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3.3 DELIMITAÇÃO E “DESIGN” DA PESQUISA

3.3.1 Delineamento de Pesquisa

Este trabalho pode ser caracterizado como exploratório, tendo em vista a ausência de estudos teórico-empíricos no Brasil que abordem a formação e o desenvolvimento das competências empreendedoras na área educacional, por meio do processo de aprendizagem empreendedora, utilizando como base as categorias de competências de oportunidade e administrativas do Modelo de Competências

Empreendedoras de Man e Lau (2000) e o Modelo de Aprendizagem Empreendedora de Politis (2005). Uma lacuna identificada na literatura diz respeito à falta de estudos que unam essas duas categorias no contexto empreendedor.

Segundo Mattar (1996), essa abordagem exploratória é utilizada para elevar o conhecimento do pesquisador sobre o tema em perspectiva, podendo ajudar a estabelecer as prioridades e gerar informações sobre as possibilidades práticas da condução da pesquisa.

Ainda, de acordo com Cooper e Schindler (2003), este estudo também é descritivo, porque pretende identificar e descrever as competências dos empreendedores e os meios pelos quais os mesmos aprendem.

A abordagem adotada é a qualitativa onde, de acordo com Creswell (2007), a pesquisa ocorre em um cenário natural e utiliza métodos múltiplos que são interativos. Seu foco está nas percepções e nas experiências dos participantes, no caso, dos empreendedores, e na maneira como eles entendem sua vida e seu empreendimento. Procurou-se analisar cada caso considerando a história de vida do empreendedor, sua formação e suas experiências, além da história da instituição, desde o surgimento da idéia até o presente momento, inclusive explorando os incidentes críticos (COPE e WATTS, 2000).

Enquanto a literatura do ciclo de vida provê exemplos do desenvolvimento relativamente previsível de crises, o mais notável sobre os dados das entrevistas são a natureza extremamente diversa e individual dos episódios críticos descritos: variabilidade e complexidade que residem no nível fenomenológico e, portanto, só acessível por meio da metodologia qualitativa, interpretativa (COPE e WATTS, 2000, p. 118).

Rae e Carswell (2000, p. 221) salientam que “a experiência subjetiva dos empreendedores, recontada por suas próprias palavras através de suas histórias de vida, tem um papel fundamental na capacitação dos pesquisadores para explorar seus processos de aprendizagem”. Na literatura, a história de vida é uma dentre as três modalidades da história oral. Nela, o indivíduo tem autonomia para dissertar o mais livremente possível sobre sua experiência pessoal e profissional, pois lhe é dado espaço adequado para tal (ICHIKAWA e SANTOS, 2006). A história de vida possui como alicerce a narrativa, que pressupõe a gravação das entrevistas, tendo em vista que além de histórias, ela contém análises e avaliações do passado e do presente, além de uma série de elementos que podem informar sobre a visão de

mundo dos entrevistados. Assim, ambas foram utilizadas neste estudo.

Com relação à questão do rigor em pesquisas qualitativas, Godoy (2006) adverte que para um estudo dessa natureza ser considerado de qualidade é preciso atender alguns critérios, como por exemplo, os relacionados aos conceitos de fidedignidade, validade e generalização. No que tange à validade, a autora relata que é preciso que as conclusões da pesquisa estejam apoiadas nos dados coletados, e que estes sejam completos. Com relação à confiabilidade implica em garantir a coerência metodológica, ao conhecimento do objeto de estudo e no fato que os dados coletados devem dar conta de todos os aspectos envolvidos. Já a generalização só será possível em estudos de casos com procedimentos estatísticos (GODOY, 2006), assim, neste estudo não se pretende generalizar estatisticamente, mas sim “escolher os casos de acordo com a idéia teórica” (EISENHARDT, 1989, p.

537).

Segundo Hindle (2004), o número de pesquisas empíricas que utilizam métodos qualitativos aumentou no campo do empreendedorismo, mesmo que as barreiras ao seu uso sejam significativas. O autor observa que as barreiras que os estudos qualitativos ainda encontram estão associadas à psicologia e envolvem a questão da introspecção, pois há suspeitas que esse tipo de estudo não ofereça dados confiáveis pelo fato dos mesmos poderem ser manipulados pelo pesquisador.

Em função desses aspectos, Hindle (2004) propõe uma abordagem canônica, que consiste no reconhecimento de corpo de conhecimento empreendedor, representada pelo conjunto de obras e estudos aceitos como válidos por uma comunidade de acadêmicos com autoridade para estabelecer linhas de estudo, questões-chave e metodologias. Esse grupo, capaz de avaliar novas perspectivas, novas descobertas e novos limites do estado da arte no tema, teria como ponto de partida a teoria da cognição social como parâmetro para compreender o pensamento empreendedor e seus efeitos no nível do indivíduo, suas interações com o meio ambiente e com a sociedade. Portanto, o desenvolvimento dessa perspectiva canônica foca na abordagem contextual, não sendo uma justificativa teórica ou uma explanação descritiva dele.

Neste estudo, justifica-se sua utilização em virtude da existência de pesquisadores nacionais e internacionais relacionados a estudos qualitativos sobre competências empreendedoras e, de pesquisadores internacionais com uma gama de publicações relacionadas à aprendizagem empreendedora, demonstrando assim

a viabilidade e importância de se realizar estudos qualitativos em empreendedorismo (RAE e CARSWELL, 2000; COPE e WATTS, 2000; RAE, 2005; CORBETT, 2005).

Vários autores recomendam que os estudos sobre competências e sobre aprendizagem em empreendedorismo devem ser realizados utilizando-se a perspectiva longitudinal (LOIOLA e BASTOS, 2003; RUAS, 2005), pois possibilita o acompanhamento das mudanças com o decorrer do tempo (COOPER e SCHINDLER, 2003).

Assim, autores como Cope e Watts (2000); Patriotta (2003); Politis (2005, 2008); Rae (2005, 2006); Takahashi (2007), entre outros, realizaram seus estudos adotando a perspectiva longitudinal.

Entretanto, “embora a pesquisa longitudinal seja importante, as restrições de orçamento e tempo impõem a necessidade de análise transversal” (COOPER e SCHINDLER, 2003, p. 130).

Assim, a presente pesquisa adotou uma perspectiva temporal de corte transversal com aproximação longitudinal (NEUMAN, 1999). Transversal porque os dados foram coletados apenas uma vez, em um período de tempo curto, antes de serem analisados e relatados (COLLIS e HUSSEY, 2005) e aproximação longitudinal porque alguns dados foram relativos a situações passadas (NEUMAN, 1999), como por exemplo, o que diz respeito à história pessoal e profissional do empreendedor, sua formação, a participação de sua família em suas decisões, seus ideais e motivações para a criação da empresa, a história da instituição, os eventos significantes, as formas como ele aprendeu a gerir a organização no decorrer do tempo, entre outros.

A estratégia de pesquisa escolhida foi a de estudo de caso que, segundo Yin (2005, p. 32), “é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos”.

Para Einsenhardt (1989), o estudo de caso é uma estratégia de pesquisa que se concentra no entendimento das dinâmicas presentes dentro de um único cenário. Os estudos de caso combinam tipicamente métodos de levantamento de dados com arquivos, entrevistas, questionários e observações e têm como objetivos fornecer uma descrição, testar ou gerar uma teoria.

Mais especificamente, trata-se de um estudo de multicasos, pois estes possibilitam a previsão de resultados semelhantes ou contrastantes com base no

que foi esperado no início da pesquisa. Para isso, realizou-se inicialmente, uma análise de cada caso para, posteriormente, buscar alguma forma de replicação literal ou teórica (YIN, 2005). Segundo o autor, resultados mais robustos podem ser obtidos quando a pesquisa abrange no mínimo dois estudos de caso.

O nível da análise foi individual, procurando identificar de maneira particular, as competências dos empreendedores e seu desenvolvimento por meio do processo de aprendizagem. A unidade de análise também foi individual, representada pelos empreendedores, proprietários das MPE’s do setor educacional privado de Curitiba.