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Um dos pontos mais delicados da questão penitenciária brasileira reside na dificuldade de obtenção de informações consolidadas e de credibilidade. Os números são dispersos e divididos entre as várias temáticas que abordam o assunto.

Neste título serão utilizados os dados disponibilizados pelo Ministério da Justiça, por meio do Departamento Penitenciário Nacional-DEPEN e disponibilizados pelo INFOPEN para apresentar os índices de desempenho julgados mais importantes sobre as questões analisadas neste trabalho.

O primeiro indicador que se apresenta e que preocupa a sociedade e os governantes é o que mede a evolução do encarceramento no Brasil. Como mostra o relatório do DEPEN, de 1990 a 2017 a população prisional evoluiu de 90.000 para 607.700 presos no País, o que representa um crescimento de 575% no contingente, com elevada ascendência a partir de 2003, frente ao crescimento da população brasileira que foi de 16% (BRASIL, 2014a, p. 15).

Outro indicador que denota preocupação se constitui no percentual de presos recolhidos as celas com idade entre 18 a 34 anos, representando 75% da população prisional brasileira. Os dados analisados confirmam que desse percentual 56% é representado por uma população jovem situada entre 18 e 29 anos (BRASIL, 2014a, p. 48), uma parcela significativa da força produtiva do País.

Economicamente a marginalização dos presos é uma enorme perda, já que 98,5% estão em idade economicamente ativa e poderiam trabalhar, pagar tributos e ser uma mão-de-obra extremamente produtiva que atualmente é desprezada. As empresas e o próprio governo poderiam se beneficiar muito do aproveitamento desses trabalhadores. Prova disso é o sucesso da instalação de oficinas que contém parte ou todo o setor produtivo de alguma organização nos presídios, gerando oportunidade de trabalho durante o cumprimento de pena em troca de alguma ajuda de custos e remissão (ALVES; MIJARES, 2014, p. 6).

O quesito unidades prisionais com disponibilidade de salas de aula, em 2008 haviam 492 unidades prisionais no País comportando 429.390 presos (BRASIL, 2008. p. 96) enquanto em 2014 a oferta cresceu para 632, com 1.661 salas de aula disponibilizadas (BRASIL, 2014a, p. 122), sendo que 598 unidades prisionais não possuem essa estrutura.

Embora o arcabouço legal privilegie o papel da educação para a população carcerária, considerando o caráter ressocializador e não apenas punitivo da pena, a realidade nos presídios brasileiros está bem distante do que prevê a lei. O reconhecimento legal não tem sido acompanhado de medidas efetivas para garantir a oferta sistemática de oportunidades educacionais nesses estabelecimentos (SANTIAGO; BRITTO, 2006, p. 3)

Outro dado chama a atenção, em 2008, 42% da população carcerária não possuía o ensino fundamental completo, enquanto em 2014 essa população evoluiu para 53%. Em 2008, dos 429.390 presos haviam 41.549 detentos em atividade escolar nos ciclos de alfabetização, ensino fundamental e médio abrangendo toda a população carcerária. Em 2014 temos 38.831 presos em sala de aula, equivalendo a aproximadamente 11% dos detentos lotados nas penitenciárias.

Nota-se que a educação escolar nos presídios brasileiros enfrenta uma situação de invisibilidade por parte do governo. Sem orientações a nível nacional claras para implementação da educação escolar nas prisões, as iniciativas ficam à mercê dos governos estaduais, que organizam à sua maneira, sem regras ou parâmetros (GRACIANO; SCHILLING, 2008, p. 3).

Das 1.420 unidades prisionais apresentadas no relatório do DEPEN, identifica-se 280 (19%) que possuem oficinas de trabalho com atividades de relativa profissionalização.

Dos mais de 600.000 condenados existentes no País 58.000 estão em atividades laborativas, o que equivale a 16% do universo de presos locados em penitenciárias, excluindo-se as cadeias públicas, casas de detenção, etc.

Dos 58.000 que estão trabalhando, 34% exercem atividades de apoio interno nas unidades em limpeza e alimentação de acordo com informações extraídas do relatório INFOPEN de 2014. Deduz-se que falta trabalho nas prisões e, trabalho de qualidade, trabalho que contribua para que o preso se sinta útil e honrado.

Do universo de apenados trabalhando denota-se um percentual aquém do desejável considerando-se a importância que o trabalho representa em termos de ressocialização que na visão de (FOUCAULT 2009, p. 33) “[...] o grau de utilidade que é dado ao trabalho prisional, desde sua origem nas execuções das penas, não é do lucro ou de uma habilidade útil; mas a constituição de uma relação de poder, criando um mecanismo de submissão individual e de ajustamento a um aparelho de

produção", incorporando ao condenado a organização, a criatividade e o sentimento de utilidade.

Nesse entendimento, denota-se que o trabalho constitui um elemento importante que contribui para a reintegração social, para a construção do sujeito e para o seu ajustamento social (MAZZILLI; KLERING, 1998, p. 2).

A boa crítica resume-se em considerar as atividades de trabalho desenvolvidas no interior da prisão como sinônimo de atividades educativas, revela a concepção de Educação que inspirava os responsáveis pela organização da vida carcerária, coerente com as considerações de Foucault (1986, p.216) sobre o trabalho nas prisões. “O trabalho penal deve ser concebido como sendo por si mesmo uma maquinaria que transforma o prisioneiro violento, agitado, irrefletido em uma peça que desempenha seu papel com perfeita regularidade” (GRACIANO; SCHILLING, 2008, p. 4).

Verifica-se a partir dos dados apresentados pelo DEPEN que a gestão do sistema prisional carece de políticas focadas no propósito de obter resultados positivos acerca da educação, profissionalização e trabalho com o objetivo de devolver à sociedade, em menor tempo, pessoas com potencial de serem absorvidas pelo mercado.

Nota-se assim que o crescimento da população prisional no País não tem sido acompanhado pela oferta de vagas nas prisões, na oferta de salas de aula, de profissionais educadores e de ensino profissionalizante, todos elementos necessários para o cumprimento do que determina a Lei de Execução Penal e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação.

Esses instrumentos promoveriam a redenção da população carcerária brasileira. O dificultador é que proporcionar essas condições aos presos demanda custos e custos elevados para o Estado e à sociedade, frente o estado em que se encontra o sistema atualmente. Nesse sentido.

Aumentar os gastos e investimentos para ampliação e modernização do sistema prisional, significa ampliar gastos do Estado com um sistema já reconhecido em todas as suas falhas. E ineficaz para garantida de direitos, segurança ou diminuição da violência. Pelo contrário, pois a prisão também amplia formas de violência praticadas pelo Estado (ZOMIGHANI JÚNIOR, 2013, p. 292).

Assim, estimular investimento dessa natureza seria, em ordem de prioridades, inversamente, privilegiar a construção de prisões em detrimento de investimentos em áreas importantes como a educação, a saúde, tecnologia e inovação para os próprios presos, que funcionam como mitigadores da violência, da criminalidade, entre outras mazelas. Assim,

Vale ressaltar que, ainda que não seja dada a devida atenção à condição dos presos que superlotam as prisões, haja vista que o custo de produção de uma vaga é avaliado em R$ 24.000,00 (vinte e quatro mil reais), considerando a construção de uma casa de Custódia orçada em R$ 12.000.000,00 (doze milhões de reais) para 500 (quinhentos) presos, investimentos são postos em cursos e treinamentos de Grupamentos de Ações Táticas próprios para repressão de possíveis – e prováveis – rebeliões carcerárias. Invertem-se os valores e pretende-se remediar o que poderia ser prevenido com um investimento no ser humano apenado (SOUBRE, 2009, p. 12).

O título seguinte abordará a capacidade produtiva do preso, dando-se atenção às dificuldades em mensurar a produtividade em face da precariedade dos registros que identificam os níveis do progresso escolar e do ensino profissionalizante nas unidades prisionais. Apresenta o cenário entre os recursos orçamentários postos à disposição do sistema penitenciário para aplicação nas políticas educacionais e profissionalizantes e os recursos efetivamente aplicados.

4 EXPERIÊNCIAS BEM SUCEDIDAS NA RESSOCIALIZAÇÃO DO DETENTO PELO TRABALHO

As altas taxas de encarceramento observadas no Brasil vêm sendo observadas nos últimos anos e informadas pelos meios de comunicação de massa como a TV e os jornais, não se dando a atenção às consequências advindas deste grau de aprisionamento. Independentemente do que a mídia divulga observa-se o empenho de unidades prisionais no País que adotam medidas efetivas de ressocialização e reintegração do preso na sociedade como se observa a seguir.

O presente título abordará a capacidade produtiva do preso no ambiente prisional diante da ausência de políticas focadas em educação profissionalizante e na oferta de trabalho à luz das disposições da Lei de Execução Penal e dos recursos orçamentários postos à disposição do Programa de Reestruturação do Sistema Penitenciário e subutilizados.

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