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De um Território Educativo de Intervenção Prioritária a um Agrupamento Vertical

Conhecendo o Agrupamento Vertical de Pedra Branca

III. l.l Dos problemas identificados à procura de soluções

III. 1.2. De um Território Educativo de Intervenção Prioritária a um Agrupamento Vertical

O trabalho que se foi desenvolvendo pretendeu, acima de tudo, dar sentido ao perfil do aluno a formar, proporcionando situações de exercício pleno de cidadania com vista ao seu sucesso escolar e pessoal. E, ao procurar que os alunos tivessem um envolvimento cada vez maior nas suas actividades escolares, estava-se, naturalmente, a apostar no seu sucesso, mas também a trabalhar para tornar a escola mais atractiva e inclusiva.

Foi neste contexto que nos candidatámos, em 1998, ao Projecto de "Gestão Flexível do Currículo". Este projecto, que estava a ser experimentado noutras escolas desde 1997/98, adequava-se ao caminho que estávamos a percorrer. As Direcções Regionais promoviam, nessa altura, reuniões várias com as escolas que tinham abraçado o Projecto, onde eram relatadas as experiências vividas e reflectidos os percursos de gestão curricular. Através dos testemunhos destas escolas, fomos levados a acreditar que, apesar de existirem dificuldades na implementação do projecto, se anteviam bons resultados da sua concretização. Foi, portanto, aprovado no Conselho Pedagógico do Agrupamento de Pedra Branca candidatarmo-nos ao Projecto de Gestão Flexível, no sentido de aperfeiçoar a experiência que vínhamos acumulando, mas, acima de tudo, para poder deste modo contribuir para melhorar/aumentar o sucesso dos nossos alunos. E, para nos candidatarmos não tivemos mais do que descrever o modo como estávamos a desenvolver o nosso trabalho e como o pretendíamos continuar. Assim, em 1999/2000 envolvemos nessa experiência toda a EB2,3, ou seja todas as turmas dos 2o e 3o ciclos, o

que nos permitiu desenvolver o currículo dos nossos alunos de uma forma mais flexível e encontrar algumas formas de colmatar as suas maiores dificuldades. No ano seguinte,

1999/2000, o Projecto de Gestão Flexível foi pensado também para o Io ciclo,

englobando-se na experiência todas as EB1 do agrupamento.

A concretização deste projecto levou-nos a incluir, no horário da turma e dos professores, a terceira hora de direcção de turma, destinada a promover a Educação para a Cidadania, duas horas para o Estudo Acompanhado, com o objectivo de criar condições para que os alunos adquirissem autonomamente o seu estilo de aprendizagem, e duas horas de Área de Projecto Interdisciplinar, em que se pretendia envolver os alunos na concepção, realização e avaliação dos projectos, articulando os saberes das diversas áreas, utilizando técnicas de trabalho enriquecedoras, estabelecendo pontos de contacto com a comunidade, tendo sempre presente os objectivos do Projecto Educativo.

A realização deste trabalho, imprescindível à concretização do nosso projecto, exigiu um grande envolvimento por parte de muitos dos professores, mas exigiu também a procura de novos parceiros e novos recursos. O Centro de Emprego e Formação Profissional cedeu-nos animadores que colaboraram connosco no desenvolvimento de alguns projectos e que nos tornaram mais fácil a interacção entre as diferentes escolas e ciclos. A Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCE) facilitou-nos o envolvimento no projecto TEIAS (Tecer Estratégias Interactivas e Articular Significados), permitindo-nos partilhar experiências pedagógicas com outras escolas. Estagiários da licenciatura em Ciências da Educação, da mesma Faculdade, desenvolveram o seu projecto de fim de curso na EB2,3 da Pedra Branca, o que nos permitiu reflectir o projecto de sala de aula e encontrar novos sentidos para este espaço. Ainda com a FPCE, o Centro Social de S. Nicolau e os professores de duas turmas do 5o ano de escolaridade (as duas turmas mais

problemáticas desse ano), organizámos um grupo de trabalho para tentar encontrar processos de acompanhamento sistemático para alunos em situação de risco, experiência que fomos alargando, noutros anos, a outras turmas.

Assim, fomos continuando até que em 1999/2000 tomamos a iniciativa de constituir um agrupamento vertical. Com base no trabalho que se estava a realizar a nível pedagógico, entre os diferentes estabelecimentos de ensino e na vontade das diferentes Escolas, da Comunidade Educativa, da Câmara Municipal e no parecer

favorável da DREN, foi constituído o Agrupamento Vertical de Pedra Branca. Iniciámos, assim, um trabalho de conjunto também a nível administrativo. Este agrupamento de escolas, cujas linhas orientadoras continuavam as mesmas do projecto inicial, englobava os mesmos estabelecimentos de ensino do Território Educativo de Intervenção Prioritária iniciado em 1997.

Deste modo, fomos encontrando algumas respostas para as dificuldades iniciais, mas, no percurso, outras foram aparecendo. Grande parte destas dificuldades surgiu do trabalho que passou a ser necessário realizar em equipas, constituídas por docentes de diferentes níveis de ensino, representantes de instituições várias e da autarquia. O trabalho assim desenvolvido, em grupos constituídos por intervenientes tão heterogéneos, não era fácil, principalmente para os professores que até então estavam acostumados a reunir apenas entre os seus pares para tomarem decisões sobre educação e sobre os modos de actuar com os "seus" alunos. E, agora, os consensos tinham de ser procurados em reuniões alargadas nas quais era necessário dar a conhecer algumas fases do processo educativo, antes apenas sigilosamente tratadas por docentes. Mas, como na parte I deste trabalho afirmámos, os consensos, deste modo encontrados, podem levar à construção de uma escola mais aberta, mais democrática e que perspective o ensino básico como um todo, pois permitem olhar o processo educacional de forma diferente da tradicional. No entanto teremos que estar atentos, pois tal como recorda A. Hargreaves (1998: 219), uma "colegialidade artificial - regulada administrativamente não evolui espontaneamente". Existindo a obrigação para reunir e tomar decisões sobre algumas questões, a necessidade desses momentos conjuntos pode não ser sentida e o resultado desse trabalho pode não ser fiável.

Outra grande dificuldade diz respeito à necessidade, agora também existente, de os professores realizarem trabalho em equipas multidisciplinares e com docentes dos diferentes níveis de ensino. Não tendo os professores o hábito de reunir com docentes de outros níveis de ensino, nem mesmo de outras áreas disciplinares (à excepção dos Conselhos de Turma) para perspectivarem um ensino articulado e sequencial, também aqui as dificuldades foram (e são) enormes. Também a este propósito A. Hargreaves (idem) chama a nossa atenção quando alerta para a "colegialidade artificial na área do treino com pares", dizendo-nos que ainda neste domínio haverá que distinguir se este treino é voluntário ou compulsivo. Em qualquer dos casos, os resultados são idênticos e

traduzem "inflexibilidade" e "ineficiência". Mesmo assim, será necessário incentivar este tipo de trabalho e criar as condições necessárias para que ele se realize, portanto, será também necessário providenciar a falta de formação que os professores apresentam nesta área. Mas, embora esta falta de formação seja reconhecida por uma grande parte dos professores, a verdade é que estes não encontram, muitas vezes, na formação disponível pelos centros de formação a resposta às suas necessidades.

Para ultrapassar esta dificuldade, no Agrupamento Vertical da Pedra Branca tem-se procurado proporcionar formação interna, em contexto, para facilitar a inserção dos professores que em cada ano lectivo iniciam aqui o seu trabalho. Também para os que há já algum tempo aí leccionam, tem-se vindo a recorrer ao CFAE - Didaskália, à FPCE e outras entidades, para que a formação, para além de ocorrer no seu local de trabalho (EB2,3 de Pedra Branca - sede do Agrupamento), possa responder às angústias e necessidades sentidas no dia-a-dia profissional.

No entanto, apesar de serem algumas as diferenças no modo de trabalhar no Agrupamento de Pedra Branca, e de até se sentirem já alguns resultados positivos, o caminho a percorrer ainda é longo e grandes as dificuldades que se terão de enfrentar, para se construir a Escola que se pretende faça do ensino obrigatório uma formação básica articulada. Em nossa opinião, as grandes mudanças deveriam acontecer no modo como nos implicamos no processo educativo. É que muitas vezes a falta de um trabalho organizado e colaborativo leva à perda de bons pequenos projectos. Por isso, talvez, ao trabalhar sob a orientação de um Projecto Educativo comum, cada um de nós passe a sentir-se mais implicado nesse ideário conjunto e ao mesmo tempo representado nas diferentes decisões, o que certamente se traduzirá numa actuação com mais significado, numa educação com mais sentido.