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O enfoque das redes tem sido uma das perspectivas mais difundidas do estudo sobre o capital social42. Embora também encerre certas divergências conceptuais, optámos por apresentáHla, na medida em que nos pode ser útil para complementar a visão de Coleman e particularmente pertinente no estudo da relação entre a escola e a comunidade envolvente.

Nesta perspectiva, situamoHnos ao nível de actores particularizados e as principais investigações incidem sobre a forma ou estrutura das redes – ou seja, como

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Para alguns autores, as redes são o melhor representante do capital social: “De par sa nature intangible, non matérielle, et sa caractéristique relationnelle, le réseau peut être considéré comme l’exemple type du capital social ” (Steiner, 1999: 77).

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está distribuído o capital social – ou como se opera o acesso individual aos recursos. A instrumentalidade dos laços sociais como forma de mobilidade é também um dos elementos centrais deste tipo de análise (Granovetter, 1983; Lin, 1999).

Alguns autores que se debruçam sobre estas temáticas desafiam o pressuposto de Coleman sobre a necessidade de redes densas ou fechadas e respectivos “laços fortes” para a emergência de capital social. Granovetter, por exemplo, alerta para o facto da densidade e força das redes em que o indivíduo se encontra ser uma fonte de constrangimentos mais do que recursos43. Nos chamados “laços fortes”, a relação é mais próxima e implica outro tipo de reciprocidade a que uma relação mais fraca não obriga. Por outro lado, os membros fechados numa rede densa de relações só têm acesso a recursos que lhes dão os parceiros dessa rede: os actores com relações “para fora” podem ter acesso a recursos exteriores e adquirir assim uma maior autonomia.

É nesta linha de ideias, e privilegiando a das relações entre os indivíduos, que o autor desenvolve a sua teoria da “força dos laços fracos” (Granovetter, 1983): este tipo de laços pode trazer informações novas e pertinentes para uma rede de relações fortes. Desta maneira, há vantagens posicionais para os indivíduos que se encontram em posições de mediação entre uma e outra rede, pois podem aceder a recursos de uma e outra: “The weak tie […] becomes not merely a trivial acquaintance tie but rather a crucial bridge between the two densely knit clumps of close friends” (ibid: 202).

Ainda nesta perspectiva, outros autores vieram acrescentar que a dos laços conta tanto como a dos laços – ou actores – no interior de uma rede, nomeadamente Burt, com a sua teoria dos “buracos estruturais” (Portes, 2000; Lin, 2001). FocandoHse principalmente na configuração da rede, Burt afirma que a gestão das redes de relações devia tender para segmentos de rede não muito densos, pois os actores

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Na verdade, o autor parte da noção (Granovetter, 2003), isto para conseguir uma alternativa tanto à concepção subsocializada do actor – da teoria económica, que vê o actor racional muito pouco constrangido pelo ambiente social – como à concepção sobresocializada – da sociologia funcionalH estruturalista, que vê o actor individual condicionado pela sua socialização (Coleman, 1988). Assim, esta noção permiteHnos perceber que toda a acção está enraizada em relações sociais, que condicionam e/ou possibilitam a acção de grupos ou indivíduos. É de notar que a tradução para português do termo traz alguns problemas, sendo que os termos mais comuns para o designar são ou . Preferencialmente, utilizaremos este último uma vez que traduz mais o efeito de “embutir”, “encaixar”, enquanto o primeiro termo transmite mais a ideia de “ligar”, pelo menos segundo o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora (2008).

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devem escolher estrategicamente os seus contactos de maneira a evitar ligações e recursos redundantes – numa rede densa, a diversidade de informação é escassa e os constrangimentos e os custos elevados. Cortar relações com pontos de equivalência estrutural – que levariam aos mesmos recursos, e que portanto podem ser substituídos – leva a uma redução de contactos e a uma consequente libertação de constrangimentos. O importante é estabelecer relações com pontos de mediação, o que significa abrir “buracos estruturais”. Estes permitem obter informação útil não redundante – aqui considerada como recurso – com menos custos.

Um outro autor marcadamente importante nesta perspectiva das redes é Lin, que se preocupa fundamentalmente em saber quais os benefícios do capital social e de que forma podem ser acessíveis (Millán & Gordon, 2004). Como Granovetter, Lin defende a construção deliberada de pontes entre redes no sentido de alcançar um conjunto mais amplo de recursos, isto porque também parte do pressuposto que há uma hierarquia no interior das redes e que cada pessoa não possui o mesmo tipo de recursos. No entanto, e tal como Burt, não partilha da “teoria da força dos laços fracos”, na medida em que considera que se pode obter capital social tanto com laços fracos como com laços fortes.

Lin (2001: 34) salienta assim as diferentes potencialidades das redes: “The root of preferring a dense or closed network lies […] in certain outcomes of interest”. As densas, com relações fortes, são vantajosas para manter ou preservar recursos. As redes fracas são utilizadas para alcançar novos recursos e revelamHse particularmente úteis para acções instrumentais. Os actores podem ser então movidos por dois tipos distintos de motivação que os fazem querer inserirHse num ou noutro tipo de rede.

Desta forma, Lin entende que as possibilidades de obter um maior capital social não dependem dos laços, mas antes da orientação da acção dos indivíduos para obter recursos oriundos da sua rede de relações: daí a diferença entre “accessed social capital” H recursos acedidos através da rede de relações, como o modelo proposto por Coleman H e “mobilized social capital” – que foca a utilidade instrumental dos recursos, a qual depende da capacidade de cada indivíduo (ibid).

No entanto, mesmo caso um indivíduo procure alcançar novos recursos, e assumindo que pontes (laços fracos, “buracos estruturais”) levam a diferentes informações, nem todas elas conduzem a uma melhor informação. De facto, dependem sempre do que espera o indivíduo: “if we assume that bridges link to different

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information, the utility of that information depends on whether it concerns resources valued by the individual but not yet attained” (ibid: 36). Aqui poderíamos introduzir a questão do que dirige a acção, considerando nesta perspectiva que essa orientação não se esgota nos valores, normas e disposições adquiridos pelo meio familiar ou condição de classe mas inclui igualmente a intencionalidade dos autores, as suas orientações e aspirações – posição exposta pela teoria da acção social. Do ponto de vista de Lin, os recursos são organizados pela rede, e a acção do indivíduo em capitalizar os recursos que lhe são úteis é o que faz com que possamos falar de capital social.