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Ao abordar sobre o estudante cego, necessário se faz explicitar brevemente os conceitos que circundam as terminologias Deficiência Visual e Cegueira. No entanto, em busca de tais definições foi possível perceber que há uma vasta classificação acerca desses termos, embora, as classificações se concentram nos aspectos clínicos, educacionais, legais e esportivos, neste estudo serão explanados apenas os aspectos clínicos e educacionais.

A deficiência visual é causada por uma gama de anomalias ou enfermidades oculares que geram lesões ou prejuízos na capacidade de percepção visual que decorre de erros de refração, atrofia do nervo óptico ou degenerações da retina. Algumas dessas decorrências podem ser atenuadas ou corrigidas por meio de recursos ópticos ou intervenção cirúrgica, por exemplo, miopia, hipermetropia, astigmatismo e estrabismo (SÁ, 2009).

Entretanto, de acordo com Sá (2009), existem alguns casos de perdas e danos irreversíveis, estes são causados por fatores genéticos, hereditários, doenças infecciosas, vírus da rubéola, afecções parasitárias, medicamentos, desnutrição, entre outras como é o caso, por exemplo, da catarata.

A Organização Mundial de Saúde – OMS (2012)4 – considera deficiente visual a pessoa que é privada em parte ou totalmente da capacidade de ver. De acordo com

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o Conselho Brasileiro de Oftalmologia – CBO (2012), há quatro níveis de função visual, a saber: visão normal, deficiência visual moderada, deficiência visual grave e cegueira. No entanto, “a deficiência visual moderada combinada com a deficiência visual grave são agrupadas sob o título ‘baixa visão’. Baixa visão, em conjunto com a cegueira, representam a deficiência visual” (CBO, 2012, p. 10).

Para definir a cegueira são usados dois componentes da função visual como parâmetro para avaliar a deficiência visual, sendo a acuidade visual e campo visual5. A cegueira por acuidade visual é quando a visão corrigida no melhor dos seus olhos apresenta 20/200 ou menos, isto é, a pessoa enxerga apenas 20 pés ou 6 metros, enquanto uma pessoa que apresenta visão normal enxerga 200 pés ou 60 metros; e a cegueira por campo visual, ou amaurose6 implica em um campo visual menor que 10º de visão central que caracteriza visão de túnel, cegueira total ou falta da percepção de luz (CBO, 2012).

A cegueira é uma alteração drástica e irremediável, que tem como consequência a impossibilidade de perceber cor, tamanho, distância, forma, posição ou movimento de seres e objetos, entre outras restrições ou dificuldades de interações objetivas e subjetivas (SÁ, 2009, p. 3).

De acordo com os estudos de Sá (2009), a cegueira pode ser congênita ou adquirida: congênita, quando a incapacidade visual ocorre desde o nascimento, isto é, “se manifesta desde o desenvolvimento intrauterino no qual o bebê nasce cego” (MANGA, 2013, p. 38) ou nos primeiros meses de vida; e adquirida, quando “o indivíduo fica cego por questões orgânicas, acidentais ou medicamentosas” (MANGA, 2013, p. 39), tal ocorrência pode-se dar na infância, adolescência, juventude ou idade adulta. “Neste caso, o indivíduo conserva na memória um repertório de imagens visuais mais ou menos consolidado, dependendo da idade em que ocorreu a perda definitiva da visão” (SÁ, 2009, p. 3).

Com base nos estudos de Martins (2014), as principais causas congênitas podem ser: catarata congênita por rubéola e demais infecções, glaucoma congênito, retinopatia de prematuridade, atrofia óptica, corioretinite por toxoplasmose,

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Acuidade Visual – a maior capacidade de discriminar dois pontos a uma determinada distância e Campo Visual – a amplitude do espaço percebido pela visão (CBO, 2012, p. 10).

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A cegueira total ou simplesmente AMAUROSE, pressupõe completa perda de visão. Nela, a visão é nula, isto é, nem a percepção luminosa está presente” (CBO, 2012, p. 10).

deficiência visual cortical e degenerações retinianas; e as principais causas adquiridas são: Aids, sífilis, glaucoma, catarata, diabetes, degeneração senil, citomegalovirus, traumas oculares e deslocamento de retina.

Vale ressaltar que o termo cegueira não é absoluto, pois engloba diferentes graus de visão residual, no entanto, ele não indica total incapacidade de ver, em alguns casos pode ocorrer prejuízo da aptidão para a execução de tarefas rotineiras e observação de detalhes na vida diária. Todavia, considera-se cego, o indivíduo que apresenta ausência total de visão ou perda da capacidade de indicar projeção de luz. Neste caso, o sistema Braille é utilizado como principal recurso para leitura e escrita (PERINNI, 2013).

A cegueira parcial, por sua vez, engloba os indivíduos que são capazes apenas de contar dedos a curta distância e os que só percebem vultos. Logo, este indivíduo é capaz também de identificar a direção da luz. Também considerados com cegueira parcial ou visão subnormal, porém, mais próximos da cegueira total estão os indivíduos que só têm percepção e projeção luminosa, com isso apenas conseguem distinguir entre claro e escuro (CONDE, 2015).

No que tange, à baixa visão ou visão subnormal, esta é caracterizada como “uma condição visual complexa e variável que dificulta as atividades de leitura e escrita, interfere ou limita a execução de tarefas e o desempenho de habilidades práticas” (SÁ, 2009, p. 6). De acordo com a Organização Mundial de Saúde (2012), uma pessoa com baixa visão é aquela que apresenta uma deficiência da função visual mesmo depois de tratamento e/ou correção refrativa, tendo a acuidade visual de 20/60 ou menos, porém, com percepção de luz, ou possui um campo visual inferior a 10 graus de campo visual central, no entanto, usa sua visão ou é potencialmente capaz de usá-la em planejamento e/ou execução de alguma tarefa

Perinni (2013), apresenta em seus estudos que uma pessoa que possui baixa visão enxerga 20% a menos do que uma pessoa com visão normal, mesmo depois do uso de óculos, lentes de contatos ou implante de lentes intraoculares. Nesse sentido, a visão subnormal não deve ser comparada com a cegueira, pois o indivíduo que apresenta esse tipo de deficiência é capaz de ler materiais impressos ampliados ou com auxílio de instrumentos que ampliam letras (PERINNI, 2013).

As pessoas com baixa visão apresentam dificuldades de ver detalhes em seu dia a dia, por exemplo, “veem as pessoas mas não reconhecem a feição, as crianças enxergam a lousa porém não identificam as palavras, no ponto de ônibus não reconhecem os letreiros” (FUNDAÇÃO DORINA NOWILL, 20157

).

Na abordagem educacional, a definição de cegueira surgiu a partir da comprovação, por meio de estudos, de que pessoas do mesmo grau de acidade visual apresentam diferentes níveis de desempenho visual na execução de tarefas. Após essa análise, estudiosos enfatizaram a necessidade de uma avaliação funcional, pela área educacional, com observação criteriosa da capacidade e desempenho visual da criança no viés de estabelecer um ensino adequado a sua necessidade (BRASIL, 2001).

Sob esse aspecto e, portanto, para fins educacionais, são por elas considerados: Pessoas com baixa visão – aquelas que apresentam “desde condições de indicar projeção de luz até o grau em que a redução da acuidade visual interfere ou limita seu desempenho”. Seu processo educativo se desenvolverá, principalmente, por meios visuais, ainda que com a utilização de recursos específicos.

Cegas – pessoas que apresentam “desde ausência total de visão até a

perda da projeção de luz”. O processo de aprendizagem se fará através dos sentidos remanescentes (tato, audição, olfato, paladar), utilizando o Sistema Braille, como principal meio de comunicação escrita (p. 34-35, grifos meus).

Ainda com base nos documentos nacionais, os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs – conceituam a cegueira como sendo a

[...] perda da visão, em ambos os olhos, de menos de 0,1 no melhor olho após correção, ou um campo visual não excedente a 20 graus, no maior meridiano do melhor olho, mesmo com o uso de lentes de correção. Sob o enfoque educacional, a cegueira representa a perda total ou o resíduo mínimo da visão que leva o indivíduo a necessitar do método braille como

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A Fundação Dorina Nowill é uma organização sem fins lucrativos e de caráter filantrópico, que há mais de seis décadas tem se dedicado à inclusão social das pessoas com deficiência visual, por meio da produção e distribuição gratuita de livros Braille, falados e digitais acessíveis, diretamente para pessoas com deficiência visual e para cerca de 2.500 escolas, bibliotecas e organizações de todo o Brasil. A Fundação Dorina Nowill para Cegos também oferece, gratuitamente, programas de serviços especializados à pessoa com deficiência visual e sua família, nas áreas de educação especial, reabilitação, clínica de visão subnormal e empregabilidade. Ao longo dos anos a Fundação Dorina Nowill para Cegos produziu mais de seis mil títulos e dois milhões de volumes impressos em Braille. A instituição produziu ainda mais de 1.600 obras em áudio e cerca de outros 900 títulos digitais acessíveis. Além disto, mais de 17.000 pessoas foram atendidas nos serviços de clínica de visão subnormal, reabilitação e educação especial. Fonte: (http://www.fundacaodorina.org.br/quem- somos/a-fundacao-dorina/)

meio de leitura e escrita, além de outros recursos didáticos e equipamentos especiais para a sua educação (BRASIL, 1998).

Neste sentido, a concepção educacional tende a romper com o conceito clínico, pois enquanto aquela enxerga a pessoa para além da sua deficiência e busca tratar cada indivíduo de acordo com a sua necessidade, dando ênfase a sua potencialidade, esta vê a deficiência apenas como uma doença.