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CAPÍTULO II - O MDL NO REGIME INTERNACIONAL DO CLIMA

2.2 Decisões das Conferências das Partes relativas ao MDL

A partir do momento em que o Protocolo de Quioto foi elaborado, em 1997, durante a terceira COP, até sua entrada em vigor em 2005, buscou-se por meio do Plano de Ação de Buenos Aires, aprovado na quarta COP em 1998, o desenvolvimento de um arranjo regulatório mais detalhado para que os objetivos estabelecidos pela Convenção do Clima e pelo Protocolo de Quioto fossem atingidos.

A implementação do Plano de Buenos Aires, que deveria ter ocorrido até o final do ano 2000, durante a sexta COP realizada na cidade de Haia, fracassou devido a uma série de pontos divergentes entre os países participantes do Regime Internacional do Clima.160 Naquela ocasião, um consenso não foi alcançado porque alguns países como Japão, Austrália e a Federação Russa preferiam um sistema de cumprimento das obrigações mais flexível e não vinculante, enquanto que outros como a União Européia, Estados Unidos da América, Canadá e os países do Grupo 77 e China preferiam um sistema de cumprimento obrigatório. Além disso, uma série de pontos de vista divergentes entre a União Européia e o grupo de países que não fazem parte da OCDE também criou um impasse para o prosseguimento das negociações. Outro motivo para o fracasso da COP 6 foi o debate acerca do limite máximo de reduções de emissões por sumidouros de carbono que seria permitido aos países do Anexo I como forma de cumprir parte de suas metas de redução.

O consenso político sobre as principais questões do Plano de Ação de Buenos Aires foi alcançado somente durante a reconvocação da sexta reunião da COP

160 VIOLA, Eduardo. A evolução do papel do Brasil no regime internacional de mudança climática e na governabilidade global. Cena Internacional. Brasília, v. 6, n. 1, jun. 2004. Disponível em: <http://www.mundorama.info/Mundorama/Cena_Internacional_files/Cena_2004_1.pdf>. Acesso em: 31 mar. 2008.

realizada em Bonn, na Alemanha, em 2002, onde foram estabelecidos os Acordos de Bonn. Nesse acordo, ficou estabelecido um grupo de especialistas para aprimorar a transferência de tecnologia e três fundos para mudança do clima, para atender países menos desenvolvidos e para adaptação à mudança do clima.161

A síntese das decisões adotadas durante essas negociações foi reconfirmada durante a sétima COP, em Marraqueche, em 2001. Desse modo, os Acordos de Marraqueche formam um conjunto de normas referentes aos procedimentos e mecanismos a serem adotados pelo sistema de cumprimento do Protocolo de Quioto e de regras operacionais para os três mecanismos de flexibilização, assim como para o credenciamento das entidades operacionais designadas. Além disso, o Acordo de Marraqueche estipula procedimentos para o fortalecimento da capacitação nacional e transferência de tecnologia nos países em desenvolvimento. Em outras palavras, o Acordo de Marraqueche, por meio de procedimentos e mecanismos mais detalhados, possibilita a implementação efetiva do Protocolo de Quioto.162 Entre as decisões que compõem o Acordo de Marraqueche, a décima sétima decisão é diretamente voltada para o estabelecimento de modalidades e procedimentos para utilização do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.163

Assim, na decisão 17/COP7, o Acordo de Marraqueche solicitou indicações de membros para formação do Conselho Executivo. Na primeira reunião, realizada imediatamente após a eleição dos membros, foi elaborado o regimento interno do Conselho Executivo, houve o credenciamento de entidades operacionais e foram estabelecidas as modalidades e procedimentos simplificados para as atividades de projetos de pequena escala no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.

161 UNFCCC. Documento FCCC/CP/2001/5. Disponível em: <http://unfccc.int/resource/docs/cop6secpart/05.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2008.

162 UNEP Riso Center on energy, climate and sustainable development. Legal issues guidebook to the clean development mechanism, jun. 2004, p. 19.

163UNFCCC. Acordos de Marraqueche. Documento FCCC/CP/2001/13/Add.2, Decisão n. 17, COP7. Disponível em: <http://unfccc.int/resource/docs/cop7/13a02.pdf#page=20>. Acesso em: 10 abr. 2008.

O Acordo de Marraqueche também definiu que, no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, as atividades de projetos de uso da terra, mudança no uso da terra e florestas, é limitada a projetos de florestamento e reflorestamento e que esses projetos podem ser implementados na proporção máxima de 1% das emissões do ano-base para cada país membro, multiplicada pelos cinco anos referentes ao período de cumprimento.164

A necessidade de assistência para que países menos desenvolvidos e pequenos Estados insulares em desenvolvimento façam face aos efeitos adversos da mudança do clima é relembrada no Acordo de Marraqueche onde ficou definido que uma parcela das receitas oriundas da implementação dos mecanismos de flexibilização deve ser destinada para auxiliar estes países, em conformidade com o artigo 12, parágrafo 8, do Protocolo de Quioto. No caso do MDL, essa contribuição deve corresponder a dois por cento das RCE emitidas para uma atividade de projeto de MDL.165

Entre outras decisões relevantes para o funcionamento do sistema do MDL, está a decisão 21 resultante da COP 8, ocorrida em Nova Delhi, que estabeleceu as modalidades e procedimentos para projetos de MDL de pequena escala. As normas definidas nessa decisão possibilitam o desenvolvimento de pequenos projetos, por meio da diminuição dos custos de transação envolvidos no processo de certificação, ou seja, apesar de serem mantidas as mesmas etapas do ciclo do projeto previsto nos Acordos de Marraqueche, os requerimentos são menos rígidos e mais simplificados.166

A decisão 19, elaborada na COP 9, em Milão, é indispensável para implementação de atividades de projeto de florestamento e reflorestamento. Nesse mesmo sentido, a decisão 14, da COP 10 também é referente aos projetos de pequena escala de

164 UNFCCC. Acordos de Marraqueche. Documento FCCC/CP/2001/13/Add.2, Decisão n° 17, COP7, parágrafo 7°, incisos (a), (b). Disponível em: <http://unfccc.int/resource/docs/cop7/13a02.pdf#page=20>. Acesso em: 10 abr. 2008.

165 UNFCCC. Acordos de Marraqueche. Documento FCCC/CP/2001/13/Add.2, Decisão n° 17, COP7, parágrafo 15°, incisos (a). Disponível em: <http://unfccc.int/resource/docs/cop7/13a02.pdf#page=20>. Acesso em: 10 abr. 2008.

166 UNFCCC. Documento FCCC/CP/2002/7/Add.3, Decisão n. 21, COP 8. Disponível em: <http://unfccc.int/resource/docs/cop8/07a03.pdf#page=3>. Acesso em: 11 abr. 2008.

florestamento e reflorestamento. A partir da COP 11, o MDL passou a ser tratado pela Conferência das Partes na qualidade de Partes do Protocolo de Quioto e por isso, tem-se que as três reuniões da COP/MOP a partir da COP 11, contêm regras relevantes para o funcionamento efetivo do MDL.

Quando se analisa a legislação internacional pertinente ao MDL, não se pode deixar de mencionar a importância das resoluções do Conselho Executivo. Conforme apontado nesse trabalho, o Conselho Executivo supervisiona o andamento de todas as atividades relacionadas ao MDL, e por isso, muitas das decisões resultantes das suas reuniões são aceitas e oficializadas como regra pela COP/MOP. Nesse sentido, as recomendações do Conselho Executivo são essenciais para o estabelecimento de normas detalhadas sobre as modalidades e procedimentos a serem cumpridos pelos participantes das atividades de projeto.

Até o momento da elaboração deste trabalho, já foram realizadas quarenta e uma reuniões do Conselho e todas suas recomendações e relatórios estão disponíveis na integra no site da Convenção do Clima.167 As sessões são filmadas e transmitidas pela internet para que atores, observadores e o público em geral possam acompanhá-las. Com isso, é possível compreender o posicionamento do Conselho Executivo em diversas questões, como os requisitos para credenciamento das Entidades Operacionais Designadas; as metodologias de projetos de grande e pequena escala, assim como de florestamento e reflorestamento que foram revisadas ou aprovadas; assuntos relativos ao registro de atividades de projetos e de emissão de RCE e também outras questões conforme necessário. Por isso, a necessidade dos proponentes do projeto estarem atualizados em relação às decisões e/ou posicionamentos do Conselho Executivo, para evitar a formulação de propostas de projeto que discordem dessas resoluções.

167 UNFCCC. Executive Board meetings. Disponível em: <http://cdm.unfccc.int/EB/index.html>. Acesso em: 11 abr. 2008.

Verifica-se com essa análise que as legislações internacionais a serem seguidas no tocante ao MDL estão expressas no Protocolo de Quioto, nas decisões das Conferências das Partes do Protocolo de Quioto e nas resoluções do Conselho Executivo. Feita a apresentação do cenário normativo e institucional internacional do MDL será apresentado no tópico seguinte o funcionamento do sistema do MDL dentro do ordenamento jurídico nacional de um país, sendo que para este trabalho, adota-se o Brasil como exemplo. Assim, da mesma forma que foi feito para o âmbito internacional, analisa-se as instituições para depois analisar as legislações nacionais envolvidas no processo do MDL.