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1. INTRODUÇÃO

1.4 Transtorno do Processamento Sensorial

1.4.2 Sensory Profile (Perfil Sensorial)

Desenvolvida pela terapeuta ocupacional Winnie Dunn (1999), a escala Sensory Profile foi traduzida para o português e adaptada por Magalhães (2000, dados não publicados) como Perfil Sensorial, nomenclatura que será adotada neste estudo para se referir ao instrumento.

Como uma escala que avalia as habilidades de Processamento Sensorial e as respostas das crianças a eventos sensoriais do dia-a-dia, o Perfil Sensorial é um instrumento que permite quantificar os comportamentos associados aos problemas de PS, sendo uma ferramenta consistente de mensuração da percepção dos pais e cuidadores sobre esses comportamentos (KIETZ; DUNN, 1997).

De acordo com o modelo proposto por DUNN (1999), base do Perfil Sensorial, o Processamento Sensorial ocorre através da interação entre o Limiar Neurológico e as Respostas Comportamentais.

Entende-se por Limiar Neurológico, a quantidade de estímulo necessária pelo neurônio ou pelo SN para a produção de resposta (KANDEL, 2000). Compreendido como um continunm, em um dos extremos existe o alto limiar, relacionado à habituação e no outro extremo, o baixo limiar relacionado à sensibilização.

Habituação refere-se à capacidade do SN em reconhecer a experiência já ocorrida anteriormente, familiarizar-se com a mesma, não necessitando dispensar atenção quando esta ocorrer novamente. É necessária devido à grande quantidade de estímulos que recebemos a cada momento do dia. Indivíduos que apresentam dificuldades com a habituação ou alto limiar podem ser hiporresponsivos, necessitando de muito estímulo para alcançar o limiar de resposta (DUNN, 1999).

Já a Sensibilização seria o mecanismo de potencializar a importância do estímulo. Embora seja familiar, o organismo antecipa associações de perigo e prejuízo diante do estímulo, recrutando maior número de neurônios que intensifica a captação do estímulo e desencadeia uma resposta exagerada. Ela é necessária para a manutenção da atenção à realidade ao redor, enquanto houver engajamento em alguma atividade. Indivíduos com

dificuldades na sensibilização podem ser hiperresponsivos, ou seja, diante de muito pouco estímulo atingem o limiar de resposta (DUNN, 1999).

Relacionados às Respostas Comportamentais existem: os que agem de acordo com o seu limiar, no qual o seu comportamento é mais passivo e consistentemente dentro do seu limiar; e os que agem contrários ao seu limiar, no qual se comportam mais ativamente contra o seu limiar.

Assim, de acordo com esse modelo, ou seja, a partir da interação entre o Limiar Neurológico e as Respostas Comportamentais, DUNN (1999, 2007) foram estabelecidos quatro Padrões de Resposta:

a) Pobre Registro – caracterizado por um alto limiar neurológico e resposta comportamental passiva, de acordo com o limiar. São indivíduos que apresentam um alerta diminuído, sendo vagarosos para agir e com uma necessidade de maior estímulo para reagir. Podem ser apáticos e pouco responsivos ao ambiente, ou ainda, necessitar de estímulos mais intensos como o toque ou o comando verbal para aumentar o nível de atenção;

b) Procura Sensorial - caracterizado por um alto limiar neurológico e uma resposta comportamental ativa, contrária ao limiar. Visto que não percebem facilmente os estímulos, há um interesse em criar e buscar experiências sensoriais como uma estratégia de auto- regulação do seu próprio limiar. São indivíduos com um alerta aumentado, que na busca por sensação, arriscam-se muito ou ainda são desorganizados motoramente;

c) Sensibilidade ao Estímulo - caracterizado por um baixo limiar neurológico e uma resposta comportamental passiva, de acordo com o limiar. São indivíduos com um alerta aumentado, que captam muitos estímulos do ambiente, sendo muito reativo às situações. Podem ser impulsivos, distraídos, desorganizados, ou ainda facilmente irritáveis ou exigentes;

d) Evita Sensação – caracterizado por um baixo limiar neurológico e uma resposta comportamental ativa, contrária ao limiar. Visto que muitos inputs lhe são aversivos ou ainda apresentam respostas exageradas a pequenos inputs devido ao baixo limiar, são indivíduos que modulam o alerta, evitando a sensação como uma estratégia de auto-regulação para controlar o estímulo. Diante desta condição, podem ser indivíduos que apresentam expressão de medo ou ansiedade.

Tabela 1. Padrões de Resposta resultantes da relação entre Limiar Neurológico e Respostas Comportamentais

Segundo DUNN (2007) cada pessoa apresenta um limiar individual para perceber e responder aos eventos sensoriais do dia-a-dia, no qual para cada tipo de modalidade sensorial os limiares neurológicos podem ser diferentes. Da mesma forma, ao considerar as diversas modalidades sensoriais, deve-se compreender que nenhum indivíduo apresenta apenas um padrão de Processamento Sensorial para todos os sistemas, implicando dizer que uma pessoa pode ser ao mesmo tempo, hiperresponsiva para uma modalidade sensorial e hiporresponsiva para outra.

Dessa forma, o Perfil Sensorial é um questionário aplicado aos pais/cuidadores contendo 125 itens, divididas nas seguintes categorias com as respectivas Seções: a) Processamento Sensorial: auditivo, visual, vestibular, tátil, multissensorial, sensorial oral; b) Modulação Sensorial: relacionado à tolerância e tônus, relacionado à posição do corpo e movimento, modulação do movimento afetando nível de alerta, modulação sensorial afetando respostas emocionais, modulação do estímulo visual afetando resposta emocional e nível de atividade; c) Respostas Emocionais e Comportamentais: respostas comportamentais e emocionais, resultados comportamentais do processamento sensorial, itens indicando limiares de respostas.

Pela combinação de determinados itens de diferentes Seções são estabelecidos 9 Fatores : 1) Procura Sensorial, 2) Reatividade Emocional, 3) Baixa Resistência/Tônus, 4) Sensibilidade Sensorial Oral, 5) Inatenção/ Distrabilidade, 6) Mau Registro, 7) Sensibilidade Sensorial, 8) Sedentário, 9) Percepção/ Motor Fino.

Além disso, outra classificação possível refere-se aos 4 Padrões de Resposta descritos acima (Tabela1), na qual serão identificados como: Pobre Registro; Procura Sensorial; Sensibilidade ao Estímulo; e Evita Sensação.

Estudos têm utilizado o Perfil Sensorial para verificar: as relações entre desempenho motor e as habilidades do PS (WHITE et al., 2007); assim como os efeitos do tratamento

Alerta aumentado, arrisca-se muito, desorganização motora, busca informação

sensorial ALTO / HABITUAÇÃO PROCURA SENSORIAL POBRE REGISTRO RESPOSTAS COMPORTAMENTAIS BAIXO / SENSIBILIZAÇÃO

SENSIBILIDADE AO ESTÍMULO EVITA SENSAÇÃO

Alerta aumentado, age rapidamente ao estímulo,

distraído, impulsivo, desorganizado Modula o alerta, expressão de medo e ansiedade

LIMIAR

NEUROLÓGICO DE ACORDO COM LIMIAR CONTRÁRIO AO LIMIAR

Alerta diminuído, vagoroso para agir, necessita de mais estímulos para reagir

comportamental através da Terapia de Integração Sensorial (ROBERTS; KING-THOMAS; BOCCIA, 2007).

A sua versão reduzida, o Short Sensory Profile (SSP; MCINTOSH et al., 1999) também tem sido utilizada para a verificação da efetividade do tratamento em crianças com Transtorno da Modulação Sensorial (MILLER et al., 2007); para verificação sobre o impacto dos Transtorno do Processamento Sensorial na participação social das crianças (COSBEY; DUNN, 2010); bem como para se estabelecer a prevalência das percepções do TPS entre as crianças pré-escolares (AHN et al., 2004).

Em relação às populações com diferentes diagnósticos, além da sua utilização em pesquisas com crianças portadoras de distúrbios neurológicos (PRAKASH; VAISHAMPAYAN, 2007), o Perfil Sensorial também foi utilizado em crianças com autismo (ERMER; DUNN, 1997; LISS et al., 2006; HILTON et al., 2007); crianças com Síndrome do X frágil (BARANEK, et al., 2002); bem como em crianças superdotadas (GERE et al., 2009).

Segundo Yochman, Parush e Ornoy (2004), o Perfil Sensorial é um instrumento que identifica não somente o Processamento Sensorial, mas considera também os comportamentos resultantes de alterações no PS como a atenção e o funcionamento social.

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