• Nenhum resultado encontrado

Democracia e participação

No documento 2011MaiteAnzilieroBrustolin (páginas 33-35)

2 PENSANDO CONCEITUALMENTE A GESTÃO DEMOCRÁTICA

2.5 Democracia e participação

"A democracia surgiu quando, devido ao fato de que todos são iguais em certo sentido, acreditou-se que todos fossem absolutamente iguais entre si." Nos últimos anos, tem-se discutido muito sobre democracia e participação no contexto educacional, pois quando articulados são responsáveis por uma atmosfera democrática na escola. Realizar uma gestão democrática significa acreditar que na atuação coletiva há mais chances de encontrar caminhos para atender às expectativas da sociedade a respeito da atuação da escola. Assim é possível estabelecer relações mais flexíveis e menos autoritárias entre educadores e os demais sujeitos que fazem parte do universo escolar.

Democracia e participação são dois termos inseparáveis, à medida que um conceito remete ao outro. Heloísa Luck (2008, p. 54) diz que essa reciprocidade nem sempre ocorre na prática educacional. Isso porque, embora a democracia seja irrealizável sem participação, é possível observar a ocorrência de participação sem espírito democrático. Neste caso, o que se teria é um significado limitado e incompleto de participação.

Nas palavras de Lakatos:

Democracia é a filosofia ou sistema social que sustenta que o indivíduo, apenas pela sua qualidade de pessoa humana, e sem consideração às qualidades, posição, status, raça, religião, ideologia ou patrimônio, deve participar dos assuntos da comunidade e exercer nela a direção que proporcionalmente lhe corresponde. (1999, p. 43).

A ideia de educação deve estar intimamente ligada aos conceitos de liberdade, democracia e cidadania. A educação não pode preparar para a democracia ou formar para uma sociedade democrática se ela não for também democrática. Não se consegue, como educando

ou educador, fazer democracia sem um enfrentamento do próprio autoritarismo, isto é, sem a coordenação de uma autoridade de um educador. Quando se instala a gestão democrática, as respostas adequadas para lidar com pessoas diferentes e ideias divergentes surgem no cotidiano. Só se aprende a participar, participando. Na busca de soluções, combinam-se as contribuições e fortalece-se a interação do grupo, aprende-se a respeitar e expandir limites, a buscar alianças e parcerias.

Bobbio (2002, p. 41) afirma que:

a democracia não se refere só à ordem do poder público do Estado, mas deve existir em todas as relações sociais, econômicas, políticas e culturais. Começa na relação interindividual, passa pela família, a escola e culmina no Estado. Uma sociedade democrática é aquela que vai conseguindo democratizar todas as suas instituições e práticas.

A democracia se expressa como condição fundamental para que a organização escolar se traduza em um coletivo atuante, sendo sua característica a expressão de iniciativas autônomas por seus membros coletivamente organizados, mediante organização e controle internos de seus processos e uma transparência de seus atos sociais, sobre os quais presta contas para a sociedade.

Porém, não é nada fácil agir democraticamente, pois é preciso saber respeitar ao outro como sujeito, como ser humano, considerar suas diferenças individuais para aprimorar e enriquecer o processo coletivo como um valor. “Isso porque democracia pressupõe muito mais que tomar decisões: envolve a consciência de construção do conjunto da unidade social e de seu processo de melhoria contínua como um todo” (LUCK, 2008, p. 57).

A condição fundamental para a construção da realidade e do conhecimento é a ação o que promoverá uma educação democrática de modo a oferecer a todos que fazem parte da organização escolar a oportunidade de participação como condição não apenas de construir a realidade social pedagógica, mas de criar seu próprio conhecimento sobre esse processo. Mas, para tanto, é necessário que haja receptividade sobre os fatos e dados da realidade para construir conhecimento significativo e inspirador para a promoção de avanços educacionais.

Os processos sociais participativos promovidos na escola constituem-se em campo fértil e rico de construção de conhecimento social. É a oportunidade de se desenvolver, de maneira integrada, conhecimentos sobre o processo humano socialmente organizado de maneira significativa para explicar as práticas escolares e orientar seus processos de maneira mais fundamentada.

A natureza humana, em sua condição básica, tem necessidade de ser ativa em associação com seus semelhantes, de maneira a desenvolver seu potencial. Então, o ser humano torna-se uma pessoa e desenvolve sua humanidade na medida em que, pela atuação social, coletivamente compartilhada, canaliza e desenvolve seu potencial, da mesma maneira que contribui para o desenvolvimento da cultura do grupo em que vive, com o qual interage e depende para construir sua identidade pessoal.

Cabe, então, ressaltar que:

“a participação democrática promove a superação da simples necessidade de associação humana, que pode ser orientada por um sentido individualista e oportunista, mediante distorção ou incompletude da formação humana para uma necessidade de integração do ser humano na sociedade, de se sentir parte dela e por ela responsável, de harmonizar e coordenar esforços do grupo, com a finalidade de realizar um trabalho mais efetivo, contribuindo para o bem de todos” (LUCK, 2008, p. 62).

A escola que promove processos de participação transforma-se numa oficina de democracia e torna seus concernidos mais conscientes do seu papel social, construindo uma instituição verdadeiramente educacional, competente e associada à construção da prática dos deveres sociais para conquistar os seus direitos. Enfim, pelo envolvimento das escolas nas decisões do sistema de ensino serão fortalecidas e mais bem comprometidas as práticas educacionais, resultando numa maior efetividade do sistema como um todo.

A participação é o principal meio de se assegurar a gestão democrática da escola, possibilitando o envolvimento de profissionais e de toda a comunidade escolar. Contudo este assunto possui altos e baixos por não ser reconhecido e dado o devido valor, já que o diálogo e a participação seriam meios possíveis para edificar uma escola democrática.

Novamente afirma-se que a escola é a instituição encarregada de ensinar, o que significa viver democraticamente, e isso somente acontece vivendo democraticamente e sendo regida por critérios de igualdade, de liberdade, de participação e de justiça.

No documento 2011MaiteAnzilieroBrustolin (páginas 33-35)