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2.3 COMPETÊNCIAS

2.3.1 Definições

Do latim, competentia significa proporção, simetria. A noção de competência refere-se à capacidade de compreender uma determinada situação e reagir adequadamente frente a ela, ou seja, estabelecer uma avaliação dessa situação de forma proporcionalmente justa para com a necessidade que ela sugere a fim de atuar da melhor maneira possível. É a “qualidade de quem é capaz de apreciar e resolver certo assunto, fazer determinada coisa; capacidade, habilidade, aptidão, idoneidade. Está relacionada à oposição, conflito, luta.” (FERREIRA, 1999, p. 512)

A competência relaciona -se ao “saber fazer algo” que, por sua vez, envolve uma série de habilidades. Do latim, habilitas significa “aptidão, destreza, disposição para alguma coisa” (SARAIVA, 1993, p. 539), ou seja, “notável desempenho e elevada potencialidade em qualquer dos seguintes aspectos, isolados ou combinados: capacidade de liderança, talento especial para artes e capacidade psicomotora” (FERREIRA, 1999, p. 1024). Já capacidade, do latim capacitas, significa “qualidade que uma pessoa ou coisa tem de possuir para um determinado fim; habilidade, aptidão.” (FERREIRA, 1999, p. 395).

A discussão sobre o conceito atual de competência surgiu nos anos oitenta, juntamente com as grandes mudanças e transformações econômicas, políticas, culturais e sociais no mundo. Essas modificações também refletiram-se na área educacional e na sua intervenção pedagógica. Esse novo rumo na educação, segundo MORETTO (2001), foi denominado de “nova escola”, tendo como foco principal o conhecimento adquirido pelas competências. O presente trabalho não visa apenas abordar a noção de competência, mas identificar como se dá o surgimento dessa noção nos diversos países e sua relação com a implantação da educação profissional.

Não existe um conceito único sobre o tema, mas diversos enfoques que, por sua vez, não são contraditórios e sim se intercomplementam. Dentro dos vários significados da noção de competência, BERGER FILHO (1998) define-a

como sendo “esquemas mentais, ou seja, as ações e operações mentais de caráter cognitivo, sócio-afetivo ou psicomotor que mobilizadas e associadas a saberes teóricos ou experiências geram habilidades, ou seja, um saber fazer.”

PERRENOUD (1999a), em consonância, atesta que competência significa mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, habilidades, informações) para solucionar com eficácia uma série de situações. Na visão do autor, a competência abrange conhecimentos e esquemas de percepção, pensamento, avaliação e ação, com vistas a desenvolver respostas inéditas, criativas e eficazes.

A descrição das competências deve partir da análise de situações, da ação e daí resultar em conhecimento. Devem estar, portanto, associadas a contextos culturais, profissionais e sociais, visto que os indivíduos não vivenciam as mesmas situações e tão pouco defrontam-se com os mesmos problemas.

Dentro desse contexto, MACHADO (2000) afirma que as competências podem ser associadas desde aos esquemas mais simples de ação até às formas mais elaboradas de mobilização do conhecimento, como capacidade de expressão nas diversas linguagens, capacidade de argumentação na defesa de um ponto de vista e capacidade de tomar decisões, de enfrentar situações problemas, de pensar e elaborar propostas de intervenção na realidade. Para MORETTO (2001), o termo competência deve ser associado à capacidade resultante do desenvolvimento harmônico de um conjunto de habilidades e que caracteriza uma função específica.

Em uma interpretação mais comportamental, CABRERA (2001, p. 34) define:

“Competência é uma qualidade que o individuo tem e que é percebida pelos outros. Não adianta você ter determinadas competências, é preciso que as outras pessoas reconheçam que essas competências existem em você. Elas são dinâmicas: mudam, evoluem, são perdidas, são ganhas.”

LEVY-LABOYER apud GRAMIGNA (2002), corroboram com essa idéia que competência designa repertórios de comportamentos e capacitação que algumas pessoas ou organizações dominam melhor que outras, fazendo-as eficazes em uma determinada situação.

Para vários autores, competência vai além de características comportamentais, ela é a integração de habilidades, conhecimento e comportamento manifestada pelo desempenho das pessoas. Como por exemplo, numa visão holística, de acordo com BOOG (2001, p. 35):

“A competência é o produto da multiplicação de três fatores: saber fazer (conjunto de informações, conhecimento e experiências); querer fazer (motivação, vontade, comprometimento); poder fazer (ferramentas, local de trabalho adequado, equipamento). As competências aparecem na medida em que estes três fatores são atendidos. Reforço a questão da multiplicação, porque, se um destes fatores for nulo, a competência final também será nula.”

PERRENOUD et al (2002) destaca o parentesco semântico existente entre as idéias de competência e de competitividade. A origem comum é o verbo competir (com+petere) que, em latim, significa buscar junto com, esforçar-

se junto com ou pedir junto com . Apenas no latim tardio passou a prevalecer o

significado de disputar (algo) com outro(s); concorrer. Quando se disputa um bem material juntamente com alguém, torna -se natural o caráter mutuamente exclusivo da conquista: para alguém ganhar, alguém deve perder, por outro lado, o mesmo não necessita ocorrer quando o “bem” que se disputa, ou que se busca junto com alguém, é o conhecimento. Pode-se dar ou vender o conhecimento que se tem sem precisar ficar sem ele. Além disso, o conhecimento não é um bem fungível, não se gasta: quanto usado, mais novo fica. Isso acarreta necessariamente uma ampliação no significado original da competição, da competência no sentido de se

buscar junto com.

No contexto educacional, segundo PERRENOUD et al (2002), a noção de competência é muito mais fecunda e abrangente.

Dentro dessa concepção e abordando em especial a Educação Profissional, foco deste trabalho, o MEC, baseando-se nas Diretrizes Curriculares de Cursos Superiores de nível tecnológico argumenta que:

“[...]entende-se por competência profissional a capacidade de mobilizar, articular e colocar em ação conhecimentos, habilidades, atitudes e valores necessários para o desempenho eficiente e eficaz de atividades requeridas pela natureza do trabalho e pelo desenvolvimento tecnológico.”

Nessa visão, entende-se que o conhecimento está relacionado com o saber, a habilidade refere-se ao saber fazer relacionado com a prática do

trabalho, transcendendo a mera ação motora e a atitude expressa no saber ser, relacionada com o julgamento da pertinência da ação, como a qualidade do trabalho, a ética do comportamento, a convivência participativa e solidária e outros atributos humanos, tais como a iniciativa e a criatividade.

Assim concebida, a educação, segundo a visão do MEC, abre-se para o desenvolvimento das competências básicas à formação pessoal, à autonomia intelectual, à criatividade, à solução de problemas, à análise e prospecção, entre outras. Nessa perspectiva, educar transforma-se num processo permanente de aprendizagem. Educar, de acordo com MORAN (2000):

“é ajudar os alunos na construção da sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional – do seu projeto de vida, no desenvolvimento de habilidades de compreensão, emoção e comunicação que lhes permitam encontrar seus espaços pessoais, sociais e profissionais e tornar-se cidadãos realizados e produtivos”.

Com base nessas considerações, a formulação de competências afasta-se das abstrações e respalda-se no trabalho por resolução de problemas e na proposição de desafios, pressupondo uma pedagogia ativa, cooperativa e contextualizada.

Para PERRENOUD (1999a), a abordagem por competência redimensiona a figura do educador, instigando-o a:

a) considerar os conhecimentos como recursos a serem mobilizados;

b) trabalhar regularmente por problemas; c) criar ou utilizar outros meios de ensino;

d) negociar e conduzir projetos com seus alunos;

e) adotar um planejamento flexível e indicativo e improvisar; f) praticar uma avaliação fornecedora em situação de trabalho; g) dirigir-se para uma menor compartimentalização disciplinar; h) implementar e explicitar um novo contrato didático;

Conforme SANTOS et al (2000), ao educando cabe construir seu conhecimento, sendo capaz de raciocinar abstrata e significativamente sobre várias fontes, analisando e interpretando fenômenos, selecionando informações relevantes, combinando e sintetizando conceitos apreendidos. Também , deve o

aluno ser criativo, inovador, questionador, buscar alternativas e soluções para os problemas apresentados.

A abordagem por competência propicia a construção do conhecimento pela compreensão do mundo e capacitação para viver ativamente no mesmo. Nessa visão o conhecimento é organizado, exercitado, criado e transformado numa percepção da realidade e ação humana, utilizando para isso linguagens e métodos específicos, de forma a melhor intervir na realidade, que de acordo com FREIRE (1979), é o sentido perfeito para a educação.

2.3.2 Visão global de competências e sua influência na concepção da