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1. PROCEDIMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS PARA TRATAMENTO E

1.4 AS RELAÇÕES DE PRODUÇÃO-FORMAÇÃO E PRÁXIS POLÍTICA DOS

1.4.2 Definição das categorias empíricas

Embora as análises das mensagens serem feitas, de acordo com Bardin (2016), a partir de categorias não são obrigatórias, a maioria dos estudos construídos com base na análise de conteúdo se organiza nos moldes da categorização, assim, a “[...] divisão das componentes das mensagens analisadas em rubricas ou categorias não é uma etapa obrigatória de toda e qualquer análise de conteúdo” (BARDIN, 2016, p. 148). Por outro lado, “[...] a criação de categorias é o ponto crucial da análise de conteúdo” (FRANCO, 2008, p. 63). Com relação à categorização, trata-se de “[...] uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciação e, em seguida, por reagrupamento segundo o gênero (analogia), com os critérios previamente definidos” (BARDIN, 2016, p. 147).

No início deste capítulo apresentamos as categorias de análise do referencial teórico- metodológico da presente pesquisa, aquelas de cunho teórico, construídas a partir da teoria que embasa a tese, são elas: totalidade, contradição e mediação.

41 Uma hipótese é, para Bardin (2016, p. 128), “[...] uma afirmação provisória que nos propomos verificar

Quadro 2: Síntese do percurso da pré-análise na pesquisa

Fonte: Elaborado para esta pesquisa.

As categorias empíricas desta pesquisa foram construídas a partir da realidade dos pescadores da Z-16 e materializadas em suas falas, intermediadas pelos eixos temáticos. Assim, as construções das categorias empíricas não se pautaram em processos rígidos, mas, pelo contrário, valorizaram outras experiências, como a pesquisa de mestrado, pois “[...] em geral, o pesquisador segue seu próprio caminho baseado em seus conhecimentos e guiado por sua competência, sensibilidade e intuição” (FRANCO, 2008, p. 64). Essa experiência articulou-se, então, com a concepção teórica da presente tese, o materialismo histórico dialético, em um movimento dialético que se articula entre a teoria e o material de análise, produzido a partir da pesquisa de campo.

PRÉ-ANÁLISE

DOCUMENTOS

Estatuto da Colônia de Pescadores Artesanais Z-16. Estatuto da Cooperativa de Empreendimentos Autogestora de Cametá, criada pela Colônia Z-16. Resumo do relatório da pesquisa participativa realizada pelos grupos de base do MAB no município de Cametá,

no período de fevereiro a março de 2006. Atas das reuniões e das assembleias das eleições

da entidade pesquisada.

OBJETIVO

Compreender as atividades desenvolvidas no cotidiano dos

e pelos pescadores da Z-16, como práxis política de subsistência, mas revelando

ações que se contrapõem à lógica da classe dominante. Analisar a práxis política dos

pescadores da Z-16 nos contextos da conformação e da contestação. HIPÓTESE Os pescadores da Z-16, ao desenvolverem suas atividades de subsistência, materializam relações de produção-formação e práxis

política, mas, ao mesmo tempo, revelam ações que se contrapõem à logica da classe dominante, numa

relação de contradição

INDICADORES Luta dos pescadores. Participação dos pescadores

nos movimentos internos e externos da Z-16. Necessidade socioeconômica dos pescadores. OBJETIVO Analisar as relações de produção-formação e

práxis política dos pescadores

da Z-16, no contexto histórico de sua atividade.

Analisar a concepção predominante nas relações

de produção-formação e

práxis política dos

Esse longo processo – o da definição das categorias – na maioria dos casos implica constantes idas e vindas da teoria, ao material de análise, do material de análise à teoria e pressupõem a elaboração de várias versões do sistema categórico. As primeiras, quase sempre aproximativas, acabam sendo lapidadas e enriquecidas, para dar origem à versão final, mais completa e mais satisfatória (FRANCO, 2008, p. 64).

Assim, a partir das análises entre a teoria e o material coletado, construímos as categorias empíricas. A primeira categoria foi a da formação dos pescadores da Z-16, que se tornou relevante, porque possibilitou compreender a concepção de sociedade dos pescadores, presente nas falas desses sujeitos pesquisados. Essa categoria se inter-relaciona com a categoria produção material do cotidiano dos pescadores, que envolve os diversos aspectos sociais que esses sujeitos estão inseridos, como as dimensões socioeconômica, política e formativa. Além dessas duas categorias, consideramos a práxis política, categoria central para a análise do objeto em estudo, pois, é por intermédio dela que se materializam as relações de produção- formação dos pescadores da Z-16. A seguir, apresentamos um quadro que sintetiza o percurso da pesquisa desenvolvido a partir da análise de conteúdo.

Quadro 3: Percurso do tratamento dos dados a partir da Análise de Conteúdo

Seleção dos documentos e sujeitos da pesquisa. Construção da hipótese, categorias e indicadores.

Construção do sistema de categorias

Codificação dos dados através das unidades de registro e unidade

de contexto.

Análises e considerações

finais Categorias Analíticas Categorias empíricas

Unidade de análise: unidade de registro e

unidade de contexto

Inferência e discussões

Fonte: Adaptado de Bardin (2016, p. 271).

De posse desses elementos que compõem a análise de conteúdo, apresentaremos, no terceiro capítulo, as análises do objeto da presente pesquisa à luz da proposta descrita acima. A análise dá ênfase às mensagens produzidas nas falas dos entrevistados, assim como as mensagens registradas nos documentos selecionados para essa pesquisa. A seguir, apresentamos um quadro-síntese da análise desenvolvida nesta pesquisa.

Quadro 4: Síntese do movimento para análise dos dados Categorias

Analíticas

Categorias

Empíricas Indicadores Índice

Unidade de Contexto

Unidade de Registro Totalidade pescadores da Z-16 Formação dos pescadores A luta dos pescadores Luta dos O pescador da

Contradição Produção material do cotidiano dos pescadores A participação nos movimentos interno e externo Organização se excluído das questões socioeconômica e política e de seus direitos como cidadãos numa sociedade excludente. trabalho cooperativa, projetos para diversas

áreas, acordo de pesca, é formação

política, é uma entidade em prol dos

pescadores. (Pescador, 7) Mediação Práxis política

Necessidade socioeconômico e

político dos pescadores da Z-16.

Participação

Fonte: Quadro produzido exclusivamente para este trabalho.

Após a revisão bibliográfica, definimos a teoria que pauta esta tese, o materialismo histórico dialético, a partir dessa definição selecionamos as categorias teóricas: a totalidade, a contradição e a mediação. Por se tratar de um objeto específico, optamos pelo estudo de caso, articulada com a abordagem qualitativa. Para dar conta de analisar os dados, vamos nos pautar na análise de conteúdo. Desse modo, construímos as inferências sobre o objeto do presente estudo no terceiro capítulo.

SÍNTESE DO CAPÍTULO

Demonstramos, neste capítulo, a base teórico-metodológico que sustenta a pesquisa: o materialismo histórico dialético, acompanhado da abordagem qualitativa, do tipo estudo de caso. Descrevemos a técnica utilizada no tratamento dos dados, Análise de Conteúdo, a partir de Bardin (2016) e Franco (2008). Registramos, em seguida, os eixos temáticos que nortearam as entrevistas com os pescadores da Z-16 e o critério usado para selecioná-los, ou seja, foram escolhidos pescadores que assumem a gestão da entidade e pescadores que não assumem nenhuma função administrativa, buscando, com isso, discernir o posicionamento de cada sujeito no momento.

Além disso, definimos o uso da entrevistada semiestruturada, por ela possibilitar uma conversa mais aberta com os sujeitos entrevistados. A realização da coleta dos dados, por sua vez, seguiu a orientação sistematizada a partir do plano de trabalho, que direcionou o percurso da ida a campo. Vale registrar que o pesquisador já possuía relações amigáveis com a coordenação da entidade pesquisada, por já ter realizado pesquisa de mestrado no mesmo lócus, o que proporcionou segurança tanto para o pesquisador quanto para os pesquisados no momento da coleta de informações.

Como já foi mencionado, a conversa com os sujeitos da pesquisa, seguiu os eixos temáticos: contexto histórico da organização da Colônia Z-16; atuação política da Colônia para com seus filiados; e luta da Colônia no cotidiano da práxis política dos pescadores da Z-16. Essa estratégia foi fundamental, porque permitiu objetividade na coleta das informações.

A partir da coleta, procuramos identificar os indicadores, os elementos que mais aparecem nas falas, mesmo implicitamente, que são:a luta dos pescadores, a participação nos movimentos interno e externo e as necessidades socioeconômica e política dos pescadores da Z-16.

Os indicadores revelaram que os pescadores da Z-16 são sujeitos que, historicamente, vêm lutando, desde a década de 1960, para a conquista da entidade, o que foi conseguido a partir da década de 1990. A conquista da instituição intensificou ainda mais a luta pela garantia da sobrevivência dos pescadores, como, por exemplo, no caso dos acordos de pesca, para evitar a atividade pesqueira em determinado período e com alguns tipos de instrumento, ou ainda na luta para que o Estado fizesse valer os direitos dos trabalhadores, conforme a legislação.

A partir dos indicadores construímos as categorias empíricas:formação dos pescadores da Z-16; produção material do cotidiano dos pescadores e práxis política. Assim, as falas dos sujeitos revelaram que eles possuem uma realidade peculiar, de modo que produzem suas condições de subsistência, mas se organizam em uma entidade de pescadores, configurando uma fração de classe. Nesse movimento, compreendeu que esses sujeitos, ao mesmo tempo em que produzem, formam-se como sujeitos políticos.

A análise desta pesquisa, presente no terceiro capítulo, compreende os pescadores da Z-16 como sujeitos que vêm construindo seu espaço a partir de suas organizações, embora numa relação de contradição, de modo que, ao lutar para dar conta de sua existência, revelam condições que se configuram numa postura contra-hegemônica, mesmo que esses pescadores não tenham muita clareza disso.

2. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA PRÁXIS POLÍTICA DOS PESCADORES