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Para delimitar a nossa grelha analítica e face à abundante literatura sobre esta temática, seleccionámos algumas perspectivas que melhor representassem a abordagem que queremos seguir – o capital social em contexto escolar H, deixando de parte outras que certamente não deixaram de ter uma contribuição decisiva para o debate geral sobre o conceito. Em primeiro lugar, e na medida em que este autor se revelou particularmente importante na aplicação do conceito em meio escolar, importa referir o contributo de Coleman na definição do conceito em análise.

Segundo este autor, o capital social consiste numa “variety of different entities, with two elements in common: they all consist of some aspect of social structures, and they facilitate certain actions of actors – whether persons or corporate actors – within the structure” (Coleman 1988: 98). Ainda que esta definição, algo ampla, não distinga claramente os recursos em si mesmo da capacidade de os obter devido à pertença em estruturas sociais e de assim poder embarcar vários processos diferentes (Portes, 2000: 137), não deixa de aludir a certas considerações importantes.

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Além disso, este tipo de redes tende a ser socialmente indesejável: são disso bons exemplos as máfias, os círculos de jogo e prostituição ou os ) ) juvenis.

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Embora não o tenha definido de forma precisa, foi Bourdieu o primeiro autor a referirHse ao conceito de capital social nas 5 ; ; / / em 1980 (Bourdieu, 1980), como “l’ensemble des ressources actuelles ou potentielles qui sont liées à la possession d’un

plus ou moins institutionalisées d’interconnaissance et d’interHreconnaissance” (p.2). Este contributo introduziu alguns elementos que permitiram um posterior maior delineamento do conceito, nomeadamente a referência a relações duráveis de proximidade ou mesmo a convertibilidade dos capitais (através do capital social, das relações que estabelece com outros, um indivíduo pode alcançar capital cultural, por exemplo).

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Ao definir o capital social como qualquer estrutura social ou recursos úteis para

acções específicas dos indivíduos, Coleman enfatiza o conceito como um E ,

que depende da vontade de cada indivíduo para o obter. Cada um pode utilizar os recursos que provêm das estruturas para atingir os seus interesses: a sua acção está conformada por interacções, que por sua vez geram estruturas que contêm elementos que podem constituir capital social. Segundo Adler e Kwon (2002: 17), é aqui que reside a noção de “appropriability of social structure”, no sentido em que uma rede de amizades de um indivíduo, por exemplo, pode ser utilizada para objectivos diferentes (informação, conselhos, etc.).

Assim entendido, o capital não é atributo dos indivíduos: é na verdade inerente à estrutura das relações sociais, e só existe por trocas entre os membros desta (Millán & Gordon, 2004). A função do conceito é fazer com que alguns aspectos dessas estruturas possam ser considerados como recursos para certos actores e possam ser usados para atingir certos interesses ou cobrir certas necessidades.

É nesse aspecto que o capital social assume um papel importante na criação de capital humano: os recursos, competências e habilidades de cada um só são acessíveis aos restantes membros do grupo se as relações entre estes forem ( . Isto tanto pode ocorrer num grupo mais alargado como na família: “if the human capital possessed by parents is not complemented by social capital embodied in family relations, it is irrelevant to the child’s educational growth that the parent has a great deal, or a small amount, of human capital” (Coleman, 1988: 110). Segundo Portes (2000), ao defender a complementaridade dos dois conceitos, Coleman contribuiu para a visibilidade do capital social na sociologia americana.

Sendo que está localizado nas entre indivíduos e não neles próprios, é

necessário um envolvimento e cooperação mútuos de todos para construir capital social: o descomprometimento de uma parte pode destruíHlo. Isto também implica que para assegurar o capital social dentro das estruturas sejam necessárias normas, obrigações, confiança, sanções e autoridade. Tais aspectos influenciam a qualidade de relações, o empenho dos indivíduos na troca de recursos, na assistência mútua: as relações levam, na verdade, a que se criem interdependências entre os actores (Millán & Gordon, 2004: 715).

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O autor também sublinha a necessidade de redes densas como condição para a emergência de capital social, ao introduzir a noção de ( ; . Esta significa que são precisos laços bastante fortes entre um grupo de pessoas – ou de uma rede – para fazer com que se cumpram um certo número de normas. A ideia é que as normas, apropriáveis então por todos os membros da rede, facilitem as transacções – ou seja, a circulação de recursos – através da confiança entre eles, pois todos acreditam que todos os outros vão obedecer às regras estabelecidas: todos desenvolvem expectativas de reciprocidade. Os indivíduos de uma rede densa que interiorizaram as suas normas comportamHse deste modo na medida em que se sentem obrigados a tal (e também porque seriam sancionados pela comunidade em que estão inseridos se não o fizessem).

Com comunidades densas deste tipo também se evita o ( 6 ) ou seja, o

“aproveitamento parasitário de bens colectivos” (Portes, 2000: 153). Ao chamar a atenção para como um indivíduo pode usar os recursos das relações no sentido de melhorar as suas acções individuais, Coleman enfatiza a natureza colectiva do capital social, ao criar confiança, normas, sanções, autoridade e fechamento das redes. O facto de também ser um “bem colectivo” – além de, como referimos anteriormente, poder ser visto como um bem público – é particularmente verificável se atentarmos numa comunidade mais ou menos fechada. Se uma pessoa fizer uso dele, este não deixa de estar disponível para os demais. No entanto, e ao contrário de um bem totalmente público, esse uso é reservado: os que não fazem parte da comunidade podem ser excluídos de uma dada rede de relações e dos seus recursos.