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2.7 As microcalcificações como fator de diagnóstico precoce

4.3.4 Demarcação da técnica

1. Marca-se a projeção do tumor sobre a pele (FIG. 18).

FIGURA 18 - Marcação do tumor.

2. Marca-se uma área que possibilite margem de segurança de 2cm em todas as direções e, em seguida, a partir do ápice desse círculo ou oval, marca-se o ponto A (FIG. 19).

3. A partir do ponto A, traça-se um arco de concavidade inferior, que se estende até a linha axilar anterior onde se localiza o ponto B. O arco AB demarcará o limite superior do primeiro retalho (FIG. 20).

FIGURA 20 - Marcação do ponto B e arco AB.

4. A partir do ponto B, traça-se um arco que atinge a linha axilar posterior e dirige- se anteriormente até atingir novamente a linha axilar anterior (ponto C), na projeção do sulco inframamário. O arco BC, situado sob as linhas axilares anterior e posterior, constitui o segundo retalho e mede aproximadamente 8cm (FIG. 20).

5. A incisão sobre o tecido mamário deve ser realizada perpendicularmente à pele e à parede torácica (FIG. 21a).

FIGURA 21a – Marcação do local da incisão.

6. Ambos os retalhos devem ser amplamente descolados para facilitar sua rotação e o amplo acesso à axila (FIG. 22).

FIGURA 22 - Descolamento do retalho.

7. O comprimento do segundo retalho pode variar, mas nunca ultrapassar duas vezes e meia a extensão da linha BC. O ideal é que se localize entre as linhas axilares anterior e posterior, para que a cicatriz resultante seja menos visível, porém, em muitos casos surge a necessidade de retalhos maiores, o que resultará em cicatriz dorsal menos camuflada (FIG. 23).

8. Procede-se a uma rigorosa hemostasia.

9. Inicia-se a sutura dos retalhos pela porção medial da área da perda de substância (paraesternal), de modo a promover rotação medial de ambos os retalhos descolados (FIG. 24).

FIGURA 24 - Montagem da mama.

10. Após a rotação dos retalhos, os pontos B e C são suturados entre si sem tensão, a fim de promover-se o adequado fechamento da área.

11. Utiliza-se dreno de aspiração contínua.

12. A síntese do parênquima é realizada utilizando-se fio absorvível tipo Vycril®

nºs 3-0 e 4-0.

13. A síntese da pele é feita utilizando-se fio monofilamentar de nylon 3.0 em sutura intradérmica contínua, a qual será retirada 15 a 20 dias após o procedimento cirúrgico.

14. Realiza-se o curativo com gaze estéril e fita de MicroporeR tamanho médio.

15. Resultado após um ano (FIG. 25 e 26).

FIGURA 25 - Resultado estético após um ano.

4.4. Coleta de dados

Foram avaliadas as mamografias de pacientes submetidas à cirurgia conservadora para o carcinoma de mama no período de junho 2000 a janeiro de 2004. Todas as cirurgias que compuseram a amostra deste estudo foram realizadas pelo mesmo cirurgião-plástico, com o objetivo de padronizar-se a técnica. A avaliação das MCFs considerou sua localização, tamanho, número, contornos e morfologia (bizarras, polimorfas, com contornos irregulares, mais concentradas e com alta densidade e distribuição).

As MCFs foram definidas como finos depósitos granulares de cálcio que aparecem às mamografias e são vistas como pequenos pontos brilhantes. O seu tamanho varia de 0,1 a 0,7mm. Além de sua distribuição em focos, elas podem surgir de maneira isolada e/ou distribuídas por todo o tecido mamário, mas neste caso não estão associadas ao carcinoma (DE SANTO et al., 2003).

Foram descritas as alterações presentes à mamografia, no que diz respeito aos tipos de MCF, de acordo com as características descritas pela ACR (1998).

As avaliações mamográficas constam do protocolo padrão de tratamento e acompanhamento do HC/UFMG para as pacientes com carcinoma de mama, com consentimento livre e esclarecido (APÊNDICE A).

As mamografias foram realizadas em clínicas particulares (Mastoclínica, Sigmma) e no Serviço de Radiologia do HC/UFMG, ambos sediados em Belo Horizonte, em mamógrafos 700T produzidos pela General Electric do Brasil, DMR Senographe

GE e Senographe 500T com filmes e ecrans Kodak K Min-R e Min-R 2000. Foram selecionadas somente as mamografias (com ou sem ampliação) que apresentavam boa qualidade, com o selo da Sociedade Brasileira de Radiologia e examinadas com lupa (aumento de quatro vezes). As mamografias constavam das incidências básicas (crânio-caudal e médio-lateral oblíqua) localizadas com ampliação das calcificações suspeitas. Em todos os casos foram descritos as formas e o padrão de distribuição das MCFs encontradas. Quanto às formas, elas foram descritas de acordo com a ACR (1998); Libermann; Mennel (2002).

Neste trabalho, a análise radiológica foi feita pelo próprio autor. Foi considerada como MCFs disseminadas a constatação de sua presença em três ou mais quadrantes da mama.

Os exames anatomopatológicos foram realizados no Departamento de Anatomia Patológica da Faculdade de Medicina da UFMG e no laboratório particular de Anatomia Patológica do Professor Dairton Miranda, em Belo Horizonte.

As MCFs foram classificadas de acordo com as seguintes localizações: quadrante súpero-externo, quadrante súpero-interno, quadrante ínfero-externo, quadrante ínfero-interno, retroareolar.

4.5. Análise estatística

Foram feitas análise descritiva das variáveis analisadas e comparação da distribuição das MCF na mama operada antes e após a cirurgia e na mama oposta. Utilizou-se o teste do qui-quadrado de McNemar para comparar as proporções de MCF na mama operada após a cirurgia e na mama oposta (ARMITAG; BERRY, 1987)

4.6 Parecer ético

Este projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da UFMG (COEP), ETICPROT. 897(3) - (ANEXO B). As pacientes leram e assinaram o termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE A).

5 RESULTADOS

Foram avaliadas 30 pacientes submetidas à cirurgia conservadora para o carcinoma de mama no período de 2000 a 2004.

A distribuição dessas pacientes avaliadas quanto à faixa etária mostrou que 40% delas encontravam-se na faixa de 45 a 54 anos, 20% de 35 a 44 anos e 80% de 35 a 64 anos (TAB. 3).

TABELA 3

Distribuição das pacientes operadas com a técnica do retalho bilobulado, de acordo com a faixa etária (Belo Horizonte, 2004-2005)

Idade Freqüência N(%) 25-34 2 (6,7) 35-44 6 (20,0) 45-54 12 (40,0) 55-64 6 (20,0) 65 ou mais 4 (13,3) Total 30 (100,0)

Os achados mamográficos antes da cirurgia conservadora nas pacientes com carcinoma de mama mostraram que em 28 delas foram visibilizadas imagens compatíveis com tumores. Dessas, 17 estavam associadas a MCFs, sendo que em 12 as imagens foram consideradas malignas e em cinco eram compatíveis com benignidade. Foram 11 as imagens tumorais que não mostraram associação com MCF. Em apenas um caso o diagnóstico foi feito pela visibilização de MCF com características de malignidade (QUADRO 1).

QUADRO 1

Distribuição dos achados mamográficos em pacientes operadas com a técnica do retalho bilobulado, segundo os resultados da mamografia

(mama operada) antes da cirurgia

Tipo de imagem radiológica Nº pacientes

Tumor 11

Tumor associado a MCFs malignas 12 Tumor associado a MCFs benignas 5

MCFs malignas apenas 1

Tumor não avaliado 1

Total 30

MCF= microcalcificações

Em relação ao tamanho do tumor, 10 pacientes (36,6%) apresentaram-nos menores que 2cm (T1), em 19 (63,3%) eles variaram de 2,0 a 4,5cm (T2) e em

apenas um (3,3%) ele não pode ser classificado devido ao fato de ter sido excisado em outro serviço, ou seja, em todos os casos avaliados (n=29) os tumores foram menores que 4,5cm (T1-2) - (TAB. 4).

TABELA 4

Distribuição das pacientes em relação ao tamanho do tumor (Belo Horizonte, 2004-2005) Freqüência Tamanho % % acumulada 0 1 3,3 3,3 1,2 1 3,3 6,6 1,7 2 6,7 13,3 1,8 1 3,3 16,6 1,9 5 16,7 33,3 2,0 5 16,7 50,0 2,2 1 3,3 53,3 2,4 4 13,3 66,6 2,5 1 3,3 69,9 2,7 1 3,3 73,2 3,0 1 3,3 76,5 3,2 3 10,0 86,5 3,5 1 3,3 89,9 4,0 1 3,3 93,3 4,5 1 3,3 99,6 Tx 1 3,3% 100,0 Total 30 100% 100,0

Quanto à localização dos tumores nos diversos quadrantes da mama, verificou-se que no quadrante súpero-lateral havia cinco (16,7%), no quadrante súpero-medial seis (20,0%) e 19 (63,3%) encontravam-se na transição dos quadrantes

TABELA 5

Distribuição das pacientes de acordo com a localização do tumor na mama operada

Localização Nº pacientes

Quadrante súpero-lateral 5 (16,7%)

Quadrante súpero-medial 6 (20,0%)

Interseção dos quadrantes superiores 19 (63,4%)

Total 30 (100%)

A distribuição das pacientes de acordo com o achado histopatológico está apresentada na TAB. 6. Em 19 pacientes (63,7%) havia carcinoma ductal invasor (CDI) puro, em quatro (13,3%) carcinoma lobular invasor (CLI) puro e em outras quatro (13,4%) associação de carcinoma ductal invasor (CDI) e carcinoma ductal

in situ (CDIS). Em um caso (3,3%) ocorreu associação de CDI e CLI e, em outro,

de CDI, CDIS e carcinoma lobular in situ (CLIS). A associação CLI e CDIS também ocorreu em um caso (3,3%). Assim, a presença de CDI e CDI com CDIS atingiu 76,6%. Uma paciente com diagnóstico de CLI foi submetida à mastectomia radical modificada à direita (mama contralateral), com reconstrução imediata pela técnica do retalho abdominal miocutâneo (TRAM) quatro anos antes, devido ao diagnóstico de CDI da mama. Seis meses após a realização do TRAM, essa mesma paciente foi submetida à mamoplastia esquerda. Ao se avaliar esse exame, observou-se imagem de tumor com aspecto de malignidade na mama esquerda, concomitantemente às MCFs com características de benignidade disseminadas por todo o parênquima. Isso sugeriu MCFs induzidas pela cirurgia anterior. No pós-operatório, a avaliação mamográfica revelou MCFs semelhantes aquelas às encontradas no pré-operatório.

TABELA 6

Distribuição das pacientes operadas com a técnica do retalho bilobulado, de acordo com o diagnóstico histológico

Diagnóstico histológico Pacientes (%)

CDI 19 (63,3%)

CLI 4 (13,3%)

CDI / CDIS 4 (13,3%)

CDI / CLI 1 (3,3%)

CDI / CDIS/ CLIS 1 (3,3%)

CLI / CLIS 1 (3,3%)

Total 30 (100%)

CDI = carcinoma ductal invasor; CLI = carcinoma lobular invasor; CDIS = carcinoma ductal in situ; CLIS = carcinoma lobular in situ..

As pacientes operadas pela técnica do retalho bilobulado foram distribuídas de acordo com a classificação das MCFs antes da cirurgia. Em 13 (43,3%) as MCFs tinham características de malignidade antes da cirurgia, em cinco (16,7%) as características eram de benignidade e em 12 (40,0%) não havia MCFs (TAB. 7).

TABELA 7

Distribuição das pacientes operadas com a técnica do retalho bilobulado, de acordo com a classificação das microcalcificações antes da cirurgia

Microcalcificações Nº pacientes %

Benignas 5 16,7

Malignas 13 43,3

Ausentes 12 40,0

Total 30 (100%) 30 (100%)

Quanto à presença de MCF no pré-operatório e sua relação com os achados anatomopatológicos, a distribuição das pacientes mostrou que, após o tratamento conservador, nove (69,7%) casos de MCF com aspecto de malignidade apresentaram achados anatomopatológicos de CDI da mama. Em dois o CDI

estava associado ao CDIS; em outro encontrou-se CLI puro e, em outro, o CDI e o CLI estavam associados (TAB. 8).

TABELA 8

Distribuição das pacientes (n=13) com microcalcificações de aspecto maligno, de acordo com os achados anatomopatológicos

Diagnóstico anatomopatológico Nº pacientes %

CDI 9 69,7

CLI 1 7,7

CDI / CLI 1 7,7

CDI / CDIS 2 15,4

Total 13 100

A distribuição das pacientes que exibiam MCF de aspecto maligno antes da cirurgia conservadora pela técnica do retalho bilobulado e sua característica após a cirurgia mostrou que em apenas uma (3,3%) surgiram MCFs após a realização da cirurgia e o seu aspecto foi de microcalcificação benigna, pela sua característica grosseira (QUADRO 2).

QUADRO 2

Distribuição e características das microcalcificações malignas (n=13) antes e após a cirurgia do retalho bilobulado

Antes da cirurgia Após a cirurgia

Paciente Localização Características Localização Características

CRP QSI Agrupadas Ausentes Ausentes

EMR QSE-SÍTIO Agrupadas QSE-RETALHO Grosseira

CNP QSI-SÍTIO Agrupadas Ausentes Ausentes

SMCM QSI Agrupadas Ausentes Ausentes

MLS QSE-QSI Agrupadas Ausentes Ausentes

RFMPS QSE-QSI Agrupadas Ausentes Ausentes

IAE QSE-QSI Agrupadas Ausentes Ausentes

MCVL QSE-SÍTIO Agrupadas Ausentes Ausentes

MAMC QSE-QSI Agrupadas Ausentes Ausentes

MSCC QSE Agrupadas Ausentes Ausentes

MACD QSI Agrupadas Ausentes Ausentes

KSO QSE-QSI SÍTIO Agrupadas Ausentes Ausentes

MA QSE Agrupadas Ausentes Ausentes

Verificou-se, na distribuição das pacientes operadas com a técnica RBL, de acordo com a presença de MCF na mama operada antes e após a cirurgia, que 18 apresentaram MCFs no pré-operatório e oito no pós-operatório. Comparando- se a prevalência de MCF antes e após a cirurgia, observou-se que antes era de 60,0% e, depois, de 8/30, ou seja, 26,7% (TAB. 9).

TABELA 9

Distribuição das pacientes operadas com a técnica do retalho bilobulado, de acordo com a presença de microcalcificações na mama

operada antes e após a cirurgia

Microcalcificações Mama operada antes da cirurgia (%) Mama operada depois da cirurgia (%) Presentes 18 (60,0%) 8 (26,7%) Ausentes 12 (40,0%) 22 (73,3%) Total 30 (100%) 30 (100%)

As pacientes com MCFs na mama operada após a cirurgia foram distribuídas em relação à sua situação antes da cirurgia. Do total, oito apresentaram MCF com aspecto de benignidade. Em uma, as MCFs malignas no pré-operatório apresentaram aspecto de benignidade no pós-operatório. Três que não exibiam MCFs no pré-operatório passaram a tê-las no pós-operatório, mas de aspecto benigno. Dessa forma, considerando-se que 12 não tinham MCFs, pode-se inferir que a incidência após a cirurgia foi de 25,0% (três em 12). Em uma delas houve diminuição no número das MCFs (paciente assinalada) - (QUADRO 3).

QUADRO 3

Distribuição das pacientes com microcalcificações na mama operada após a cirurgia (n=8), em relação à situação antes da cirurgia

Paciente Antes da cirurgia Depois da cirurgia

EMR Malignas Benignas

MBGL Benignas Benignas

MGA Ausentes Benignas

RSS Ausentes Benignas

SMCM Benignas Benignas

WCGS* Benignas Benignas

MLMF Ausentes Benignas

ESF Benignas Benignas

* Paciente na qual as MCFs diminuíram em relação ao pré-operatório.

Quanto às pacientes operadas com a técnica do retalho bilobulado, de acordo com a presença de MCF na mama operada após a cirurgia e na mama oposta antes e após a cirurgia observou-se que a prevalência de MCF foi de 26,7% (n=8), com intervalo de confiança (IC) 95%, de 12,3 a 45,9. Na mama oposta, a prevalência foi de 36,7% (n=11), com IC 95%, de 19,9 a 56,1 (TAB. 10). Dessa forma, a diferença entre a prevalência de MCF na mama operada e na mama oposta não foi estatisticamente significativa (teste do x2 pareado de Mcnemar).

É importante ressaltar que a prevalência de 36,7% de início na mama oposta foi observada também antes da cirurgia e não houve alteração quanto à presença de MCF em nenhuma das pacientes.

TABELA 10

Distribuição das pacientes operadas com a técnica do retalho bilobulado, de acordo com a presença de microcalcificações na mama operada e mama oposta

após a cirurgia Mama operada após a cirurgia Mama oposta após a cirurgia MCFs Nº % (IC 95%) Nº % (IC 95%) Presentes 8 26,7(12,3-45,9) 11 36,7(19,9- 56,1)* Ausentes 22 73,3(54,1-87,7) 19 63,3(43,8-80,1) Total 30 100% 30 100%

*Diferença entre proporções não significativas (teste x2 pareado de McNemar: x2=0,36-n.s.)

Entre as 30 pacientes da amostra, três foram submetidas a tratamento quimioterápico neoadjuvante com o objetivo de reduzir-se o tumor e propiciar a realização de cirurgia conservadora. Em apenas uma delas observou-se a presença de MCFs em ambas as mamas no pré e no pós-operatório, sem mudanças objetivas de suas características.

Em nenhuma das pacientes foi observada a presença de microcalcificações agrupadas após a realização do retalho bilobulado. Vale ressaltar que este achado foi estatisticamente significativo (p= 0,0002) – (QUADRO 4).

QUADRO 4

Distribuição da presença de microcalcificações agrupadas antes e após a cirurgia

MCF agrupadas Pré-op Pós-op

Ausentes 17 30

Presentes 13 0

6 DISCUSSÃO

A incidência do carcinoma de mama na mulher acima dos 65 anos deve aumentar aproximadamente 30% na próxima década, caso as taxas de crescimento populacional nessa faixa sigam as tendências atuais (HANNOUN-LEVI et al. 2003). Em contrapartida, houve redução de 24% na mortalidade de mulheres entre 40 e 49 anos e de 30% naquelas acima de 50 anos, o que coincide com o acesso ao rastreamento. Os dados disponíveis revelaram, ainda, aumento da incidência em pacientes com menos de 55 anos e mais de 65 anos (SHAPIRO, 1994).

Segundo Robles e Galanis (2002), o carcinoma de mama atinge mulheres numa faixa etária bastante ampla: da fase adulta jovem até a senectude. Quanto a essa característica, Dershaw et al. (1990) classificaram as pacientes que foram submetidas à cirurgia conservadora de carcinoma de mama em dois grupos: a) com lesões benignas; b) com lesões malignas. A idade no primeiro grupo variou de 32 a 88 anos, com mediana de 55 anos. No segundo grupo, as pacientes encontravam-se na faixa etária entre 35 e 74 anos, com mediana de 50 anos. Hassel et al. (1990) encontraram, em seu estudo, que a mediana da idade foi de 53 anos, com intervalo de 22-84 anos na sua amostra, coincidindo com os resultados do presente estudo, cuja mediana foi de 53,5 anos e a idade variou de 29 a 78 anos.

Neste estudo, 17 casos (56,6%) apresentaram associação do tumor com MCFs, semelhantemente ao descrito por Veronesi et al. (1995). Os resultados

observados por Stomper et al. (1989); Orell et al. (1992) mostraram-se diferentes, com taxa mais baixa, sendo que a associação foi descrita em 29% dos casos.

O diagnóstico diferencial das MCFs no sítio cirúrgico inclui as promovidas pela sutura, necrose tecidual, necrose gordurosa e a recorrência do câncer. As microcalcificações são importantes marcadores da presença de um novo carcinoma ou recorrência após cirurgia conservadora e acontecem em 43% dos casos que se manifestam por MCFs apenas (DAVIS et al., 1989; KRISHNAMURTHY et al., 1999).

Quanto à presença de MCF com aspecto de malignidade sem presença de tumor, encontrou-se apenas um caso na amostra estudada (3,3% dos casos), divergindo fortemente dos resultados de Gülsen; Demirkazik; Ariyürek (2003), que evidenciaram taxa de 30 a 50%. Sakorafas e Farley (2003) referenciaram que as MCFs estiveram presentes em 35% dos seus casos. Davis et al. (1989) realizaram suas experiências com a avaliação de MCFs em pacientes submetidas à cirurgia conservadora para o carcinoma de mama, salientando que as imagens mimetizavam MCFs malignas e, por isso, levaram a biópsias desnecessárias.

Dershaw et al. (1990) registraram 29 reincisões no sítio da setorectomia devidas à presença de alterações suspeitas de recidiva local em 28 mulheres submetidas à cirurgia conservadora por carcinoma de mama. Os resultados anatomopatológicos das biópsias realizadas mostraram 19 casos de lesões benignas e 10 de alterações malignas. Dessas últimas, em quatro (40%) havia associação com MCF. Em outra série, Dershaw; McCormick; Osborne (1992)

encontraram 42% de recorrências locais diagnosticadas exclusivamente pela mamografia. Orell et al. (1992), em consonância com Dershaw; McCormick; Osborne (1992), utilizando exclusivamente a mamografia, encontraram 34% de recorrência local.

A presença de MCFs, independentemente de serem de alta ou baixa suspeição de malignidade, é o sinal mais freqüente de recorrência tumoral em pacientes tratadas com cirurgia conservadora. Em 10 casos (22%) de recorrência do carcinoma de mama após cirurgia conservadora, o diagnóstico foi realizado exclusivamente pela mamografia (BURRELL; SIBBERING; EVANS, 1996).

Os resultados deste trabalho não evidenciaram o surgimento de MCFs suspeitas nas 30 pacientes estudadas após a cirurgia. Vale ressaltar que esse dado vai de encontro à literatura, que mostra o surgimento de recidivas locais representadas por massas tumorais e, principalmente, por MCF, tanto no local da cirurgia como em sua proximidade. Gless et al. (1999) descreveram que a recorrência local do carcinoma de mama após cirurgia conservadora surgiu no leito tumoral ou adjacente a ele em 19 casos (59,9%). Em nove ocorrências (42,6%), a única manifestação foi a presença de MCF em mamografias de acompanhamento. Oito recorrências aconteceram fora do leito tumoral, sendo três no mesmo quadrante e cinco em quadrantes diferentes. De acordo com os resultados desses autores quanto à recorrência como CDI, 38% das mamografias de acompanhamento mostraram MCFs suspeitas. Em todas os casos em que a recorrência foi como CDIS, as mamografias mostraram MCFs suspeitas. Em quatro pacientes o aspecto morfológico das MCFs e sua distribuição foram semelhantes ao

diagnóstico do tumor primário. Em uma, as MCFs mostravam-se pleomórficas, mas de distribuição linear. Para Gülsen; Demirkazik; Ariyürek (2003), 30 a 50% das lesões não palpáveis apresentaram-se como MCFs.

Neste estudo surgiram MCFs no sítio tumoral em apenas um caso, na amostra estudada que apresentava características de benignidade, sugerindo necrose gordurosa.

A presença de um número reduzido (n=1) de MCFs no pós-operatório das pacientes que anteriormente à cirurgia (n=13) apresentaram MCFs fortemente suspeitas de malignidade chama a atenção pelo contraste com a literatura, que se refere à proporção de 26,8% (DERSHAW et al., 1990; GLESS et al, 1999). Esse achado leva a pensar que o grande descolamento do tecido mamário realizado no espaço retromamário, entre as duas fáscias anatômicas, provoca resposta inflamatória menos intensa, com diminuição conseqüente das MCFs, nesse caso benignas. Contudo, a possibilidade do uso do retalho bilobulado permite a exérese do tumor com margens seguras, pela possibilidade de rotação de extensa área do coxim localizado no espaço entre as linhas axilares, como descrito anteriormente na técnica de confecção do RBL. A ressecção ampliada seguramente diminui o risco de recidivas locais (HOLLAND et al. 1985). A execução do RBL, como descrito, consiste na retirada de segmento arredondado e amplo, sem preocupações com o seu diâmetro, já que haverá sempre tecido equivalente para reparar o volume retirado durante a cirurgia, dado este que explica a diminuição do surgimento das MCFs.

Até os dias de hoje os mastologistas deparam-se com dificuldades no acompanhamento às mulheres submetidas às técnicas conservadoras. Entre elas está a presença de MCFs (KRISHNAMURTHY et al., 1999). De acordo com esses autores, as MCFs são importantes marcadores da presença de recorrência local após cirurgia conservadora. Nesse sentido, surge a expectativa clínica de favorecer técnicas cirúrgicas que não provoquem o aparecimento de MCFs. Ressalta-se, assim, a relevância dos achados obtidos neste estudo, pois eles sugerem que o retalho bilobulado não leva ao aparecimento de calcificações com aspecto de malignidade, pois em nenhuma das pacientes da amostra houve o registro de imagem mamográfica de MCFs com essa característica.

A maioria dos casos estudados apresentou tumores de tamanhos entre 2,0 e 4,5cm, evidenciando a precocidade do diagnóstico. Esse dado é animador, visto que reproduz a realidade de países que garantem melhor cobertura e acesso ao diagnóstico precoce do carcinoma de mama (LI et al., 2003; SHAPIRO, 1994; TABAR et al. 1995). No entanto, ressaltam-se os limites, uma vez que estão ausentes informações referentes à avaliação da axila e da metástase à distância,

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