Debate sobre a Intervenção do Estado nos Jogos de Lotaria

Desde sempre, a humanidade se sentiu fascinada pelos jogos de sorte. Durante séculos, as lotarias têm providenciado entretenimento e fundos públicos.

O crescimento repentino deste tipo de produtos motivou diversos debates no que concerne a promoção do jogo e as regras e medidas que deveriam ser impostas pelos governos (Clotfelter e Cook 1989). As lotarias são os únicos produtos de risco produzidos e promovidos pelos governos, com o propósito de angariar receitas. Sendo responsabilidade do Estado a protecção dos interesses dos cidadãos, a produção e

59 publicidade de um produto considerado precário, sugere um potencial conflito de interesses. A combinação deste conflito de interesses com o aumento da disponibilidade de meios e formas de jogo inspiraram os investigadores a estudar os seus impactos e o seu significado em termos económicos e sociais.

De acordo com Garrett (2001a) os oponentes das lotarias do Estado defendem a existência de um factor distribucional negativo nas lotarias com grandes implicações para os mais pobres, e um custo também bastante elevado quando comparados com outras formas de receitas estatais. Por outro lado, os defensores das lotarias de Estado argumentam que as lotarias providenciam uma fonte de receita que contribui para os fundos de vários programas sociais, pelo que são positivos.

No ano de 2003 as vendas de bilhetes de lotaria nos EUA atingiram os 41,4 mil milhões de dólares, dos quais 19,9 mil milhões representaram receitas públicas brutas desta actividade o que corresponde a 25,4% das receitas brutas do jogo legalizado (entre o qual inclui-se 36,5% dos casinos comerciais, 21% de casinos dos nativos americanos entre outros jogos legalizados). (ver Kearney, 2005a)

Nos EUA todos os Estados que legalizaram as lotarias tornaram-se monopolistas deste sector de actividade económica, isso deveu-se por um lado à oposição moral da legitimação do jogo como forma de entretenimento, por outro lado, para evitar os efeitos negativos na sociedade do jogo desregulado, quer seja devido aos efeitos no jogador em si, quer seja ao aumento do crime.

Existe uma grande controvérsia pública acerca do uso das lotarias como forma de obter fundos públicos.

Os defensores do jogo regulado reconhecem o aumento do bem-estar do consumidor para aqueles que gostam de jogar e participar de uma forma responsável.

60 Os oponentes argumentam no sentido de que estas lotarias afectam mais as minorias e os pobres e alteram o sentido de consumo e poupança, os que defendem as lotarias argumentam que todos os indivíduos de todos os grupos jogam na lotaria, e não só os pobres, e ainda que a procura de jogos de lotaria, faz com que estes se tornem um bem substituto de outras formas de jogo.

Alguns estudos concluem no sentido de que os produtos das lotarias estatais são desproporcionadamente consumidos pelos pobres, e que as famílias mais pobres gastam uma maior percentagem do seu rendimento em bilhetes de lotaria que as outras famílias.

A lotaria instantânea é aquela que mais atrai os indivíduos de baixo e médio rendimento, enquanto os indivíduos mais ricos, procuram outro tipo de produtos de lotaria. Por essa razão, o Estado poderia resolver o problema da desproporcionalidade do consumo de lotarias pelos mais pobres, através da retirada deste tipo de lotarias no mercado, no entanto, as lotarias instantâneas são também aquelas que contribuem mais para a receita do Estado uma vez que representam cerca de 50% do total das receitas brutas com vendas de produtos de Lotaria.

O debate entre oponentes e defensores das lotarias estatais apresenta os seguintes argumentos:

Quadro 4 - Resumo das razões dos dois lados do debate das Lotarias de Estado.

Contra A Favor

Promoção do Jogo pelo Estado

Estado não deve impulsionar uma atividade considerada perturbadora da normalidade do funcionamento da economia

O jogo é uma inevitabilidade. O Estado deverá intervir, actuando como regulador, e de forma a garantir a manutenção ordem pública.

61 Impacto na

Economia

As receitas provenientes das lotarias são retiradas da economia e não são utilizadas em bens ou serviços que implementam o emprego e outras actividades importantes.

As lotarias têm um impacto positivo na economia, por criarem postos de trabalho e motivarem o emprego directo e indirecto.

Geração de receitas

Quando comparados com o sistema fiscal, as lotarias são ineficientes e inequitativas.

Não se pode comparar as lotarias com o sistema fiscal, uma vez que se trata de uma actividade com fins lucrativos e com pressupostos diferentes.

Regressividade Os produtos de Lotaria são regressivos.

Qualquer produto com um preço fixo é regressivo.

Filantropia

A acção do Estado é substituida pelos recursos obtidos pela lotaria.

As receitas das lotarias trazem benefícios para a sociedade como um todo, uma vez que aumentam os recursos do Estado para as causas sociais.

Publicidade

O jogo é incitado devido à publicidade coerciva das Lotarias de Estado.

A Publicidade das lotarias de Estado são informativas para os consumidores.

Probabilidades As probabilidades do prémio são muito baixas.

Só ganha na lotaria, quem joga.

Entretenimento

Inutilidade e desperdício de dinheiro nas lotarias.

As lotarias consideram-se um produto com capacidade de entretenimento, como outro qualquer.

Substituição

Lotaria é uma forma de jogar fácil e incentiva outros tipos de jogo

Pelo contrário, a Lotaria estimula uma forma de jogar que substitui outras bem mais problemáticas.

Fonte: Gomes (2007:19) com tratamento próprio.

Em média, Nos EUA, um bilhete de 1 dólar reverte em 50 cêntimos de prémio para os jogadores, 20 cêntimos de custos inerentes ao jogo e 30 cêntimos de receitas para o Estado.

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