2.2 Abordagens no dom´ınio do tempo
2.2.5 Defini¸c˜ao proposta por Willems (1992)
Willems prop˜oe uma adequa¸c˜ao `a teoria apresentada por Akagi et al., mas sem a neces- sidade de transforma¸c˜oes de eixos ou qualquer tipo de restri¸c˜ao quanto aos sinais de tens˜ao e corrente ou n´umero de fases do sistema el´etrico [44, 91, 37]. Especial aten¸c˜ao ´e dada aos sistemas trif´asicos com quatro fios.
O equacionamento proposto por Willems e suas contribui¸c˜oes em torno da teoria de potˆencias instantˆaneas descrita a seguir, s˜ao de extrema importˆancia no contexto deste trabalho de dou- torado.
Partindo de uma an´alise vetorial das grandezas el´etricas e considerando que a potˆencia instantˆanea polif´asica transmitida para o sistema ´e expressa pelo produto escalar dos vetores instantˆaneos de tens˜ao e corrente:
v = va vb vc i = ia ib ic . (2.130)
Assim,
p3φ= v · i, (2.131)
onde p3φ ´e uma referˆencia `a potˆencia instantˆanea em um sistema trif´asico. Define-se ip como
sendo a proje¸c˜ao do vetor i sobre o vetor v . Pelas propriedades da ´algebra vetorial, o vetor ip
´e proporcional a v , de forma que:
v· i = v · ip. (2.132)
Com isso, chega-se a uma express˜ao muito semelhante `a definida, independentemente, por Tenti et al., a qual utilizava os conceitos de Multiplicador de Lagrange e norma instantˆanea:
ip =
v· i kvk2.v =
p3φ
kvk2.v , (2.133)
destacando que n˜ao existem restri¸c˜oes quanto aos vetores v e i . Esta equa¸c˜ao tamb´em pode ser associada `a defini¸c˜ao de Fryze, no entanto aqui tamb´em s˜ao usados somente valores ins- tantˆaneos.
A corrente calculada pela diferen¸ca:
iq = i − ip (2.134)
´e ortogonal `a v , satisfazendo as seguintes propriedades:
v· iq = 0; (2.135)
kik2 = kipk2+ kiqk2. (2.136)
Willems decomp˜oe as correntes instantˆaneas em dois vetores ortogonais entre si, um pro- porcional `a tens˜ao e outro ortogonal. O vetor ip ´e definido como corrente ativa instantˆanea e
corresponderia ao fluxo de energia entre fontes e cargas, enquanto o vetor iq ´e definido como
corrente n˜ao-ativa instantˆanea e n˜ao contribui para a transferˆencia de potˆencia:
i = ip+ iq. (2.137)
Estas duas parcelas de corrente cont´em a mesma informa¸c˜ao das correntes ativa e reativa definidas por Akagi at al., mas neste caso sem a necessidade do c´alculo das potˆencias reais e imagin´arias e das transforma¸c˜oes de eixos.
Em analogia com a Teoria pq, a potˆencia real instantˆanea ´e definida diretamente por p3φ e
a potˆencia imagin´aria instantˆanea ´e definida como o vetor resultante do produto vetorial:
q = v × i (2.138)
e sua magnitude pode ser calculada com a norma instantˆanea:
Com isto pode-se definir a potˆencia aparente instantˆanea (s) como sendo:
s = kvk.kik, (2.140)
onde
s2 = p2
3φ+ kqk2. (2.141)
Assim como na Teoria pq, a potˆencia imagin´aria representa uma parcela de potˆencia, por- tanto de corrente (iq), que circula entre as fases do sistema sem participar da transferˆencia de
energia para as cargas. Sendo que do ponto de vista de compensa¸c˜ao, a estrat´egia de compensar iq, sem elementos armazenadores de energia, para redu¸c˜ao nas perdas do sistema tamb´em ´e
v´alida.
A) Vantagens
Dentre as vantagens atribu´ıdas pelo autor a esta proposta, destacam-se:
• n˜ao se restringe ao sistema trif´asico, e assim poderia ser aplicada a qualquer sistema polif´asico, inclusive ao monof´asico (n˜ao demonstrado nas referˆencias);
• n˜ao faz restri¸c˜oes quanto aos sinais de tens˜ao e corrente envolvidos, nem mesmo sobre sua periodicidade;
• ´e desenvolvida diretamente atrav´es das vari´aveis instantˆaneas originais, sem necessidade da transforma¸c˜ao de eixos;
• ´e baseada num equacionamento simples e bem definido, atrav´es de conceitos cl´assicos da ´algebra vetorial.
Vale ressaltar que uma das discuss˜oes de Willems em rela¸c˜ao `as defini¸c˜oes de Akagi et al. refere-se `a possibilidade de correntes de seq¨uˆencia zero i0 influenciarem no valor de q .
De acordo com Akagi e seus co-autores, seq¨uˆencia zero s´o contribui para o valor da potˆencia real instantˆanea. Entretanto, Willems cita o exemplo de um sistema com tens˜oes equilibradas (v0 = 0), mas com correntes desequilibradas (i0 6= 0) e afirma que neste caso a corrente de
seq¨uˆencia zero contribui para o valor de iq, mesmo para cargas resistivas. Este assunto vem
sendo estudado em outros trabalhos e o maior problema parece ser o nome associado `as correntes iq, as quais n˜ao podem ser confundidas com a nomenclatura convencional para corrente reativa.
Mais adiante este assunto ser´a retomado.
B) Discuss˜ao ´
E importante observar que n˜ao havendo restri¸c˜oes na defini¸c˜ao de corrente ativa (2.133), no caso de um sistema com tens˜oes assim´etricas, a corrente ativa instantˆanea ip, projetada sobre
a tens˜ao, guarda uma dada proporcionalidade, mas deixa de ter a mesma forma de onda. Tal propriedade foi abordada em [71, 88] e ser´a retomada no pr´oximo cap´ıtulo.
Esta ´ultima afirma¸c˜ao significa que a compensa¸c˜ao de iq reduz as perdas do sistema, mas
torna-se necess´ario um equacionamento um pouco mais detalhado, com intuito de encontrar a m´ınima parcela de corrente necess´aria para manter o fluxo m´edio de energia entre as fontes e cargas do sistema [58, 59, 71].
Inspirado em trabalhos como [35, 58], o pr´oprio Willems fez algumas modifica¸c˜oes em seu equacionamento inicial [74, 91, 92] para tentar expandir as propostas de seu trabalho inicial e associ´a-las a componentes fundamentais, harmˆonicas e de seq¨uˆencia positiva, negativa e zero (abordagem semelhante `a que ser´a discutida para a proposta de teoria unificada). Tamb´em vale ressaltar os trabalhos recentes do autor a respeito das defini¸c˜oes de potˆencia aparente e da influˆencia do referencial adotado para as medidas de tens˜oes [41, 85].