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1. INTRODUÇÃO

1.4 Transtorno do Processamento Sensorial

1.4.1 Definição e Nosologia

Transtorno do Processamento Sensorial (TPS) é a presença de uma alteração em detectar, modular, interpretar ou responder ao estímulo sensorial (MILLER et al., 2007), anteriormente descrita na literatura como Disfunção de Integração Sensorial.

Trata-se de um transtorno apresentado por um grupo heterogêneo de crianças caracterizadas pelas variadas experiências de limitações na participação e realização das atividades (POLATAJKO; CANTIN, 2010). Tal condição pode trazer prejuízos associados às habilidades sociais, ao controle postural, à coordenação motora, ao uso e manuseio dos objetos, assim como ao desempenho nas atividades de vida diária (AVDs) e à imaturidade no brincar (PARHAM; MAILLOUX, 2005; WHITE et al., 2007). Pode ainda estar associada aos prejuízos nas atividades escolares (KOENIG; RUDNEY, 2010; BUNDY; LANE; MURRAY, 2002), aos problemas de atenção (MANGEOT et al., 2001; DUNN; BENNETT, 2002; WHITE et al., 2007; YOCHMAN; PARUSH; ORNOY, 2004), além de ser risco para dificuldades de aprendizagem (MAY-BENSON; KOOMAR, 2010).

A prevalência do transtorno do Processamento Sensorial tem sido estimada em aproximadamente 5% a 13% das crianças nos Estados Unidos, segundo estudo baseado em amostra de crianças pré-escolares (AHN et al., 2004).

Vários autores têm discutido a associação do TPS a outros diagnósticos que incluem a Síndrome de Asperger (BLAKEMORE et al., 2006; DUNN et al., 2002; PFEIFFER et al., 2005); o Autismo (WATLING; DIETZ; WHITE, 2001; MILLER et al., 2001; LISS et al., 2006); a Síndrome do X frágil (MILLER et al., 2001; BARANEK et al., 2002); o Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação - TDC (BUNDY et al., 2002; POLATAJKO; CANTIN, 2010); assim como o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade - TDAH (MILLER et al., 2001; DUNN; BENNETT, 2002; PARUSH et al., 2007).

Baseados nos estudos de Ayres, várias taxonomias e subtipos de comportamentos relacionados ao TPS foram utilizadas no decorrer do tempo (DAVIES; TUCKER, 2010). Reorganizadas as definições, Miller et al. (2007) propuseram uma nova nosologia para o diagnóstico do TPS que passou a ser classificado em: Transtornos de Modulação Sensorial, Transtornos de Discriminação Sensorial e Transtornos Motores com Base Sensorial.

Transtornos de Modulação Sensorial são caracterizados pela dificuldade em regular grau, intensidade e natureza das respostas aos estímulos sensoriais, podendo ser classificados em:

a) hiporresponsividade sensorial, com pobre reação aos estímulos relevantes do ambiente como, por exemplo, dor, movimentos ou cheiros;

b) hiperresponsividade sensorial, com maior tendência a se orientar e a responder a determinados estímulos como toques, movimentos, luzes, sons, apresentando, por exemplo, respostas aversivas ou intolerância ao movimento, com reação de enjôo, mal-estar e náuseas diante de mínimos estímulos;

c) busca sensorial, com procura constante de estímulos intensos, seja vestibular, proprioceptivo e outros (MILLER et al., 2007; MAGALHÃES, 2008).

Como uma dimensão a ser estudada neste trabalho, a discussão sobre este transtorno será aprofundada em tópico posterior.

Transtornos de Discriminação Sensorial estão relacionados às dificuldades em interpretar a qualidade ou a singularidade de cada estímulo, perceber suas diferenças e semelhanças, podendo apresentar diferentes graus de dificuldades nas diversas modalidades sensoriais como o visual, tátil, auditivo, vestibular, proprioceptivo, gustativo e olfativo (MILLER et al., 2007).

Já os Transtornos Motores com Base Sensorial são caracterizados por dificuldades em integrar as informações do próprio corpo e movimentar-se de maneira eficiente no ambiente. Apresentam maior impacto motor, sendo os problemas mais comuns:

a) distúrbio postural, com dificuldade em estabilizar o corpo durante o movimento ou retificar a postura quando solicitado pelo movimento;

b) dispraxia, com dificuldade em idealizar, criar, iniciar, planejar, sequenciar, modificar e executar as ações (MILLER et al., 2007).

Figura 2. Classificação do TPS segundo Miller et al., (2007).

Magalhães (2007) refere que muitos dos sinais motores descritos por Ayres (1972) apresentados em crianças com TPS, enquadram-se dentro dos critérios do Transtorno no Desenvolvimento da Coordenação e por sua vez, crianças com TDC podem apresentar disfunções sensoriais, como, por exemplo, o medo excessivo do movimento. Porém, embora os transtornos motores descritos por Ayres (1972) caracterizem subtipos de TDC, não há consenso sobre a relação entre TPS e o TDC, verificado nas publicações recentes a respeito da teoria de Integração Sensorial, que evitam usar o termo TDC (MAGALHÃES, 2007).

Como componentes de execução do Processamento Sensorial, a Modulação é essencial para a manutenção do nível adequado de alerta, de atenção e de atividade do indivíduo às demandas do ambiente, evitando que o mesmo se distraia com os inputs irrelevantes; a Discriminação é essencial para o desenvolvimento das habilidades funcionais, incluindo os ajustes posturais e de tônus, planejamento sequencial das ações e habilidades nas funções motoras; e a Práxis é fundamental para a interação do indivíduo com o meio e com os pares, uma vez que está relacionada à capacidade de organizar, planejar e executar as ações (SPITZER; ROLEY, 2001).

A avaliação do TPS pode ser realizada por meio de questionários para crianças e seus cuidadores, através dos testes normatizados das habilidades do Processamento Sensorial, assim como pelas observações clínicas (COSBEY; JOHNSTON; DUNN, 2010).

Dentre os testes normatizados mais utilizados para a identificação de TPS em crianças em idade escolar encontram-se:

TRANSTORNO DO PROCESSAMENTO SENSORIAL (TPS)

Transtorno de Modulação Sensorial -Hiperresponsiva -Hiporresponsiva -Busca Sensorial Transtorno de Discriminação Sensorial

-Diversos sistemas sensoriais

Transtornos Motores de Base Sensorial

-Distúrbio Postural -Dispraxias

- O DeGangi Berk Test of Sensory Integration (DEGANGI; BERK, 1983), teste voltado à avaliação de pré-escolares em suas funções motoras e posturais com base sensoriais;

- O Sensory Integration and Praxis Tests (SIPT), bateria de testes considerada “padrão ouro”, utilizada para mensurar o desempenho e diagnosticar o TPS, podendo ser aplicado somente por profissionais treinados e certificados na administração e interpretação de seus resultados (AYRES, 1989, 1998);

- O Sensory Processing Measure (SPM), escala de avaliação voltada às respostas do Processamento Sensorial, ao planejamento e ideação, além da participação social da criança em casa e na escola, baseada nas informações dos pais e educadores (MILLER-KUHANECK et al., 2007);

- O Sensory Profile (DUNN, 1999) e o Infant/Toddler Sensory Profile (DUNN, 2002), questionários respondidos por pais, cuidadores e educadores, voltados para as habilidades do PS dentro de seus contextos e nas diferentes faixas etárias. Como objeto do presente estudo, o Sensory Profile será discutido com maior profundidade no item posterior.

Observações clínica também são utilizadas para verificar o desempenho das crianças nas diversas tarefas, sendo instrumentos para avaliar: as dimensões sensório-motoras e cognitivas; as características sociais e físicas do ambiente; o desempenho nas habilidades e nas atividades; as funções neuromotoras (BLANCHE, 2002); assim como o desempenho no brincar (JANKOVICH et al., 2008 ; SKARD; BUNDY, 2008).

Fundamentado na teoria de Integração Sensorial, o tratamento das dificuldades de organização e processamento das informações sensoriais tem sido realizado por meio da Terapia de Integração Sensorial. Esta tem como princípio essencial a promoção de experiências adequadas e ricas em inputs sensoriais, a fim de direcionar a criança à produção de respostas adaptativas e comportamentos funcionais mais efetivas em relação àquelas observadas inicialmente (AYRES, 1972).

Para isso, são utilizados procedimentos que buscam melhorar e adequar habilidade de interação do indivíduo em relação ao ambiente, ao aprendizado e ao comportamento, além de prevenir futuras dificuldades de adaptação e proporcionar melhorias em sua qualidade de vida (ROLEY, et al., 2009).

De acordo com a revisão de literatura realizada por May - Benson e Koomar (2010) sobre a efetividade da Terapia de Integração Sensorial foi verificado que, apesar dos estudos apresentarem pouco poder estatístico, evidências demonstram resultados positivos da Terapia de Integração Sensorial no tratamento do TPS. Isto é verificado nas dimensões relacionadas às

habilidades sensório-motoras e planejamento motor; à regulação da atenção, do comportamento e social; assim como às habilidades de leitura.

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