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2. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA PRÁXIS POLÍTICA DOS

2.2 CARACTERISTICA DA PESCA ARTESANAL E INDUSTRIAL A PARTIR

2.2.3 A pesca industrial

Para contribuir na contextualização do objeto desta pesquisa, consideramos válido apresentar uma síntese, distinguindo a pesca artesanal, descrição feita anteriormente, da pesca industrial, que possui outro objetivo, outra metodologia de pesca e característica diferente em relação à pesca artesanal. De acordo com a Lei nº 11.959, de 29 de junho de 2009, no artigo 8º, inciso I e alínea “b”, define pesca industrial: “[...] quando praticada por pessoa física ou jurídica e envolver pescadores profissionais, empregados ou em regime de parceria por cotas-partes, utilizando embarcações de pequeno, médio ou grande porte, com finalidade comercial”. Complementando esse conceito de pesca industrial, Giulietti e Assunpção (1995) destacam:

A pesca industrial é a do tipo empresarial, com embarcações de grande tonelagem e motorizadas, cuja tecnologia de captura é desenvolvida, com alta capacidade produtiva e em áreas distantes da costa, com grande autonomia de navegação. Essa frota normalmente é direcionada à captura de determinadas espécies como camarão, de alto valor unitário; sardinha, que é capturada em grandes volumes, mas tem valor unitário baixo; pescada; corvina; merluza e outras (GIULIETTI; ASSUMPÇÃO, 1995, p. 99).

Como se pode observar, essa característica de pesca possui finalidade comercial, logo, deve atender aos ditames tributários do país, ou melhor sua comercialização é regida por normas específicas de comercialização do Estado. Para Giulietti e Assumpção (1995, p. 96), a pesca no Brasil sempre esteve vinculada à indústria, iniciando com a pesca da baleia para extração do óleo, devido ao seu valor comercial. Para esses autores, a indústria da pesca no território nacional, apesar de iniciar muito cedo, tem sua organização legal somente em 1962, por isso, dividem a atividade da pesca no país em duas grandes fases: a primeira começa no século XVIII e se estende até 1962, esse período é compreendido como pesca artesanal ou pré-industrial: “A primeira fase, chamada de artesanal ou pré-industrial, que começa no século XVIII e vai até

1962, quando foi criada a Superintendência do Desenvolvimento da Pesca (SUDEPE) [...]” (GIULIETTI; ASSUMPÇÃO, 1995, p. 96).

Nessa primeira fase da pesca no Brasil, principalmente a partir de 1912 surge os primeiros atos legais, como, por exemplo, em 1765 é regimentada a pesca da baleia, em 1772, é regulamentada a exportação do sal, produto importante na conservação do pescado. Em 1798 é concedida a liberdade para construir e armar navios para a pesca e a transformação de peixe na costa litorânea brasileira. Em 1802 o governo concedia privilégio e prêmios para quem se dedicasse à atividade de pesca. Em 1846, por meio do Decreto nº 447, que obrigava os pescadores e as embarcações se matricularem na Capitania dos Portos, prevendo a utilização de pescadores como instrumento de defesa da nação. Assim, no início da primeira fase da pesca no Brasil se resumia à pesca da baleia.

Ainda na primeira fase do contexto histórico da pesca industrial, Giulietti e Assumpção (1995, p. 97) destacam que, em 1962, o governo cria a SUDEPE, vinculada ao Ministério da Agricultura, com poderes para elaborar e executar o Plano Nacional de Desenvolvimento Pesqueiro e outras legislações ligadas à pesca. Em 1966, a pesca industrial ganha mais um atrativo, por meio do Decreto nº 58.656, incluindo a pesca como indústria de base, possibilitando o financiamento pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico, porém é com o Decreto-lei nº 221, de 28/02/1967, que a pesca industrial ganha um impulso mais significativo, pois “[...] incluiu entre as atividades relacionadas com o desenvolvimento do País, admitindo para isso deduções tributárias para investimentos em projetos pesqueiros, vigorando até 1972, os chamados ‘incentivos fiscais da pesca’ [...]” (GIULIETTI; ASSUMPÇÃO, 1995, p. 97).

Os incentivos fiscais contribuíram significativamente para a organização da pesca no campo industrial, porém a intensificação da pesca provocou escassez de determinadas espécies, como o camarão-rosa e a sardinha. Por outro lado, houve uma polarização das indústrias pesqueiras no país, centralizando nas regiões Sul e Sudeste do país.

A aplicação dos recursos financeiros oriundos dos incentivos fiscais deu grande impulso à industrialização na atividade pesqueira e trouxe modificações importantes na organização da pesca. Entretanto, os objetivos alcançados foram distintos dos inicialmente previstos, como o superdimensionamento da frota especializada na captura de determinadas espécies, como o caso da pesca do camarão-rosa, em que os estoques desse crustáceo foram quase que dizimados nas Regiões Sudeste e Sul, com aumento na produção com vistas ao mercado externo (GIULIETTI; ASSUMPÇÃO, 1995, p. 98).

Apesar dos incentivos estatais para com a indústria da pesca, ainda há a necessidade para a implementação de política mais consistente no setor, de modo que a estrutura da indústria da pesca no país se configura, ainda, como tradicional. Porém, isso não impede que esse ramo da produção industrial brasileira se iguale aos países desenvolvidos.

A estrutura industrial existente tem como caraterística ser tradicional e, portanto, muito antiga. Das indústrias novas que se instalaram na época dos incentivos fiscais, muitas delas não subsistiram. Mas apesar dessa antiguidade, como já foi dito, a tecnologia empregada é moderna e se iguala aos padrões dos concorrentes externos (GIULIETTI; ASSUMPÇÃO, 1995, p. 98).

Assim, a pesca industrial possui outra característica e finalidade, voltada para atender aos ditames do mercado, tendo o lucro de capital como alvo principal. Articulando com a pesca artesanal, desenvolvida pelos pescadores da Z-16, fica fácil perceber as diferenças de concepção no campo da pesca. Na Z-16, os pescadores compreendem a necessidade de manter o pescado para as próximas gerações, de modo que produzem uma certa quantidade que possa suprir suas necessidades. Uma postura política construída nas relações com seus pares, a partir de uma entidade representativa.

A Colônia não é somente para pagar uma pequena tacha como filiado no final do mês, mas sim para incentivar as pessoas como pescar, de que maneira pescar. No início de dezembro fecha a pesca, devido o período da piracema. Antes da Colônia não existia fechamento de pesca, a gente pescava e pegava “porrada” de peixe miúdo e jogava fora, hoje o pescador é “vigiado”, devido um acordo fechado com a coordenação de base, se o pescador pegar peixe miúdo é chamado atenção, para evitar esse pescado, deixando o peixe crescer. A Colônia “abriu o olho da gente”, temos direitos, mas também deveres para ser cumprido. Isso antes a gente não tinha, uma entidade como essa é uma coisa fundamental para nossa vida (PESCADOR, 5).

A fala do entrevistado demonstra que há uma diferença da pesca industrial desenvolvida no cento-sul do país, da pesca artesanal praticada pelos pescadores da Z-16; esses, por sua vez, vêm construindo, a partir de suas organizações, práxis política que possibilita garantir sua subsistência, mas, ao mesmo tempo, contribuindo para proporcionar um futuro melhor para as próximas gerações. Para Gutiérrez (1988, p. 50), “[...] a mudança mais importante não tem a ver com programas, nem com medidas administrativas, mas com aqueles elementos capazes de gerar novas e significativas relações sociais”.

2.3 PRÁXIS POLÍTICA DOS PESCADORES ARTICULADA COM PARTE