• Nenhum resultado encontrado

1. INTRODUÇÃO

1.4 Transtorno do Processamento Sensorial

1.4.3 Transtorno do Processamento Sensorial e TDAH

Estudos e a experiência clínica têm constatado que crianças com TDAH podem ser acometidas por alterações gerais no Processamento Sensorial, principalmente em relação ao Transtorno de Modulação Sensorial (YOCHMAN; PARUSH; ORNOY, 2004). Segundo Dunn e Bennett (2002), crianças com TDAH podem não receber e nem processar adequadamente as informações sensoriais, apresentando, consequentemente, dificuldades em gerar respostas apropriadas em casa, na escola e na comunidade.

Além dos problemas de atenção, impulsividade e hiperatividade, as crianças com TDAH podem ainda apresentar dificuldades relacionadas aos aspectos motores como uma pobre coordenação motora e de equilíbrio, pobre habilidade visuo-motora, dificuldades no planejamento motor (MULLIGAN et al., 1996), assim como maior nível de atividade, menor adaptabilidade, e menor limiar para os estímulos sensoriais na infância (CHEUNG; SIU, 2009). Tais condições, embora pouco investigadas na literatura científica, podem estar relacionadas ao Transtorno do Processamento Sensorial, uma vez que este pode afetar o desempenho motor, funcional, bem como comportamental da criança, incluindo sua

capacidade de atender, aprender, organizar e manter apropriado nível de atividade (MULLIGAN et al., 1996).

Alguns estudos, utilizando instrumentos fisiológicos e comportamentais, foram realizados em pesquisa de Modulação Sensorial para descrever os padrões típicos da responsividade sensorial das crianças com TDAH (YOCHMAN; PARUSH; ORNOY, 2004). De acordo com alguns destes, uma porcentagem significante das crianças com TDAH apresentam diferença na reatividade sensorial, quando comparadas às crianças com desenvolvimento típico, conforme verificado nos resultados fisiológicos obtidos através do potencial somatossensorial evocado (PARUSH et al., 1997) e reação eletrodérmica (MANGEOT et al., 2001; MILLER et al., 2001).

Em relação ao Perfil Sensorial, há também poucos estudos realizados em crianças com o diagnóstico de TDAH. O estudo de padronização americana de Ermer e Dunn (1997) analisou quais os fatores do Perfil Sensorial melhor discriminariam os grupos de crianças com TDAH, com autismo ou transtorno invasivo do desenvolvimento e com desenvolvimento típico. Os três grupos foram compostos de crianças entre 3 a 15 anos de idade, sendo 38 crianças do grupo com autismo, 61 crianças do grupo com TDAH e 1075 crianças com desenvolvimento típico. Os resultados obtidos indicaram que crianças com TDAH são melhores discriminados pela alta incidência de comportamentos de Procura Sensorial (Fator 1) e Inatenção-Distração (Fator 5) e baixa incidência de comportamentos relacionado à Sensibilidade Sensorial Oral (Fator 4) e Percepção - Motor Fino (Fator 9).

Já o estudo de Dunn e Bennett (2002) teve como objetivo comparar a responsividade sensorial das crianças americanas com TDAH em relação às crianças com desenvolvimento típico. Participaram da pesquisa 70 crianças entre 3 a 15 anos com o diagnóstico de TDAH, pareadas às 70 crianças do grupo controle em relação à idade e ao gênero, selecionadas da amostra de validação na população americana. As crianças com TDAH demonstraram diferença significativa em relação às crianças com o desenvolvimento típico em todas as 14 seções do Perfil Sensorial, incluindo as respostas referentes à audição, tato, multissensorial, emocional/social e os resultados comportamentais do processamento sensorial.

Dove e Dunn (2008), em outro estudo realizado na população americana, compararam o Processamento Sensorial entre 120 crianças com Transtorno de Aprendizagem (com TDAH e sem TDAH) em relação a 120 crianças controle na faixa etária de 5 a 11 anos. Para isso utilizaram a escala Perfil Sensorial para analisar os Padrões de Respostas do PS, sendo verificada pior pontuação quanto aos Padrões Procura Sensação, Baixo Registro e Evita Sensação entre as crianças com Transtorno de Aprendizagem em relação às crianças controle.

Compararam ainda o PS entre as crianças com e sem TDAH pertencentes ao grupo de Transtorno de Aprendizagem, não encontrando diferença significativa entre elas.

Estudos em outras culturas, como o realizado por Yochman, Parush e Ornoy (2004) em Israel, as crianças pré-escolares com e sem TDAH foram comparadas em relação às respostas aos eventos sensoriais diários, verificando-se também níveis de hiperatividade e déficits sensoriais. O Perfil Sensorial foi preenchido por mães de 48 crianças com TDAH entre 4-6 anos de idade e mães de 46 crianças com desenvolvimento típico. Os resultados indicaram que as crianças com TDAH demonstraram diferença significativa em respostas sensoriais em 11 das 14 Seções, ou seja, exceto em relação ao processamento vestibular (Seção C), à tolerância ao tônus (Seção G) e às respostas emocionais (Seção J). Diferenças significativas também foram encontradas em 6 dos 9 Fatores: Procura Sensorial (Fator 1), Reatividade Emocional (Fator 2), Sensibilidade Oral (Fator 4), Inatenção/Distrabilidade (Fator 5), Sedentarismo (Fator 8) e Percepção/Motor fino (Fator 9).

No estudo de Cheung e Siu (2009) foram comparadas as respostas do Processamento Sensorial entre crianças chinesas nas idades de 3-12 anos com desenvolvimento típico (1840 crianças), com TDAH (114 crianças) e com autismo (72 crianças). Os resultados indicaram que crianças com TDAH exibiram problemas significantemente maiores no PS em relação às crianças com o desenvolvimento típico, apresentando menor pontuação (maior frequência dos comportamentos) em 118 dos 125 itens do Perfil Sensorial, semelhantemente ao resultado encontrado por Dunn e Bennett (2002).

Por fim, um estudo recente realizado em Israel (ENGEL-YEGER; ZIV-ON, 2011), comparou as dificuldades do Processamento Sensorial entre os subtipos de TDAH (TDAH- H/I e TDAH- D) por meio da versão reduzida do Perfil Sensorial, o Short Sensory Profile (SSP), analisando também a relação entre o PS e as atividades de lazer preferidas dos indivíduos através do Preference for Activities of Children (PAC). Para isto, os instrumentos foram aplicados em 29 crianças com TDAH (15 TDAH-H/I e 15 TDAH-D) e 29 crianças controle entre a idade de 6-10 anos. Com um agrupamento dos itens de forma mais sintetizada em relação ao Perfil Sensorial, os resultados agrupados em Fatores indicaram um pior PS entre as crianças com TDAH em relação ao grupo controle quanto à: sensibilidade tátil; sensibilidade ao movimento; hiporresponsividade/busca sensorial; e baixa energia/ fraqueza. Já em relação aos subtipos de TDAH, não houve diferença significativa quanto ao PS.

Como apresentado, devido ao envolvimento de vários fatores no TDAH, que vão desde os níveis neurológicos, psicológicos e comportamentais da criança, até aspectos relacionados à dinâmica familiar, às tarefas e às demandas e organização do ambiente, Cheu e

Reynolds (2007) discutem a importância de uma abordagem multidimensional tanto para a avaliação como para o tratamento do TDAH.

Neste contexto, por estarem relacionados ao nível neurológico, repercutindo tanto nos aspectos sensório-motor, como psicológico e comportamental, os comprometimentos do Processamento Sensorial poderiam ser melhor considerados e identificados. Os autores ainda sugerem a Terapia de Integração Sensorial como uma abordagem de tratamento dos comprometimentos do PS nas crianças com TDAH através de técnicas e estratégias sensoriais, estendendo-se à capacitação dos pais e professores em relação à adaptação do ambiente e da rotina diária (CHEU; REYNOLDS, 2007).

Diante do quadro multidimensional do TDAH e seus sintomas, as pesquisas atuais sobre o transtorno voltam-se principalmente às habilidades cognitivas e comportamentais, não considerando, porém, o papel da dimensão sensório-motora neste quadro. Além disso, conforme descritos anteriormente, são poucos os estudos sobre a relação do Processamento Sensorial e o TDAH, assim como escassas as pesquisas realizadas com ao escala Perfil Sensorial. Estas, além de não apontarem um padrão de prejuízo do Processamento Sensorial em crianças com TDAH, não trazem ainda uma discussão mais profunda a respeito da proporção em que esses prejuízos nas habilidades do PS poderiam estar relacionados às dificuldades apresentadas pela criança com TDAH no dia-a-dia.

Assim, o presente estudo justifica-se pela necessidade de mais estudos acerca da relação entre o TDAH e o PS, além da necessidade de maior compreensão e repertório sobre o assunto, de maneira a contribuir para um maior conhecimento e uma melhor abordagem em relação ao caráter multidimensional do TDAH e seus sintomas.

2 OBJETIVOS

Documentos relacionados