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Gratuidade 60 

No documento 2011MaiteAnzilieroBrustolin (páginas 60-63)

3 GESTÃO DEMOCRÁTICA NAS LEGISLAÇÕES: CONSTITUIÇÃO

3.2 Valores articulados para uma gestão democrática presentes na LDB

3.2.5 Gratuidade 60 

A gratuidade é princípio essencial no campo educacional e destaca-se como principal eixo das reivindicações populares para o acesso e permanência na escola pública, mas ao mesmo tempo nos remete a inúmeras outras questões relacionadas ao pleno exercício da cidadania, onde ficam evidente questões de caráter contraditório e paradoxal numa sociedade capitalista como a que vivemos.

Como princípio constitucional, a gratuidade do ensino público deve perpassar todas as instâncias de ensino e deve ser considerada mesmo quando não está explícita no texto legal. Este princípio está presente de forma especial na Constituição Federal de 1988 e se manifesta diferentemente dos textos constitucionais antecedentes. Segundo Castro (1998), em todas elas apenas o antigo primário realizado em escolas públicas era gratuito. A Constituição de 1937 (BRASIL, 1937) permitia uma “contribuição módica e mensal para a caixa escolar” (art. 130), ressalvada a impossibilidade de contribuição. As Constituições de 1824, 1891 e 1934 se omitiram sobre os níveis posteriores, o que permitiu a cobrança. A Carta de 1934 (BRASIL, 1934) instituiu a “tendência à gratuidade do ensino educativo ulterior ao primário, a fim de o tornar mais acessível” (art. 150, parágrafo único). As Constituições de 1946 e de 1967 determinavam a gratuidade em estudos posteriores ao primário para quem provasse falta ou insuficiência de recursos, exigindo, entretanto, o “efetivo aproveitamento”.

Evidencia-se que a tendência à gratuidade não é ideia nova e, mesmo assim, ainda suscita discussões até os dias atuais. No entanto, essa não é uma tendência em nível de Brasil, pois a Declaração Universal dos Direitos Humanos (NAÇÕES UNIDAS, 1978), de 10 de dezembro de 1948, da qual o Brasil faz parte, já indicava esta tendência em seu artigo 26:

1-Toda a pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais . A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito.

2-A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreeensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.

3- Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos.

Conforme os artigos 205 e 227 (educação é direito de todos e dever do Estado e da Família), devendo ser oferecida de acordo com os princípios apresentados no artigo 206. Contudo, há clareza e compreensão para com este princípio constitucional e suas consequências? Como é dinamizado com a comunidade escolar o princípio da gratuidade, já que é um direito de todos, mas a realidade estrutural das instituições muitas vezes é precária?

A educação é direito de todos e está prevista em lei, mas é importante lembrar que o direito à educação pública e gratuita foi paulatinamente ampliado entre os anos 70 e 80, pois até então estava atrelado à obrigação de oferta restrita a 4 anos de escolaridade. A partir da década de 70 que o direito à educação foi ampliado para 8 anos de escolaridade, entretanto,

com o limite de idade, ou seja a obrigação era oferecer educação pública e gratuita aos indivíduos entre 7 e 14 anos. Ocorre então a crise educacional, e a questão começa a aparecer como um problema de ineficiência das redes públicas, que não conseguem cumprir com seus objetivos, tampouco com os recursos de que dispõem, surgindo um novo paradigma para as mudanças na gestão da educação pública.

O caráter público da educação escolar só tem sentido quando a gratuidade é plenamente estabelecida em perspectiva universalista, ou seja, para todos e todas. Entende-se que as escolas públicas são as escolas do povo, instituições destinadas ao povo, ao coletivo, ao uso de todos, pobres, ricos, negros, brancos, sem qualquer forma de discriminação ou preconceito, mantidas pelo poder público, isto é, pelo poder do povo e sendo um direito social conquistado e adquirido.

Historicamente, não é possível falar em gestão democrática sem considerar que o Estado seja provedor, buscar pelo direito à educação e o dever de educar devendo ser insistente para aprimorar cada vez mais os padrões de qualidade paralelo à luta pela gratuidade não somente do “ensino”, mas sobretudo da importância da qualidade do professor para a qualidade da aprendizagem dos alunos.

Preocupado com as questões da participação na gestão escolar é que Catani e Gutierrez, no capítulo sobre Participação e Gestão Escolar: conceitos e potencialidades, dizem:

em gestão participativa no âmbito da escola pública estamos nos referindo a uma relação entre desiguais onde vamos encontrar uma escola sabidamente desaparelhada do ponto de vista financeiro para enfrentar os crescentes desafios que se apresentam e, também, uma comunidade não muito preparada para prática da gestão participativa da escola, assim como do próprio exercício da cidadania em sua expressão mais prosaica ( 2000, p. 69).

Na gestão democrática deve haver compreensão e aceitação do princípio de que a educação é um processo de emancipação humana e que deve ser elaborado através de construção coletiva do Projeto Político-Pedagógico para garantir o conhecimento e o sucesso da sua execução. Este é o desafio que a participação e o diálogo entre seus pares é que tornarão o fim melhor que o começo.

Isso significa que, quando se diz que o ensino é gratuito, na verdade, é que todos nós pagamos pelo sistema educacional através de nossos impostos e com isto a escola pública não pode em qualquer um de seus níveis resistir à ideia de prestar conta à sociedade de sua

eficiência e de sua efetividade. E fica mais uma vez a certeza: ninguém poderá ser impedido de frequentar a escola pública por não poder pagar qualquer que seja a despesa, e também não há impedimento legal para a existência de caixas escolares ou outros mecanismos que se proponham a arrecadar recursos para a instituição escolar pública, ficando vedada a contribuição compulsória em escola pública.

No documento 2011MaiteAnzilieroBrustolin (páginas 60-63)