• Nenhum resultado encontrado

Definição e Critérios de Diagnóstico

1. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1.2 Definição e Critérios de Diagnóstico

A anorexia nervosa é uma doença psiquiátrica grave que se encontra inserida no grupo das Perturbações do Comportamento Alimentar (PCA). As PCA são um grupo de doenças psiquiátricas

32

que são caraterizadas por desequilíbrios alimentares, distorção da imagem corporal e resistência ao tratamento, podendo, ou não, existir comportamento purgativo (American Psychiatric Association, 2013; Kaye, et al., 2004; Silva, 2016). Além disto, as perturbações do comportamento alimentar caraterizam-se por alterações persistentes na atividade de comer, passando estas a ser patológicas, o que resulta numa alteração do consumo de alimentos e deficiente absorção de nutrientes, com consequências nefastas para a saúde física e psicológica (American Psychiatric Association, 2013; Kaye, et al., 2004; Silva, 2016). Geralmente, as perturbações do comportamento alimentar causam sintomas físicos, comportamentais, emocionais e cognitivos (Garcia, et al., 2013).

A anorexia nervosa é uma perturbação do comportamento alimentar caraterizada na sua globalidade por restrição contínua da ingestão alimentar, medo exagerado de ganhar peso ou de engordar e por alterações de comportamento relacionados com o corpo e com a alimentação. Estas alterações de comportamento interferem com o ganho de peso e fazem com que o doente apresente uma distorção na autoperceção corporal (American Psychiatric Association, 2013; Dias, 2017; Gailledrat, et al., 2016; Katzman, et al., 2013; Uzunian, et al., 2015).

Segundo o DSM V-TR (2013), os Critérios de Diagnóstico para a anorexia nervosa são os seguintes: o “Restrição do consumo de energia em relação ao preconizado, levando a um peso corporal

significativamente baixo no contexto da idade, sexo, trajetória de desenvolvimento e saúde psíquica. O peso significativamente baixo é definido como um peso que é menor do que minimamente normal ou, para crianças e adolescentes, menor do que o minimamente esperado;

o Medo intenso de ganhar peso ou de se engordar, ou comportamento persistente que interfere com o ganho de peso, mesmo que com um peso significativamente menor;

o Perturbação na forma como o peso ou a forma corporal de um indivíduo é experienciado, influência indevida do peso ou forma do corpo na autoavaliação ou persistente falta de reconhecimento da gravidade do baixo peso corporal atual.”

(American Psychiatric Association, 2013)

O exercício físico excessivo não faz parte dos critérios diagnósticos da anorexia nervosa. No entanto, estudos retrospetivos indicam que 80% dos doentes experimentam alguma forma de exercício físico em excesso durante o curso da doença (Silva, 2016). Apesar do exercício físico ser fundamental para a manutenção da saúde física e psicológica dos indivíduos, no doente com anorexia nervosa, este está associado a um baixo índice de massa corporal (IMC), ansiedade, perfecionismo, obsessões, compulsões, maior persistência e recorrência da doença, prejudicando a recuperação do peso (Silva, 2016).

A anorexia nervosa apresenta-se dividida em dois subtipos, tipo restritivo e tipo purgativo, tal como descrito no DSM-V TR (2013). Segundo o DSM V-TR (2013), o subtipo restritivo implica que nos

33 últimos três meses o doente não tenha apresentado nenhum comportamento purgativo ou episódios de compulsão alimentar recorrentes. Bouça et al. (2000) defende que este subtipo está relacionado com uma perda de peso baseada em dieta, jejum ou exercício físico em excesso, assim como defende que os doentes que apresentam traços obsessivos de personalidade, são rigorosos, perfecionistas e têm dificuldade em exprimir emoções. O subtipo purgativo exige que nos últimos três meses o doente tenha apresentado episódios de compulsão alimentar, comportamento purgativo ou recorrido ao uso de laxantes e diuréticos de forma recorrente (American Psychiatric Association, 2013). Os doentes podem também alterar entre os subtipos da doença ao longo do seu curso (American Psychiatric Association, 2013). Marzola (2017) realizou um estudo em que 65,3% dos indivíduos, diagnosticados com anorexia nervosa eram, do tipo restritivo.

O DSM V-TR (2013) categoriza a severidade da doença, em adultos, segundo o IMC. O nível de severidade da doença reflete alguns fatores, tais como sintomas clínicos, grau de incapacidade funcional e a necessidade de supervisão. A Figura 5 apresenta a severidade da doença segundo o IMC do doente, nomeando o grau em que este se encontra.

Figura 5 – Grau de incapacidade funcional relativo ao IMC (American Psychiatric Association, 2013; DSM V-TR, 2013)

Através da Figura 5, é possível constatar que um IMC inferior a 15 kg/m² implica que exista um extremo grau de severidade da doença, no qual o doente não tem consciência de se encontrar. Este nível de severidade torna o processo de tratamento e recuperação muito mais moroso, contrariamente aqueles que se encontram com um grau de severidade leve.

Outro aspeto que carateriza o doente com anorexia nervosa é a demonstração de menos conhecimento e diferenciação de si mesmo para com os outros e também a dificuldade que tem em definir a sua identidade e reconhecer as suas emoções. Com isto, o doente tende a isolar-se, tendo dificuldades para manter relações sociais significativas (Cozzi, et al., 2007; Santos, 2006).

Segundo Marzola (2017), existem certas características da personalidade do indivíduo reconhecidas como contribuintes importantes para a anorexia nervosa (Atiye, et al., 2015; Lilenfeld, 2011). Tem- se verificado a presença de um transtorno de ansiedade em cerca de 65% dos casos (Swinbourne, et al., 2012) e a prevalência de transtorno depressivo de cerca de 75% (Abbate, et al., 2013; Abbate, et al., 2014; Thornton, et al., 2016). Contudo, a ansiedade tende a ser anterior ao início da doença e verifica-se que persiste após a recuperação (Holtkamp, et al., 2005; Kaye, et al., 2004).

34

Segundo Dawson (2014), a anorexia nervosa é uma doença mental associada à baixa motivação para mudar. As pessoas com anorexia nervosa mostram uma extrema ambivalência em relação à mudança e são muito ligadas ao seu transtorno alimentar (Attia, 2010). A baixa motivação para a mudança tem sido associada à elevada taxa de abandono do tratamento e à falta de empenho no mesmo (de Jong, et al., 2012; Serpell, et al., 1999).

Documentos relacionados