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CAPÍTULO I – REFERÊNCIAL TEÓRICO: A GESTÃO DO PLANEJAMENTO

1.1.1. OS PARADIGMAS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

As experiências de gestão do planejamento no Brasil e na Amazônia tem se respaldado por cinco (5) grandes paradigmas teórico-metodológicos da Ciência: - O Paradigma Positivista; - O Paradigma Funcionalista; - O Paradigma Estruturalista; - O Paradigma Fenomenológico; - O Paradigma Materialista-Histórico.

1.1.1.1.O PARADIGMA POSITIVISTA

Do ponto de vista positivista, a gestão do planejamento consiste na coordenação de um programa de reorganização da sociedade, orientado por um “Conselho de Notáveis”, representado pela Classe Intelectual ou “Sacerdotal”, que segundo Comte (1978), não são padres e nem teólogos, mas cientistas que colocam o seu intelecto a serviço da humanidade.

Assim na concepção comteana, caberia aos intelectuais, liderados pelo “Sumo Pontífice do Saber”, uma espécie de “Grande Sacerdote” da

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humanidade, formularem as doutrinas sociais do Positivismo que serviriam para orientar a Classe da Providência Material ou dos Patrícios, detentora do poder econômico, a executarem as políticas de reorganização social, de acordo com os cânones do Positivismo, fundamentado nas teorias da ordem e do progresso que explicam a marcha evolutiva da humanidade.

Em nível mundial, a elite intelectual positivista era representada por Auguste Comte, Herbert Spencer, John Stuart-Mill, Émille Littré e Pierre

Laffitte. No Brasil, os mais representativos foram entre outros, Miguel Lemos,

Teixeira Mendes e Benjamin Constant.

Como “devoção” à Ciência, o Positivismo baseado nos princípios da ordem e do progresso estimulou o advento e a afirmação da organização técnico-industrial da sociedade moderna, expressando de uma forma exageradamente otimista, a exaltação que acompanhou a origem do industrialismo, sobretudo a partir da revolução industrial que se verificou na sociedade européia.

Assim, com a superação da sociedade feudal e o advento da ordem social capitalista, o planejamento positivista ao reforçar o controle técnico- industrial da sociedade, “encaixou-se” de uma forma quase que “perfeita” no cenário da comunidade científica, sobretudo porque o seu “sistema conceptual” procurava corresponder aos ideais e aspirações da classe dominante na época. Como se pode depreender, não foi portanto, obra do acaso, que o Positivismo fortaleceu-se como sistema teórico dominante, restringindo os espaços de outras correntes de pensamento, que naquele momento, também emergiam na Europa.

No Brasil, o Positivismo foi introduzido nos fins do Séc. XIX, principalmente como suporte doutrinário do movimento político-social, visando atender as aspirações participacionistas da classe média urbana emergente na sociedade brasileira.

Dessa forma, o planejamento social positivista assentou suas bases nas cidades e, sobretudo nas Academias de Direito e Escolas Militares, com a finalidade de melhor criar e definir uma nova consciência da realidade nacional

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frente à ordem político-social dominante, que não atendia aos anseios liberais e democráticos dos segmentos médios da sociedade brasileira da época.

Assim, insatisfeitos com o modelo aristocrático altamente excludente implantado com a consolidação do Império, os intelectuais brasileiros, principalmente a partir de 1870, se voltam para a Europa em busca de novas teorias que pudessem traduzir e explicar o novo quadro da realidade nacional, inaugurando assim, um novo período na história do pensamento brasileiro: O Positivismo.

As idéias positivistas se enraizaram tão solidamente no aparato ideológico do Estado Brasileiro que, serviram tanto para inspirar o lema da Bandeira Nacional (Ordem e Progresso), como servem até hoje para apoiar a formulação de diretrizes e objetivos dos “planejamentos” governamentais.

O período conhecido na história brasileira como Segundo Império, que se estendeu de 1840 a 1889, transformou a realidade social-política do país. A partir de 1840, a Monarquia teve sucesso em construir um Estado Nacional capaz de unificar o país, transformando-o em um grande pólo produtor de café, cultura que a partir de 1850, passou a representar a base da exportação brasileira. As novas necessidades da lavoura cafeeira determinaram a extinção formal do trabalho escravo e a introdução do trabalho assalariado, provocando grandes “levas” de migrantes, oriundos principalmente da Itália para implementar como mão-de-obra barata a produção cafeeira do Brasil.

Dentro desse quadro, a luta pela hegemonia política do país se dava por dois partidos políticos: O Partido Liberal e o Partido Conservador, que se revezavam no poder sem apresentar políticas sociais alternativas de relevante significação para o povo brasileiro.

O Partido Liberal defendia uma maior descentralização político- administrativa, na qual os interesses provinciais tivessem mais voz e representatividade; enquanto o Partido Conservador, mais próximo do aparelho burocrático monárquico, tendia a defender formas de gestão mais centralizadoras.

A crise do Segundo Império, resultante das contradições criadas pelas próprias condições sócio-econômicas do país se instaura quando o regime

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monárquico, conservador e centralista começa a deixar de atender os novos interesses das elites agrárias do país.

O Partido Liberal afastando-se da Monarquia, aglutina-se em torno de uma bandeira social e política reformista, em que o federalismo aparece como questão central. Em 1872 esse Partido ganha as eleições em várias províncias, apesar do domínio do Partido Conservador em nível nacional. Até 1877 atuou como oposição criticando o centralismo monárquico, tendo como base um programa reformista social.

A partir daí, o Movimento Republicano começa a crescer em todo país, fundando em 1882 o Partido Republicano em várias províncias, cujos membros distintos das elites políticas da época, eram jovens com instrução superior e com ideologia liberal como base de sua luta, mas que se declararam Positivistas e organizaram um programa social-político muito semelhante às propostas de Augusto Comte (1978), constantes de sua obra “Catecismo Positivista”.

Ainda que o 1º período da chamada “República Velha” (1889-1930) no Brasil, tenha se caracterizado por um pacto político oligárquico e coronelista que excluía todos os segmentos sociais não pertencentes à elite agrária do país, a base doutrinária anti-oligárquica se caracterizou por um projeto

positivista que em nível de discurso, procurava substituir os interesses da elite

latifundiária pelos interesses dos intelectuais que desejavam reformar social e politicamente a Sociedade Brasileira.

O Projeto Político Não-Oligárquico baseado na doutrina positivista de

Comte (1986), forneceu subsídios ao Partido Republicano para criar um

Estado autoritário, que lhe garantiu a sua reprodução no poder, como foi a base doutrinária de um discurso que apresentava o “Partido” acima dos interesses particulares, ou seja, como protetor e organizador da sociedade brasileira no seu conjunto.

Convém ressaltar que, muito embora a abordagem positivista não apresente uma análise do processo de gestão do planejamento voltada especificamente às políticas de educação superior, implementadas pelas Universidades Públicas, entretanto o sistema de estratificação social proposto

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por Comte (1975), para o sistema educacional, deixou implícito que a nova ordem social baseada na ciência positiva seria comandada pela classe da Providência Intelectual, a quem competia orientar as atividades das demais classes sociais na sociedade, tomando por base o programa de reorganização social do Positivismo, conforme esses intelectuais fossem galgando seus estágios superiores, educacionalmente hierárquicos, de acordo com a pirâmide especificada abaixo:

! Os “Sacerdotes” do Saber (de 42 anos em diante), investidos da autoridade de “Sumo-Pontífices” da humanidade, ou seja, os

“Papas” da ciência;

! Os “Vigários” ou Suplentes (de pelo menos 35 anos de idade) que face a sua erudição eram incorporados ao

Sacerdócio do saber, na função de repetidores do ensino; ! Os “Aspirantes” (de pelo menos 28 anos de idade),

com possibilidades de adquirir uma cultura enciclopédica sobre a humanidade.

Figura 1 – Pirâmide social da educação positivista Fonte: SPP – Vol. II/1975

Como se pode observar, o Positivismo apresenta um sistema classificatório baseado em uma meritocracia intelectual e etária. Nesse caso, o Positivismo propõe um sistema de gestão do planejamento socialmente evolucionista, tomando a idade e o notório saber, como critérios para que os intelectuais pudessem exercer funções, hierarquicamente superiores em todas as áreas da sociedade, especialmente nos Institutos Politécnicos de Educação Superior. Neste sentido, a sua concepção de gestão, é conservadora e tradicional, cujo modelo de forte configuração autoritária dá prevalência ao poder de uma elite intelectual dirigente, a qual todos deveriam seguir e obedecer.

O modelo positivista de gestão se configura na rejeição do modelo medieval de inspiração religiosa e excessivamente contemplativo, na medida em que reivindicava um modelo de gestão mais empiricista, adaptado ao

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mundo moderno que, se encontrava na época, em transformação. As necessidades da burguesia emergente exigiam então, outro tipo de gestão educacional, mais voltada para os fatos observáveis e com uma relativa previsibilidade sobre o futuro.

A partir da Revolução Industrial, os níveis superiores de escolarização passam a exigir a transmissão dos conhecimentos advindos das novas Ciências, bem como o estímulo para novas descobertas, a fim de que o progresso técnico se desenvolvesse cada vez mais.

No século XVIII e sobretudo no XIX, a legislação de diversos países demonstra o grande interesse do Estado em assumir a gestão da educação, tornando-a laica e gratuita. No entanto, nessa época o modelo medieval- religioso passa a ser alvo de diversas críticas. Muitas delas resultam das descobertas científicas, sobretudo nas áreas da Biologia e das Ciências Humanas, que trouxeram subsídios para uma análise mais rigorosa do planejamento educacional.

O modelo de gestão positivista é magistocêntrico, isto é, centrado na autoridade da classe intelectual e na transmissão dos conhecimentos que o Mestre detém, por isso dirige o processo de ensino-apendizagem e, se apresenta como um “modelo” a ser seguido e copiado. A relação que estabelece com a comunidade escolar e com a sociedade civil em geral, é vertical e hierarquicamente descendente, gerando por conseqüência, a passividade do aluno e da população atendida, reduzidos a simples receptores do planejamento e do saber acumulado pela cultura da humanidade.

Atualmente o modelo que mais se baseia no ideário Positivista é o da

“Maturidade da Competência”, que permite segundo Have, Have e Stevens

(2003), identificar o estágio evolutivo de uma determinada organização de acordo com o nível intelectual de competência técnica de seus gestores. Esse modelo descreve cinco níveis de maturidade dos meios, pelos quais a organização administra seus processos de planificação, execução e controle de suas atividades.

O primeiro nível é caracterizado como inicial e deve observar a situação problemática da Organização, definindo seus principais problemas, e os meios

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mais simples de solucioná-los, irá depender dos talentos individuais da equipe técnica.

O segundo nível é o da repetição dos passos anteriores que tiveram sucesso em projetos com aplicações semelhantes. Esses passos básicos da administração de projetos são estabelecidos para acompanhar os custos, o cronograma e as vantagens positivas durante sua execução.

O terceiro nível é o definido como processo-padrão para Organização. Todos os projetos usam uma versão aprovada como processo-padrão e sob medida para o desenvolvimento e a manutenção de seus meios técnicos.

O quarto nível é o da administração que enfatiza a necessidade de mensuração quantitativa dos produtos que devem ser dimensionados e controlados.

Finalmente, o quinto nível é o da otimização, que dá ênfase ao contínuo aperfeiçoamento evolutivo do processo, capacitada pelo retorno quantitativo do processo da pilotagem das idéias e das tecnologias geradas.

Neste modelo, acredita-se que a previsibilidade, a eficácia e o

controle dos processos técnicos de planejamento de uma Organização fazem

o processo de gestão evoluir, na medida em que esta percorre esses cinco níveis, mas as suas limitações de aplicabilidade estão relacionadas com a necessidade de uma elevada competência técnica de seus profissionais e, o que é pior, com a ausência de participação da sociedade, se configurando portanto, em um modelo de gestão autoritário e, socialmente excludente.

Dessa forma, se constata que embora o Positivismo tenha sido introduzido no Brasil nos fins do Séc. XIX, não constitui ainda uma corrente “morta”, como alguns desejariam que estivesse. Seu “movimento” de superação se reflete no plano teórico em alguns setores intelectuais, como em determinados meios universitários, entretanto o mesmo não se verifica na prática política, pelo menos daqueles que estão na estrutura do poder. A sociedade continua “machista” e, o corporativismo é ainda uma prática rotineira no Congresso Nacional, indicadores que denunciam que o Brasil ainda reza pelo “velho” catecismo positivista. Todavia, ao considerarmos a concepção e o modelo de gestão implícitos no discurso Positivista, se conclui que este

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paradigma teórico não serve para fundamentar nosso estudo, já que se constitui em uma abordagem acrítica, rígida, estática e reacionária de enfrentar a problemática da gestão do planejamento educacional, que segundo seus pressupostos, já estão aprioristicamente dados e definidos na ordem social Positivista, como resultado evolutivo das leis do progresso da marcha da humanidade, concebidas como inevitavelmente, de uma ordem natural e imutável.

1.1.1.2.O PARADIGMA FUNCIONALISTA

O paradigma funcionalista surgiu nos Estados Unidos após a 1ª Grande Guerra Mundial (1914-1918) e, mais especificamente como produto histórico da crise social que se intensificou após a grande depressão econômica de 1929 com o “crash” da Bolsa de Valores de New York que teve repercussões em nível mundial.

A emergência de uma nova sociedade produzida historicamente no bojo e, como conseqüência da crise social, não poderia mais ser explicada pelo tradicional e clássico paradigma da Ciência Positivista, que já vinha apresentando sinais de esgotamento como forma de pensar a realidade, não dando mais conta de explicar o novo contexto social gestado naquele momento histórico.

Dessa forma, tentando superar o paradigma clássico Positivista, uma plêiade de intelectuais em todo o mundo, especialmente nos Estados Unidos, formularam os pressupostos básicos do Funcionalismo, cuja característica fundamental tende a ressaltar as funções manifestas e latentes de cada uma das partes do sistema, tomados como setores ou subsistemas do sistema social global.

Bronislaw Malinovski (1884-1942), Émille Durkheim (1858-1917), ao lado de Robert Merton (1910-2003), e mais recentemente Theodore Schultz (1902-1996), expoentes máximos do paradigma funcionalista, assinalam que a disfunção de uma das partes, acarreta a disfuncionalidade do sistema social como um todo, considerando a necessidade funcional da interdependência que deve existir entre seus componentes constitutivos. No Brasil, destacam-se

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entre outros defensores do paradigma funcionalista do planejamento Carlos

Langoni, Delfin Neto, José Pastore e, Cláudio Moura Castro.

Segundo Malinovski (1977), as culturas são realidades instrumentais destinadas a satisfazer as necessidades humanas. Ao estudar a “magia” por exemplo, este antropólogo verificou que a sua aplicação possuía uma função mantenedora do sistema, por isso, através de seus estudos chegou à conclusão que:

A magia constitui os meios não-racionais utilizados pelos povos primitivos para a realização de suas metas práticas e funcionais, por isso eles não trocam o uso da magia pelo melhor conhecimento e técnicas racionais disponíveis, uma vez que a magia preenche uma necessidade funcional do sistema social desses povos. (MALINOVSKI, 1977: P. 434).

Ressalte-se que, o citado antropólogo, não limitou a magia aos povos primitivos, mas generalizou-a, afirmando que esta é uma conseqüência de certas situações de ameaça e a necessidade de controle por parte desses grupos sobre as incertezas dessas situações perigosas.

Mais tarde, através da influência dos antropólogos funcionalistas britânicos, o Funcionalismo foi introduzido por Émille Durkheim (1971) à Sociologia através de sua obra “A Divisão do Trabalho Social”. Neste seu estudo este Autor dedicou grande parte de seus escritos analisando os processos de diferenciação e integração das partes de um determinado Sistema Social. Neste sentido, ao definir o seu conceito de solidariedade mecânica por exemplo, este sociólogo enfatizou que:

A solidariedade mecânica só tem sentido quando comparada com a solidariedade orgânica, com suas conotações facilmente perceptíveis de partes diferenciadas que desempenham várias funções interdependentes na manutenção da viabilidade do organismo complexo como um todo.

(DURKHEIM, 1977: P.425).

Ressalte-se que, o interesse do Sociólogo francês pelas características funcionais da Sociedade através de seus mecanismos básicos de diferenciação, interdependência, integração e manutenção dos Sistemas Sociais, não se faz constar apenas em sua obra de doutoramento, mas foi uma preocupação constante em seus trabalhos posteriores, dentre os quais, se destaca a obra sobre o “Socialismo” (1928), onde este autor analisa as

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condições da ordem democrática do Estado e suas conexões com a sociedade civil, através das quais, enfatiza que este Órgão político, é um instrumento de

tomada de decisões que estabelece e coordena os planos de ação

relacionados com as necessidades dos indivíduos. É pois, na concepção funcionalista Durkheimiana que o Estado é considerado um Órgão especial e diferenciado das demais instituições sociais, cujo papel consiste não só, em canalizar e sistematizar as idéias e opiniões difusas na sociedade, como deve transcendê-las, cabendo-lhe a responsabilidade social e racional de formular planos de ação, pertinentes à manutenção da Ordem Social Democrática.

Como o Estado é acima de tudo, segundo Durkheim (1977), um organismo moral decisivo da sociedade moderna, então não pode omitir-se do sistema educacional, cabendo-lhe assumir a gestão geral do planejamento educacional, garantindo para que seus programas de políticas públicas reflitam os ideais e os valores morais da sociedade, de modo a assegurar aos indivíduos que sejam educados nas funções que deverão desempenhar na divisão especializada do trabalho, nas sociedades modernas.

Assim, o Sociólogo francês enfatizou a necessidade de uma educação profissionalizante nas sociedades modernas, admitindo a administração privada das Escolas Particulares, mas ressaltava o papel do Estado de superintender o currículo de tais instituições de ensino.

Outro clássico que forneceu suportes teórico-metodológicos amplamente incorporados pelo Funcionalismo, foi o Sociólogo norte-americano Robert

Merton (1910-2003), segundo o qual a desorganização social, seria na maioria

dos casos, originada da falta de integração que muitas vezes existe entre os fins a serem atingidos pelo sistema e os meios utilizados para a consecução desses fins.

Para explicitar a importância da integração entre os fins e os meios para o funcionamento do sistema social, este autor desenvolveu o conceito de funções manifestas e funções latentes, enfatizando que:

As funções manifestas de um sistema social, referem-se as suas consequências objetivas, as quais contribuem para o seu ajustamento ou adaptação e, por isso são intencionais, ou seja, pretendidas pelos membros da

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sociedade, enquanto as funções latentes dizem respeito as consequências imprevistas, ou seja, não esperadas pelos interatores. (MERTON, 1968: P.130).

Assim, por exemplo a socialização, a educação e a escolarização dos educandos no mundo moderno, seriam as funções manifestas da Escola; enquanto a evasão escolar, a repetência e a violência nas Escolas, seriam suas funções latentes, ou seja, não esperadas e nem pretendidas pelos gestores escolares.

Segundo Merton (1968), quando as funções latentes são disfuncionais ao sistema social, transformam-se em anomias ou desvios e, para neutralizá- los, as funções autoreguladoras do sistema, através das instituições sociais estatais, são acionadas, para que o sistema social, volte a operar, em sua regularidade normal.

Como se pode deduzir, o autor deixou implícito que as instituições do Estado são mecanismos de autoregulação do sistema e, devem ser acionadas todas as vezes que as forças sociais deixadas livres se desviarem de seu curso normal para operarem de forma desregulada. Este seu argumento está na base do processo de planejamento funcionalista das políticas públicas, cuja gestão é executada pelo Estado através de sua ação planificada em nível nacional e

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