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Informações extraídas do relatório Modelo de Gestão para a Política Prisional do Departamento Penitenciário Nacional de 2008 dão conta da dificuldade na “[...] definição de procedimentos que definam o fluxo de acesso à educação, envolvendo desde a identificação de demandas e perfil da população prisional de cada unidade, passando pela matrícula de alunos até a certificação e desligamento”. (BRASIL, 2008).

No estudo da demanda é necessário considerar que, para atender as disposições da Lei de Execução Penal, deve-se analisar a pluralidade de perfis e as esferas de sociabilidade dos presos. Essa tarefa envolve a troca de saberes e experiências entre os profissionais envolvidos para avaliar o perfil e trajetória de vida de cada preso para qualificá-lo e encaminhá-lo ao programa que atenda a sua singularidade (BRASIL, 2016, p. 139; 309).

Dados apontados no Relatório da Situação do Sistema Penitenciário sobre educação profissional do Ministério da Justiça de 2008 já identificavam 2.627 detentos matriculados em cursos profissionalizantes para um universo de mais de 429.000 presos no país, o que representava um percentual em torno de 6% de detentos em processo de capacitação/profissionalização (BRASIL, 2008, p. 96).

Os estudos do Ministério da Justiça, em 2014, apontam uma evolução na qualificação dos números, uma vez que estes dados não constam do relatório de 2008: dos 607 mil presos no Brasil, 579.000 estão recolhidos nas penitenciárias e destes 435 estão envolvidos com ensino técnico e 3.421 em cursos de formação inicial e continuada (BRASIL, 2014, p. 124).

De posse destes dados é possível apontar que a população carcerária, no período de 2008 a 2014 cresceu mais de 40%, enquanto as matrículas no ensino profissionalizante tiveram involução. Assim, o desafio para o Estado é ter a capacidade de distinguir o projeto de Educação Profissional elaborado em um conceito excludente daquele que busca construir uma sociedade com perspectivas de sociabilização (FRIGOTTO, 2001, p. 10).

As informações acerca da escolarização mostram que aproximadamente 53% da população prisional, equivalente a 320.000 presos, não concluiu o ensino fundamental, um dado que preocupa, pois sem uma educação básica suficiente é

impossível sustentar um ensino técnico ou capacitação de maior complexidade. Nesse sentido,

[...] necessitamos reiterar, sem constrangimento, a concepção de educação básica (fundamental e média) pública, laica, unitária, gratuita e universal, centrada na ideia de direito subjetivo de cada ser humano. Uma educação omnilateral, tecnológica ou politécnica formadora de sujeitos autônomos e protagonistas de cidadania ativa e articulada a um projeto de Estado radicalmente democrático e a um projeto de desenvolvimento “sustentável”. Afirmar a ideia de que essa educação por ser básica e de qualidade social, é a que engendra o sentido da emancipação humana e a melhor preparação técnica para o mundo da produção no atual patamar científico tecnológico. (FRIGOTTO, 2001, p. 12).

Da mesma forma, o percentual que representa os presos que concluíram o ensino médio situa-se em torno de 8%, o que possibilita que um quantitativo reduzido tenha potencial de acessar à universidade. Assim volta-se a atenção para a população que ainda não concluiu o ensino fundamental. Isso implica articularmos a luta pela educação básica (fundamental e média) e a Educação Profissional, às lutas e movimentos protagonizados pela classe trabalhadora (FRIGOTTO, 2001, p. 14).

Segundo o Levantamento Nacional do DEPEN de 2014, as 1.661 salas de aulas distribuídas nas 632 unidades prisionais no País comportam 22.607 alunos por turno de estudos, entretanto estão matriculados 38.831 detentos. Considerando que as salas funcionariam em dois turnos, haveria um déficit de ocupação de mais de 6.000 alunos. (BRASIL, 2014c).

A preocupação reside no baixo percentual de presos que estão em atividade educacional nas unidades prisionais que possuem disponibilidade de salas de aula. Dos quase 240.000 presos internos destas unidades, 16% estão matriculados em atividades educacionais. Como dispõe a Lei 7.210, a Lei de Execução Penal, a assistência educacional compreenderá a instrução escolar e a formação profissional do preso e do interno (AGUIAR, 2009, p. 6).

Nota-se que a oferta de salas de aula mostra-se insuficiente para atender a demanda, a princípio, do ensino fundamental considerando, neste caso, a existência de 598 unidades prisionais no País que não possuem essa estrutura como apresentado no gráfico na introdução deste capítulo.

Mesmo para as unidades prisionais que possuem estrutura adequada para a ministração do ensino escolar e profissionalizante, um dificultador que se observa é a superlotação. Esta é uma realidade desfavorável à aplicação das

sessões educacionais por se realizarem em horários incompatíveis entre trabalho e educação e por não haver vagas disponíveis para todos os interessados, dado que “[...] na maioria das unidades prisionais o trabalho é utilizado prioritariamente em detrimento das atividades educativas". (OLIVEIRA, 2013, p. 5).

Do mesmo modo, relatam as prisioneiras do Complexo Penitenciário Feminino do Distrito Federal que “[...] sugeriram que os cursos fossem implementados na primeira hora da manhã, antes do trabalho. Esta opção, no entanto, é desconsiderada pelas autoridades por contrariar os interesses dos empresários que instalaram oficinas no presídio”. (GRACIANO; SCHILLING, 2008, p. 7).

Por outro lado a educação escolar e o ensino profissionalizante estão condicionados à vontade individual do preso, ao entendimento em enxergar estes benefícios como direitos e que o bom comportamento apresentado durante o período de reclusão é condição para fazer jus ao acesso.

[...] os presos não vislumbram a educação como um direito de todos legalmente constituído, o qual, além de ser dever do Estado, refere-se a uma das conquistas sociais instituídas para contribuir com a sua formação pessoal, como facilitador nas oportunidades socialmente construídas” (OLIVEIRA, 2013, p. 7).

O mapa estratégico elaborado pela Confederação da Indústria (CNI) para o período 2013 – 2022 aponta como uma necessidade premente o investimento em educação. Segundo aquela entidade “[...] equipes educadas e bem formadas utilizam melhor os equipamentos, criam soluções para os problemas do dia a dia, adaptam processos e produtos e desenvolvem e implementam inovações”. Destaca que no Brasil a baixa qualidade da educação básica, a reduzida oferta de ensino profissional e as deficiências do ensino superior limitam a capacidade de inovar das empresas e a produtividade (CNI, 2013, p. 27), o que faz crer que o mercado de trabalho vive a escassez de mão de obra qualificada.

3.2 UNIDADES PRISIONAIS COM OFERTA DO ENSINO POR NIVEL ACADEMICO

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