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6 PESQUISA ANALÍTICA E CATEGORIZAÇÃO

6.1 DEFINIÇÃO DO INSTRUMENTO DE ANÁLISE

Como foi visto, na busca pela compreensão das mensagens visuais, a Semiótica fornece elementos que permitem “descrever, analisar e avaliar todo e qualquer processo existente de signos” (SANTAELLA, 2002, p. 4).

Segundo Santaella (2002, p. 4), “As diversas facetas que a análise semiótica apresenta podem assim nos levar a compreender qual é a natureza e quais são os poderes de referência dos signos, que informação transmitem, como eles se estruturam em sistemas, como funcionam, como são emitidos produzidos, utilizados e que tipos de efeitos são capazes de provocar no receptor”.

Entretanto, como explica Santaella (2002), a Semiótica é uma teoria geral que nos permite mapear o campo das linguagens de forma ampla, ou seja, os aspectos gerais que constituem os signos e mensagens. A autora explica que, devido a característica generalista da teoria semiótica, a análise de signos ou linguagens específicas requer a aproximação do leitor com as teorias que constituem o entorno desses signos que estão sendo postos em análise.

Nesse caso, ao analisar semioticamente os artefatos antropomórficos, se faz necessário compreender todo o cenário e os fundamentos que contornam o objeto de estudo. Ou seja, em primeiro lugar a teoria do antropomorfismo e, em segundo plano, o conhecimento de fundamentos do Design que tratam da forma, como a Estética e a sintaxe visual. Além disso, é claro, a apreensão do cenário sociocultural no qual o objeto está inserido. Só a partir dessas referências próprias dos objeto de análise é possível se estabelecer as premissas da análise.

Santaella explica que a semiótica, na verdade, funciona como um “mapa lógico” que assinala em linhas gerais os diferentes aspectos sobre os quais uma análise deve ser elaborada. Conhecimentos específicos sobre o panorama

sociocultural e todo o contexto que envolve a mensagem ou o sistema de signos, são questões particulares que vão sendo agregadas à medida da necessidade, a esse esquema lógico fundamentado pela semiótica. Isso significa que quanto mais se conhece do contexto daquele objeto tratado pela análise semiótica, ou seja, quanto maior o repertório do analista, mais interpretantes “que vão além do senso comum” serão produzidos como resultado da análise.

Com base nessas inferências, temos então dois elementos principais, um elemento contextual, que corresponde aos fundamentos teóricos da pesquisa, e o esquema geral da semiótica. A respeito do esquema geral da Semiótica, de acordo com Santaella (2002, p. 5), a partir da relação triádica do signo proposta por Peirce, o signo pode ser analisado:

a) Em si mesmo, nas suas propriedades internas, ou seja, no seu poder de significar;

b) Na sua referência àquilo que ele indica, se refere ou representa; e

c) Nos tipos de efeitos que está apto a produzir nos seus receptores, isto é, nos tipos de interpretação que ele tem o potencial de despertar nos seus usuários.

Esses três elementos correspondem à noção de sintática, semântica e pragmática, correspondentes às dimensões semióticas do design8. Essa correlação pode ser observada no quadro resumo abaixo (Quadro 2), que compara as possibilidades de análise do signo proposta por Santaella (2001) e as dimensões semióticas do design, baseadas em Niemeyer (2003):

POSSIBILIDADES DE ANÁLISE DO SIGNO

DIMENSÕES SEMIÓTICAS

REFERENCIAL DAS DIMENSÕES SEMIÓTICAS NOS ARTEFATOS

Em si mesmo, nas propriedades internas, ou seja, no seu poder de significar.

SINTÁTICA

Construção técnica do produto, detalhes visuais, composição da forma e elementos configurativos.

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Na sua referência àquilo que ele

indica, se refere ou representa. SEMÂNTICA

O que o produto representa e como o objetivo do produto é expresso através da forma do artefato.

Nos tipos de efeitos que está apto a produzir nos seus receptores, isto é, nos tipos de interpretação que ele tem o potencial de despertar nos seus usuários.

PRAGMÁTICA

O objetivo pelo qual a mensagem foi produzida. O diferentes tipos de uso do produto.

Nesse contexto, o modelo de análise aqui proposto (Figura 67) é composto de três partes:

1. Contextual: de caráter informativo, possui informações técnicas do produto como tipologia, material, dimensões, função principal e público- alvo. Inclui também dados sobre a empresa (ou designer) responsável pelo projeto, o ano de publicação do produto9 e, caso tenham sido contemplados, o nome do prêmio ou exposição referentes.

2. Análise das dimensões semióticas do design: esta parte possui caráter analítico. Contempla o artefato em sua (a) dimensão sintática, (b) semântica e (c) pragmática:

a) A dimensão sintática baseia-se nos elementos básicos da composição visual10, propostos por Dondis (2007), que possibilitam uma apreensão da estrutura compositiva global da mensagem visual, bem como dos elementos visuais que constituem a configuração do artefato (figura).

b) A dimensão semântica, por sua vez, trata do poder do artefato de representar. Tem por objetivo articular os dados estéticos da imagem (sintaxe) com as qualidades expressiva e representacional do produto e o repertório pessoal e cultural do leitor (analista). A partir dos

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Não foi possível datar com precisão todos os artefatos levantados. Dessa forma, o ítem do instrumento de análise que cita o ano de lançamento do produto correponde em alguns casos à sua referência mais antiga encontrada nas publicações.

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Ver capítulo 2.

Quadro 2 - Quadro de correlação entre as possibilidades de

análise do signo e as dimensões semióticas do design. Fonte: O autor (2015).

quais é possível extrair os significados denotados pelo artefato, a respeito do que o produto representa e de como o objetivo do produto é expresso através da forma.

c) Por fim, a dimensão pragmática apresenta o objetivo pelo qual a mensagem foi produzida, mostrando os diferentes tipos de uso do produto, baseando-se nas suas funções prática, estética e simbólica.

3. Síntese Interpretativa: A terceira parte da análise corresponde a uma síntese da interpretação do artefato. É composta por três itens: tipo de representação antropomórfica (a), principais significantes antropomórficos (b) e função da forma antropomórfica (c):

a) Tipo de representação antropomórfica: corresponde à especificação dos artefatos segundo a estrutura dos tipos de abordagem da forma antropomórfica11, a qual permite classificar as soluções projetuais em diferentes grupos, a partir do modo de representação da forma humana adotada no objeto;

b) Principais significantes antropomórficos: permite listar os principais signos antropomórficos utilizados na configuração do artefato em análise,

c) A função da forma antropomórfica: resume o objetivo principal da uso da forma antropomórfica como princípio de configuração no artefato.

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INSTRUMENTO DE ANÁLISE

CONTEXTUAL (FICHA TÉCNICA) – PARTE 1 Produto: Tipologia: Função principal: Nome do produto: Público: Empresa/designer: Ano: Prêmio/exposição: Dimensões: Material:

ANÁLISE DA DIMENSÃO SINTÁTICA – PARTE 2 Estrutura compositiva: Direção: Movimento: Escala: Linhas: Formas: Cores: Textura Visual:

ANÁLISE DA DIMENSÃO SEMÂNTICA – PARTE 2

ANÁLISE DA DIMENSÃO PRAGMÁTICA – PARTE 2

SÍNTESE INTERPRETATIVA - PARTE 3

Tipo de representação antropomórfica Principais significantes Antropomórficos Função da forma Antropomórfica 1. Aparência física ( ) estrutura do corpo ( ) proporção do corpo ( ) partes dos corpo ( ) elementos do rosto 2. Movimentos e posturas ( ) movimento ( ) postura IMAGEM DO ARTEFATO

Figura 74 - Instrumento para análise dos artefatos antropomórficos. Fonte: O autor (2015)

6.2 APLICAÇÃO DA ANÁLISE