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2.3 A Web e suas dobras

2.3.3 Web Pragmática

Embora a Web dos Dados venha desenvolvendo tecnologias sofisticadas que contribuam para a representação e para a organização da informação no ciberespaço, certamente não conseguirá abarcar todo o conteúdo da Web, visto que haverá dificuldades em se representar a enorme quantidade de recursos disponíveis por meio do RDF, por exemplo, bem como haverá muito esforço e tempo para a criação de ontologias com informação padronizada com vistas a tornar processável a informação já disponível. Essa perspectiva é corroborada por Andrade (2012) e por Schoop, Moor e Dietz (2006) em seu manifesto para a Web Pragmática.

Liang, Rong e Liu (2007) explicam ainda que os agentes habilitados para a busca semântica serão capazes de coletar dados legíveis por máquina a partir de fontes diversas e processá-las para o melhor resultado da pesquisa. No entanto, isso será possível apenas quando uma massa crítica de informação semântica estiver disponível.

Nessa perspectiva, os dados gerados a partir da colaboração dos sujeitos informacionais se tornam deveras importante para a estruturação da informação da Web. A colaboração auxilia na sustentação e no avanço das tecnologias desenvolvidas.

Emerge, nesse sentido, a Web Pragmática, com influência da Web Social, que permite adicionar contexto às informações de acordo com o uso social da linguagem, considerando, portanto, as características e o comportamento dos sujeitos informacionais. (ANDRADE, 2012; KOO, 2011).

Ademais, a auto-organização das comunidades de prática propicia e auxilia na construção de ontologias, não estáticas como na Web Semântica, mas sim dinâmicas na perspectiva da Web Pragmática. Em suma, o enfoque tecnológico atribuído à Web Semântica é substituído pela visão híbrida composta pelos humanos e pelas máquinas, permitindo que a Web Pragmática sim se constitua efetivamente como uma Web Colaborativa (POHJOLA, 2010).

Luciana Gracioso e Gustavo Saldanha, no livro Ciência da informação e filosofia da

linguagem: da pragmática informacional è web pragmática, abordam o pragmatismo no

âmbito da Filosofia e da Ciência da Informação, trazendo contribuições significativas para este campo científico e para as perspectivas de formação de uma Web Pragmática. Para os autores,

O pragmatismo indica tanto um método científico quanto uma filosofia da ciência voltados para o esclarecimento de problemas do pensamento a partir da análise dos usos aos quais os discursos são submetidos na realidade específica em que são pronunciados – trata-se de reconhecer o discurso em sua apresentação, não em sua representação. Como método, o pragmatismo fundamentalmente volta-se para a compreensão do significado das palavras no contexto de atuação destas. Como filosofia, preocupa-se com a relação entre conhecimento e comunidades que constroem social e culturalmente suas ferramentas e possibilidades de apreensão do mundo. E, em resumo, como ponto de vista, relaciona-se com o conjunto de abordagens voltadas para a compreensão do homem pela sua construção coletiva das possibilidades do conhecer, a partir dos usos da linguagem. (GRACIOSO; SALDANHA, 2011, p. 44).

Ao considerarmos a Ciência da Informação como dimensão contextual dos estudos do pragmatismo em diversas vertentes, compreendemos os aspectos mediadores que evidenciam o estudo dos signos, conforme poderemos verificar nas perspectivas de pesquisa apresentadas na seção 4.1 deste trabalho, visto que “[...] investiga as formas de comunicação no cotidiano dos indivíduos em suas comunidades específicas, comungando da multiplicidade de jogos de linguagem34 que permitem suas trocas simbólicas.” (GRACIOSO; SALDANHA, 2011, p. 44). Considera também as possibilidades de usar a realidade não em uma relação representacionista, mas a partir da compreensão da cultura intrínseca a ela.

Jacob e Albrechtsen (199935 apud GRACIOSO; SALDANHA, 2011) apontam as cinco lições do pragmatismo, quais sejam: o antifundamentalismo, o fallibism (ou a “faculdade da falha”), a natureza social da comunidade, a contingência e o pluralismo. Especificamente no tocante à natureza social da comunidade, Gracioso e Saldanha (2011, p. 53) explicam que

Uma vez imersos em universos fragmentados, com suas experiências peculiares de identificação e reivindicação, os indivíduos devem ser estudados a partir de suas práticas sociais compartilhadas. Isto que dizer, o pragmatismo volta-se para a socialidade das comunidades que se desenvolvem nos interditos do cotidiano, e enxerga que, para superar o relativismo da contingência em suas investigações, deve ir ao encontro de tais comunidades. É ali, no estudo das relações sociais e suas formas de interpretação que o pragmatismo acredita ser possível compreender os estratos mínimos de uma tradição. Para isso, a linguagem, ou seja, a tessitura cultural do conhecimento, é objeto fundamental de análise. No âmbito da Web, Gracioso e Saldanha (2011) entendem a importância da Ciência da Informação em se atentar ao comportamento linguístico dos leitores no momento de busca de informação (information seeking), bem como na classificação social ou representação colaborativa dos recursos informacionais (folksonomia). Destarte, vão além da utilização dos dados obtidos via colaboração, os quais já estão disponíveis na rede. No tocante à importância de um direcionamento e evolução desses estudos na Ciência da Informação, os autores entendem que

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“Wittgenstein, nos primeiros parágrafos das Investigações filosóficas, “define” um jogo de linguagem (SPRACHSPIEL) como uma combinação de palavras, atos, atitudes e formas de comportamento, isto é, compreendendo o processo de uso da linguagem em sua totalidade.” (GRACIOSO; SALDANHA, 2011, p. 76, grifo dos autores).

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JACOB, E. K.; ALBRECHTSEN, H. When essence becomes function: post-structuralist implications for an ecological theory of organisational classification systems. In: INTERNAIONAL CONFERENCE ON RESEARCH IN INFORMATION NEEDS, SEEKING AND USE IN DIFFERENT CONTEXTS, 1999. Proceedings... London: Taylor Grahan, 1999.

A CI, em sua tradição pragmática, não é uma ciência pura da representação. É também uma ciência sem informação: uma ciência da transmissão, das narrativas, dos jogos de linguagem, dos processos sociais. Neste sentido, a web se apresenta, como demonstrado, como um amplo e ainda inexplorável território de investigação da pragmática. (GRACIOSO; SALDANHA, 2011, p. 126-127).

Na perspectiva da Ciência da Computação, Liang, Rong e Liu (2007) utilizam a teoria semiótica de Stamper (1973) para fundamentar a estrutura semiótica representada pela Figura 11 que segue, em que abarca a sintaxe, a semântica e, em especial, a pragmática. Os autores entendem que Stamper não considera apenas as estruturas, significados e uso dos signos, mas também aspectos físicos, propriedades estatísticas e questões não humanas que os envolvem.

Figura 11 – A estrutura semiótica

Fonte: Liang, Rong e Liu (2007, p. 532)

As camadas superiores representam o uso do signo enquanto as camadas inferiores estão relacionadas a estrutura, transmissão e propriedades físicas do signo. No tocante às tecnologias da Web, são consideradas as camadas “Sintaxe”, “Semântica” e “Pragmática”, sendo que: a Web Sintática contempla recursos com informação sintática, tais como as páginas em HTML; a Web Semântica utiliza ontologias para representar os recursos da Web Sintática; e a Web Pragmática se utiliza do contexto pragmático para manipular recursos semânticos. (LIANG; RONG; LIU, 2007).

A Pragmática, como parte da Semiótica, está relacionada ao uso de signos propositalmente com as relações entre signos e comportamento dos agentes de software. As três principais características que permeiam essa abordagem são a comunicação / negociação (negotiation), o contexto e o propósito, sendo que: a comunicação / negociação é vital para o compartilhamento de informação e conhecimento; o contexto onde ocorre a comunicação é importante para os efeitos pragmáticos, porque os diferentes comportamentos podem gerar diferentes resultados em diferentes contextos; e o propósito, que pode ser explícito ou não, é a intenção do “falante” no processo de comunicação. (LIANG; RONG; LIU, 2007).

A perspectiva desses autores parece atrelada à de Pietarinen (2003), quando propõe a Web Semiótica. O autor, que se baseia na teoria semiótica de Peirce, entende que sua proposta já não possui o fraco conceito da Web Semântica e que operacionaliza a Web Pragmática por meio dos agentes de software. Entende que essas perspectivas precisam ser consideradas pelos desenvolvedores com vistas a subsidiar e a potencializar as relações do processo infocomunicacional na Web.

Nesta seção, buscamos compreender os aspectos sociotécnicos que permeiam o ciberespaço, evidenciados por meio das propriedades do NET, e a evolução tecnológica da

Web, bem como os aspectos da linguagem que norteiam essa evolução de acordo com

alguns autores. É certo que assistiremos a mais eventos que caracterizarão esse desenvolvimento, não apenas em relação à Web, mas ao NET, conforme preconizado por Sáez Vacas, em que se consolidam os ambientes informacionais híbridos, visto que as informações não estão mais sendo acessadas apenas via Web, mas também por meio de diversos dispositivos digitais em convivência com a informação disponibilizada em ambientes físicos.

Diante das possibilidades tecnológicas, caberá à Ciência da Informação, além da investigação das tecnologias junto aos informáticos, estudos que enfatizem a mediação infocomunicacional no ciberespaço, com vistas à potencialização dos comportamentos e habilidades informacionais dos sujeitos. O conceito de encontrabilidade da informação associado à Arquitetura da Informação e à pragmática se torna um caminho profícuo, pois visa à preocupação com o acesso à informação certa e no momento certo a partir da estruturação dos ambientes informacionais e considerando as características dos leitores que navegam no ciberespaço.

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CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E TECNOLOGIAS

DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO:

3.1 Visão geral da seção

Esta seção apresenta um breve resgate do percurso histórico-evolutivo da Ciência da Informação desde as realizações de Paul Otlet e discute a emergência de um novo paradigma para o campo científico, dotado de um objeto que se aprimora nesse contexto, a informação (social). Enfoca as características deste campo, com destaque às TIC, que são assumidas como uma de suas principais áreas de investigação. A Figura 12 que segue representa o panorama geral da seção, a qual alimenta o Polo Epistemológico do Método Quadripolar.

Figura 12 – Ciência da Informação e Tecnologias de Informação e Comunicação: mapa conceitual

Fonte: Elaborado pelo autor