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DELINEAMENTO DA PESQUISA: MÉTODO DE ABORDAGEM, MÉTODO DE PROCEDIMENTO E NÍVEL DA PESQUISA

4 METODOLOGIA DA PESQUISA

4.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA: MÉTODO DE ABORDAGEM, MÉTODO DE PROCEDIMENTO E NÍVEL DA PESQUISA

Como a presente pesquisa assumiu o conceito de informação proposto por Silva (2002; 2006) – que utiliza a alegoria platônica da caverna para desenvolver a crítica dialética materialista aos conceitos da perspectiva da CI – é impreterível discutir o método de abordagem assumido nesta pesquisa. A proeminente ressalva, certamente, imputou-se à possível discussão simplista concernente ao método de abordagem essencialmente complexo: a dialética. Porém, esta subseção procurou indicar, principalmente, o incipiente posicionamento filosófico-conceitual do pesquisador (onde observa) com relação ao desenvolvimento da dissertação, sem exaurir as nuanças inerentes a este método.

Contrapondo à dialética idealista hegeliana, que concebia os fenômenos naturais e sociais construídos nos ideais teístas, a dialética materialista de Karl Marx ocupa-se com os aspectos sociais e políticos como determinantes ao desenvolvimento histórico e à transformação humanista e social. Como a perspectiva dialética de Sócrates (469-399 a.C.) e Platão (428/427-348/347 a.C.) engendrava-se no processo dialógico a partir da argumentação, e a dialética de Heráclito (540-470 a.C.) que concebe a realidade como contraditória e constantemente em transformação, a dialética marxiana admite a existência do mundo material independente do espírito, e nesta matéria comporta a relação dialógica das teses e antíteses, surgindo sínteses provisórias. Influenciado com os ideiais materialistas da realidade de Feuerbach (1804-1872), e refutando posteriormente a sua concepção filosófica, nas Teses sobre Feuerbach (1845), Marx

desenvolve o corpo teórico marxista – a dialética materialista e o materialismo histórico. Com críticas a Feuerbach registradas no livro Ideologia Alemã (1847), Marx e Engels (1986) estruturam a concepção do materialismo histórico e dialético. Segundo estes pensadores, a produção de ideias e representações da consciência vinculam-se diretamente com a atividade material e com o intercâmbio material. A consciência – admitem Marx e Engels – não poderá apresentar-se como independente do “ser consciente”, e o “ser dos homens” constitui o processo da realidade.

Segundo Triviños (1987), a concepção materialista apresenta, genericamente, três características essenciais. A primeira percebe a materialidade do mundo; a seguinte peculiaridade do materialismo ressalta a matéria como anterior à consciência, ou seja, a consciência condiz ao reflexo da matéria e a derradeira característica percebe o mundo como cognoscível, locus onde o homem conhece a realidade paulatinamente. Como esta pesquisa se ampara no suporte lógico e filosófico do materialismo dialético, procurou-se entender as condições materiais de geração dos fenômenos de investigação passíveis de conhecimento da realidade objetiva. Assim, pode-se perceber a possibilidade de ampliação da consciência, percebida como um produto consequente da evolução das condições materiais de existência.

Para direcionar o conhecimento do objeto de pesquisa, sugere-se a contemplação do fenômeno investigado (sensações, percepções, representações), identificando a singularidade da ‘coisa’ em comparação com outros fenômenos e as proeminentes características do objeto analisado. Este autor também sugere a análise do fenômeno, com observações direcionadas aos elementos ou às partes integrantes. Nesta dimensão de pesquisas engendradas no materialismo dialético, instauram-se as relações sócio-históricas do fenômeno, assim como a elaboração de juízos, raciocínios e conceitos acerca do objeto de análise, considerando a situação no tempo e no espaço históricos. A investigação precisa estabelecer os aspectos indispensáveis do fenômeno, como o fundamento, realidade e possibilidades, conteúdo e forma, as singularidades, e outros. Para alcançar a realidade concreta do fenômeno, Triviños (1987) endossa a importância de estudos das informações, observações e experimentos; e a descrição, a classificação, a síntese, as inferências (indutivas e dedutivas), a experimentação, a verificação das

hipóteses – para mencionar alguns exemplos – que constituem dimensões da pesquisa que procuram estabelecer a realidade concreta do fenômeno.

Mister ressaltar que o pensamento dialético destacado nesta investigação, conforme Goldmann (1979), admite a ausência de ‘pontos de partida’ absolutamente seguros, inclusive problemas definitivamente resolvidos. Como o pensamento não progride linearmente – a verdade parcial assume a verdadeira significação no locus do conjunto, assim como o conjunto se reconhece pelo progresso no conhecimento das verdades parciais –, o contorno da pesquisa compreendeu análises de dissertações e teses que confluíssem ao tema desta dissertação. Procurou identificar naqueles trabalhos os contornos teórico-conceituais e os resultados obtidos no processo de investigação para, posteriormente, compor o quadro das ‘verdades parciais’ significativas para esta investigação.

Como o método de abordagem repousa na abstração dos fenômenos relacionados à natureza e à sociedade, os métodos de procedimento (no caso, restrito às ciências sociais) constituem etapas concretas da investigação. Assim, o procedimento de investigação assumido nesta pesquisa compreende o método monográfico. O método monográfico, para Marconi e Lakatos (2010), consiste no estudo de determinados indivíduos, condições, instituições, comunidades, e outros, com o propósito de conseguir generalizações a partir do exame do tema escolhido para o desenvolvimento da pesquisa – incluindo os fatores que influenciam este tema –, analisando os diversos aspectos constitutivos do assunto.

Com o intuito de apresentar e explicar o planejamento e execução dos procedimentos para desenvolver uma pesquisa, Martins (2006) discute o estudo de caso (compreendido também como método de procedimento da presente investigação) como uma possibilidade de penetração na realidade social impossibilitada plenamente pelo levantamento amostral e pela avaliação exclusivamente quantitativa.

O trabalho de campo – Estudo do Caso – deverá ser precedido por um detalhado planejamento, a partir de ensinamentos advindos do referencial teórico e das características próprias do caso. Incluirá a construção de um protocolo de aproximação com o caso e de todas as ações que serão desenvolvidas até concluir o estudo. O protocolo se constitui em um conjunto de códigos, menções e procedimentos suficientes para se replicar o estudo, ou aplicá-lo em outro caso que mantém características semelhantes ao Estudo de Caso original. (MARTINS, 2006, p. 9)

O protocolo, assim, possibilita auferir a condição prática para testar a confiabilidade do estudo, assegurando à pesquisa o status de cientificidade que possibilite explicações acerca da realidade investigada. O estudo de caso, repousado neste protocolo, indica que o estudo extrapola a coleta de dados ao propor o cruzamento de outros conteúdos informacionais levantados; caso contrário constituir-se-ia um amontoado de dados e informações sem correlações, dificultando o avanço científico acerca do fenômeno investigado. Esta pesquisa procurou estudar os websites dos deputados vinculados à ALBA com sistematização e profundidade. As descrições previamente registradas no ‘diário de pesquisa’, e a posterior análise dos conteúdos observados nestes sítios, contribuíram para uma expressiva compreensão do objeto estudado, assim como para responder à pergunta de partida que orientou a investigação.

Para Yin (2005) um estudo de caso constitui uma investigação empírica que pesquisa um fenômeno contemporâneo contextualizado na realidade, principalmente na ausência de definição de contornos entre este fenômeno e o contexto. Destarte, o fenômeno de investigação desta dissertação condiz às possibilidades de participação política dos sítios na internet dos parlamentares da ALBA, a partir dos dispositivos interativos dispostos nestes websites (e-mails, fóruns de discussão, chats), considerando a informação pública como o marco essencial para esta participação. O autor pondera, igualmente, às potencialidades de projetos com características de ‘caso único’ e ‘casos múltiplos’. No primeiro caso, uma etapa primordial para projetá-lo e conduzi-lo confere à definição da unidade de análise (ou o próprio caso). Porém, determinadas pesquisas podem conter diversos casos – denominados de ‘casos múltiplos’ – assumidos nesta investigação. Os projetos de caso único e casos múltiplos conferem a variantes inseridas na mesma estrutura metodológica, e estudos que debruçam neste assunto não estabelecem distinções amplas entre estes casos.

Desenvolver pesquisas de casos múltiplos demanda critérios específicos que atendam a um propósito específico arraigado no escopo global da investigação. Yin (2005, p.69) adverte para a importância de considerar os ‘casos múltiplos’ como ‘experimentos múltiplos’, ou seja, seguindo a lógica de ‘replicação’ (replicar uma descoberta a outros experimentos). Determinadas replicações procuram duplicar as condições exatas do experimento original, e outras possibilitam alterar “uma ou duas condições experimentais irrelevantes à descoberta original, para ver se ela ainda

poderia ser duplicada”. A partir destas replicações a descoberta original seria considerada relevante e merecedora de investigações ou interpretações adicionais, com o intuito de alcançar as ‘replicações literais’ objetivando prever resultados semelhantes, ou as ‘replicações teóricas’ que procuram produzir resultados contrastantes.

O nível de pesquisa desta dissertação categoriza-se como descritiva. Para Gil (1999), as pesquisas descritivas objetivam – primordialmente – a descrição das características de determinadas populações ou fenômenos ou o estabelecimento de relações entre variáveis24 (KOCHE, 2006, p.112). Porém, diversas pesquisas descritivas excedem a simples identificação da existência destas relações, aproximado-as das pesquisas explicativas. Este nível de investigação científica envolve a utilização de técnicas padronizadas para coleta de dados para posterior descrição e análise dos dados levantados. No estudo de caso a delimitação das técnicas para coleta de dados determina a definição precisa do tema, a partir da pergunta orientadora e dos objetivos propostos, para compor a plataforma da pesquisa.