• Nenhum resultado encontrado

28

2.1 – A Televisão no Brasil: a possibilidade de ampliação da radiodifusão educativa ou um novo instrumento de exploração comercial?

Notamos que o surgimento da radiodifusão educativa no Brasil se deve ao pioneirismo do médico e professor de Antropologia do Museu Nacional, Edgard Roquette-Pinto, que, em 20 de abril de 1923 fundou a primeira emissora do Brasil, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, cuja programação era composta por programas educativos, incluindo palestras científicas e literárias.

Conforme afirma Lopes (2011, p. 11), o rádio e a radiodifusão educativa surgiram no Brasil como um investimento privado, sem fins lucrativos. Somente alguns anos mais tarde o Estado passou a explorar diretamente os serviços de radiodifusão, por meio das primeiras rádios estatais, mais precisamente, em 1936, quando a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro foi doada ao Ministério da Educação, passando a chamar-se Rádio MEC.

A partir daí, a participação do Estado passou a ser mais efetiva na radiodifusão educativa. Em 1941, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro passou a dedicar parte da sua programação a um projeto chamado “Universidade no Ar”. Tratava-se de um projeto pioneiro de tele-educação, voltado principalmente para a transmissão de conhecimentos técnicos em cursos profissionalizantes. Mais tarde, entre 1975 e 1963, também houve a irradiação do Sistema de Rádio Educativo Nacional (Siren), voltado para os cursos básicos (LOPES, 2011, p. 11).

Lopes (2011) enfatiza que, enquanto o rádio e a radiodifusão educativa surgiram como um investimento privado, sem fins lucrativos, a TV, ao contrário, surgiu como investimento privado e voltada para a exploração comercial, e, apesar de várias tentativas visando utilizar esse veículo com fins educativos, esse projeto somente começou a ganhar contorno em 1962 com o Código Brasileiro de Telecomunicações.

29

O advento da Televisão no Brasil ocorreu em 18 de setembro de 1950, com a inauguração da emissora Tupi Difusora, em São Paulo, primeira emissora do Brasil e da América do Sul. Sua implantação se deu por iniciativa do empresário Francisco Assis Chateaubriand Bandeira de Melo, proprietário da maior parte do mercado brasileiro dos meios de comunicação, que chegou a possuir um oligopólio constituído por 36 emissoras de rádio, 34 jornais e 18 canais de televisão.

A televisão surgiu num período marcado por um grande estímulo ao crescimento industrial e pela constituição de um mercado urbano-industrial. Naquele momento houve uma vertiginosa expansão do setor comercial e financeiro. Segundo Muniz Sodré, “o Estado criava as condições institucionais e infra-estruturais para o desenvolvimento da economia urbano-industrial exigido pelo novo processo de acumulação de capital” (SODRÉ, 1977, p.87). Nesse período, o Estado incentivou o desenvolvimento da industrialização através da criação de indústrias voltadas para a produção de bens de capital, equipamentos, bens intermediários e bens de consumo visando à proliferação de um mercado consumidor.

Notamos também que a expansão da TV no Brasil ocorreu a partir da região sudeste, especificamente do eixo Rio-São Paulo.. No que diz respeito a este ponto, Caparelli afirma que:

A televisão brasileira surgiu principalmente nos pólos economicamente mais desenvolvidos – Rio de Janeiro e São Paulo –, daí se expandindo para as maiores capitais brasileiras no litoral e, em seguida, para o interior. Tal expansão tem suas raízes na própria expansão do capitalismo brasileiro que vai se localizar em pólos formados por estas duas cidades em relação ao Brasil, e das capitais em relação ao interior (CAPARELLI, 1982, p. 22).

Segundo Caparelli, o desenvolvimento da televisão como veículo publicitário se insere na perspectiva da segunda fase da gestão Kubitschek, cujo governo estimulou a industrialização brasileira para produzir mercadorias voltadas para a sociedade de consumo. Caparelli argumenta que:

A televisão vai ser um auxiliar na nova ideologia desenvolvimentista dos anos 50, e que, na maioria se traduzia em adquirir os valores modernizantes próprios dos países hegemônicos. E, à expansão do capitalismo no Brasil, a partir

30

do que se convencionou chamar Centro-Sul, corresponde igual expansão de sua indústria cultural, no setor televisivo, atingindo outras capitais brasileiras além do Rio de Janeiro e São Paulo (CAPARELLI, 1982, p. 24).

Conforme Sampaio (1984), o advento da televisão nos anos 1950 no Brasil ampliou também as possibilidades de utilizar a radiodifusão como um instrumento educativo e didático. Em 1952, a Rádio Roquete Pinto, iniciou esse projeto solicitando e obtendo um canal para a TV educativa, após estudos realizados por um grupo de trabalho de educadores. Desse modo, o intuito do Brasil era seguir os exemplos da BBC de Londres e da ORTF da França, pioneiros da TV educativa, e ainda da WOI do Estado de Iowa, nos Estados Unidos. Em outubro de 1952, a emissora encomendada estava pronta para embarque em Nova York. Mas o projeto ficou parado quase 20 anos devido à descontinuidade administrativa e a primeira emissora educativa a entrar no ar surgiu no Brasil somente quase duas décadas após a inauguração da TV no país.

Em 1961 surgiu a segunda tentativa de implementar uma programação educativa na TV comercial. A iniciativa coube a TV Cultura, então integrante do grupo das emissoras Associadas de Chateaubriand, o projeto consistia em iniciar um curso de admissão ao ginásio sob a orientação da professora Maria Antunes Alves. “Apesar dos esforços imensos, a experiência, mal subvencionada, sem os mínimos recursos e sem planejamento adequado falhou” (ALMEIDA, 1971, p. 81).

2.2 – A institucionalização do Código Brasileiro de

Telecomunicações e a aprovação do Estatuto da Fundação Centro Brasileiro e Televisão educativa

No ano de 1962, o art. 38 do Código Brasileiro de Telecomunicações, instituído pela lei 4.117/62, especificou que os serviços de TV deveriam estar voltados para o interesse público e fins educacionais e culturais visando os superiores interesses do País. Também no ano de 1962, a TV Rio deu início a uma relevante fase em que se pode utilizar a televisão como um instrumento para difundir educação, através da emissão de aulas organizadas pela professora Alfredina de Paiva e Souza, que se prolongaram

31

até 1964, num total de 262 horas de trabalho, atingindo uma audiência de 5.000 alunos distribuídos em 105 salas de aula (SAMPAIO, 1984, pp. 249-250).

No que diz respeito a estes dados, Mattos (2000) aponta que um dos motivos que parece ter contribuído significativamente para a utilização da TV, enquanto um instrumento educativo, foi a necessidade de preparar mão de obra adequada para suprir a demanda resultante do processo acelerado de industrialização pelo qual o país passou. Outro ponto destacado por Mattos (2000) foi o de que neste período, houve uma política internacional liderada pela Unesco, exigindo a utilização da TV para auxiliar necessidades educacionais nos países em desenvolvimento.

Conforme Jambeiro (2001), o Código Nacional de Telecomunicações também permitiu o estabelecimento de duas estruturas para o serviço público de radiodifusão: o sistema Radiobrás (Empresa Brasileira de Radiodifusão), que coordenaria estações de rádio e TV de propriedade direta do governo federal e que deveria gerar renda através de patrocínio e publicidade; e a Fundação Roquette Pinto, uma entidade sem fins lucrativos, proibida de perseguir objetivos comerciais, que coordenaria o Sistema Brasileiro de Radiodifusão Educativa.

Jambeiro (2001) ainda afirma que a Radiobrás foi primeiramente subordinada ao Ministério das Comunicações, depois ao Ministério da Justiça, e finalmente, ao Gabinete do Presidente da República. Ela tinha como principal missão: operação e exploração comercial das estações de propriedade do governo federal: publicização dos feitos do governo brasileiro e da realidade brasileira para outros países; criação, operação e exploração da sua própria rede de estações retransmissoras; produção e radiodifusão de programas jornalísticos e de entretenimento; e radiodifusão de programas educativos produzidos por outras produtoras de propriedade estatal. Suas estações deveriam operar principalmente em regiões de baixa densidade demográfica e reduzido interesse comercial, e em localidades consideradas estrategicamente importantes para a unidade nacional.

Além disso, a Radiobrás tinha o objetivo de distribuir propagandas governamentais para a mídia comercial e seu presidente era nomeado pelo

32

presidente da República. No final do século XX, a Radiobrás operava poucas estações de rádio, quase todas elas dedicadas à publicização, em outros países, da cultura brasileira e feitos governamentais. A única estação de TV que permaneceu sob seu controle – TV Nacional de Brasília – operava como estação retransmissora para redes não-comerciais e como geradora de discursos oficiais do presidente e seus ministros.

A FRP (Fundação Roquette Pinto), então mantenedora da TVE, tinha como principais missões: a produção, contratação e distribuição de materiais audiovisuais para o Sistema Brasileiro de Radiodifusão Educativa (Sinred); a avaliação e a emissão de pareceres referentes a solicitações de licenças para radiodifusão não-comercial; e a coordenação e execução, livre de encargos, de atividades relacionadas a transmissão de programas educativos por estações comerciais. A fundação também operava diretamente alguns canais de radiodifusão e transmissão. Era subordinada ao Ministério da Educação e seu presidente era nomeado pelo presidente da República.

Nessa perspectiva, em 1963 foi criado o Serviço de Educação e Formação pelo rádio e televisão (SERTE). Este serviço foi fruto de um convênio entre o governo do Estado de São Paulo e a TV Cultura, que neste período era uma associada do conglomerado de Assis Chateaubriand. O intuito deste acordo visava à produção de 10 horas semanais de programação educativa. A programação abrangia educação de base, 5.a série primária, música, arte e literatura infantil e ainda estava voltada para professores através de programas que incluíam em seu conteúdo matemática moderna, ciências, desenho e português.

Jambeiro (2001), nos mostra também que, em 1965, já no contexto da ditadura militar, o SERTE possuía um canal na capital do Estado e outro em Bauru. Neste mesmo ano o Governo Federal, apoiando este órgão, fez um convênio com o mesmo, gerando um setor de rádio e televisão destinado a planejar a extensão das atividades por ele desenvolvidas a outros estados do país. As respectivas secretarias de educação entrariam como parte da iniciativa. Em 1966, atendendo as recomendações do Ministro Flávio Suplicy Lacerda, os trabalhos do SERTE se estenderam a 12 estados.

33

Um fato interessante explicitado por Leal Filho (1988) no que diz respeito à utilização dos veículos de comunicação: em 1964 se completa o projeto iniciado por Getúlio Vargas em 1930. Se Vargas usou eficientemente o cinema e o rádio para submeter as oligarquias regionais ao seu projeto com a implantação do Estado Novo, os militares de 1964 vão se empenhar em promover a integração do país via meios de comunicação, especificamente a televisão, utilizando uma política autoritária e centralizadora.

O decreto 60.596/67, que aprovou o Estatuto da Fundação Centro Brasileiro de Televisão Educativa, expressou o caráter centralizador e autoritário da política voltada para as comunicações no regime militar, o que fica evidente no seu artigo 9.º, que especifica: “A Assembléia-Geral terá como membros natos os Diretores dos órgãos executivos e técnicos do Ministério da Educação e Cultura, imediatamente subordinados ao Ministro” (BRASIL, 1967a). De acordo com esse artigo, poderiam também integrar essa Assembléia, os brasileiros que, tendo feito à Fundação doações superiores ao equivalente a dez vezes o maior salário mínimo em vigor no país, fossem, comprovadamente, pessoas de saber e experiência em matéria de educação. Dessa maneira, ao se privilegiar como membros dessa Assembléia indivíduos de elevado poder aquisitivo, não há como pensar uma democratização desse órgão por meio da participação da sociedade civil como um todo, mas sim, de uma elite financeira, política e intelectual.

Jambeiro (2001) afirmou que, no contexto de centralização e intervenção que marcou o governo de regime militar, o decreto 236/67 modificou o Código Nacional de Telecomunicações estabelecendo que as tevês educativas deveriam transmitir apenas programas educacionais como aulas, conferências e debates; não poderiam aceitar publicidade direta ou indireta, nem patrocínio; somente os governos federal, estadual e municipal, universidades e fundações de direito público poderiam operar tevês educativas. Além disso, deu ao Contel o direito de reservar canais educativos para cidades de 100 mil habitantes ou mais e determinou que o mesmo regulasse a transmissão compulsória de programas educativos, pelas emissoras comerciais, cinco horas semanais, entre 7 e 17 horas.

34

Jambeiro (2000) afirma que, no ano de 1967 se consolidou o controle governamental sobre os meios de comunicação. A Instituição do Ministério das Comunicações, através da reorganização da estrutura administrativa federal promovida pelo Decreto-lei 200/67, centralizou, ainda mais, o processo decisório no Poder Executivo. O Ministro das Comunicações passou a desempenhar as funções que até então eram exercidas pelo Contel, órgão colegiado e, portanto, de natureza mais democrática. O Conselho foi incorporado ao novo ministério e permaneceu apenas com a responsabilidade de criar políticas de telecomunicações. Neste período, esse setor converteu-se em área prioritária para a segurança e integração nacionais.

Entre os objetivos do Ministério das Comunicações estavam o de estabelecer diretrizes para o sistema nacional de Comunicações; promover as comunicações de acordo com a doutrina de segurança nacional (parte da ideologia militar vigente); estimular o desenvolvimento da indústria nacional de telecomunicações; e promover a pesquisa e o treinamento para suprir as necessidades da indústria (ALMEIDA apud JAMBEIRO 2000, p. 81).

Durante o governo militar houve uma intensificação da produção cultural que se manteve sob o controle do Estado brasileiro. Neste momento, o Estado interveio profundamente na sociedade por meio da criação de várias organizações estatais, entre essas, destaca-se a implantação da Embratel (Empresa Brasileira de Telecomunicações); o Conselho Federal de Cultura; o Conselho Nacional de Turismo; a Embratur (Empresa Brasileira de Turismo); o Instituto Nacional de Cinema; o Ministério das Comunicações; a Embrafilme (Empresa Brasileira de Filmes); a Funarte (Fundação Nacional de Artes); o Centro Nacional de Referência Cultural; a Radiobrás (Empresa Brasileira de Radiodifusão); o Concine (Conselho Nacional de Cinema); a Secretaria para a Memória Nacional; a Fundação Pró-Memória (JOHNSONS, apud JAMBEIRO, 2001, pp. 78-79).

Entre 1968 e 1970 há uma grande expansão de Centros de TV em cidades grandes e médias do país, com a responsabilidade pelo controle, interrupção e distribuição de transmissão de televisão via Embratel (Empresa Brasileira de telecomunicações). O propósito seria a criação de uma Rede

35

Integrada de Televisão Educativa, com o objetivo de levar, em curto prazo, educação, cultura e informação aos milhões de brasileiros.

2.3 – A expansão das TVs educativas no Brasil: a busca por um propósito

Fradkin (2003), nos mostra que, a primeira emissora educativa a entrar no ar foi a TV Universitária de Pernambuco, em 1967. Em seguida, entre 1967 e 1974, surgiram outras nove emissoras educativas, cujas origens e vinculações eram as mais diversas. Por exemplo, enquanto a TV universitária de Pernambuco era vinculada ao Ministério da Educação, a TVE do Amazonas, que surgiu em 1968, era uma fundação pública vinculada à Secretaria Estadual de Comunicação, a TV Cultura de São Paulo, vinculada a Secretaria Estadual de Cultura e reinaugurada em 1969, pela Fundação Padre Anchieta, era uma fundação pública de direito privado e a TVE do Rio Grande do Sul, inaugurada em 1974, pertencia à administração direta e era vinculada à Secretaria Estadual da Educação.

Podemos notar que, neste primeiro momento, não havia um critério definido que pudesse estabelecer com precisão a finalidade dessas emissoras. Entretanto, Fradkin (2003) nos mostra que ocorreram várias tentativas no sentido de definir o propósito delas, conforme veremos abaixo.

Em 1972, o então Ministério da Educação e Cultura/MEC criou o Programa Nacional de Teleducação/Prontel, com o objetivo de coordenar as atividades de teleducação no país.

Em março de 1978, por iniciativa da Fundação Centro Brasileiro de TV Educativa/FCBTVE (TVE do Rio de Janeiro) e do Prontel, foi realizado, em Nova Friburgo/RJ, o I Encontro Nacional de Dirigentes e Assessores de TV Educativa. Resultou na primeira tentativa de se criar um sistema nacional para o atendimento das carências educacionais e a operacionalização de uma rede de transmissão de programas de caráter educativo, mediante a atuação integrada das emissoras educativas. A tentativa não vingou, servindo apenas para a formação de uma “redinha” (como foi chamada, à época) para a transmissão dos jogos da Copa do Mundo de 1978, na Argentina, em virtude

36

de a TV Cultura de São Paulo deter os direitos daquela transmissão (Fradkin 2003).

Em setembro de 1979, por iniciativa das emissoras do Norte e do Nordeste, realizou-se uma reunião de caráter regional, em Fortaleza/CE, à qual compareceram representantes da TVE do Rio de Janeiro. Em função dessa reunião, a TVE do Rio iniciou gestões, com apoio das emissoras do Norte e do Nordeste, para a implantação de um sistema nacional de emissoras educativas. Em novembro do mesmo ano o Prontel foi extinto e substituído pela Secretaria de Aplicações Tecnológicas/SEAT. Sabedora das gestões iniciadas pela TVE do Rio, a SEAT convocou todas as emissoras para uma reunião que resultou na criação do Sistema Nacional de Televisão/SINTE. Criado informalmente em 1979, somente em 1982 o SINRED recebeu respaldo legal, por meio da Portaria MEC/MINICOM nº 162 (Fradkin 2003).

Em 1982, a Fundação Centro Brasileira de Televisão Educativa incorporou a SEAT e o Serviço de Radiodifusão Educativa/SER, ao qual estava vinculada a Rádio MEC, e alterou a sua sigla para FUNTEVÊ. Coube à FUNTEVÊ a responsabilidade pela coordenação político-administrativa e pela operação do SINRED, por ser a TVE a única emissora por ter acesso ao satélite. Em 1983, com a inclusão das emissoras educativas de rádio, o sistema passou a denominar-se Sistema Nacional de Radiodifusão Educativa/SINRED e foi regulamentado pela Portaria MEC nº 344 (Frandkin 2003).

O objetivo principal do SINRED era o de permitir que todas as emissoras educativas veiculassem uma programação constituída por programas produzidos por todas as integrantes, diferentemente do que ocorria com as redes comerciais, que se limitavam a retransmitir a programação das cabeças-de-rede, localizadas, invariavelmente, no Rio de Janeiro e em São Paulo. É relevante enfatizar que naquele momento, essas emissoras priorizavam a veiculação de programas de caráter estritamente educativo. O SINRED cumpriu o seu papel de órgão aglutinador, mas o próprio crescimento do sistema – que, em 1989, já contava com quinze emissoras – fez surgir a necessidade da ampliação do raio de abrangência de seus sinais. A

37

implantação de estações retransmissoras simultâneas, que poderia ser uma solução, representava um custo muito elevado, que essas emissoras não tinham possibilidade de assumir.

Posto isto, Fradkin (2003), apontou que, a solução encontrada para permitir a expansão do sinal educativo de TV foi dada no contexto da Nova República pelo Decreto nº 96.291, de 1988, e pela Portaria MEC nº 93, de 89, que estabeleceram os parâmetros para que as retransmissoras de televisões educativas pudessem inserir, a nível local, programas de interesse comunitário, desde que essas inserções não ultrapassassem 15% do total da programação da geradora a qual a retransmissora estivesse vinculada. Com isso, as emissoras geradoras não precisaram mais implantar, elas mesmas, suas retransmissoras simultâneas, pois a possibilidade de inserção de programação local passou a atrair diversas entidades privadas, universidades e prefeituras, que cuidaram de ampliar esse parque com recursos próprios. Com efeito, a abertura provocou um crescimento enorme do número de retransmissoras e, consequentemente, de todo o sistema. Essas retransmissoras, tecnicamente conhecidas como retransmissoras mistas, passaram a autodenominar-se de TVs Comunitárias.

Não obstante, a idéia original tivesse aspectos muito positivos, a implantação dessas retransmissoras não apresentou os resultados esperados. A ausência de uma legislação balizadora fez com que as primeiras autorizações fossem dadas principalmente a políticos e a grandes empresários, cujas intenções nada tinham a ver com os reais objetivos da legislação referente à programação de caráter comunitário.

2.4 – O conceito de TV pública: a experiência da TV Cultura de São Paulo

Frente a este quadro de indefinição que marcou a trajetória da TV educativa no Brasil, expressa na ausência de critérios e parâmetros que pudessem definir seus objetivos, destaca-se a experiência da TV Cultura de São Paulo. Cabe ressaltar que a criação da Fundação Padre Anchieta, mantenedora desta emissora, é considerada como um dos principais

38

momentos na história da radiodifusão pública brasileira. Conforme Leal Filho (2007), sua criação reproduzia institucionalmente o modelo da BBC de Londres, pois seria gerida por um Conselho Curador representativo da sociedade, com uma autonomia de gestão garantida pela figura jurídica do direito privado. Fator determinante para evitar qualquer tipo de interferência estatal.

Assim, consideramos pertinente mencionar o processo de constituição da Fundação Padre Anchieta e a organização da TV Cultura voltada para fins educativos e culturais. Vejamos como isso ocorreu.

No caso de São Paulo, dentro do contexto autoritário, o governador Abreu Sodré procurou se conduzir no sentido de ir em direção contrária ao que ocorria em relação ao autoritarismo e à centralização presentes em outras legislações referentes à TV educativa. Abreu Sodré elucidou que o seu objetivo, ao criar uma emissora subvencionada pelo governo do Estado, era o de deixá-la sem influência da administração pública, sem interferência política. Além disso, para Abreu Sodré, se a Fundação fosse contemplada com doações

Documentos relacionados