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O TRABALHO E A EDUCAÇÃO COMO FERRAMENTAS NECESSÁRIAS NO PROCESSO DA REINSERÇÃO DO PRESO NA SOCIEDADE

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA ALBINO MARQUES TEIXEIRA

DIREITOS HUMANOS:

O TRABALHO E A EDUCAÇÃO COMO FERRAMENTAS NECESSÁRIAS NO PROCESSO DA REINSERÇÃO DO PRESO NA SOCIEDADE

Palhoça 2017

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DIREITOS HUMANOS:

O TRABALHO E A EDUCAÇÃO COMO FERRAMENTAS NECESSÁRIAS NO PROCESSO DA REINSERÇÃO DO PRESO NA SOCIEDADE

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Jeferson Puel, MSc.

Palhoça 2017

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DIREITOS HUMANOS:

O TRABALHO E A EDUCAÇÃO COMO FERRAMENTAS NECESSÁRIAS NO PROCESSO DA REINSERÇÃO DO PRESO NA SOCIEDADE

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de bacharel em Direito e aprovado em sua forma final pelo Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Palhoça, 12 de julho de 2017.

_________________________________________ Professor orientador Jeferson Puel, MSc.

Universidade do Sul de Santa Catarina

_________________________________________ Profa. Examinador Andreia Catine Cosme, MSc.

Universidade do Sul de Santa Catarina

_________________________________________ Prof. Examinador Wânio Siggers, MSc. Universidade do Sul de Santa Catarina

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DIREITOS HUMANOS:

O TRABALHO E A EDUCAÇÃO COMO FERRAMENTAS NECESSÁRIAS NO PROCESSO DA REINSERÇÃO DO PRESO NA SOCIEDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico e referencial conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Sul de Santa Catarina, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de todo e qualquer reflexo acerca desta monografia.

Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e criminalmente em caso de plágio comprovado do trabalho monográfico.

Palhoça, 22 de junho de 2017.

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Dedico este trabalho a Deus, que me sustentou nos momentos difíceis desta etapa da minha vida, à minha família que soube compreender a minha ausência e aos meus mestres, coordenadora e tutora do curso que compreenderam as minhas dificuldades e me auxiliaram na sua resolução

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“Determinarás tu algum negócio, e ser-te-á firme, e a luz brilhará em teus caminhos”. (Jó 22:28)

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Esta monografia tem por objetivo tratar sobre a importância do trabalho remunerado no ambiente penitenciário como motivador e promotor de sua recuperação e, também, da oferta do ensino acadêmico e profissionalizante como ferramenta essencial para ampliar a visão do preso na conquista da cidadania e no progresso pessoal. Utilizando o método dedutivo e a pesquisa bibliográfica traz ao debate a possibilidade da parceria entre o Estado e a indústria, trazendo-a para dentro do ambiente penitenciário com a missão de profissionalizar o preso, ensinando-lhe um ofício e proporcionando-lhe remuneração, bem como trazer, também, a educação escolar e o ensino profissionalizante nos mesmos moldes da parceria com a indústria. Apresenta-se um panorama da evolução da criminalidade, do estado das prisões, das políticas públicas dirigidas à população penitenciária, as estatísticas e indicadores de desempenho das ações e as experiências da Associação de Proteção e Assistência aos condenados (APAC) na ressocialização de detentos. Apresenta-se um quadro com a população penitenciária, os índices de reincidência, as unidades prisionais que ofertam trabalho e educação, desempenho e ações de sucesso destas unidades que podem influenciar pelo exemplo, outras unidades prisionais. Como resultado da presente pesquisa monográfica ficou demonstrado que as ações desenvolvidas pelo Estado carecem de maior efetividade e objetividade nas políticas de reinserção dos ex-detentos, pois o potencial de ensino profissionalizante de entidades como as do sistema “S”, que detém expertise em profissionalização, são subaproveitados para esse fim.

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Quadro 1 - Pessoas privadas de liberdade em atividade laboral ... 25 Quadro 2 - Tipo de oficinas nos estabelecimentos por Unidade de Federação.. 25 Quadro 3 - Pessoas envolvidas em atividades educacionais por nível de

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Gráfico 1 - Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias ... 22

Gráfico 2 - Faixa etária das pessoas privadas de liberdade ... 23

Gráfico 3 - Escolaridade da população prisional ... 24

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APAC – Associação de Proteção e Assistência aos condenados CNJ – Conselho Nacional de Justiça

CRFB/88 – Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 DEPEN – Departamento Penitenciário Nacional

FBAC – Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados. INFOPEN – Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias ONG – Organização não Governamental

ONU – Organização das Nações Unidas

SECAD – Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade SINDUSCON – Sindicato da Indústria da Construção Civil

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1 INTRODUÇÃO ... 11

1.1 OBJETIVOS ... 12

1.1.1 Objetivo Geral ... 12

1.1.2 Objetivos específicos ... 12

2 TRABALHO E EDUCAÇÃO ... 13

2.1 O TRABALHO COMO DIREITO SOCIAL ... 13

2.2 EDUCAÇÃO E TRABALHO NA PROMOÇÃO DA CIDADANIA ... 16

2.3 O TRABALHO PROFISSIONALIZANTE EM AMBIENTE PRISIONAL ... 20

2.4 PERSPECTIVAS DO DETENTO NO RETORNO À SOCIEDADE ... 26

3 ESTATÍSTICAS DA EDUCAÇÃO EM AMBIENTE PRISIONAL ... 31

3.1 DEMANDA E OFERTA DO ENSINO FUNDAMENTAL, MÉDIO E PROFISSIONALIZANTE NO AMBIENTE PRISIONAL ... 32

3.2 UNIDADES PRISIONAIS COM OFERTA DO ENSINO POR NIVEL ACADEMICO ... 34

3.3 INDICADORES DE DESEMPENHO ... 38

4 EXPERIÊNCIAS BEM SUCEDIDAS NA RESSOCIALIZAÇÃO DO DETENTO PELO TRABALHO ... 42

4.1 CAPACIDADE PRODUTIVA DO PRESO ... 42

4.2 PROJETOS DE CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL ... 44

4.3 A EXPERIÊNCIA DAS APAC – ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO E ASSISTÊNCIA AOS CONDENADOS ... 47

4.4 O TRABALHO E A EDUCAÇÃO COMO FERRAMENTAS NECESSÁRIAS NO PROCESSO DA REINSERÇÃO DO PRESO NA SOCIEDADE ... 50

5 CONCLUSÃO ... 53

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1 INTRODUÇÃO

Este trabalho consiste em apresentar, fundamentado na literatura existente de autores clássicos e em material publicado em sítios de órgãos estatais e departamentos especializados no assunto, a importância do trabalho remunerado e a educação escolar e profissionalizante do preso ministrados dentro do ambiente penitenciário.

A escolha do assunto deve-se ao interesse em apontar soluções que possam minimizar os efeitos da criminalidade que aflige a sociedade brasileira. Após delimitar o tema identificou-se a existência de vasto acervo bibliográfico que versa sobre o assunto. Utilizou-se a metodologia de pesquisa bibliográfica para buscar nas obras de autores renomados que apoiam a discussão sobre o assunto e nas obras publicadas em revistas e sítios especializados os dados para a produção desta monografia. Nota-se que há pouco empenho da maioria dos Estados da Federação em adotar medidas efetivas na implantação do trabalho, da profissionalização, da educação e da ressocialização do preso dentro das unidades penitenciárias.

Há empenho do sistema judicial em retirar o indivíduo infrator do meio da sociedade, aplicando-lhe a pena de reclusão ou libertando-o, dependendo do grau de periculosidade do indivíduo. Assim, o sistema judicial alimenta o ciclo, o indivíduo liberto volta a cometer crimes e o indivíduo recluso não tem ocupação. A importância de investigar o assunto reside em identificar as causas do crescente aumento da população prisional no País e das causas da reincidência.

O problema da pesquisa é identificar os meios de promover a oferta de trabalho remunerado que contemple o aprendizado profissional do preso, bem como a internalização do ensino fundamental e médio pelas unidades prisionais.

Para o desenvolvimento e apresentação da presente monografia estruturou-se o trabalho em 05 (cinco) capítulos. O primeiro constitui-se na presente Introdução, seguindo-se de 03 (três) capítulos teóricos e finalizando com a conclusão.

O capítulo 02 (dois) trata da importância do trabalho, da educação, ensino profissionalizante no ambiente penitenciário e das perspectivas do detento qualificado em seu retorno à sociedade.

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O capítulo 03 (três) foca nas estatísticas, abrangendo a oferta e a demanda do ensino fundamental, médio e profissionalizante por unidade prisional e por nível acadêmico e dos indicadores de desempenho.

O capítulo 04 (quatro) traz a discussão sobre a capacidade produtiva do preso, descreve a experiência da APAC e os projetos existentes relativos à capacitação profissional do detento e disserta sobre o trabalho e a educação como ferramentas essenciais no processo de reinserção do preso na sociedade.

Finalizando, encerra com a conclusão apresentando os pontos críticos do sistema prisional, da implantação de políticas públicas de recuperação, ressocialização e reinserção social do preso na sociedade e tece considerações quanto a aplicação da Lei de Execuções Penais, do acesso à Defensoria Pública e ao Ministério Público na defesa dos direitos fundamentais do preso.

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo Geral

Demonstrar de que maneira o trabalho e a educação podem contribuir para a reinserção social do preso.

1.1.2 Objetivos específicos

a) Apontar a parceria do Estado com a indústria na promoção da profissionalização do preso e remuneração deste como motivador na sua recuperação;

b) Verificar a oferta do ensino acadêmico e profissionalizante dentro do ambiente prisional como ferramenta para ampliar a visão do preso na conquista da cidadania e no progresso pessoal;

c) Apontar a necessidade de investimento do Estado e apoio da sociedade em promover a educação e qualificação do detento para o seu retorno à sociedade.

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2 TRABALHO E EDUCAÇÃO

Trabalho e educação são direitos que caminham juntos, ambos são atividades humanas essenciais para a vida. Nesse sentido.

[...] no ponto de partida a relação entre trabalho e educação é uma relação de identidade. Os homens aprendiam a produzir sua existência no próprio ato de produzi-la. Eles aprendiam a trabalhar trabalhando. Lidando com a natureza, relacionando-se uns com os outros, os homens educavam-se e educavam as novas gerações. (SAVIANI, 2006, p. 6).

Este capítulo apresenta a seguir a formação histórica do Direito do Trabalho a partir da Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra no século XVIII, a influência dos princípios da Revolução Francesa, das lutas do proletariado por melhores condições de trabalho frente à exploração da mão de obra pelo liberalismo burguês e pôr fim do capitalismo, alcançando no século XX a positivação desse direito.

2.1 O TRABALHO COMO DIREITO SOCIAL

O direito ao trabalho e renda é parte dos direitos econômicos e sociais listados na Constituição Federativa do Brasil de 1988, sendo que já era apresentado como tal nas Constituições de 1946 e 1967 e na Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948. Partindo da igualdade entre os seres humanos, o direito ao trabalho na sociedade contemporânea aduz que as pessoas têm a prerrogativa de ganhar o seu sustento e de sua família por meio de um trabalho livremente escolhido, de possuir condições satisfatórias de trabalho e renda e de proteção em caso de desemprego.

O direito ao trabalho é relativizado, apesar de garantido constitucionalmente, uma vez que a sua oferta é determinada pelas condições econômicas e de mercado de uma nação. É por meio do trabalho digno que o trabalhador se afirma e se insere na sociedade capitalista. O trabalho possibilita ao indivíduo o acesso às condições de vida digna para si e para a sua família em um Estado Democrático de Direito. (DELGADO, 2004, p. 43-44) afirma:

[...] a ideia de dignidade não se reduz, hoje, a uma dimensão estritamente particular, atada a valores imanentes à personalidade e que não se

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projetam socialmente. Ao contrário, o que se concebe inerente à dignidade da pessoa humana é também, ao lado dessa dimensão estritamente privada de valores, a afirmação social do ser humano. A dignidade da pessoa fica, pois, lesada caso ela se encontre em uma situação de completa privação de instrumentos de mínima afirmação social. Enquanto ser necessariamente integrante de uma comunidade, o indivíduo tem assegurado por este princípio não apenas a intangibilidade de valores individuais básicos, como também um mínimo de possibilidade de afirmação no plano social circundante. Na medida desta afirmação social é que desponta o trabalho, notadamente o trabalho regulado, em sua modalidade mais bem elaborada, o emprego.

Assim o trabalho constitui-se na principal ferramenta capaz de motivar o indivíduo a se inserir na sociedade como sujeito de direitos e deveres, inerentes ao Estado Democrático de Direito e de reduzir as desigualdades sociais (MIRAGLIA, 2009, p. 157).

Não menos importante que o direito ao trabalho é o direito à educação. A educação constitui-se em um dos principais fundamentos para a consolidação da democracia, uma vez que capacita o indivíduo para participar efetivamente das decisões que o envolvem na sociedade, desenvolvendo o raciocínio crítico, criatividade, de buscar novos direitos, de se desenvolver profissionalmente e melhorar sua qualidade de vida. Assim diz Paulo Freire (1982, p. 16) “[...] já que a educação modela as almas e recria os corações, ela é a alavanca das mudanças sociais”.

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, artigo 205, garante a educação como direito de todos os cidadãos, pois o considera uma porta de acesso a todos os outros direitos, como saúde, alimentação, trabalho e outros: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” (BRASIL, 1988).

Apesar do conceito vago que se atribui à educação atualmente, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, já instituíra a educação com valores e conceitos relativos à natureza humana como um meio de educar as pessoas acerca de seus direitos como seres humanos capazes de tomarem decisões importantes e fundamentais. Segundo o artigo 26 daquela Declaração, “[...] a educação será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana”. (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1948).

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A importância da educação também foi defendida pelo brasileiro Austregésilo de Athayde na concepção de direito na formulação daquela Declaração afirmando que a educação põe à disposição do indivíduo os recursos necessários para “[...] desenvolver sua personalidade, que constitui o objetivo da vida humana e o fundamento mais sólido da sociedade”. (CLAUDE, 2005. p. 5).

Somente a educação eleva o indivíduo ao status de ser superior, pois o torna consciente de sua existência e importância no mundo. Como diz Paulo Freire (1978. p. 65), “[...] somente homens e mulheres, como seres ‘abertos’, são capazes de realizar a complexa operação de, simultaneamente, transformando o mundo através de sua ação, captar a realidade e expressá-la por meio de sua linguagem criadora”.

A educação tem se mostrado um dos grandes desafios do Brasil desde o século passado, uma vez que muitos são os métodos e modelos de ensino aplicados ao longo desse tempo, o que tem generalizado o conceito e fragilizado a aplicação (BARRETTO; MITRULIS, 2001).

Importa dizer que a educação há que ser objetiva, pois não basta saber matemática, física, biologia e outros campos da ciência, é necessário que o homem se aproprie do conjunto de conhecimentos e de comportamentos que o torne parte da sociedade. São responsabilidades atribuídas em primeiro plano à família e em segundo ao poder público. Como destaca (FULLAT,1979, p. 22) “[...] em certas ocasiões, este (homem) aprende realidades unicamente na sua formalidade. Isto quer dizer que não importa nesse caso aquilo que se sabe, mas sim a forma de sabe-lo”.

Segundo o mesmo autor, na década de 40, houve “uma expansão massiva do ensino secundário em todos os países desenvolvidos, como exemplo Europa e Japão, seguindo o exemplo norte americano”. (FULLAT, 1979, p. 22).

Em época recente a Coréia do Sul também investiu maciçamente em educação (MILTONS; MICHELON, 2008 p. 10), o resultado pode ser observado quanto ao desenvolvimento econômico e a qualidade de vida daquele povo. Isto requer, no Brasil, empenho e investimento da sociedade e do poder público na recuperação do tempo perdido e buscar modelos eficientes de educação tanto formal quanto a formação para a vida.

Deduz-se que a capacidade de um país de alcançar melhorias em suas taxas de crescimento e desenvolvimento deve-se ao investimento em educação,

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incluindo capacitação e inovação tecnológica, a exemplo de países como a Finlândia e Coréia do Sul, como relata o Pesquisador Hugo Ferreira Braga, da Fundação Dom Cabral (TADEU, 2013). Segundo o Professor,

Uma das grandes conquistas para aumentar a capacidade inovadora de um país é a melhoria dos investimentos em educação, ciência, tecnologia e pesquisas. Não há dúvida que o Brasil vem investindo bem nestes quesitos. A questão é a sua priorização, quando observa-se que o sistema prisional recebe 1,3% do PIB e a inovação 0,5%. Do total investido em inovação, 90% é destinado a professores de universidades públicas e na produção de artigos científicos, segundo dados do Conference Board (2012), sendo que outros setores de interesse nacional apresentam dificuldades de obter recursos. (TADEU, 2013, p. 1).

Da mesma forma, há que se concordar com o pesquisador quanto ao percentual do investimento em educação e da má distribuição dos recursos e ainda, cabe a crítica à qualidade do ensino no Brasil. Segundo (LORDÊLO; DAZZANI, 2009, p. 8) “[...] o Brasil de hoje ainda tem um grande desafio: uma educação que concilie, de um lado, a qualidade e excelência e, do outro, que pratique valores que contribuam para a democratização da sociedade[...]”, o que denota uma inversão de prioridades no planejamento estatal, pois a educação se apresenta como elemento mitigador da desigualdade e da criminalidade.

2.2 EDUCAÇÃO E TRABALHO NA PROMOÇÃO DA CIDADANIA

Uma das declarações mais poderosas da atualidade a respeito da educação é a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. A educação, como posta na Declaração, é condição indispensável para a construção de uma sociedade que almeja justiça e igualdade e constitui-se em um direito fundamental.

Artigo26

1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, está baseada no mérito.

2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos do ser humano e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.

3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos. (ORGANIZACÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1948).

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A educação é um bem público social que institui comportamentos, promove o reconhecimento de direitos, além do que nos amplia a visão sobre a convivência social e as oportunidades de melhoria de vida. Há consenso que a educação qualifica a força de trabalho para “absorver, reproduzir e desenvolver tecnologias, tornando-se, portanto, mais produtivo” (MILTONS; MICHELON, 2008. p. 1).

Cada vez mais a educação vincula-se à especialização para o trabalho, qualificando-o, inovando em sua aplicação e na visão empreendedora. Indivíduos com conhecimento apresentam maior probabilidade de focalizar sua atenção nas informações mais importantes disponíveis, processá-las mais rapidamente e identificar um grande número de oportunidades (PEREIRA; CÁRIO, 2013, p. 288).

Historicamente, a educação é instituição que inova, renova, transforma e conduz um país, um povo a alcançar elevados graus de desenvolvimento e qualidade de vida, promovendo transformações sociais e tecnológicas na economia, no nível de produtividade e nas relações entre os indivíduos (PABIS, 2016, p. 1353).

Partindo desse entendimento pode se deduzir que a educação decorre da necessidade do ser humano, ao longo da história, de satisfazer suas carências transformando a natureza por meio do trabalho (RAMOS, 2017. p. 262).

Para o ideário desenvolvimentista brasileiro da década de 50 a educação era indispensável para a capacitação tecnológica do País e deveria alcançar o grande contingente de migrantes do campo que chegava à cidade (BARRETO; MITRULIS, 2001).

As dificuldades na organização educacional durante o século XX na América Latina refletiram na qualidade do ensino e trouxeram consequências drásticas para a evolução da educação no Brasil, uma vez que as políticas públicas implantadas nesta área não favoreceram aqueles que mais necessitavam: os pobres, pois os processos de exclusão são sutis, mascarados por uma inclusão insuficiente, aquela atendida de forma inferior ou ineficaz e que trava o processo de expansão educacional, limitando as oportunidades.

[...] diversas tendências têm caracterizado a história contemporânea da educação latino-americana, colocando em evidência os sérios limites que são e serão enfrentados pela possibilidade de consolidar e ampliar as fronteiras do direito à educação no sentido que a Declaração Universal dos Direitos Humanos já proclamava em 1948. A combinação de alguns fatores

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define aquilo que, em outros trabalhos, identificamos como um processo de escolarização marcado por uma dinâmica de exclusão includente; isto é, um processo mediante o qual os mecanismos de exclusão educacional se recriam e assumem novas fisionomias, no contexto de dinâmicas de inclusão e inserção institucional que acabam sendo insuficientes ou, em alguns casos, inócuas para reverter os processos de isolamento, marginalização e negação de direitos que estão envolvidos em todo processo de segregação social, dentro e fora das instituições educacionais” (GENTILLI, 2009, p. 2).

Dessa forma a sociedade liberal apropriou-se do direito à educação tornando-o refém da ideologia das classes dominantes, como um produto comercial que aliena as classes dominadas impondo-lhes seus modelos e subjugando o ensino às necessidades do mercado de trabalho (RAMOS, 2017, p. 266) e para isso se permite apropriar-se deste capital social de maior valor.

Os privilégios injustos se eternizam no tempo, uma vez que a classe média compra o tempo de estudo dos filhos e possibilita a estes mais qualidade e aproveitamento, enquanto os filhos das classes populares ou “excluídos” têm esse tempo “roubado” e não possuem privilégios, pois seus pais vendem sua força de trabalho por valor pífio à classe média faxinando, cozinhando e cuidando de suas casas, reproduzindo, assim, os privilégios de nascimento da classe média (SOUZA, 2015, p. 65).

A educação escolar deveria constituir um direito amplo, de todos, independente de intervenções desse ou daquele segmento da sociedade, de modo que o conhecimento fosse disseminado para todas as camadas sociais. É possível mudar a educação sem mudar a sociedade? É possível mudar a sociedade sem mudar a educação? No Estado-nação a educação é um direito, mas como fazer e como exigir a educação que queremos, a educação que nos sirva e que não sirva ao mercado?” (BENZAQUEN, 2011, p. 44).

O trabalho tem passado por mudanças contínuas, cada vez mais exigente quanto às qualificações profissionais do trabalhador para atender as necessidades do mercado consumidor. Para isso a educação se apresenta cada vez mais necessária para que o indivíduo alcance os níveis de qualificação exigidas pelo mercado de trabalho, como destaca (SEGNINI, 2000, p. 3) para quem “[...] a educação e a formação profissional aparecem como questões centrais pois a elas são conferidas funções [...] capazes de possibilitar a competitividade e intensificar a concorrência, adaptar trabalhadores às mudanças técnicas e minimizar os efeitos do desemprego”.

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A massa de desempregados que hoje se apresenta, em expressiva parte, deve-se à falta de qualificação profissional, de educação formal que promova o desenvolvimento intelectual necessário para que o indivíduo desenvolva habilidades e possa participar do mercado.

O reconhecimento do grau de qualificação do trabalhador pelas empresas se dá através de sua particular inclusão em diferentes níveis hierárquicos e salariais, em diferentes formas de relações empregatícias como trabalho assalariado (com ou sem registro), trabalho terceirizado, contratos temporários, trabalho sem remuneração. A qualificação assim compreendida expressa relações de poder no interior dos processos produtivos e na sociedade; implica também o reconhecimento que escolaridade e formação profissional são condições necessárias, mas insuficientes, para o desenvolvimento social. (SEGNINI, 2000, p. 14).

Daí infere-se que para qualificar o trabalhador é necessário que este detenha um mínimo de formação escolar que possibilite internalizar os conhecimentos exigidos pelos cursos profissionalizantes ou técnicos e, posteriormente pelo mercado. A educação e a formação profissional são requisitos essenciais que maximizam as possibilidades de concorrer às vagas de emprego e mitiguem os efeitos do desemprego. (SEGNINI, 2000, p. 3) infere que “[...] quanto mais instruídos forem os trabalhadores de um país, maiores serão suas possibilidades de absorver as tecnologias predominantes, e assim chegar a um crescimento rápido da produção”.

A massa de “desqualificados” cresce ano após ano fomentada pela educação ineficiente e precária promovida pelo Estado. Segundo (SOUZA, 2015, p. 159), a escola pública, no Brasil e em países avançados, está cada vez mais precária e marcada pela má fé institucional, ou seja, o Estado e a sociedade concorrem para desqualificá-la e com isso abandoná-la com a justificativa de que os alunos são supostamente “burros e preguiçosos”.

O processo do trabalho, atualmente, consiste no aprimoramento dos recursos humanos, na capacitação do trabalhador para executá-lo, no acesso a novas tecnologias de produção e transformação, “porque o trabalho a ser realizado não se acomoda às conveniências do operário, mas este à natureza do trabalho, sem perda de tempo” (PLATÃO, 2005, p. 72). A educação não é alheia às transformações que se passam no meio produtivo e se ajustam aos novos modelos propostos pelo mercado preparando um novo tipo de trabalhador: o multifuncional.

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As novas tecnologias promovem mudanças no mundo do trabalho e nas relações sociais e passam a exigir novas metodologias de ensino e qualificação de educadores, de modo a formar e capacitar trabalhadores que atendam às novas demandas do mercado. As reformas educacionais já contemplam essas mudanças nas estruturas econômicas. (PREVITALI; FAGIANI, 2014).

Miltons e Michelon (2008, p. 2) destacam o papel fundamental da educação na formação do capital humano e da contribuição para o desenvolvimento de uma nação. Nesta contabilidade inclui-se o aumento da produtividade dos trabalhadores, a absorção de tecnologias e da capacidade individual de inovação.

Assim, o trabalho não se apresenta, por si só, o elemento de salvação do trabalhador, torna-se necessário que este seja produtivo e gere ganho econômico tanto para o trabalhador quanto para o capital. O investimento em educação e em capacitação aperfeiçoa o trabalhador, promovendo melhoria na renda, redução das desigualdades sociais e, principalmente, atua com mais eficácia na construção da cidadania, aquele valor que segundo Hobbes “atribuir a um homem um alto valor é honrá-lo e um baixo valor é desonrá-lo”, concedendo-lhe decência e respeito.

2.3 O TRABALHO PROFISSIONALIZANTE EM AMBIENTE PRISIONAL

O trabalho constitui direito e dever do preso definitivo (ESTEFAM, 2012. p. 340) embora não seja obrigatório. O trabalho constitui um sentido ético e um benefício para o preso que, tendo ocupação, mantém o hábito que detinha antes de adentrar à prisão. Se não o tinha, este o habilitará, disciplinando sua conduta incutindo-lhe em sua personalidade.

No século XIX, já contemplando penas mais brandas do que as aplicadas no século XVI, a proposta do trabalho penitenciário visava o endurecimento da pena, o trabalhador era obrigado a trabalhar em serviços pesados e nocivos à saúde (CABRAL; SILVA, 2010, p. 157), não bastando a perda da liberdade.

No Brasil, com o advento do Código Penal de 1940, o artigo 38 incorpora no ordenamento jurídico todos os direitos ao preso, exceto aqueles que não puder exercer quando impedido pela perda da liberdade. Complementando, a Lei nº 7.210/94 (Lei de Execução Penal) dedica o Capítulo III à disciplina do trabalho em ambiente prisional interno e externo, estabelecendo as condições em que os presos exercerão as atividades laborativas.

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Não cabe, neste trabalho, discutir as disposições das Leis quanto à situação jurídica do preso e sim trazer à reflexão a necessidade de se encontrar um caminho para promover a redução da criminalidade, seja por meio da formação profissional do preso ou da formação escolar, de modo que a sociedade e o mercado se beneficie desta força de trabalho e inteligência potencialmente competitiva.

Contrapondo-se à essa proposta (GRACIANO; SCHILLING, 2009, p. 113) denunciam que a educação prisional no Brasil submete-se às atividades pontuais, de caráter assistencialista e, geralmente, vinculada a atividades manuais ou de recreação desenvolvidas pelo Estado e pelas organizações da sociedade civil, o que contraria as disposições da Lei de Execução Penal nos artigos 17 a 18.

A assistência educacional compreenderá a instrução escolar e a formação profissional do preso e do internado. O ensino de 1º grau será obrigatório, integrando-se no sistema escolar da Unidade Federativa. O ensino médio, regular ou supletivo, com formação geral ou educação profissional de nível médio, será implantado nos presídios, em obediência ao preceito constitucional de sua universalização. O ensino ministrado aos presos e presas integrar-se-á ao sistema estadual e municipal de ensino e será mantido, administrativa e financeiramente, com o apoio da União, não só com os recursos destinados à educação, mas pelo sistema estadual de justiça ou administração penitenciária. Os sistemas de ensino oferecerão aos presos e às presas, cursos supletivos de educação de jovens e adultos. A União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal incluirão em seus programas de educação à distância e de utilização de novas tecnologias de ensino, o atendimento aos presos e às presas (BRASIL, 1984).

Neste título serão utilizadas informações extraídas do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (INFOPEN) de junho/2014 e da página eletrônica do Ministério da Justiça para apresentar as iniciativas tomadas por alguns Estados da federação no sentido de minimizar os efeitos da criminalidade por meio de políticas educacionais e formação profissional (BRASIL, 2014)

Iniciativas neste sentido são timidamente implantadas no País. Como exemplo o governo de Alagoas destinou, em 2010, uma área de 86m2 à construção de empreendimentos industriais que queiram se instalar no Estado e absorvam mão de obra de egressos do sistema carcerário (BRASIL, 2014).

Em contrapartida, as indústrias recebem incentivos fiscais e locacionais e benefícios como o pagamento de ¾ do salário mínimo ao preso trabalhador/educando. O sistema prisional de Maceió conta com um efetivo de mais

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de 2.500 presos distribuídos em quatro presídios e a expectativa é que as indústrias absorvam e capacitem aproximadamente 20% desse efetivo (INFOPEN, 2014).

Iniciativa similar tomou o governo do Maranhão em 2011 ao firmar parceria com a SINDUSCON daquele Estado para inserir no mercado da construção civil cerca de 300 detentos para a construção de casas do Programa Minha Casa Minha Vida, do Governo Federal (INFOPEN, 2014).

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) tem atuado no sentido de promover programas de recuperação e ressocialização de presos, por meio do Programa Começar de Novo, com recomendação aos tribunais de justiça estaduais, tribunais superiores e empresas públicas com o objetivo de qualificar presos e egressos do sistema prisional, incluindo serviços de apoio administrativo e aproveitamento. (INFOPEN, 2014).

As ações alcançam um resultado excelente no universo das unidades prisionais onde se desenvolveram as ações de recuperação, mas um resultado pífio (0,5%) diante da população carcerária brasileira na atualidade que já supera 600 mil presos, segundo dados do INFOPEN - Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias de junho de 2015 e de informações apuradas pelos presidentes de tribunais de justiça ao CNJ em janeiro/2017. Pelos dados apresentados por aquele departamento tem-se o cenário do sistema carcerário brasileiro conforme gráfico abaixo segregada por natureza de prisão (INFOPEN, 2014).

Gráfico 1 – Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias

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A proposta neste trabalho consiste em discutir alternativas de recuperação e ressocialização da população encarcerada independentemente da natureza da prisão, exceto para os condenados que cumprem pena nos regimes aberto e semiaberto, considerando que estes já dispõem de algum tipo de ocupação e renda. Segundo dados extraídos do mesmo relatório, no Brasil existem 1.424 unidades prisionais, sendo 4 de nível federal que abrigam lideranças do crime organizado, as demais serão objeto da análise deste trabalho. Antes, é necessário apresentar os índices segregados por idade, grau de escolaridade e quantitativos de presos em atividade educacional para análise de potencial perda de força produtiva (INFOPEN, 2014).

Na análise do gráfico abaixo é possível notar a gravidade do cenário apresentado, onde 75% dos presos são jovens com idade entre 18 e 34 anos, ou seja, em torno de 450.000 detentos (INFOPEN, 2014).

Gráfico 2 – Faixa etária das pessoas privadas de liberdade.

Outro dado não menos importante a observar no gráfico abaixo é o nível de escolaridade dos detentos, onde predomina a quantidade de presos com o ensino fundamental incompleto e 7% concluíram o ensino médio.

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Gráfico 3 – Escolaridade da população prisional

O cenário apresentado mostra dados importantes e que justificam o avanço da criminalidade no País. Jovens com parca formação escolar formando um contingente inapto e desprovido do mínimo de conhecimento para alcançar patamares superiores em capacitação técnica que mudariam suas vidas (INFOPEN, 2014).

Indivíduos com baixa formação escolar e sem qualificação profissional formam um contingente frágil que pode ser capturado pelo submundo do crime, pelo crime organizado, principalmente os mais jovens. A qualidade de vida, o ambiente onde vivem, a falta de emprego ou o subemprego, a insuficiência de renda, são fatores que segundo (IKUMA, KODATO; SANCHES, 2013, p. 3) “[...] pode ser um fator de risco e de possibilidade para a prática de atos infracionais”.

Em outro cenário o relatório aponta o contingente de condenados que trabalha. São 58.414 detentos trabalhando, sendo que 72% desse contingente atua dentro das unidades penitenciárias. Outros 22% do contingente obtém vaga para trabalhar com a interveniência das próprias unidades penitenciárias que promovem parcerias com outros órgãos públicos e com a iniciativa privada.

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Quadro 1 – Pessoas privadas de liberdade em atividade laboral UF AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA Presos trabalha ndo 109 3 678 728 398 170 6 4.2 81 2.2 80 2.1 98 1.8 89 692 8.8 31 4.2 66 1.6 48 1.407 PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO Total 826 4.9 82 314 3.9 55 3 206 2.8 54 257 6.9 70 5.4 01 118 NI 433 58.414

Fonte: Elaboração do autor (2017).

Do total das unidades prisionais apresentadas no relatório, apenas 280 possuem oficinas de trabalhos e que abrangem diversos ofícios como apresentado no quadro a seguir.

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Apresentados os dados educacionais e os de trabalho realizados no âmbito prisional identifica-se baixa atuação com foco específico na ministração de cursos técnicos profissionalizantes formais ofertados no interior das penitenciárias. As parcas respostas com efetivas ações desenvolvidas são isoladas e provêm de poucos Estados da Federação.

Como exemplo, o Núcleo Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal, capacitou mais de 600 presos no período de 2010 a 2014 em cursos profissionalizantes ministrados pelo Senai. Outros exemplos como o Estado de Alagoas e do Maranhão também desenvolveram ações nesse sentido, ressalvando, porém, que os projetos foram de caráter isolado, destinando-se a alocar mão de obra.

2.4 PERSPECTIVAS DO DETENTO NO RETORNO À SOCIEDADE

Reintegrar o egresso na sociedade como um ser social com capacidade de trabalhar e viver em sociedade como um cidadão comum constitui um desejo da família do preso e do próprio que, enquanto recluso, deve reunir todas as condições favoráveis para a obtenção da liberdade, que se dá pelo exame de mérito carcerário indicando a ressocialização do preso. Assim dispôs o seguinte julgado.

EMENTA: EXECUÇÃO PENAL - PROGRESSÃO DE REGIME PARA O ABERTO - REQUISITOS - MÉRITO CARCERÁRIO PROPOSTA CONCRETA DE ATIVIDADE LABORATIVA - DECISÃO MANTIDA - RECURSO DESPROVIDO. Diante do sistema progressivo adotado na legislação penal executória, o apenado que satisfaz os requisitos legais pode ir pouco a pouco galgando situação carcerária mais favorável, até vir a obter a liberdade total, devendo a progressão de regime se materializar através do exame do mérito carcerário a indicar a ressocialização do preso, sendo importante o papel da família naquele trabalho de reinserção social, não justificando eventual indeferimento do benefício a simples referência à longa pena restante e à gravidade do crime praticado. Precedentes do Superior Tribunal de Justiça (HC 252946 - 5ª Turma - Laurita Vaz). No caso concreto, como destacado pelo juiz de piso, o apenado preenche o requisito objetivo inclusive para obter o livramento condicional, tendo apresentado exames criminológicos favoráveis, com planos de reinserção no mercado de trabalho e possui comportamento carcerário excepcional desde março de 2014, conforme TFD. Agravo desprovido. (TJ-RJ - EP: 00178001720158190000 RJ 0017800-17.2015.8.19.0000, Relator: DES. MARCUS HENRIQUE PINTO BASILIO, Data de Julgamento: 19/05/2015, PRIMEIRA CAMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 26/05/2015 13:53). (BRASIL, 2015).

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A sociedade naturalmente rejeita o ex-detento, seja por medo, insegurança, preconceito ou pelo simples entendimento de que “quem faz uma vez faz duas, três [...]”, decerto que o ex-presidiário que viveu e cumpriu a pena na prisão agora cumpre a pena imposta pela sociedade fora da prisão. Na visão de (FOUCAULT, 1987, p. 215) “[...] impõem-se aos excluídos a tática das disciplinas individualizantes; e de outro lado a universalidade dos controles disciplinares permite marcar quem é leproso” e fazer funcionar contra ele os mecanismos dualistas da exclusão”.

Além do estigma de ex-presidiário outro dificultador na reintegração é o grau de escolaridade dos egressos. O maior contingente não concluiu sequer o ensino fundamental, além de não possuir qualificação profissional.

Para amenizar essa situação o Tribunal de Justiça do Espírito Santo implantou o programa Escritório Social, um dos eixos do Programa Cidadania nos Presídios, que atende egressos do sistema penitenciário daquele Estado e seus familiares em situação de vulnerabilidade social (CNJ, 2017).

Uma equipe multidisciplinar composta por médicos, psicólogos e educadores os encaminha para qualificação, capacitação, educação e profissionalização de acordo com as necessidades identificadas valendo-se de parcerias com entidades como o Senac, que ministra cursos profissionalizantes aos egressos e com as universidades, que por meio de alunos, desenvolvem outras ações, incluindo os familiares. O CNJ ainda acompanha o egresso por um ano para evitar que o mesmo reincida no crime, uma vez que a reincidência representa a maior das causas da superlotação dos presídios brasileiros.

A teoria das carreiras desviantes e do recrutamento dos “criminosos” nas zonas sociais mais débeis encontra uma confirmação inequívoca na análise da população carcerária, que demonstra a extração social da maioria dos detidos dos extratos sociais inferiores e o elevadíssimo percentual que, na população carcerária, é representada pelos reincidentes. (BARATTA, 2013, p. 179).

A perspectiva de inserção na sociedade seja por meio do trabalho, seja pela aceitação tácita do meio social não significa que o estigma de ex-presidiário se extinguiu e que deixou de acompanhar o indivíduo. As marcas da prisão são guardadas no íntimo, regulam o comportamento e se tornam uma barreira para a ressocialização. De acordo com (LOURENÇO; ROCHA, 2013, p. 178):

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A recuperação do direito de ir e vir nem sempre significa a recuperação de outros direitos. A angústia do tempo perdido é irrecuperável, somada à dor da ruptura dos mais íntimos e profundos sentimentos que raramente se afastam com a expedição do alvará de soltura emitido pelo poder judiciário.

Vencer essas barreiras constitui-se na maior ameaça que o ex-detento enfrentará fora dos portões da penitenciária, o que a ciência criminal denomina de teoria do etiquetamento ou labeling approach (BARATTA, 2013, p. 179).

Abandonar os hábitos que adquiriu na prisão, enfrentar os olhares que, por mais que sejam amistosos, para o ex-presidiário é sinal de desconfiança e de preconceito o enche de angústia e temor. “De modo geral, temem qualquer situação em que são colocados à prova de preconceitos pela sua condição de ex-preso, assim, tornam-se inseguros, medrosos, ansiosos e se fecham em seus grupos mais próximos.” (LOURENÇO; ROCHA, 2013, p. 186).

Um aspecto raramente considerado pela sociedade é o entendimento do aspecto psicológico desencadeado no preso durante o período de cárcere, o que elucida muitas questões sobre a recuperabilidade do homem e também permite uma aproximação mais humanizada da população criminosa (ALVES; MIJARES, 2014, p. 6).

A falta dessa aproximação e entendimento da superação do crime é um grande empecilho que a sociedade impõe ao ex-detento que procura um emprego honesto após cumprir sua condenação. Esse comportamento muitas vezes contribui para o retorno do ex-detento à vida de crimes que gera renda, como o tráfico de drogas (ALVES; MIJARES, 2014, p. 6).

A ociosidade que herdou do tempo dentro da prisão, a dissociação do tempo que dispunha dentro da prisão para o tempo fora dela, o compromisso de procurar trabalho e inteirar-se dos afazeres do cotidiano são atividades que necessitam de exercício para voltar a habitualidade. Essa situação, por vezes, causa constrangimentos com a família e pode levar o indivíduo a frustração motivada, muitas vezes, pelo imediatismo das expectativas (LOURENÇO; ROCHA, 2013, p. 188).

A família é a base de sustentação do ser humano e nela o indivíduo encontra “[...] uma estrutura protetora e que desempenha a tarefa de orientar” (CASARIN, 2007, p. 16). Nesse entendimento, a expectativa do ex-detento é, antes de qualquer outra, chegar à casa, à família, seja pai, mãe e irmãos ou filhos e

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esposa. “A família passa, portanto, a representar o principal agente ressocializador na rede de apoio ao preso, ainda que ela mesma seja desprovida de suporte estatal e de políticas públicas que viabilizem o exercício desta função.” (STREY; VERZA; ROMANI, 2015, p. 307).

Nesse sentido dispõe a Lei de Execução Penal conforme elencado nos artigos 25 a 27 que o Estado assistirá o egresso disponibilizando alojamento, alimentação e orientação de assistente social na obtenção de trabalho. A Lei possui os meios disciplinando as mais diversas formas de reintegrar as pessoas que cometem crimes envolvendo o preso, seus familiares e a instituição que o acolhe (SOUZA; OLIVEIRA FILHO, 2016, p. 8).

Nota-se que mesmo com a Lei de Execução Penal prevendo os aparatos necessários para auxiliar no retorno do preso à sociedade, o nível de reincidência mostra que os dispositivos da referida Lei deixam de ser aplicados por um percentual elevado de unidades prisionais no País, justificado pelo alto índice de reincidência nos crimes e o efetivo retorno às prisões.

Este título trouxe para a abordagem uma das fases mais difíceis da vida do ex-detento. Para aqueles que contam com alguma estrutura familiar estruturada psicológica e emocionalmente equilibrada o retorno será menos doloroso, uma vez que serão acolhidos e protegidos. Outros saem da prisão sem a menor esperança de que seus dias fora da prisão serão melhores do que dentro dela. Reportagem da Revista Veja São Paulo (2017) relata que muitos detentos ao ganharem a liberdade sequer tem seus parentes avisados, recebem seus poucos pertences e, em geral, não tem dinheiro para pagar a passagem de ônibus ou metrô, o que os leva a pedir “carona” para poderem voltar para casa, alguns esquecem até o endereço onde moram seus parentes.

A importância desta abordagem deve-se à crítica à aplicação da Lei de Execução Penal relativa ao artigo 25 e incisos. O apoio obrigatório imposto pela Lei não encontra amparo nas ações efetivas do dia a dia do presídio. A mesma reportagem relata que detentos que adquirem o benefício da “saidinha” retornam mais cedo à cela por não ter para onde ir e não arranjam emprego por conta do estigma de presidiário ou presidiário. Sem políticas sociais de apoio a esses ex-detentos para ingressarem no mercado de trabalho o movimento de entra e sai dos presídios estará longe de terminar.

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No próximo título serão apresentados os números que subsidiam as abordagens desta monografia e, também, a crítica à aplicação da Lei de Execução Penal e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação nas unidades prisionais no Brasil. Volta-se a atenção para o contingente de presos hoje existente no Brasil, para a estrutura física destinada à educação escolar e profissionalizante, para os programas educacionais implantados nas unidades prisionais que possuem salas de aula e oficinas de trabalho e para a ausência de aproveitamento de entidades, como as do Sistema “S” na capacitação dos jovens que, em maioria, superlotam as penitenciárias.

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3 ESTATÍSTICAS DA EDUCAÇÃO EM AMBIENTE PRISIONAL

A exemplo do documento aprovado pelo conselho econômico e social da ONU de 1957 (Regras mínimas para o tratamento de reclusos), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei nº 9.394, de 1996, artigo 37, integra a educação escolar nas prisões contemplando o ensino fundamental e médio na modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA). (OLIVEIRA, 2013, p. 958).

As diretrizes estabelecidas pela LDB como observado no gráfico abaixo, 598 unidades prisionais não dispõem de salas de aula.

Gráfico 4 – Unidade com e sem sala de aula

Fonte: Infopen (2014).

O relatório aponta, ainda, que das unidades que possuem salas de aula, em 14 estados há mais unidades com salas de aula do que pessoas efetivamente estudando, indicando que há subaproveitamento da estrutura e capacidade ociosa.

Este título abordará a questão do ensino fundamental, médio e profissionalizante dentro das unidades prisionais no Brasil, priorizando os aspectos relativos à disponibilidade de estrutura material que possibilite a aplicação efetiva da Lei de Execução Penal e os métodos de avaliação do perfil social do preso para o acesso à educação escolar e profissionalizante e da capacitação e atuação dos profissionais que atuarão nessas unidades prisionais.

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3.1 DEMANDA E OFERTA DO ENSINO FUNDAMENTAL, MÉDIO E PROFISSIONALIZANTE NO AMBIENTE PRISIONAL

Informações extraídas do relatório Modelo de Gestão para a Política Prisional do Departamento Penitenciário Nacional de 2008 dão conta da dificuldade na “[...] definição de procedimentos que definam o fluxo de acesso à educação, envolvendo desde a identificação de demandas e perfil da população prisional de cada unidade, passando pela matrícula de alunos até a certificação e desligamento”. (BRASIL, 2008).

No estudo da demanda é necessário considerar que, para atender as disposições da Lei de Execução Penal, deve-se analisar a pluralidade de perfis e as esferas de sociabilidade dos presos. Essa tarefa envolve a troca de saberes e experiências entre os profissionais envolvidos para avaliar o perfil e trajetória de vida de cada preso para qualificá-lo e encaminhá-lo ao programa que atenda a sua singularidade (BRASIL, 2016, p. 139; 309).

Dados apontados no Relatório da Situação do Sistema Penitenciário sobre educação profissional do Ministério da Justiça de 2008 já identificavam 2.627 detentos matriculados em cursos profissionalizantes para um universo de mais de 429.000 presos no país, o que representava um percentual em torno de 6% de detentos em processo de capacitação/profissionalização (BRASIL, 2008, p. 96).

Os estudos do Ministério da Justiça, em 2014, apontam uma evolução na qualificação dos números, uma vez que estes dados não constam do relatório de 2008: dos 607 mil presos no Brasil, 579.000 estão recolhidos nas penitenciárias e destes 435 estão envolvidos com ensino técnico e 3.421 em cursos de formação inicial e continuada (BRASIL, 2014, p. 124).

De posse destes dados é possível apontar que a população carcerária, no período de 2008 a 2014 cresceu mais de 40%, enquanto as matrículas no ensino profissionalizante tiveram involução. Assim, o desafio para o Estado é ter a capacidade de distinguir o projeto de Educação Profissional elaborado em um conceito excludente daquele que busca construir uma sociedade com perspectivas de sociabilização (FRIGOTTO, 2001, p. 10).

As informações acerca da escolarização mostram que aproximadamente 53% da população prisional, equivalente a 320.000 presos, não concluiu o ensino fundamental, um dado que preocupa, pois sem uma educação básica suficiente é

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impossível sustentar um ensino técnico ou capacitação de maior complexidade. Nesse sentido,

[...] necessitamos reiterar, sem constrangimento, a concepção de educação básica (fundamental e média) pública, laica, unitária, gratuita e universal, centrada na ideia de direito subjetivo de cada ser humano. Uma educação omnilateral, tecnológica ou politécnica formadora de sujeitos autônomos e protagonistas de cidadania ativa e articulada a um projeto de Estado radicalmente democrático e a um projeto de desenvolvimento “sustentável”. Afirmar a ideia de que essa educação por ser básica e de qualidade social, é a que engendra o sentido da emancipação humana e a melhor preparação técnica para o mundo da produção no atual patamar científico tecnológico. (FRIGOTTO, 2001, p. 12).

Da mesma forma, o percentual que representa os presos que concluíram o ensino médio situa-se em torno de 8%, o que possibilita que um quantitativo reduzido tenha potencial de acessar à universidade. Assim volta-se a atenção para a população que ainda não concluiu o ensino fundamental. Isso implica articularmos a luta pela educação básica (fundamental e média) e a Educação Profissional, às lutas e movimentos protagonizados pela classe trabalhadora (FRIGOTTO, 2001, p. 14).

Segundo o Levantamento Nacional do DEPEN de 2014, as 1.661 salas de aulas distribuídas nas 632 unidades prisionais no País comportam 22.607 alunos por turno de estudos, entretanto estão matriculados 38.831 detentos. Considerando que as salas funcionariam em dois turnos, haveria um déficit de ocupação de mais de 6.000 alunos. (BRASIL, 2014c).

A preocupação reside no baixo percentual de presos que estão em atividade educacional nas unidades prisionais que possuem disponibilidade de salas de aula. Dos quase 240.000 presos internos destas unidades, 16% estão matriculados em atividades educacionais. Como dispõe a Lei 7.210, a Lei de Execução Penal, a assistência educacional compreenderá a instrução escolar e a formação profissional do preso e do interno (AGUIAR, 2009, p. 6).

Nota-se que a oferta de salas de aula mostra-se insuficiente para atender a demanda, a princípio, do ensino fundamental considerando, neste caso, a existência de 598 unidades prisionais no País que não possuem essa estrutura como apresentado no gráfico na introdução deste capítulo.

Mesmo para as unidades prisionais que possuem estrutura adequada para a ministração do ensino escolar e profissionalizante, um dificultador que se observa é a superlotação. Esta é uma realidade desfavorável à aplicação das

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sessões educacionais por se realizarem em horários incompatíveis entre trabalho e educação e por não haver vagas disponíveis para todos os interessados, dado que “[...] na maioria das unidades prisionais o trabalho é utilizado prioritariamente em detrimento das atividades educativas". (OLIVEIRA, 2013, p. 5).

Do mesmo modo, relatam as prisioneiras do Complexo Penitenciário Feminino do Distrito Federal que “[...] sugeriram que os cursos fossem implementados na primeira hora da manhã, antes do trabalho. Esta opção, no entanto, é desconsiderada pelas autoridades por contrariar os interesses dos empresários que instalaram oficinas no presídio”. (GRACIANO; SCHILLING, 2008, p. 7).

Por outro lado a educação escolar e o ensino profissionalizante estão condicionados à vontade individual do preso, ao entendimento em enxergar estes benefícios como direitos e que o bom comportamento apresentado durante o período de reclusão é condição para fazer jus ao acesso.

[...] os presos não vislumbram a educação como um direito de todos legalmente constituído, o qual, além de ser dever do Estado, refere-se a uma das conquistas sociais instituídas para contribuir com a sua formação pessoal, como facilitador nas oportunidades socialmente construídas” (OLIVEIRA, 2013, p. 7).

O mapa estratégico elaborado pela Confederação da Indústria (CNI) para o período 2013 – 2022 aponta como uma necessidade premente o investimento em educação. Segundo aquela entidade “[...] equipes educadas e bem formadas utilizam melhor os equipamentos, criam soluções para os problemas do dia a dia, adaptam processos e produtos e desenvolvem e implementam inovações”. Destaca que no Brasil a baixa qualidade da educação básica, a reduzida oferta de ensino profissional e as deficiências do ensino superior limitam a capacidade de inovar das empresas e a produtividade (CNI, 2013, p. 27), o que faz crer que o mercado de trabalho vive a escassez de mão de obra qualificada.

3.2 UNIDADES PRISIONAIS COM OFERTA DO ENSINO POR NIVEL ACADEMICO As promessas da Lei de Execução Penal, que constituem o seu objetivo, dos artigos 1º e 3º visam proporcionar ao condenado as condições harmônicas de integração social e assegurar todos os direitos, exceto aqueles que a sentença ou a

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Lei negaram (Lei 7.210/84). A seção V da referida Lei dispõe sobre as atividades a que o Estado está obrigado a efetivar no cumprimento destas obrigações e a seção VIII dá continuidade ao processo assistencial que apoia o egresso no retorno e reintegração à sociedade.

Na atualidade nota-se que a Lei por si só não constitui arma suficiente para assegurar este direito ao condenado, é necessário a participação da sociedade e dos movimentos sociais que atuam na defesa dos apenados para que o poder público atenda as demandas por educação dessa população (GOHN, 2016, p. 1). Implantar projetos educacionais dentro das prisões demanda tempo e planejamento de médio e longo prazos, com metas e objetivos compatíveis com a reabilitação do preso. “O papel da educação dentro da prisão deve ser única e exclusivamente o de ajudar o ser humano privado da liberdade a desenvolver habilidades e capacidades para estar em melhores condições de disputar as oportunidades socialmente criadas.” (SILVA, 2014, p. 15).

As informações constantes do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias de Junho/2014, do DEPEN, apontam aproximadamente 240.000 presos em unidades prisionais que dispõe de salas de aula e com 16% deste contingente efetivamente em atividade escolar. O quadro abaixo dispõe sobre a distribuição de alunos por nível acadêmico em atividade escolar que vão da alfabetização ao ensino médio ao superior. Este último é ministrado em ambiente externo ao da penitenciária.

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Quadro 3 – Pessoas envolvidas em atividades educacionais por nível de atividade, por Unidade da Federação.

UF Alfabetização Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior Curso técnico (acima de 800 horas de aula) Curso de formação inicial e continuada AC 31 124 126 0 0 22 AL 114 166 17 0 0 151 AM 126 479 228 0 0 1 AP 25 194 54 9 0 0 BA 417 1.154 220 0 0 31 CE 56 2.088 356 19 17 947 DF 177 817 365 24 103 51 ES 589 1.605 731 11 159 589 GO 130 414 69 0 0 17 MA 102 223 40 5 4 0 MG 1.266 4.090 1.301 110 19 321 MS 213 783 164 12 0 101 MT 436 992 373 0 0 260 PA 217 624 199 8 55 16 PB 258 617 116 3 0 0 PE 1.146 3.475 808 0 0 40 PI 108 75 34 0 0 0 PR 483 2.587 896 10 0 353 RJ 6 209 20 0 4 0 RN 979 104 0 0 0 0 RO 195 569 162 7 8 48 RR 0 238 82 7 2 2 RS 339 948 293 45 9 154 SC 354 974 426 4 54 253 SE 93 108 17 10 0 13 SP NI NI NI NI NI NI TO 92 116 129 3 1 51 TOTAL 7.952 23.773 7.226 287 435 3.421 Fonte: Infopen (2014).

A estatística não incluiu o Estado de São Paulo por ausência de informações prestadas por aquele Estado. Mesmo assim é possível perceber a dificuldade em atender a demanda por acesso à educação, em evidência a fundamental, onde se apresenta o maior contingente.

Santiago e Brito (2006, p. 301), sustentam que “[...] não existe, em âmbito federal, uma política pública voltada para a assistência educacional a detentos e

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sim, financiamento do DEPEN a projetos educacionais propostos e desenvolvidos pelos Estados”. Os projetos são executados diretamente ou em parceria com ONG’s, com o apoio do Ministério da Educação.

No mesmo sentido (Oliveira, 2013, p. 959) sustenta que no Brasil,

[...] a justiça e o seu sistema policial estão organizados, principalmente, em nível estadual, de modo que cada governo apresenta relativa autonomia na introdução de políticas públicas de educação escolar no contexto prisional. Por isso, devido à diversidade regional e política, a realidade prisional brasileira apresenta-se heterogênea, diferenciando-se conforme o Estado ou, até mesmo, a unidade prisional. Assim, a aplicabilidade das normas segue os meandros e as vicissitudes em nível local.

Essa relativização permite que alguns Estados da Federação se aproximem mais dos ideais propostos pela Lei de Execução penal, promovendo parcerias com entidades do sistema “S” por meio de convênios, com as secretarias de educação e com as APAC, de modo que se alcance os objetivos de preparo e aperfeiçoamento do preso para o efetivo retorno à sociedade.

Da mesma forma que se verifica a existência de unidades prisionais que dispõe de salas de aula, há uma quantidade bem próxima que não goza desta estrutura. O relatório aponta quantidade superior a 600.000 presos em todo o país e destes, deduz-se que aproximadamente 360.000 cumprem pena em unidades desprovidas de estrutura de ensino, seja escolar ou profissionalizante, incluindo penitenciárias, casas de detenção provisória e carceragens de delegacias (BRASIL, 2014a, p. 123).

Nesse sentido descumpre o Poder Público a previsão legal imposta pela Lei de Execução Penal, a Constituição da República Federativa do Brasil e das convenções que tratam dos direitos dos presos, da ONU, uma vez que constrói unidades prisionais sem estrutura destinada a fomentar as atividades educacionais e profissionalizantes determinadas pelas Leis, prejudicando o benefício da progressão da pena dos condenados.

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3.3 INDICADORES DE DESEMPENHO

Um dos pontos mais delicados da questão penitenciária brasileira reside na dificuldade de obtenção de informações consolidadas e de credibilidade. Os números são dispersos e divididos entre as várias temáticas que abordam o assunto.

Neste título serão utilizados os dados disponibilizados pelo Ministério da Justiça, por meio do Departamento Penitenciário Nacional-DEPEN e disponibilizados pelo INFOPEN para apresentar os índices de desempenho julgados mais importantes sobre as questões analisadas neste trabalho.

O primeiro indicador que se apresenta e que preocupa a sociedade e os governantes é o que mede a evolução do encarceramento no Brasil. Como mostra o relatório do DEPEN, de 1990 a 2017 a população prisional evoluiu de 90.000 para 607.700 presos no País, o que representa um crescimento de 575% no contingente, com elevada ascendência a partir de 2003, frente ao crescimento da população brasileira que foi de 16% (BRASIL, 2014a, p. 15).

Outro indicador que denota preocupação se constitui no percentual de presos recolhidos as celas com idade entre 18 a 34 anos, representando 75% da população prisional brasileira. Os dados analisados confirmam que desse percentual 56% é representado por uma população jovem situada entre 18 e 29 anos (BRASIL, 2014a, p. 48), uma parcela significativa da força produtiva do País.

Economicamente a marginalização dos presos é uma enorme perda, já que 98,5% estão em idade economicamente ativa e poderiam trabalhar, pagar tributos e ser uma mão-de-obra extremamente produtiva que atualmente é desprezada. As empresas e o próprio governo poderiam se beneficiar muito do aproveitamento desses trabalhadores. Prova disso é o sucesso da instalação de oficinas que contém parte ou todo o setor produtivo de alguma organização nos presídios, gerando oportunidade de trabalho durante o cumprimento de pena em troca de alguma ajuda de custos e remissão (ALVES; MIJARES, 2014, p. 6).

O quesito unidades prisionais com disponibilidade de salas de aula, em 2008 haviam 492 unidades prisionais no País comportando 429.390 presos (BRASIL, 2008. p. 96) enquanto em 2014 a oferta cresceu para 632, com 1.661 salas de aula disponibilizadas (BRASIL, 2014a, p. 122), sendo que 598 unidades prisionais não possuem essa estrutura.

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Embora o arcabouço legal privilegie o papel da educação para a população carcerária, considerando o caráter ressocializador e não apenas punitivo da pena, a realidade nos presídios brasileiros está bem distante do que prevê a lei. O reconhecimento legal não tem sido acompanhado de medidas efetivas para garantir a oferta sistemática de oportunidades educacionais nesses estabelecimentos (SANTIAGO; BRITTO, 2006, p. 3)

Outro dado chama a atenção, em 2008, 42% da população carcerária não possuía o ensino fundamental completo, enquanto em 2014 essa população evoluiu para 53%. Em 2008, dos 429.390 presos haviam 41.549 detentos em atividade escolar nos ciclos de alfabetização, ensino fundamental e médio abrangendo toda a população carcerária. Em 2014 temos 38.831 presos em sala de aula, equivalendo a aproximadamente 11% dos detentos lotados nas penitenciárias.

Nota-se que a educação escolar nos presídios brasileiros enfrenta uma situação de invisibilidade por parte do governo. Sem orientações a nível nacional claras para implementação da educação escolar nas prisões, as iniciativas ficam à mercê dos governos estaduais, que organizam à sua maneira, sem regras ou parâmetros (GRACIANO; SCHILLING, 2008, p. 3).

Das 1.420 unidades prisionais apresentadas no relatório do DEPEN, identifica-se 280 (19%) que possuem oficinas de trabalho com atividades de relativa profissionalização.

Dos mais de 600.000 condenados existentes no País 58.000 estão em atividades laborativas, o que equivale a 16% do universo de presos locados em penitenciárias, excluindo-se as cadeias públicas, casas de detenção, etc.

Dos 58.000 que estão trabalhando, 34% exercem atividades de apoio interno nas unidades em limpeza e alimentação de acordo com informações extraídas do relatório INFOPEN de 2014. Deduz-se que falta trabalho nas prisões e, trabalho de qualidade, trabalho que contribua para que o preso se sinta útil e honrado.

Do universo de apenados trabalhando denota-se um percentual aquém do desejável considerando-se a importância que o trabalho representa em termos de ressocialização que na visão de (FOUCAULT 2009, p. 33) “[...] o grau de utilidade que é dado ao trabalho prisional, desde sua origem nas execuções das penas, não é do lucro ou de uma habilidade útil; mas a constituição de uma relação de poder, criando um mecanismo de submissão individual e de ajustamento a um aparelho de

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