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Decupagem de entrevista com diretor Tv Unisa Cláudio Lemos

Dirceu Góes – Qual o objetivo do programa Conexão Saúde, produzido pela TV Unisa e o quanto ele traz de informações ligadas ao jornalismo científico?

Cláudio Lemos – O objetivo do Conexão Saúde é levar informação porque nós temos um curso de Medicina muito forte aqui e o objetivo da Universidade e o da reitora não é divulgar a liderança mas divulgar a qualidade dos professores que nós temos. Então o objetivo do Conexão Saúde é divulgar a prestação de serviços e informação na área da Saúde. Se ele é científico? Não sei bem se ele tem essa preocupação, mas, por exemplo, eu agora estou na apresentação do programa e parti para um mestrado na área para me preparar e entrevistar melhor os nossos convidados. Eu só sei que nós temos muitos dados de pesquisas para divulgar do campus de Medicina da Unisa, que fica perto da represa, na área de mananciais.

DG – Qual a sua noção, o seu entendimento de jornalismo científico? CL – Eu acho que o jornalismo científico é feito por um cara totalmente especializado nessa área, que mostra os diversos avanços não só na área da Saúde, mas na área das Ciências Sociais Aplicadas em geral, além da Física, Química, Astronomia, enfim. Penso eu na minha maneira de ver que seria isso, né?

DG – Ao produzir o Conexão Saúde, como vocês percebem o acontecimento a ser selecionado como tema do programa?

CL – Hoje eu diria que a produção do Conexão Saúde ainda é muito experimental. Nós temos uma relação com todos os médicos do Curso de Medicina da Unisa e eles são sempre chamados para dar entrevistas que possam se transformar em prestação de serviços. Sempre como prestação de serviços. Existe um planejamento anual de entrevistas? Não, não existe, esse é um detalhe ainda a ser visto porque é uma coisa ainda de preparo da equipe.

DG – Os médicos da Instituição têm interesse de atender ao convite da televisão para participar do programa?

CL – Têm, tem sim. O conceito que eles têm da TV é dos melhores. A única dificuldade é por vontade própria virem atrás da produção, mas quando são convidados você dificilmente recebe um não.

DG- Para entrevistar todos esses médicos, de que maneira vocês se preparam?

CL – Eu leio tudo o que posso a respeito do fato a ser abordado. Com uma semana de antecedência da gravação do programa leio publicações especializadas na área da Medicina, colunas específicas na internet, a gente pesquisa às vezes o site da prefeitura que traz muitos números, muitos dados, pra gente ter um panorama geral da questão. Eu acho que um cara que faz entrevistas, um profissional dessa área ele deve fazer só isso, porque é suficiente para tomar o tempo dele nessa dedicação. DG – Quantos profissionais e estagiários compõem a sua equipe de produção televisiva?

CL – No estúdio eu tenho 12 profissionais e na TV eu trabalho com cinco estagiários. Dos 12 profissionais o meu supervisor é jornalista e os outros são técnicos. A nossa grade de programação varia muito e a gente produz uma média de quatro programas de 28 minutos cada por semana. O contrato com os estagiários é de um ano. A renovação é complicada porque você sempre está recomeçando a formar mão de obra da estaca zero. Em compensação, todos os que estagiam aqui já saem empregados no mercado de trabalho.

DG - Dentro de uma perspectiva jornalística, até que ponto vocês permitem a pluralidade de vozes no Conexão Saúde, convidando especialistas de outras instituições para serem entrevistados?

CL – Nós não temos nenhum problema com isso. Nós não nos limitamos a uma programação intestina. Se tem uma pessoa boa de uma área de fora é convidada. Outra coisa legal aqui é que nós temos um programa feito exclusivamente pelos alunos. Um programa só dos alunos. Lá eles têm um professor que orienta, mas eles têm toda liberdade de fazer a produção. Outro ponto: vou fazer um programa de debates daqui a um mês sobre saúde mental e para isso virão psiquiatras de lugares diferentes. Essa prática enriquece os programas de conteúdo e são formadores de opinião que vão nos conhecer e poderão dizer “olha, eles fazem uma televisão séria e procuram trabalhar da melhor maneira possível”. Isso é bom.

DG – Para vocês fica claro que trabalham com jornalismo ou vocês se apropriam dos gêneros jornalísticos para fazer uma propaganda disfarçada da Universidade?

CL – Nós pensamos que programa de entrevista é jornalismo. Agora, a Instituição precisa divulgar o trabalho dela. Então o que é que eu faço? Se eu tenho um bloco de 28 minutos, durante 26 minutos do programa eu produzo jornalismo em forma de entrevista e no “break” correspondente aos dois minutos de finalização, à parte, eu falo da

Instituição. Ali eu divulgo uma Semana de Odontologia, um debate promovido pelo Curso de Farmácia, entendeu?

DG – E quanto à introdução do contraditório? Se por acaso um convidado expõe algum dado que não corresponde às informações colhidas na pré-produção do programa vocês contestam o entrevistado no ar?

CL – Tudo o que entre num debate entre pessoas inteligentes, educadas, o contraditório tem que ser bem aceito. Eu posso te ouvir e não concordar com o que você fala, com nada daquilo que você diz. Mas eu tenho o direito de te ouvir e dizer o que eu penso, sem necessariamente concordar com a sua fala. Dentro da Universidade tem que haver o contraditório, o confronto de idéias, e o diferente faz parte do jornalismo.

DG – Qual a principal dificuldade para produzir o Conexão Saúde? CL – Dinheiro, é o financeiro, recursos. Nós somos das TVs do CNU que trabalhamos com menos gente. Eu faço uma TV universitária com cinco estagiários hoje. É uma questão de sobrevivência. Até mesmo os 12 funcionários dos estúdios, na realidade trabalham nos laboratórios dos cursos de Comunicação e na Educação à Distância. Por isso a gente grava nos horários vagos, entendeu? Por exemplo, se vou gravar eu gravo das 17h00 às 19h00. A equipe entra às 17h00 e sai às 23h00. Às 19h30 eles entram com aula ao vivo via satélite. Portanto, a parte de produção jornalística é feita com os estagiários e eu não vejo um disparate grande entre o que produzimos e o das outras televisões. DG – Qual o principal prazer de estar aqui há 15 anos?

CL – No meu caso, é o retorno do público. Quem nos assiste está acima dos 35 anos, habitualmente mulheres, que assistem o Canal Universitário pela linguagem dos programas e pela abordagem dos assuntos. Nós somos muito procurados pelos universitários para divulgar os trabalhos dos cursos. É até um paradoxo: os universitários querem a televisão para divulgar os trabalhos que fazem, mas para assistir acho que não. Diante desse dado, produzimos os programas usando o nosso tino jornalístico para agradar ao público e as respostas sempre vêm quando conseguimos produzir programas de prestação de serviços em Saúde. À vezes, quem nos dá um “feedback” são os médicos que participam das entrevistas quando dizem que foram reconhecidos em determinado ambiente ou foram parados na rua por pessoas em busca de mais informações depois que se apresentaram na televisão. A gente sabe que é bem assistido.

DG – Aqui existe alguma proibição quando à abordagem de assuntos considerados tabus?

CL – A gente tem uma liberdade de produção total. Não existe tabu, existe uma confiança e a gente procura evitar a abordagem leviana dos temas.

DG – Como o senhor analisa a produção das outras TVs integrantes do CNU?

CL – Eu acho que tem TVs com produções muito bem planejadas, uma produção de pautas intensa e bem elaborada. Todas têm um perfil bem próprio e que têm profissionais muito bons que fazem programas muito bem produzidos. As coisas não saem ao acaso. Em geral eu acho isso. DG – A tendência da TV universitária hoje em dia é de profissionalização?

CL – Eu acho que não. A tendência vai ser manter do jeito em que se encontra porque a TV é vista como custo. Os profissionais precisam entender uma coisa: se eu quiser fazer uma televisão profissional eu vou para o mercado comercial. A TV universitária lhe dá uma oportunidade que o mercado não dá: a de você trabalhar em todas as fases de produção de um programa, desde a elaboração da pauta à reportagem, ao programa de entrevistas e daí até a edição e talvez à apresentação dos programas. Você consegue ter uma visão global do processo de produção televisiva.

Anexo 4 – Decupagem de entrevista diretor Tv Mackenzie - Marcelo