PARTE II – ESTUDOS EMPÍRICOS
3. ESTUDO 1 ASPECTOS RELIGIOSOS, EDUCACIONAIS E VALORATIVOS DA
3.2. Parte 2 Correlatos, preditores e preferências da intenção de voto
3.2.1.1. Delineamento e Hipóteses
A segunda etapa do Estudo 1 obedeceu a um delineamento quase-experimental ex post
facto, o qual contou com a descrição de 13 perfis de um candidato político hipotético, sendo
12 perfis gerados a partir da combinação das variáveis Orientação Religiosa (Católico, Evangélico, Teísta e Ateu) x Nível de Escolaridade (Ensino Fundamental, Ensino Médio e Ensino Superior) , além de um perfil controle em que tais características não foram indicadas. Teve-se, portanto, um delineamento 3x4. As seguintes hipóteses foram elaboradas:
Hipóteses referentes ao papel das crenças e práticas religiosas na intenção de voto
Hipótese 1.1. As crenças católicas serão positivamente correlacionadas com a intenção de voto no candidato católico.
Hipótese 1.2. As práticas católicas serão positivamente correlacionadas com a intenção de voto no candidato católico.
Hipótese 1.3. As crenças protestantes serão positivamente correlacionadas com a intenção de voto no candidato evangélico.
Hipótese 1.4. As práticas protestantes serão positivamente correlacionadas com a intenção de voto no candidato evangélico.
Hipóteses referentes às preferências na intenção de voto
Hipótese 2.1. Haverá preferência na intenção de voto para candidatos de orientação religiosa cristã.
Hipótese 2.2. Haverá preferência na intenção de voto para candidatos de maior nível educacional.
Hipóteses referentes à congruência entre os valores dos perfis de candidato e dos participantes
Hipótese 3.1. Haverá congruência geral entre os valores dos participantes e aqueles atribuídos aos perfis de candidato.
Hipótese 3.2. Haverá congruência mais forte entre todas as subfunções dos participantes e aquelas atribuídas ao candidato em que votariam.
Hipóteses referentes aos valores atribuídos aos perfis de candidato
Hipótese 4.1. Os valores normativos serão atribuídos em maior medida aos candidatos de orientação religiosa cristã.
Hipótese 4.2. Os valores de experimentação serão atribuídos em maior medida ao candidato ateu.
3.2.1.2. Participantes
Participaram desta etapa 351 estudantes universitários de duas universidades de João Pessoa – PB, uma pública (55,3%) e outra privada (44,7%). Contou-se então com uma amostra de conveniência (não-probabilística). As idades dos participantes variaram de 16 a 60 anos (M=23,69; DP=7,28), com a maioria do sexo feminino (66,1%) e declaradamente solteira (80,6%), heterossexual (94,5%) e católica (48,7%). Quando perguntados sobre a importância da religião em suas vidas, 52,5% dos sujeitos indicaram ser totalmente importante.
3.2.1.3. Instrumentos
Os participantes receberam um questionário contendo um dos trezes perfis de candidato anteriormente mencionados, os quais podem ser verificados no Anexo 3. Assegura- se que a distribuição dos questionários e, por conseguinte, os perfis que cada indivíduo recebeu foram totalmente aleatórios. Sobre os candidatos descritos, pediu-se que respondessem os seguintes instrumentos:
Questionário dos Valores Básicos: Elaborada inicialmente com 66 itens (Gouveia,
1998), esta medida passou por modificações que resultaram em versões de 24 (Gouveia, 2003) e 18 itens (Gouveia et al., 2008), sendo esta última a mais amplamente empregada, e adotada nesta dissertação. Seus itens são distribuídos em seis subfunções valorativas (Experimentação, Realização, Suprapessoal, Existência, Interativa e Normativa), e cada um conta com dois descritores, a exemplo de Tradição (seguir as normas sociais do seu país;
respeitar as tradições da sociedade), devendo ser respondidos em uma escala de sete pontos
entre 1–Totalmente não importante e 7–Totalmente importante, indicando a importância de
cada valor como princípio-guia na vida dos indivíduos. No âmbito deste trabalho, utilizou-se este instrumento primeiramente para que os participantes indicassem os valores que percebiam como princípios-guia na vida dos candidatos descritos e, em seguida, em suas próprias vidas. Evidências de sua adequação psicométrica são reunidas na literatura (Gouveia, 2013; Medeiros et al., 2012), corroborando as hipóteses de estrutura e conteúdo dos valores. (Ver Anexo 4) .
Além desses instrumentos, solicitou-se que os partícipes respondessem também uma lista de atributos em relação aos perfis de candidato. Estes atributos foram retirados do estudo realizado por Rodrigues et al. (1988) sobre a imagem do político brasileiro, e são divididos em Positivos (responsável, competente, culto, preocupado com o bem comum, hábil e bem
intencionado), Negativos (embromador, esperto, corrupto, omisso, oportunista, ambicioso, egoísta) e Ambíguo (esforçado). O atributo esperto foi incluído entre os negativos por se
referir à utilização de habilidades pessoais em benefício próprio, em vez de para o bem comum, e o esforçado definido como ambíguo, pois de acordo com Rodrigues et al. (1988) denota em nossa cultura um sentido de trabalhador e esforçado, mas também de consolo para quem não é tão talentoso. Deve-se indicar em que medida cada um dos atributos descreve o referido candidato, considerando uma escala de respostas entre 1–Nada e 6– Totalmente.
Neste caso, não se trata exatamente de uma medida, mas apenas de uma lista de caráter descritivo. (Ver Anexo 5).
Na segunda parte do questionário, foram incluídas medidas com o propósito de conhecer padrões de comportamentos das pessoas quanto a práticas e crenças religiosas e sua participação política não-convencional em relação à intenção de voto, bem como os valores que declaram ser importantes na própria vida. Os instrumentos utilizados para este fim são descritos abaixo.
Escala de Práticas Religiosas: Desenvolvida por Meira, Gouveia, Socorro, Oliveira e
Silva Filho (2001), este instrumento teve suas propriedades psicométricas revisadas por Santos (2008), o qual encontrou índices de ajuste que confirmam o modelo de três fatores equivalente às Práticas Católicas (α=0,85), Espíritas (α=0,65) e Protestantes (α=0,78). Seus 16 itens são respondidos em uma escala Likert de 1–Nunca a 5–Sempre. (Ver Anexo 6).
Escala de Crenças Religiosas: Elaborada por Andrade, Gouveia, Jesus, Santos e Lopes
de Andrade (2001), esta medida avalia a concordância dos indivíduos quanto a diferentes crenças religiosas. Santos (2008) encontrou evidências de validade e precisão da referida escala, observando índices de ajuste satisfatórios para sua estrutura de três fatores: Crenças
Católicas (α=0,89), Espíritas (α=0,84) e Protestantes (α=0,60). Este instrumento é composto por 18 itens que devem ser respondidos em uma escala do tipo Likert entre 1–Discordo
totalmente e 7–Concordo totalmente. (Ver Anexo 7).
Escala de Participação Política Não-convencional: Conforme descrita no tópico
3.1.1.3.
Questionário Demográfico: Conjunto de variáveis que possibilitam a caracterização
da amostra utilizada, tal como sexo, idade, orientação religiosa, nível de religiosidade, estado civil e orientação sexual, entre outras.
3.2.1.4. Procedimento
Utilizou-se o mesmo procedimento descrito no tópico 3.1.1.4.
3.2.1. 5. Análise dos Dados
Os dados foram tabulados e analisados no pacote estatístico PASW Statistics, versão 18. Foram realizadas análises descritivas, correlações não-paramétricas e paramétricas, regressões lineares múltiplas, testes t de Student, análises de variânica (ANOVA) e análises multivariadas e variância (MANOVA).
3.2.2. Resultados