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4 DESIGN COMO LINGUAGEM

4.3 DIMENSÕES SEMIÓTICAS DO DESIGN

4.3.2 Dimensão semântica

Morris (apud BRAIDA; NOJIMA, 2014, p. 37) explica “a semântica trata da relação dos signos com seu ‘designata’ (aquilo a que o signo se refere) e também com os objetos que eles podem denotar ou realmente denotam”. Enquanto a dimensão sintática trata da aparência sensorialmente perceptível, a dimensão semântica se refere aos sentidos e significados das coisas.

Trazendo essa compreensão para o contexto do design, Niemeyer (2003) explica que o aspecto central da dimensão semântica do design são as “qualidades expressiva e representacional” do design. Se a dimensão sintática trata da forma dos produtos, a dimensão semântica refere-se a esta incorporando nela aspectos de

referência. De acordo com Gomes Filho (2006, p.114), “em design, a dimensão semântica é a dimensão do próprio objeto e da coisa significada. É a significação do produto”.

As dimensões sintática e semântica mantém uma relação indissociável, de modo que, se algum dos elementos configurativos (sintáticos) do artefato é modificado, seu significado (semântica) também é alterado.

Segundo Niemeyer, as seguintes questões fazem referência à dimensão semântica do objeto: “o que o produto representa? Como o objetivo do produto é expresso ou representado? A que ambiente o produto parece pertencer?” (NIEMEYER, 2003, p.49).

4.3.3 Dimensão pragmática

A pragmática, segundo Morris (apud BRAIDA; NOJIMA, 2014, p. 40), é “a ciência da relação dos signos com seus intérpretes”. Ainda segundo Morris,

As regras sintáticas determinam as relações dos signos entre os veículos do signo, as regras semânticas correlacionam os veículos do signo com outros objetos; as regras pragmáticas estabelecem relações nos intérpretes, condições sobre as quais o veículo do signo é um signo (MORRIS apud BRAIDA E NOJIMA, 2014, p. 40).

Em outras palavras, é possível dizer que a pragmática trata de questões relacionadas ao objetivo para o qual determinada linguagem foi produzida ou sobre quais são os usos dessa linguagem.

Transpondo essas relações para a dimensão do design, Niemeyer (2003, p. 47) afirma que “a dimensão pragmática de um produto é analisada sob o ponto de vista de seu uso”. Ainda segunda a autora, os artefatos podem analisados sobre diferentes tipos de uso: o uso ergonômico, o prático, o estético e o uso social.

A sintática se vale dos elementos constitutivos da forma; a semântica, em complemento a esta, trata dos significados gerados a partir da combinação dos atributos configurativos. A pragmática, por sua vez, é a mais geral das três dimensões e envolve o propósito da forma. Desse modo, destacamos a cadeia hierárquica de dependência existente na relação entre as três dimensões – relativa

àquela representada na “lógica do inclusivo” de Peirce, apresentada por Braida e Nojima (2014)8.

4.4 FUNÇÕES DO ARTEFATOS

Gomes Filho (2006, p. 41) diz que “na linguagem do design, um dos principais conceitos ligados ao uso do produto pode ser compreendido a partir do estudo centrado na correspondência que se estabelece no diálogo entre homem e objeto”. Dentre os aspectos essenciais dessa interface, encontram-se as funções dos produtos industriais, que facilitam a percepção e a compreensão do artefato durante o processo de uso, e possibilitam satisfazer as necessidades dos usuários.

Uma série de autores se preocupou em estudar e definir as funções dos produtos industriais, resultando em uma gama de classificações com ideias aproximadas, mas que diferem um pouco quanto a nomenclatura e/ou o tipo abordagem utilizada.

Dentre as principais categorizações, adotaremos nesta pesquisa a classificação clássica proposta por Löbach (2001), que define as três funções mais importantes dos produtos industriais como sendo: a função estética, a função simbólica e a função prática.

Löbach (2001) explica que as funções dos produtos industriais são os principais aspectos da relação entre produto e usuário e tornam-se perceptíveis durante o processo de uso. Essas funções estão relacionadas à qualidade dos objetos em satisfazer certas necessidades e anseios dos indivíduos.

A interação entre objeto e sujeito ocorre em diferentes níveis de relacionamento, caracterizados a partir da natureza das necessidades e expectativas dos usuários. Segundo Bomfim (1998, p. 19) “há pelo menos quatro níveis distintos de análise do relacionamento entre as necessidades de um usuário e as funções de um produto”: o nível objetivo, o nível biofisiológico, o nível psicológico e o nível sociológico de uso, assim definidos:

1. Nível objetivo, quando a configuração do artefato se concentra na possibilidade desta em proporcionar melhor desempenho técnico ao produto, sem a consideração de um usuário específico. “Nesse nível, a forma

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do produto só tem interesse enquanto meio para a realização das funções práticas” (BOMFIM, 1998, p.19);

2. Nível biofisiológico, quando a figura do artefato considera elementos relacionados à adaptação da estrutura do produto aos atributos físicos do usuário de modo a otimizar sua função objetiva. Neste caso, “as funções práticas e o processo de utilização são igualmente considerados”. (BOMFIM, 1998, p.19);

3. Nível psicológico, quando a configuração do artefato parte de um pressuposto psicológico do sujeito, ou seja, funciona como portadora de valores afetivos, cognitivos e emocionais. “No nível psicológico a forma do produto é compreendida como como portadora das funções práticas e estéticas” (BOMFIM, 1998, p. 20).

4. Nível sociológico, quando a interação é determinada por aspectos “espirituais, psíquicos e sociais” (LÖBACH, 2001, p. 64). “No nível sociológico a forma do produto é determinada pelas suas funções práticas, estéticas e simbólicas” (BOMFIM, 1998, p. 21).

Esses quatro níveis principais definidos por Bomfim (1998) estabelecem relação direta com as funções principais dos produtos industriais definidas por

Löbach (2001). Essa correspondência, que será melhor elucidada no próximo tópico, pode ser resumida a partir do quadro a seguir (Figura 36):

4.4.1 Função prática

De acordo com Löbach (2001, p. 58), “são funções práticas todas as relações entre um produto e seu usuário que se situam no nível orgânico-corporal, isto é, fisiológicas”. Ainda segundo o autor, “as funções práticas dos produtos preenchem

Figura 36 – Tabela de correlações entre os níveis de interação

produto-usuário e as funções dos produtos industriais. Fonte: O autor (2015).

as condições fundamentais para a sobrevivência do homem e mantém a sua saúde física”. A partir dessas duas afirmações fica claro que Löbach (2001), embora não mencione explicitamente, estabelece uma relação entre a função prática e a solução ergonômica dos produtos.

Contudo, limitar a função prática do artefato ao nível biofisiológico de uso, como faz Löbach (2001), seria desconsiderar elementos da configuração do artefato que estão relacionados com o cumprimento das funções práticas, mas que, no entanto, não são originadas da necessidades fisiológicas do usuário.

Bomfim (1998) considera a existência do nível objetivo de uso, a partir do qual a configuração é definida pelo funcionamento prático do produto, sem que seja necessário considerar um usuário específico. É o caso dos mecanismos internos de grande parte das máquinas e equipamentos que são planejados, em sua maioria, visando essencialmente a performance técnica do produto.

Desse modo, propõe-se acrescentar essa noção de função objetiva promovida por Bomfim (1998) àquela ideia de função prática estabelecida por Löbach, ampliando assim o seu domínio. A partir disso, seria possível definir a função prática dos produtos como aquela que se aproxima da esfera da função (propriamente dita), considerando os aspectos objetivos e biofisiológicos do uso.

4.4.2 Função estética

Segundo Löbach (2001, p. 60), "a função estética é a relação entre um produto e um usuário no nível dos processos sensoriais. A partir daí poderemos definir: a função estética dos produtos é um aspecto psicológico da percepção sensorial durante o uso”.

Ampliando essa informação, podemos dizer que a função estética tem como objetivo configurar o produto levando em consideração “as condições perceptivas do homem”, na intenção de promover a sensação de prazer e bem-estar contemplativo nos usuários.

Criar a função estética significa, então, dotar os produtos de características que podem ser apreendidas sensorialmente pelo processo de percepção. Desse modo, ao se deparar com o produto o usuário é capaz de assimilar psiquicamente essas informações, reagindo a elas de acordo com o conteúdo da mensagem transmitida.

Todo produto industrial tem uma aparência sensorialmente perceptível, determinada por elementos de configuração, forma, cor, superfície, etc. Possui também uma função estética que definimos como aspecto psicológico da percepção sensorial durante o uso. A esta função estética pode-se juntar a função prática, a função simbólica, ou ambas. Sempre, porém, uma das funções terá prevalência sobre as outras (LÖBACH, 2001, p. 67).

A partir dessa afirmação, é possível considerar a função estética como uma função elementar dos artefatos. O que vai definir a função principal de um produto, no entanto, é a interação entre a função estética e as outras funções, como bem esclarece Löbach (2001).

Como está relacionada à forma visual dos artefatos, a função estética é a primeira a ser percebida e “contribui para atrair a atenção do usuário” (LÖBACH, 2001, p. 63). Segundo o autor, “a função estética se impõe à nossa percepção, ela se une a outras funções e as supera”. É por esse motivo que encontramos tanta variedade de um mesmo produto no mercado. A estética, nesse sentido, tem como objetivo diferenciar os produtos e atrair a atenção das pessoas determinando a compra. Nesse sentido, a relação entre produto e usuário se estabelece principalmente no nível psicológico. De modo que os produtos são pensados para desencadear uma relação emocional, de prazer com o usuário. Nesse sentido, a relação entre produto e usuário se estabelece principalmente no nível psicológico.

4.4.3 Função simbólica

Löbach (2001, p. 64) define a função simbólica como aquela que “é determinada por todos os aspectos espirituais, psíquicos e sociais de uso”. Dessa forma, um objeto tem função simbólica quando “a espiritualidade do homem é estimulada pela percepção deste objeto, ao estabelecer ligações com suas experiências e sensações anteriores”.

A partir dessas afirmações é possível perceber que há um vínculo claro entre a função estética e a função simbólica dos produtos. Em outras palavras, esses aspectos “espirituais” e “sociais” de uso, citados por Löbach (2001), só podem ser percebidos ou “associados com experiências e sensações anteriores” a partir da percepção das qualidades configurativas dos produtos, ou seja, de sua aparência estética.

Löbach (2001) confirma a interdependência entre as funções estética e simbólica. Segundo o autor (2001, p. 64), “a função simbólica deriva dos aspectos estéticos do produto. Esta se manifesta por meio dos elementos estéticos, como forma, cor, tratamento e superfície, etc., material para associação das ideias com outros âmbitos de vida”. Sendo assim, a função simbólica é, antes de tudo, uma função estética, que ultrapassa a realidade imediata proporcionada pela aparência do artefato, e adquire natureza simbólica.

Essa relação entre função estética e simbólica é tão importante que alguns autores6 costumam considerá-las em uma mesma dimensão na categorização das funções dos artefatos.