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Observação Entrevistas

3.3. Delineação do campo de análise

O projeto de criação de escolas-piloto de educação bilíngue no município do Rio de Janeiro iniciou em 2011 e foi concretizado em 2012, por intermédio de ações do Instituto Municipal Helena Antipoff (IHA). Após um rastreamento da quantidade de alunos com diferentes graus de perda auditiva matriculados no município do Rio de Janeiro, e da condição de atendimento escolar desses alunos, algumas escolas foram escolhidas para se tornarem um ambiente de educação bilíngue. O projeto foi fundamentado nas diretrizes e princípios do Decreto nº 5.626 de 2005, e nas discussões a respeito da melhoria na qualidade de escolarização dos alunos surdos levando em conta experiências, até então isoladas, bem sucedidas dentro da própria rede municipal do Rio de Janeiro.

Segundo dados apresentados em agosto de 2015 pelo sítio eletrônico da Prefeitura do Rio de Janeiro, a Secretaria Municipal de Educação (SME) conta atualmente com 1.436 unidades escolares. Contabilizando um total geral de 654.454 alunos matriculados. Como parte dessas unidades, a educação especial está representada, quantitativamente, da seguinte forma: 4.912 alunos em classes/escolas especiais; e, 7.733 alunos com deficiência incluídos em turmas regulares. Dentro deste universo, 24 escolas incorporam o projeto de educação bilíngue para surdos. De acordo com informações apresentadas pelo IHA em seu site, no ano da implantação das escolas-piloto bilíngues, havia 750 alunos surdos espalhados pelas diferentes Coordenadorias Regionais de Educação do Rio de Janeiro.

Como critérios de seleção das escolas que hoje fazem parte do programa foram observadas a existência de um número maior que três alunos surdos, e a presença de profissional de atendimento educacional especializado (AEE) dentro da unidade escolar (UE). De acordo com os mesmos dados estatísticos estabelecidos em 2011 pelo IHA, 59% desse alunado apresentava surdez profunda ou severa, 26% surdez moderada, 7% surdez leve, e 8% não oferecia identificação por intermédio de laudo médico. Deste grupo, 34% se comunicava unicamente por meio da Libras, 31% pelo uso da Libras e da técnica de oralização, 28% usando apenas a oralização, e para 7% dos casos não houve resposta.

Figura 3 – Graus de surdez e formas de comunicação

Dentre os atos desenvolvidos pelo IHA para a implantação do projeto, foram realizados: cursos de capacitação e aulas de Libras aos profissionais das escolas, seminários com temáticas na área de educação bilíngue para surdos, visitas às escolas e orientação à comunidade escolar, discussões envolvendo metodologias de ensino voltadas para a educação de alunos surdos, e entrega de materiais audiovisuais e em Libras. Em prol da construção de uma equipe de educação bilíngue (Libras e Língua Portuguesa) nas escolas-piloto, o coordenador pedagógico e o diretor, juntamente ao AEE, passam a ser co-responsáveis por favorecer a comunicação e as trocas de experiências que envolvam essa nova dinâmica do espaço escolar.

Para fins deste estudo foi eleita uma das atuais 24 escolas-piloto bilíngues do município do Rio de Janeiro. Por almejar investigar parâmetros de uma educação bilíngue para surdos, o critério de escolha da amostra representativa foi a indicação, por parte do próprio IHA, de uma escola-piloto como sendo uma das unidades que vêm apresentando

melhor desempenho dentro do programa. Das seis turmas com alunos surdos incluídos na escola, manhã e tarde, a diretora designou uma turma de 3º ano do Ensino Fundamental, do turno da manhã, para observação por ser uma das turmas com maior quantitativo de alunos surdos em sala de aula, e pelo perfil receptivo da professora regente.

A escola municipal investigada se localiza na Zona Oeste do Rio de Janeiro, mas terá sua identificação preservada. A estrutura local abarca Educação Infantil modalidade pré- escola, Ensino Fundamental I, Educação Especial e turmas de projetos. A Educação Especial hoje se dá por meio do trabalho da sala de recursos multifuncionais (SRM) e, no caso dos alunos surdos, também pela presença de instrutor de Libras e intérprete de Libras na escola. A escola funciona em dois turnos e a SRM é ofertada no contraturno do aluno. No total, existem quatro intérpretes e um instrutor de Libras na escola, o trabalho destes profissionais se estabelece por meio de terceirização.

Em relação às dependências, a escola conta com: 21 salas de aulas; sala de diretoria; secretaria; sala de professores; sala de orientação pedagógica; prédio anexo com sala de recursos multifuncionais e auditório; quadra de esportes descoberta; pátio descoberto; biblioteca; sala de leitura; cozinha; refeitório; despensa; banheiros masculino e feminino para alunos; banheiro adequado aos alunos da Educação Infantil; banheiros adaptados para alunos com deficiência ou mobilidade reduzida; e, banheiros para funcionários. A escola é equipada com TV, videocassete, DVD, copiadora, retroprojetor, impressora, aparelho de som, projetor multimídia, fax e câmera fotográfica/filmadora. A sala de aula dos alunos surdos observados possuía TV e equipamento de multimídia instalado (data show). Na SRM constavam aparelhos como TV, impressora, dois computadores e multimídia.

No ano de 2015, na ocasião da pesquisa, a escola contava com 1.006 alunos matriculados, dentre estes, 11 eram surdos. Além dos onze alunos surdos matriculados, a SRM também recebia oito alunos da mesma região que não tinham atendimento educacional especializado (AEE) em sua unidade escolar. O horário do AEE dos alunos surdos era organizado para ocorrer separadamente do horário dos demais alunos incluídos.

De acordo com a atual diretora da escola, no período de 2007/2008 houve uma iniciativa governamental de acabar com todas as classes especiais existentes dentro da escola. Nesta ocasião se encerrou o trabalho de estimulação da fala que ocorria com as crianças, na época, classificadas dentro da escola como deficientes auditivas (DA). Segundo a fala da diretora, inserir esses alunos nas salas regulares foi um trabalho penoso, até que no ano de 2009 a SRM começou a desenvolver um trabalho específico para dar suporte aos alunos surdos. Por conta deste novo trabalho a Libras passou a ser utilizada na escola, ainda que

limitada ao espaço do AEE. O projeto de uma escola bilíngue só veio a ser discutido, contudo, no ano de 2012 por iniciativa do IHA. Das mudanças ocorridas no espaço escolar a diretora destacou a contratação de intérpretes de Libras e, em seguida, de instrutor de Libras.