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O progresso gradativo da ciência e, mais tarde, o avanço e uso das tecnologias de informação, entre outros fatores, contribuíram para acelerar a quantidade de produção científica, transpondo a capacidade do homem quanto ao acesso aos documentos e, conseqüentemente, à informação, de forma integralizada.

A análise da produção científica constitui um elemento decisivo para que se conheçam as tendências dos estudos de uma ciência ou de uma disciplina em particular e possibilitar a ampliação do conhecimento na área. Entretanto, a Gestão do Conhecimento Organizacional, entendida como o “Conjunto de processos que governa a criação, a disseminação e a utilização de conhecimento no âmbito das organizações“ (ANGELONI, 2002, p.16), envolve uma série de outros conceitos que se encontram interligados, tais como: aprendizagem, capital intelectual e competências.

Aprendizagem é comumente entendida como um processo que muda o estado do conhecimento de um indivíduo ou de uma organização (OLIVEIRA JÚNIOR, 2001, p.2). Competência entendida como “saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimento, recursos e habilidades, que agreguem valor econômico à organização e valor social ao indivíduo”. (FLEURY; FLEURY, 2001, p.190). O capital intelectual se refere à soma dos conhecimentos de todos de uma empresa, o que lhe proporciona vantagem competitiva (STEWART, 1998).

Esses conceitos são essenciais para demonstrar que os processos estão imbricados conduzindo à compreensão de que o conhecimento é fruto de um processo de aprendizagem que, por sua vez, gera as competências essenciais, possibilitando,

assim, a formação do capital intelectual correspondente ao conjunto de conhecimentos e competências, que possibilitam vantagem competitiva às organizações. Devido a esta abrangência do tema, delimitou-se como objeto do presente estudo a produção científica que explicitamente aborda conhecimento nas organizações, excluindo, dessa forma, os trabalhos cujos assuntos correspondam à aprendizagem, às competências e ao capital intelectual.

Considerada celeiro de pesquisa, a instituição universitária brasileira começa a se tornar matéria de debate público, graças ao espaço que vem conquistando em termos de que a maioria das Instituições de Ensino Superior ainda não se assumiu como disseminadora do conhecimento, através do diálogo inteligente com a comunidade (ÁVILA, 2000). Há, no meio acadêmico, tendência forte de se negligenciarem as atividades de ensino, extensão e pesquisa científica no sentido restrito do termo, para incrementar a pesquisa produtora de papéis, em que a qualidade é substituída pela quantificação exacerbada que elevam muitas vezes, sem nenhum mérito, o status dos pesquisadores (TARGINO, 2000).

Como disseminadores da produção acadêmica em Administração, no país, destacam-se os Anais do Encontro da Associação de Pós-graduação em Administração, que têm publicado material em volume significativo em todas as disciplinas da área, representando, assim, um universo de pesquisas acadêmicas. Assim, à medida que a produção literária crescente é quase que exclusivamente acadêmica, especialmente gerada nos programas de pós-graduação, abre-se espaço para a diversidade e a qualidade, focalizando outros aspectos ainda não estudados, preenchendo as lacunas possivelmente existentes. Especificamente em

Gestão do Conhecimento, este fenômeno não é diferente; os estudos crescem de forma quantitativa. Entende-se, portanto, que é chegado o momento de uma reflexão em prol da qualidade na área. Esta reflexão é possível através da realização de investigação, de modo que permita dados para uma análise sobre o estágio de evolução da ciência na área objeto de estudo.

Na perspectiva metodológica e quanto aos aspectos gerais da produção científica, as pesquisas, citando, para exemplificar (MARTINS, 1997; BERTERO; CALDAS; WOOD JR., 1998), apresentam, de forma convergente, em pequena revisão de literatura, pontos críticos na produção científica em Administração no Brasil, tais como: desconhecimento da literatura sobre metodologia do trabalho científico, concentração de pesquisas oriundas das regiões sul e sudeste e de autores do sexo masculino.

Há vestígios observados de que a forma de comunicar as pesquisas, por meio de resumos, geralmente apresenta falha quanto ao conteúdo e à uniformização dos mesmos, o que prejudica o entendimento da pesquisa, fazendo - se imprescindível a leitura do texto na sua totalidade. Demais características e tendências metodológicas, especificamente, nos estudos que tratam da Gestão do Conhecimento, são ainda desconhecidas.

Quando se fala na práxis da Gestão do Conhecimento organizacional, seus conceitos remetem ao enfoque na dimensão tecnologia, demonstram preocupação com processos administrativos, ora concentram a preocupação com as pessoas, relacionamento com o ambiente externo, cultura organizacional e, com a mesma importância, destacam, mais atualmente, a informação, entre outros componentes básicos que possibilitam gerir conhecimento (TEIXEIRA FILHO, 2000) à forma que, na

produção científica pertinente, estas dimensões se alternam, confundem-se e até se omitem, insinuando a falta de uma consolidação conceitual e de clareza.

Exemplificando, verifica-se, com as leituras que há, uma certa tendência por parte de uma corrente de pesquisadores para considerar a tecnologia de informação como solução para a gestão do conhecimento. A esse respeito, Costa (1999) chama a atenção de que, apesar da tecnologia de informação ser uma grande incentivadora do compartilhamento e da transferência do conhecimento, deve-se ter cuidado para não superestimá-la.

Neste enfoque, as pessoas são os colaboradores da empresa que detêm o conhecimento para vantagem competitiva. Gente faz toda a diferença para a Gestão do Conhecimento e, conseqüentemente, para a competitividade organizacional, apesar da compreensão de que outras dimensões estratégicas citadas são variáveis eqüitativamente importantes para a Gestão do Conhecimento. Como as organizações são formadas por pessoas, e estas são as detentoras do conhecimento, deduz-se que o conhecimento está presente em todas as organizações, e o que diferencia entre uma organização e outra é como esse conhecimento é percebido, valorizado, utilizado, enfim, gerenciado. No panorama da “Sociedade da Informação e do Conhecimento”, entende-se que as estratégias das organizações devem estar voltadas ao foco humano, pois estes são os verdadeiros detentores do potencial de conhecimento que determinam a gestão estratégica.

A preocupação com Gestão do Conhecimento só se intensificou no início da década de 90. Embora recente, já faz parte da estratégia empresarial, que é considerada uma disciplina mais antiga, cujos conceitos e abordagens são bem diversificados (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000). Na disciplina Gestão do

Conhecimento, estão surgindo vários modelos de trabalhar o conhecimento nas organizações, como os apresentados por Nonaka e Takeuschi (1997), Stewart (1998), Terra (2000), Angeloni (2002), entre outros. Verifica-se que cada modelo apresentado procura enfocar determinados aspectos das organizações do conhecimento à maneira que se constatou a inexistência de um modelo que contemple estes aspectos/ dimensões de forma combinada.

Além dessas questões expostas, o tema apresenta controvérsias, por ser bastante complexo e a literatura apresentar algumas vertentes que divergem de opiniões em relação ao Gerenciamento do Conhecimento, posteriormente explanado na fundamentação teórica sobre conhecimento nas organizações. A temática é controversa, e seus defensores são tão habituais quanto seus críticos. (TELLES; TEIXEIRA, 2002).

Considerando o exposto, entende-se que é chegado o momento de uma reflexão acerca da produção científica, para se perceberem as tendências metodológicas dos estudos e, condicionalmente, sugerir novas formas de abordagens. É relevante se conhecerem as tendências teóricas, metodológicas e outras características essenciais do produto científico porque quanto mais se sabe sobre uma área do conhecimento, melhor se define e se distingue a mesma conceitual e metodologicamente (WITTER, 1999).

Em conformidade com o panorama apresentado, a intenção do estudo, portanto, é não só caracterizar os aspectos gerais da produção científica em gestão do conhecimento, mas analisar parte do universo dessa produção, procurando-se identificar as dimensões estratégicas metodológicas adotadas nas pesquisas e, em outra perspectiva, compatibilizar as várias dimensões estratégicas organizacionais

identificadas nos modelos teóricos e, a partir daí, mapeá-las na produção científica analisada. Desta feita, apresentar modelos sínteses que representam o panorama atual de pesquisa no tema, a partir das variáveis explicitadas nos objetivos específicos.

Para a conseqüente formulação das questões que norteiam esta pesquisa, partiu-se de alguns pressupostos, tais como:

a) O conhecimento organizacional é gerenciável;

b) a Gestão do Conhecimento é considerada um tema em evidência nas organizações;

c) a produção científica analisada reflete a prática crescente da Gestão do Conhecimento nas organizações;

d) os trabalhos científicos adotam uma diversidade e multiplicidade de procedimentos metodológicos;

e) os textos dos artigos dos Anais do ENANPAD são suficientemente informativos; f) os enfoques nas dimensões estratégicas adotadas pelas organizações e

refletidas na produção científica centram-se nas pessoas;

g) as organizações enfrentam dificuldades para implementação de práticas de Gestão do Conhecimento.

Tendo em vista a explanação feita, até o momento, foram formuladas algumas perguntas que servem de linha condutora para o desenvolvimento desta pesquisa, a saber:

- Quais as características gerais da produção científica em Gestão do Conhecimento?

- Quais as características das pesquisas em Gestão do Conhecimento, publicadas nos Anais do ENANPAD, quanto aos aspectos metodológicos?

- Quais as características das pesquisas em Gestão do Conhecimento, publicadas nos Anais do ENANPAD, quanto às dimensões estratégicas adotadas pelas organizações?

Certamente, com a obtenção das respostas para as perguntas que constituem a problematização desta investigação, apresentam-se as tendências e a caracterização da produção científica, como contribuição para o desenvolvimento da área de ensino e pesquisa em Gestão do Conhecimento, em nível nacional.

Contextualizado o tema, o problema e a justificativa, que desencadearam a pesquisa, passa-se a delinear o objetivo geral e os objetivos específicos que compatibilizam as idéias até então surgidas, provocando o desdobramento das demais etapas que sucedem aos elementos introdutórios.