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CAPÍTULO I – REFERÊNCIAL TEÓRICO: A GESTÃO DO PLANEJAMENTO

1.2. DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS BÁSICOS

Com a finalidade de uniformizar a linguagem científica utilizada neste estudo, tendo em vista facilitar o processo de comunicação entre os leitores em potencial; a socialização do conhecimento a um público mais amplo e; o próprio entendimento sobre nossas pretensões científicas, procedeu-se a definição de seus conceitos básicos, cuja acepção teórica foi tomada de acordo com o referencial que orienta este estudo:

a. GESTÃO: processo de gerir determinada atividade humana. O mesmo que gerência ou administração, através da qual se exerce uma prática coordenada de tomada de decisões, visando atingir determinados objetivos em uma organização historicamente contextualizada.

Este significado simplificado do conceito de “gestão” como sinônimo de administração é utilizado usualmente no Brasil, especialmente pelos juristas que na Constituição Brasileira de 1988, preferiram utilizar o termo “administração” em lugar de “gestão”, que não aparece em lugar nenhum do texto constitucional. Todavia, conforme Adrião e Camargo (2007), os conceitos são distintos e, essa diferença, sobretudo no discurso educacional, surge a partir da década de 1990.

Assim, o termo “administração” é agora mais reservado como sinônimo de direção técnica ou gerência científica pautada na hierarquização e no controle do trabalho; enquanto “gestão” significa a adoção de uma nova lógica na organização do trabalho, cujo pressuposto evidencia os aspectos políticos inerentes aos processos decisórios. Este foi o sentido atribuído no Brasil com a utilização do conceito de “gestão” pelos movimentos de defesa da democratização dos processos decisórios na esfera da educação durante o processo constituinte de discussão com a Sociedade Civil brasileira.

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Contrariamente a essa acepção brasileira, há uma outra interpretação proposta pelo professor português João Barroso (1995), ao refletir sobre as reformas educacionais em Portugal. Segundo este Autor, a substituição do termo “administração” pelo conceito de “gestão” não é neutra, mas encobriria uma perspectiva neotaylorista expressa na separação entre a esfera técnica (gestão) e a esfera da política (administração).

Quanto ao grau de abrangência de um e outro conceito, o termo “administração” corresponderia aos aspectos relativos à definição dos fins ou objetivos de dado processo, adquirindo um caráter mais geral, em função do qual, se daria a escolha e a adoção dos meios considerados mais eficazes: administrar algo, pressuporia decidir sobre esse algo. Já a palavra “gestão” que na literatura especializada anglo-saxônica corresponde à expressão “management” ou gerência, designaria os processos de seleção, a implantação de ações e procedimentos para se atingir os fins pretendidos.

Assim, administrar e gerir compreenderiam atividades diferentes. A primeira diria respeito aos processos decisórios, em última instância aos seus aspectos políticos; enquanto a segunda, se relaciona diretamente com as ações procedimentais de implantação do decidido, nos seus aspectos técnicos.

Dessa forma, a separação entre a decisão e a execução pode ter a intenção no plano do discurso, de tentar despolitizar a educação em nome de uma racionalidade técnica e pretensamente consensual.

Segundo Adrião (2006), ainda que predomine no Brasil o uso das duas formas, sem diferenciação em seu significado, tem se verificado uma diferenciação de funções no âmbito da Escola, em virtude da grande sobrecarga de trabalho que pesa sobre o “diretor geral” da Escola. Neste sentido, vem se diferenciando os dois conceitos, ficando o termo “administração” como a função do

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diretor, relacionado à esfera política, já que foi eleito e nomeado pelo Órgão competente do governo como “diretor” da Escola; enquanto o conceito de “gestor” é mais utilizado ao coordenador do Conselho Escolar, que é um professor eleito pela comunidade escolar e, que gere os recursos financeiros repassados à Escola pelo Órgão competente do governo.

O referido Conselho Escolar, é composto por um representante dos docentes, um representante discente, um representante do corpo técnico, um representante da comunidade, um secretário, um tesoureiro e, outros membros, se transformando num Órgão colegiado, por isso, a gestão é coletiva e, como o diretor faz parte do Conselho, ele também participa da gestão. Por outro lado, o próprio diretor quando procura apresentar determinada proposta para ser operacionalizada, chama sempre o coordenador do Conselho Escolar para decidir em conjunto e até prefere reunir-se com o próprio Órgão como um todo, para decidir de forma colegiada.

Sob uma perspectiva materialista histórica, gestão é uma relação social dialética que se estabelece entre os sujeitos diretamente envolvidos no processo decisório de uma determinada Organização Social, pública ou privada, contextualizada sócio- historicamente. Essas relações sociais se caracterizam como atos administrativos, políticos, econômicos e sociais que incluem identificações, afinidades, divergências, ambiguidades, reciprocidades e tensões entre os sujeitos que participam dessas ações.

Segundo Gramsci (1982), representante de uma das vertentes mais fecundas do Materialismo Histórico, como os intelectuais organizam a teia de crenças, assim como as relações sociais e institucionais, através da hegemonia que os tornam capazes de exercer uma direção moral e intelectual, ainda que não detenham o poder econômico, este autor, parece apontar para as possibilidades dos profissionais planejadores, de exercerem um

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papel de intelectuais orgânicos ao se articularem com as bases da sociedade civil, tornando-se gestores comprometidos politicamente com as necessidades de ruptura da ordem social dominante. Esses profissionais que se constroem enquanto intelectuais transformadores, se pautam por práticas de gestão democráticas, comprometidas politicamente com o sofrimento e a luta dos oprimidos;

b. PLANEJAMENTO: processo social de intervenção na realidade de forma lógica e racional, visando a criação ou a mudança deliberada de uma realidade sócio-histórica.

Do ponto de vista do Materialismo Histórico, o processo de planejamento ainda que determinado, em última instância, pelas relações sociais de produção de uma sociedade historicamente contextualizada, sobredetermina também esta base, na medida em que a reforça e a mantém, servindo para consolidá-la. Esta relação dialética de intercomplementaridade entre o planejamento e a sociedade, assinala para a importância de uma prática democrática e participativa do planejamento que se comprometa social e politicamente com os interesses e as necessidades dos excluídos, com a finalidade de não se transformar em um instrumento de reprodução da ordem vigente, mas predominantemente em um processo de ação socialmente transformador que objetive a melhoria da qualidade social de vida dos segmentos mais pobres da sociedade.

c. EDUCAÇÃO SUPERIOR: segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9394/96, a Educação Superior constitui um nível e, ao mesmo tempo uma modalidade de ensino que abrange os Cursos Seqüenciais, os Cursos de Graduação, Pós- Graduação, a Pesquisa, e a Extensão, ministrados por Instituições Públicas ou privadas de Ensino Superior com variados graus de abrangência ou especialização, podendo ser ministrados em forma presencial e/ou à distância, através de Universidades, Faculdades ou Institutos de Ensino Superior;

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d. CONCEPÇÕES E MODELOS DE GESTÃO: Diferentes perspectivas de conceber o processo de gestão de uma determinada atividade humana qualquer, seja no campo educacional, do planejamento e/ou outro setor da sociedade. Neste estudo nos referimos às diferentes concepções teóricas de gestão do planejamento que tem sido teorizadas e concebidas no campo da administração das políticas públicas, especialmente na educação superior, como decorrentes de ações implícitas ou explícitas do governo federal na Amazônia.

Essas perspectivas ou enfoques teóricos de gestão pública estão ligadas às diferentes formas de pensar os processos decisórios de uma determinada Organização Social, historicamente contextualizada, por isso se relaciona dialeticamente às várias formas de consciência dos sujeitos diretamente envolvidos no processo de coordenação do planejamento regional. Tais abordagens ou perspectivas teóricas de gestão mais conhecidas são entre outras, a positivista ou clássica, centrada em uma concepção de administração cientificista. A funcionalista, centrada em uma concepção neo-clássica da administração, explicitada pelas teorias da liderança, da motivação e das relações humanas. A estruturalista centrada em uma concepção estrutural de administração, explicitada pelas teorias das organizações. A fenomenológica, centrada em uma concepção microssociológica do vivido pelos sujeitos diretamente envolvidos no processo de gestão co-participativa. E a concepção materialista histórica centrada em um enfoque histórico-crítico explicitada por um processo de autogestão e/ou de gestão participativa direta.

No que diz respeito aos modelos de gestão, estes correspondem às formas de gerir, ou seja, de administrar determinada atividade humana, seja no campo educacional, do planejamento e/ou outro setor da sociedade. Neste estudo, nos referimos aos diferentes modelos de gestão do planejamento que tem sido implementado pelas equipes que coordenam a formulação das políticas públicas

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governamentais, que, nem sempre, se dão conta conscientemente, da forma de gestão e controle do processo de planificação que administram.

De um modo geral, entre os principais modelos de gestão de planejamento, incluem-se entre outros, a gestão do planejamento centralizado; a gestão semi-descentralizada co-participativa; a gestão do planejamento estratégico e; a gestão descentralizada participativa. Cada um desses modelos se baseia em um determinado paradigma teórico que orienta a concepção de gestão do modelo correspondente.

e. AMAZÔNIA: Região mais setentrional do Brasil que abrange quase 60% do território brasileiro e, compreende os Estados do Acre, Amazonas, Amapá, parte do Estado do Maranhão, e pelos Estados de Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, conforme Mapa da Amazônia Legal a seguir:

Figura 3 – Mapa da Amazônia legal Fonte: IMAZON/ 2010

A região apresenta uma densidade demográfica de 5,6 hab./km² e uma área de 5.039.232 km² onde vivem uma população estimada

VENEZUELA GUIANA SURINAME GUIANA FRANCESA COLÔMBIA PERU BOLÍVIA BRASIL

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em 25.469.352 habitantes aproximadamente, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE] (2010b), constantes da Tabela Nº 01 a seguir:

Tabela 1 – Contingente populacional, surperfície e densidade demográfica do Brasil e da Amazônia legal

no período de 1960 a 2010

A Amazônia é a mais extensa das regiões geoeconômicas do país, seu ecossistema ecológico é formado por uma extensa planície, um clima equatorial quente-úmido, com uma exuberante cobertura florestal e uma vasta rede hidrográfica que tem sido cotidianamente devastado do ponto de vista sócio-ambiental pela ação predatória do homem através de uma relação alienada que estabelece com a natureza, especialmente pelo alienígena- capitalista que exaure seus recursos naturais e superexplora os nativos da região, transformando-os em mão de obra barata ao processo de acumulação e concentração do grande capital. A sua economia é baseada no extrativismo mineral e vegetal, assim como na agropecuária e, vem apresentando nas últimas décadas um expressivo crescimento industrial, face a política desenvolvimentista de implantação de grandes projetos econômicos, especialmente agrominerais e industriais de

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montagem de eletroeletrônicos. Apresentando atualmente, a maior concentração de povos indígenas em relação às demais regiões brasileiras (56%), a Amazônia tem sido palco de intensos conflitos sociais de disputa pela posse da terra, de madeira e dos recursos minerais que detém, com graves consequências sociais e ambientais às populações que nela convivem.

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CAPÍTULO II – RECONSTITUIÇÃO DA METODOLOGIA DE

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