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5 ENCONTRABILIDADE DA INFORMAÇÃO: por um conceito operatório na Ciência da

7.2 Delineamento das conclusões

Esta investigação se alicerça epistemologicamente no cenário paradigmático pós- custodial da Ciência da Informação (compondo o polo epistemológico do método quadripolar), em que buscamos traçar os fundamentos teóricos e práticos do objeto de pesquisa, qual seja a encontrabilidade da informação e sua contribuição para os ambientes informacionais no cerne deste campo científico. Constatamos que o paradigma pós- custodial, informacional, científico e sociotécnico ainda convive com o paradigma antecessor, o custodial, patrimonialista, historicista e tecnicista, o qual, embora em crise já há algumas décadas, sobrevive em abordagens teóricas e práticas da Ciência da Informação, bem como na práxis dos profissionais da informação.

O movimento que vem culminando na crise do paradigma custodial se inicia com as realizações dos advogados belgas Paul Otlet e Henri La Fontaine, se fortalece com a explosão informacional nos anos 1950 e se efetiva com o advento da internet, especialmente da Web nos anos 1990. A partir desses eventos, percebemos que a evolução tecnológica que permeia a humanidade contribui para a evolução dos recursos, serviços e ambientes informacionais e potencializa as possibilidades de acesso à informação. A abordagem referente ao objeto da Ciência da Informação adotada neste trabalho é a informação (social)

e suas propriedades, em que são enfatizadas as ações infocomunicacionais e a sociabilidade dos sujeitos.

O respaldo epistemológico evidenciado nos forneceu subsídios para a construção do referencial teórico (compondo os polos teórico e técnico do método quadripolar) e das inferências possibilitadas pelas abordagens conceituais com vistas à validação ou não da hipótese. Primeiramente, a noção de ‘agenciamentos maquínicos’ nos permitiu compreender as relações entre homens (sociedade) e máquinas (técnica e tecnologia) amalgamados no ciberespaço, bem como a sociotecnologia da informação que sustenta o cenário sociotécnico vivenciado pelos sujeitos.

Por meio dessas concepções, foi possível constatar que as TIC, consideradas em muitas investigações como ferramentas em uma visão redutora, estão alicerçadas em todos os fazeres humanos e contribuem para mudanças nos comportamentos e habilidades dos sujeitos, os quais também possuem um papel relevante na evolução das tecnologias, especialmente da Web. Destarte, reforçamos uma contribuição quiçá epistemológica ao aliarmos as TIC às áreas que delineiam o escopo da Ciência da Informação.

O entendimento das concepções de mediação na Ciência da Informação revela que seu conceito ainda está incipientemente desenvolvido e ajustado aos fenômenos infocomunicacionais neste campo científico. Considerando essas premissas, percebemos que Silva (2010a), Almeida Júnior (2009), Martins (2010) e Almeida (2012) têm contribuído para a evolução conceitual, com algumas convergências e divergências. Concordamos com este último que a mediação infocomunicacional é um processo semiótico, o que faz alavancar possibilidades de investigação no âmbito da Ciência da Informação com ênfase nas TIC, especialmente atreladas às ações infocomunicacionais dos sujeitos no ciberespaço.

A noção de mediação cumulativa proposta por Silva (2010a) é adequada às perspectivas epistemológicas, teóricas e práticas desta tese, demonstrando efetivamente que os sujeitos mediadores não são apenas os profissionais da informação mas também os profissionais de informática (ambos são sujeitos institucionais) e os próprios sujeitos informacionais.

Autores da área de Comunicação como Lúcia Santaella e Silvana Drumond Monteiro (também da Ciência da Informação) são importantes para a compreensão dos fenômenos do processo de comunicação que, aliados à semiótica, redefinem a forma de pensar nos

processos informacionais da Ciência da Informação, considerando que não há mediação se não estiver em um processo de comunicação e este não é possível sem informação.

A discussão de aspectos que permeiam o ciberespaço e a evolução da Web, condicionada nesta tese às ações da linguagem dos sujeitos, nos forneceu bases infotecnológicas, sociotécnicas e filosóficas para validar a participação humana/social no desenvolvimento tecnológico e não apenas o contrário. O pragmatismo alicerça essa concepção em que faz emergir uma Web Pragmática, que alia a evolução das tecnologias e a colaboração dos sujeitos. Vemos claramente a mediação infocomunicacional sendo praticada por todos os indivíduos por meio de ações no ciberespaço.

Os elementos teóricos discutidos delineiam a encontrabilidade da informação que mantém uma relação bilateral e dialógica entre ambientes / sistemas e sujeitos informacionais. Conquanto não seja uma preocupação nova na práxis dos profissionais da informação, se evidencia no atual cenário tecnológico como ponto de convergência relacionado ao acesso.

Até então, os processos informacionais estavam fragmentados nas perspectivas dos ambientes e sujeitos informacionais, característica herdada do paradigma custodial, e agora passam a se integrar por meio do processo de mediação infocomunicacional, que deriva a encontrabilidade da informação como possibilidade atrelada à Arquitetura da Informação nos ambientes informacionais, cuja responsabilidade de construção é de todos os sujeitos.

Os ambientes informacionais digitais colaborativos potencializaram as formas de comunicação dos sujeitos, interferindo significativamente nos fenômenos sociais e comportamentos, habilidades e hábitos. Destarte, a encontrabilidade da informação é possível especialmente a partir da Intencionalidade dos sujeitos informacionais, mas também dos profissionais que lidam com arquiteturas informacionais top-down, isto é, no seio do processo tradicional de organização e representação da informação e do conhecimento.

Desse modo, constatamos a hipótese de que a encontrabilidade da informação, aliada ao olhar da mediação infocomunicacional, proporciona a efetividade do funcionamento dos ambientes informacionais, e possibilita a produção, a organização, a representação, a recuperação, o acesso, o uso e a apropriação da informação por parte dos sujeitos.

O processo de modelização detalhado na Seção 6 possibilitou a definição dos principais Atributos de Encontrabilidade da Informação (AEI), quais sejam: taxonomias navegacionais; folksonomias; mediação dos informáticos; affordances; descoberta de informações; acessibilidade e usabilidade; mediação dos profissionais da informação; mediação dos sujeitos; Intencionalidade; e mobilidade, convergência e ubiquidade.

Os referidos atributos contribuíram para a elaboração do Modelo de Encontrabilidade da Informação (MEI) proposto, bem como das Recomendações de Encontrabilidade da Informação (REI), as quais podem, inclusive, auxiliar na elaboração de protótipos (polo morfológico).

Os aspectos conceituais e práticos da encontrabilidade da informação demonstrados nesta tese contribuem significativamente para as arquiteturas da informação, visto que ela se torna o principal objetivo resultante das ações infocomunicacionais mediadas pelos sujeitos nos sistemas e ambientes informacionais.

A incorporação da encontrabilidade da informação na Ciência da Informação permite evidenciar o estudo dessas ações holisticamente, considerando os aspectos relacionados ao meio ambiente, ao contexto e às situações específicas em que elas se inserem.

Destarte, reforçamos a tese de que os ambientes informacionais digitais, se projetados com base nas perspectivas conceituais e práticas de um conceito de encontrabilidade ajustado para a Ciência da Informação e alicerçado na mediação infocomunicacional, e considerados os aspectos sociotécnicos que permeiam o desenvolvimento desses ambientes e a Intencionalidade dos sujeitos, possibilitam melhorias na recuperação, no acesso e na apropriação da informação.

Vale reforçar que nos valemos metodologicamente nesta tese do método quadripolar, que contribuiu para as discussões teóricas apresentadas e nos permitiu trafegar por entre os polos para compreender a dinâmica de construção do relatório científico e da investigação propriamente dita.