crescente,

desenvolvendo até ódio contra alguns grupamentos, fazendo com que estes sejam vistos como monstros que precisam ser exterminados. A criança e o adolescente não são mais vistos como ameaça à sociedade. Por esta ótica, a sociedade torna-se ameaçadora quando não garante o desenvolvimento pleno das potencialidades destes sujeitos.”

Destarte, a lei 8069/90 trouxe uma maior proteção às crianças e adolescentes, que se viam desprovidos da tutela jurisdicional, adotando procedimentos de proteção inclusive quando seus direitos são ameaçados pelo próprio Estado, que tinha a obrigação e o dever de zelar por eles.

Constatada qualquer das hipóteses previstas no artigo 98 do ECA, pode a autoridade competente adotar qualquer das medidas previstas no artigo 101 da mesma Lei:

“I- encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;

II- orientação, apoio e acompanhamento temporários;

III- matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental;

IV- inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente;

V- requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;

VI- inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;

VII- acolhimento institucional;

VIII- inclusão em programa de acolhimento familiar; IX- colocação em família substituta.”

III.II – DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS DO ECA.

As medidas socioeducativas estão previstas no artigo 112 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), quais sejam, I - advertência; II - obrigação de reparar o dano; III - prestação de serviços à comunidade; IV – liberdade assistida; V - inserção em regime de semiliberdade; VI - internação em

estabelecimento educacional; VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.

Tais medidas têm caráter pedagógico, visando a reintegração do jovem em conflito com a lei na vida social. Outro caráter é o sancionatório em razão da lesão causada pelo ato infracional praticado

Ou seja, a aplicação da medida socioeducativa é uma resposta do Estado em resposta ao ato infracional praticado pelo menor de 18 anos de idade, tendo natureza impositiva, sancionatória e retributiva, buscando a não repetição de tais atos.

Entretanto, para que as medidas socioeducativas sejam aplicadas, devem ser observados os critérios previstos no artigo 1º do artigo 112 e art. 113, ambos do ECA, que são a capacidade para cumprimento, circunstâncias do fato, a gravidade do fato, além da necessidade pedagógica, dando preferência para aquelas que mais se voltam pela ressocialização, fortalecimento familiar e comunitário.

Tais requisitos são parâmetros oferecidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, os quais devem ser aferidos com todo critério, a fim de alcançar a ressocialização do menor em conflito com a lei, e a prevenção de novos atos infracionais.

Agora, passo a tecer alguns comentários sobre algumas medidas socioeducativas.

A advertência é a admoestação verbal realizada pelo Juiz da Infância e da Juventude ao menor infrator, reduzindo-se a termo e assinada pelo infrator, pais ou responsável, objetivando alertá-los sobre os riscos da prática do ato. Tal medida é habitualmente aplicada nos casos de prática de atos infracionais análogos a delitos mais leves, sem violência ou grave ameaça à pessoa, bem como o menor possui apenas uma “passagem” pelo Juizado Menorista.

Os artigos 118 e 119 da Lei 8.069/90 disciplinam a medida de liberdade assistida, a qual deve ser aplicada pelo prazo mínimo de seis meses, com acompanhamento, auxílio e orientação pelo orientador designado pelo Juízo, ocorrendo encontros periódicos com o menor e a sua família no sentido de orientá-los.

A medida socioeducativa é aplicada de forma de transição para o aberto, aplicando-se a esta as disposições relativas à internação, previstas no artigo 120, §2º-ECA, não podendo impor prazo determinado e com reavaliação a cada seis meses, no máximo.

Assim conclui Kátia Regina F. L. A. Maciel (Maciel, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, p. 1090), “Como o próprio nome indica, a

semiliberdade é executada em meio aberto, implicando, necessariamente, a possiblidade de realização de atividades externas, como a frequência à escola, às relações de emprego etc. Se não houve esse tipo de atividade, a medida socioeducativa perde sua finalidade.”

Por último, quanto à medida socioeducativa de internação, o legislador teve a preocupação em limitar a sua duração em três anos, em razão de o adolescente encontrar-se em fase de formação, bem como em razão do direito fundamental à liberdade.

É uma medida é aplicável apenas em casos excepcionais, desde que outra medida não se adeque à situação fática.

CAPÍTULO IV