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Definições Constitutivas (D.C.) e Operacionais (D.O.)

São as seguintes as categorias de análise que foram aplicadas às Definições Constitutivas:

2. Relacionamentos Interorganizacionais a. Teoria das Relações interorganizacionais b. O fator Confiança

c. O fator dependência

3. A Ética nas Relações Interorganizacionais

a. A influência da ética nas relações interorganizacionais b. A Ética Deontológica e a Ética Teleológica

c. A dupla moral brasileira

Com estas Categorias de análises, o trabalho explora as Definições

Constitutivas e Operacionais, como seguem:

Relacionamentos interorganizacionais

D.C: São as empresas que interagem no ambiente e têm interesse, ou uma aposta, ou são afetados, ou ainda têm uma relação direta ou indireta com ou sobre a organização. E, para que estes sejam atingidos é necessário que exista uma reciprocidade entre os interesses da empresa com seus parceiros (KARKOTLI, 2006; EIRIZ, 2001; BALESTRIN e VARGAS, 2004).

D.O: Foi descrito como as empresas fazem acordos de parcerias entre si, considerando os interesses multilaterais e a reciprocidade desses acordos.

O fator Confiança

D.C: O fator confiança, com perspectivas duradouras, em que as expectativas são satisfeitas, propiciando evoluções nas parcerias (SATO, 2003).

D.O: Foi analisada através das entrevistas se o fator confiança nas parcerias se sobrepõe às formalidades contratuais.

O fator dependência

D.C: A constatação de dependência de uma organização à outra fica sujeita a pressões e ao uso do poder (MACHADO-DA-SILVA e COSER, 2006). O poder nas relações de dependência pode ser usado de forma coercitiva, para pressionar fornecedores, compradores e terceirizadas ou subcontratadas, a fim de privilegiar uma única parte interessada (FARIA, 2001; KOTLER, 2000).

D.O: Foram entrevistadas todas as partes envolvidas, e, após, se fez um cruzamento dos dados, de modo que foi possível identificar se há situações de dependência, e se o uso de pressões e do poder são fatores que interferem nas relações.

A Ética nas Relações Interorganizacionais

A influência da ética nas relações interorganizacionais

D.C: Seja qual for a vertente ou tipo de ética subjacente nas relações interorganizacionais, ela tem sua influência nas decisões e práticas do cotidiano das organizações, justamente porque as decisões empresariais sempre afetam pessoas ou organizações. Conforme (MOREIRA, 1999): ”a solidez dos laços ou elos nas relações entre empresas estão sujeitos à conduta ética entre os atores“.

D.O: Foi investigada a partir de entrevistas, de qual a importância percebida pelos dirigentes, e se a ética é ou não um fator influente nas relações interorganizacionais, por meio da análise nas relações de concorrência, cooperação, confiança, dependência e nos rompimentos.

A Ética Deontológica e a Ética Teleológica

D.C: A Ética Deontológica é baseada em princípios universais, nos imperativos categóricos e nas ordenações incondicionais. E a Ética Teleológica tem relação com a ética utilitarista. A ideia central é de que a moralidade das ações não

está nas intenções, mas nos fins. No seu extremo máximo, cultiva a ganância pelo poder (SROUR, 2003; MATAR NETO, 2004; NASH, 2001).

D.O: As entrevistas foram realizadas com a governança e com os dirigentes das empresas, com a tarefa de identificar qual a inclinação para uma dessas correntes éticas.

A dupla moral brasileira

D.C: A moral da integridade é baseada nas virtudes sagradas, nos princípios universais. É uma moral que tem origem na Ética Deontológica, com particularidades da cultura brasileira. A moral do oportunismo se apoia em procedimentos como esperteza, o jeitinho, vale-tudo, o calote (SROUR, 1994).

D.O.: As entrevistas foram realizadas com a governança e com os dirigentes das empresas, com a tarefa de verificar se há inclinação para uma dessas correntes da dupla moral brasileira.

3.4 Procedimentos de coleta de dados

Os dados coletados num estudo de caso têm como fontes a observação, entrevistas, documentos, registros em arquivos, observação direta, observação participante e artefatos físicos, que podem ser reunidos em

três grupos: observação, entrevistas e documentos (GODOI et al., 2006). O

procedimento dessa pesquisa foi unicamente a entrevista semiestruturada. Descartaram-se os procedimentos de observação, como documentos, por exemplo. Primeiro, se existirem, certamente são confidenciais e inacessíveis, por se tratarem de questões delicadas inerentes à ética. Segundo, o interesse maior é a opinião e os relatos dos próprios atores.

Os dados primários foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas, utilizando-se de um roteiro com questões (anexo 2) abrangendo os objetivos que foram definidos, como também a observação do pesquisador quanto aos sinais e expressões emitidos durante as entrevistas pelos entrevistados.

As entrevistas semiestruturadas têm sido a fonte de informação mais

utilizada (GODOI et al., 2006), principalmente quando o assunto é complexo,

pouco explorado e confidencial. Para que a obtenção de dados seja satisfatória, não se pode esperar a boa vontade do entrevistado tão somente. Cabe ao pesquisador ter o bom senso de escolher a hora apropriada, a pessoa mais indicada para ser entrevistada, o que perguntar e como perguntar, de modo que nada possa causar barreiras e eventual constrangimento durante a entrevista, ainda mais se tratando de questões delicadas.

O pesquisador precisa ter o discernimento para perceber a sinceridade das respostas do entrevistado. Uma entrevista semiestruturada sugere questões e perguntas não muito rígidas, que possam em determinado momento da entrevista, se desdobrar para alcançar novas informações.

Pode-se proceder à coleta de dados por meio de entrevistas com anotações simultâneas ou notas manuscritas durante o diálogo entre o pesquisador e o entrevistado, ou então por meio de gravações que serão transcritas depois (MILES e HUBERMAN, 2007). Para essa pesquisa, foi decidido não utilizar gravações nas entrevistas, considerando que assuntos relacionados à ética são em geral delicados, quando o entrevistado fará alusões às situações, às vezes indesejáveis, que tenham ocorrido, sempre envolvendo outras pessoas, por estar se tratando de relacionamentos interorganizacionais, em geral, com questões de foro íntimo.

O registro da entrevista pode ser feito por meio de gravações direta ou de anotações realizadas pelo entrevistador durante o processo. Embora o uso da gravação seja recomendado, uma vez que registra todas as expressões orais, ele só deverá ocorrer se houver a autorização do entrevistado. Complementarmente, é importante realizar anotações (durante a entrevista e depois dela) de aspectos relativos à forma de emissão das respostas pelos sujeitos e ao próprio andamento da entrevista. (GODOI et al., 2006, p. 135).

A escolha por coletar dados das entrevistas através de notas manuscritas durante a entrevista também tem o respaldo de Creswell (2007, pg. 194), o qual orienta a reconstrução dos diálogos após as entrevistas, o que é feito neste trabalho.

Nas observações como fonte de dados, orienta Creswell (200, p.190-191):

O pesquisador toma notas de campo sobre comportamento e atividades das pessoas no local da pesquisa. Nestas notas, o pesquisador registra, de uma maneira não-estruturada, as atividades no local de pesquisa. [...] Útil para explorar tópicos que podem ser desconfortáveis para os participantes discutirem.

Nesta tarefa, procura-se descrever o perfil dos atores, as reconstruções de diálogo, se for necessário, eventos ou situações que possam ocorrer enquanto a entrevista estiver ocorrendo e registro das impressões percebidas.

De acordo com Godoi et al. (2006), na observação, a rigor da pesquisa

qualitativa, o papel do observador não segue uma norma rígida. O “olho clínico” do pesquisador que deve procurar sinais, comportamentos, eventos, situações, artefatos, que, por si, tenham significado para sua pesquisa. Seja qual for o caráter de observação, todos os dados passarão pela interpretação unicamente do observador, por isso, a isenção de qualquer motivo influenciador é fundamental.

A pesquisa foi realizada com a governança e com os três grupos de organizações, que constituem, entre si, os três tipos de relacionamentos, cujo formato da análise de conteúdo está representado no quadro 10:

1º grupo: A entrevista foi dirigida ao coordenador da governança do APL. Foram aplicadas questões com o propósito de saber quais as suas percepções e observações sobre a conduta ética nesses relacionamentos interorganizacionais dentro do APL.

2º grupo: As entrevistas ocorreram nas empresas fabricantes de bonés com seus respectivos dirigentes. Nestas, foram aplicadas as questões sobre: (a) qual a conduta ética no relacionamento com as subcontratadas e qual a percepção que esses têm da conduta ética das subcontratadas em relação às suas empresas; (b) qual a conduta ética no relacionamento com os fornecedores e qual a percepção que esses têm da conduta ética dos fornecedores em relação às suas empresas; (c) qual a conduta ética no relacionamento com os concorrentes e qual a percepção que esses têm da conduta ética dos concorrentes em relação às suas empresas.

3º grupo: As entrevistas ocorreram nas empresas subcontratadas com seus respectivos dirigentes. Nestas, foram aplicadas as questões sobre qual a conduta ética no relacionamento com as empresas (fábricas de bonés)

contratantes e qual a percepção que esses têm da conduta ética das contratantes em relação às suas empresas.

4º grupo: As entrevistas ocorreram nas empresas fornecedoras para as empresas fabricantes, com seus respectivos dirigentes. Nestas, foram aplicadas as questões sobre qual a conduta ética no relacionamento com as empresas (fábricas de bonés) compradoras e qual a percepção que esses têm da conduta ética dessas empresas compradoras em relação às suas empresas.

E n t r e v i s t a s c o m C o r t e T r a n s v e r s a l

N í v e l d e A n á l i s e U n i d a d e d e A n á l i s e

Relação entre fábricas

de bonés concorrentes Dirigentes das fábricas de bonés Governança

Relação entre fábricas e

subcontratadas Dirigentes das

fábricas de bonés Governança

Dirigentes das empresas subcontrata das

Relação entre fábricas e

fornecedores Dirigentes das

fábricas de bonés Governança

Dirigentes das empresas fornecedoras QUADRO 10 - FORMATO DA ANÁLISE DE CONTEÚDO

FONTE: Autor

O roteiro de entrevistas foi formado por quatro partes:

ƒ A primeira parte procurou descrever como se caracterizam os

relacionamentos interorganizacionais do Arranjo Produtivo Local da indústria de bonés em Apucarana;

ƒ A segunda parte buscou identificar qual é o papel estratégico dos

relacionamentos na consecução dos objetivos organizacionais;

ƒ A terceira parte buscou identificar qual é a influência da ética na

formação e desenvolvimento dos relacionamentos interorganizacionais;

ƒ A quarta parte procurou identificar quais são as ambiguidades e

3.5 Procedimentos no tratamento e Análise dos dados

Dos passos propostos por Creswell (2007, p.195-196), três foram considerados no tratamento dos dados:

ƒ Organização e preparação dos dados para análise. Envolve a

transcrição das entrevistas, das notas das observações de campo;

ƒ Leitura dos dados a fim de obter um sentido geral das informações

e refletir sobre seu sentido global;

ƒ Processo de codificação, quando se procederá à segmentação de

partes de textos em categorias, à rotulação de termos usados em linguagem real dos entrevistados.

A análise dos dados foi feita em duas fases:

Na primeira fase, foi feita uma análise dos dados empíricos, confrontando as percepções dos atores entrevistados, com relação aos significados, e a percepção que cada dirigente tem de seus parceiros. Dessa forma, foi possível identificar os conceitos e as vertentes da ética presente nas empresas escolhidas para a pesquisa.

Na segunda fase, os dados foram analisados utilizando-se da estratégia de Análise de Conteúdo, cruzando-se os dados empíricos, obtidos das entrevistas, com as categorias de análise pré-definidas na base teórica.

A análise dos dados coletados consistiu em extrair sentido dos dados (CRESWELL, 2007), com procedimentos interpretativos, e dos dados obtidos das entrevistas, confrontados com a base teórica.

Na análise, levou-se em conta o recurso da interação linguística, na intenção de captar maiores revelações das entrevistas. De acordo com Godoi

et al. (2006), a interação linguística favorece a análise dos dados, devendo o

entrevistador observar as reações do entrevistado diante das perguntas e as considerar como revelações úteis, além de incentivar o entrevistado com gestos e expressões faciais, criando certa empatia. Ainda conforme os autores, no momento decisivo da interpretação, o entrevistador entra em cena. Nesse momento ele tem que incluir uma dimensão reflexiva. A interpretação começa já durante a própria entrevista, espontaneamente. É preciso estar advertido

para o fato e guardar-se para o momento da análise. A interpretação, então, é um processo de recriação.

Em favor da validação dos resultados, estes procedimentos foram adotados, baseando-se nas sugestões de Creswell (2007): as informações discrepantes entre as teorias e os achados reais que surgiram, foram considerados na análise; e a permanência de um tempo mais prolongado nos locais onde foi possível, favoreceu uma observação mais acurada.

4 ANÁLISE DE DADOS

Nesta seção, procurou-se apresentar uma caracterização do APL de boné em Apucarana, dando particular destaque nas relações entre os grupos de empresas, tendo as fábricas de bonés no centro dessas relações, que entre si, cooperam, interagem e competem. Na análise, foram encontrados diversos aspectos e situações que evidenciam a influencia da ética nos relacionamentos interorganizacionais.

4.1 O Arranjo Produtivo Local da confecção de bonés em Apucarana.