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Decisões que comportam o recurso de agravo

O artigo 162 do Código de Processo Civil cuida dos atos do juiz, esclarecendo que consistirão em sentenças, despachos e decisões interlocutórias. Conceitua referidos atos nos seus parágrafos, in verbis:

§ 1.° Sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269 desta Lei.

§ 2.° Decisão interlocutória é o ato pelo qual o juiz, no curso do processo, resolve questão incidente.

123

CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil. 13. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, p. 108-109. v. 2.

124

WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento. 10. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 627-628. v. 1.

125

GRECO FILHO, Vicente. Direito processo civil brasileiro. 19. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 343. v. 2.

126

CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil. 13. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, p. 109. v. 2.

§ 3.° São despachos todos os demais atos do juiz praticados no processo, de ofício ou a requerimento da parte, a cujo respeito a lei não estabelece outra forma.127

Como já exposto, o recurso de agravo se presta a atacar decisões interlocutórias. A “decisão interlocutória é todo e qualquer pronunciamento do juiz proferido no curso do procedimento e, normalmente, antes da sentença (embora não necessariamente)”. A decisão interlocutória pode cuidar de diversas matérias, mas não terá por objeto aquelas previstas nos artigos 267 e 269, que dão ensejo à resolução do processo mediante sentença, da qual cabe apelação128. A título exemplificativo tem-se a decisão que recebe recurso e diz em quais efeitos é recebido. Com efeito, “o agravo é admitido para todas as decisões que não sejam as extintivas do processo ou que não sejam os despachos”.129

Acerca do tema Misael Montenegro Filho leciona:

Com as atenções voltadas para o § 2° do art. 162, percebemos que a decisão interlocutória é qualificada como o pronunciamento do magistrado que resolve questão pendente no processo, causando gravame a uma das partes, sem pôr termo à demanda, como as decisões que antecipam a tutela, que deferem liminares, que impedem a ouvida de uma testemunha, que indeferem a tomada do depoimento de uma das partes, que negam a pretensão de produção da prova pericial, dentre outras. Contra essas decisões, é cabível o recurso de agravo, como regra, na forma retida, evitando a proliferação de agravos de instrumento em todas as Cortes do país.130

E ainda, Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery:

Segundo o sistema recursal do CPC, decisão interlocutória é o pronunciamento do juiz que, não colocando fim ao processo, resolve questão incidente ou provoca algum gravame à parte ou interessado (CPC 162 § 2.°). Ainda que decida questão de mérito, se a decisão não coloca fim ao processo é interlocutória, impugnável pelo recurso de agravo, como por exemplo ocorre quando o juiz pronuncia a prescrição relativamente a um dos litisconsortes passivos, prosseguindo o processo contra os demais. O conteúdo do ato é relevante mas não suficiente para qualificá-lo, importando também a finalidade do mesmo ato: se tem o conteúdo do CPC 267 ou 269 e, também, extingue o processo, é sentença; se contém matéria do CPC

127

BRASIL, Lei n° 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L5869.htm>. Acesso em: 29 out. 2009.

128

WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento. 10. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 623. v. 1.

129

GRECO FILHO, Vicente. Direito processo civil brasileiro. 19. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 337. v. 2.

130

MONTENEGRO FILHO, Misael. Código de processo civil: comentado e interpretado. São Paulo: Atlas, 2008, p. 581.

267 ou 269 mas não extingue o processo e sim resolve questão incidente, é decisão interlocutória.131

São exemplos de decisões interlocutórias atacáveis, pois, por agravo: a decisão de saneamento do feito (CPC, art. 338, in fine, c/c art. 331, § 2.°); a que decide acerca de pedido liminar nas ações possessórias (art. 930, parágrafo único); a sentença que julga o incidente de falsidade (art. 395).132

Araken de Assis traz em sua obra um rol extenso, abarcando diversas decisões interlocutórias. Dentre as proferidas em processo de conhecimento, destaca:

“[...] a que rejeita ou admite qualquer modalidade de intervenção de terceiros; a que exclui do processo algum litisconsorte; a que ordena ou nega a reunião de processos (art. 105); a que acolhe ou rejeita a argüição de incompetência absoluta, ou a declara ex officio (art. 113); a que defere ou indefere qualquer espécie de prova (art. 130), ou provê acerca de sua disciplina (v. g., acolhendo a contradita da testemunha); a que aprecia a impugnação ao valor da causa (art. 261); a que defere ou não a antecipação da tutela (art. 273); a que julga a exceção de incompetência (art. 309), ou a declara ex officio (art. 112, parágrafo único, na redação da Lei 11.280, de 16.02.2006); a que não admite a apelação ou, indevidamente, recebe-a no efeito suspensivo ou retira-lhe o efeito suspensivo decorrente da lei.133

No processo de execução e cumprimento de sentença arrola entre os atos passíveis de agravo:

[...] o que julga a liquidação por arbitramento ou por artigos (art. 475-H); o que rejeita no todo ou em parte a impugnação (art. 475-M, § 3.°, parte inicial); o que resolve o incidente de escolha ou de individualização da coisa (art. 630); o que fixa o prazo de cumprimento da obrigação de fazer e de não fazer (art. 632); o que determina o desfazimento do ato realizado em contravenção a obrigação de não fazer (art. 643, caput); o que decide o incidente de substituição de bens (art. 657, parágrafo único); o que consente no arrombamento (art. 661), no curso da penhora por oficial de justiça, e requisita força policial (art. 662); o que remove, a requerimento do credor, o depositário; o que anula a penhora (art. 667, I); o que admite a conversão voluntária do bem penhorado em dinheiro (art. 668); o que autoriza a alienação antecipada de bens (art. 670); o que aprova o plano de administração do bem penhorado (art. 677, § 1.°); o que nomeia perito para realizar a avaliação (art. 680) ou manda repeti-la (art. 683); o que modifica a penhora (art. 685); o que rejeita a oferta de preço vil (art. 692, caput); o que desfaz a arrecadação (694, § 1.°); o que sanciona o arrematante e o fiador inadimplentes (art. 695); o que homologa a alienação por iniciativa particular (art. 685-C); o que autoriza o credor singular a levantar o dinheiro (art. 709);

131

NERY JUNIOR, NELSON; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de processo civil comentado e legislação extravagante. 10. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 874.

132

ASSIS, Araken de. Manual dos recursos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 477-478.

133

o que equaciona o concurso de preferências (713); o que acolhe a adjudicação (art. 685-A, § 5.°); o que institui o usufruto de imóvel e de móvel (art. 717); o que decreta a prisão do devedor (art. 733, § 1.°); o que decreta a prisão do depositário, que não restituiu o bem penhorado; o que defere a remição (ou “adjudicação”) do bem (art. 685-A, § 2.° c/c § 5.°); o que declara suspensa a execução (art. 792, caput).134

Já no procedimento cautelar:

[...] o que concede ou não medida liminar (art. 804); o que ordena a cessação da medida anteriormente concedida (art. 807, parágrafo único); o que nomeia depositário dos bens arrestados ou seqüestrados (art. 824); o que declara a prisão do devedor que não restituiu ou aceitou o título de crédito (art. 885, parágrafo único).135

O legislador estabeleceu que mesmo tendo conteúdo de sentença, considera-se decisão interlocutória para efeitos de interposição de agravo, aquela prevista no artigo 475-H do Código de Processo Civil, que trata da decisão de liquidação de sentença.136

Percebe-se que é irrelevante o nome dado ao ato na lei ou pelo órgão judiciário (nomen juris). O que deverá ser observado será “tão-só a natureza do provimento à luz do art. 162”.

Destarte, há que se ter atenção para certas situações, pois “o acolhimento da questão preliminar acerca da ilegitimidade (art. 301, X) enseja a prolação de sentença [...] e deste ato cabe apelação (art. 513); a sua rejeição, porém, gera decisão interlocutória, [...] portanto, rende o agravo do art. 522.”137

O mesmo poderá acontecer com o despacho. Por exemplo, o ato “exarado em petição que pede a juntada de documento, é, em princípio, despacho, podendo, no entanto, consubstanciar-se em verdadeira decisão na hipótese de tal despacho vir a provocar o adiantamento de uma audiência previamente designada”.138

Para apuração da natureza do ato, tem-se que considerar a respectiva finalidade. Constatando-se que não põe fim ao processo (não é sentença), bem

134

ASSIS, Araken de. Manual dos recursos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 477-478.

135

ASSIS, Araken de. Manual dos recursos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 478.

136

WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento. 10. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 624. v. 1.

137

ASSIS, Araken de. Manual dos recursos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 477.

138

GRECO FILHO, Vicente. Direito processo civil brasileiro. 19. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 339. v. 2.

como causa sucumbência (não é despacho), será de natureza interlocutória, desafiando agravo.

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