Em 1999, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) (www.cvm.org.br),
apresentou junto ao Poder Legislativo Federal, a proposição de alteração da Lei n.º
6.404/76. Dentre as novidades constantes no referido anteprojeto, está a
obrigatoriedade de divulgação da demonstração do valor adicionado.
Conforme Pacheco (1996, p.58), “atualmente, verifica-se que há uma
tendência, nas grandes empresas, de utilizar o valor agregado como medida de
geração de riqueza, em substituição ao conceito tradicional de comparar receitas e
despesas para identificar o seu lucro.” Athar (1999, p.54) diz que:
a DVA é uma demonstração surgida na Europa e que tem sido cada vez mais solicitada em nível internacional. É um tipo de relatório contábil que apresenta informações de natureza econômica, indicando como foi criada riqueza pela empresa e quais fatores contribuíram para essa criação (...) A DVA, integra o que se convencionou chamar de Balanço social, o qual apresenta um conjunto de informações que inclui, entre outras, as relações
profissionais, a evolução do emprego, as condições de higiene e segurança etc.
Cabe ressaltar que a proposta da CVM (www.cvm.org.br), inserida na revisão
da Lei das S.A prevê a obrigação da demonstração do valor adicionado (DVA), e,
desta forma, avança, do ponto de vista técnico, de qualidade e do significado da
informação divulgada.
Muitas empresas já publicam o seu balanço social incluindo a DVA. De
acordo com a IOB (1999), o balanço social deve trazer não só a demonstração do
valor adicionado, mas também todos os outros tipos de informação objeto da
contabilidade social.
Sob uma abordagem mais ampla, a contabilidade utiliza a demonstração do
valor adicionado, para identificar e divulgar quanto a atividade da empresa gera de
recursos adicionais para a economia local, como e para quem os distribui.
Tinoco (2001) ressalta que uma das formas que ampliam a capacidade de se
analisar o desempenho econômico e social das organizações é pelo valor
econômico que é agregado aos bens e serviços adquiridos de terceiros, valor este
denominado de valor adicionado (valor total da produção de bens e serviços de
determinado período, menos o custo dos recursos adquiridos de terceiros,
necessários a essa produção), bem como a forma pela qual este está sendo
distribuído entre os diferentes grupos sociais que interagem com suas atividades.
Enquanto a demonstração de resultado procura determinar a parcela da
riqueza (lucro) que cabe à empresa e seus acionistas, a demonstração de valor
adicionado procura mensurar o total de riqueza criada e de que forma essa riqueza
está sendo distribuída. Usualmente, o valor adicionado é calculado pela simples
Constituí-se da receita de venda deduzido dos custos dos recursos adquiridos de
terceiros, como: matéria-prima, mercadorias para revenda, serviços de terceiros,
energia elétrica, enfim, todos os insumos adquiridos de terceiros e consumidos
durante o processo operacional.
O conceito de valor adicionado bruto é representado pelo que a empresa
adicionou aos insumos/serviços adquiridos de terceiros para chegar ao seu
produto/serviço final. Corresponde, portanto, à riqueza gerada. Segundo Tinoco
(1984, p.38), o valor adicionado bruto (ou agregado) – VAB significa que para
exercer sua atividade toda empresa deve procurar no mercado bens e serviços. Ela
utiliza os equipamentos, seus capitais, o trabalho de seus assalariados, para
produzir outros bens e serviços que depois serão vendidos.
Contudo, a empresa utiliza-se também de instalações, máquinas,
equipamentos e outros ativos, fazendo com que o potencial de uso destes diminua.
Tal redução de potencial de uso, na Contabilidade, é refletida pela depreciação ou
exaustão. Como há o consumo destes ativos para a geração da riqueza, seu valor
deve ser deduzido do valor adicionado bruto, conduzindo ao valor adicionado
líquido, o qual demonstra a efetiva contribuição da empresa para a economia local.
Há ainda que se mencionar os valores recebidos de outras empresas sem
sacrifícios operacionais, como o caso do resultado de participações societárias.
Tinoco (1984) ressalta que a investidora realizou em algum momento passado, e nos
períodos posteriores apenas receberá os frutos desta aplicação, sem qualquer
esforço, pelo menos em princípio. O mesmo acontece com as receitas financeiras.
Não há esforço da investidora, ela apenas aplica seus recursos no mercado e,
Assim, o valor adicionado líquido, somado às receitas recebidas em
transferência, demonstrará o total dos recursos distribuídos. Quanto à distribuição,
deve ser evidenciado o montante destinado à própria empresa (lucro líquido), ao
corpo funcional (salários e benefícios em geral), ao governo (sob a forma de
impostos, inclusive os encargos sociais) e à comunidade (investimentos sociais e
meio ambiente).
A análise da distribuição do valor adicionado identifica a contribuição da
empresa para a sociedade e os setores por ela priorizados. Este tipo de informação
serve para avaliar a performance da empresa no seu contexto local, sua
participação no desenvolvimento regional e estimular ou não a continuidade de
subsídios e incentivos governamentais. Neste sentido, Pacheco (1996, p. 63) afirma
que:
verifica-se que enquanto a contabilidade torna-se mais e mais ativa e explicitamente reconhecida como um instrumento de gerenciamento social e de mudanças, o relatório sobre o valor agregado e/ou adicionado irá se constituir num exemplo do entrelaçamento da contabilidade e do social, porque, diferentemente dos relatórios convencionais, eles revelam algo sobre o caráter social da empresa.
Justificando-se, assim, a relevância da contabilidade para a organização e a
sociedade em geral. Sobre os benefícios de apresentar a demonstração do valor
adicionado Santos (apud TINOCO, 2001, p.66) destaca que:
Há muitas vantagens em se apresentar a demonstração do valor adicionado de uma empresa multinacional em um país que a hospeda. As vantagens apoiam-se no fato de que essa demonstração oferece à empresa multinacional a oportunidade de apresentar sua contribuição a esse país. A empresa multinacional pode utilizar essa demonstração para estabelecer o interesse da comunidade e de seus legisladores num país qualquer. Isso daria à empresa a oportunidade para formação de goodwil , expansão do mercado, redução de conflitos com o governo local e outros grupos da sociedade, e evitaria diversos desgastes políticos. Como
conseqüência disso a empresa provavelmente alcançaria maior crescimento e estabilidade de seus lucros.
A elaboração e divulgação da demonstração do valor adicionado pelas
empresas, não só das multinacionais, em muito enriqueceria a informação contábil
econômico-financeira e social. Ela é de importância vital para todos que se dedicam
à atividade de analisar demonstrações contábeis das organizações, bem como aos
usuários dessas informações.
Um modelo de demonstração do valor adicionado é apresentado pela
FIPECAFI (1994, p. 24), conforme identificado no quadro 4.
EMPRESA
DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO DO EXERCÍCIO DE 2000
Em milhares de Reais DESCRIÇÃO
Lei S.A Moeda constante 1 RECEITAS
1.1) Vendas de mercadorias, produtos e serviços
1.2) Provisão p/ devedores duvidosos Reversão/constituição 1.3) Não operacionais
2. INSUMOS ADQUIRIDOS DE TERCEIROS (INCLUI OS VALORES DOS IMPOSTOS – ICMS E IPI)
2.1) Matérias-primas consumidas
2.2) Custo das mercadorias e serviços vendidos 2.3) Matérias, energia, serviços de terceiros e outros 2.4) Perda/ Recuperação de valores ativos
3. VALOR ADICIONADO BRUTO (1-2) 4. RETENÇÕES
4.1) Depreciação, amortização e exaustão
5. VALOR ADICIONADO LÍQUIDO PRODUZIDO PELA ENTIDADE (3-4)
6. VALOR ADICIONADO RECEBIDO EM TRANSFERÊNCIA
6.1) Resultado de equivalência patrimonial
6.2) Receitas financeiras
7. VALOR ADICIONADO TOTAL A DISTRIBUIR (5+6) 8. DISTRIBUIÇÃO DO VALOR ADICIONADO*
8.2) Impostos, taxas e contribuições 8.3) Juros e aluguéis
8.4) Juros s/ capital próprio e dividendos 8.5) Lucros retidos / prejuízos do exercício
* O total do item 8 deve ser exatamente igual ao do item 7
Quadro 4 - Modelo de demonstração do valor adicionado
Fonte: FIPECAFI (1994, p. 24).
Destaca-se que, a partir do momento que se entende a DVA como um
demonstrativo da riqueza que foi conseguido pela empresa, a sociedade começa a
ver os benefícios dessa riqueza que reverte em seu favor. Daí, a importância da
DVA como componente do balanço social e como o próprio nome já diz, como
demonstração. Contudo, este tipo de informação, por sua importância estratégica,
deve fazer parte do sistema de informação e de gestão das organizações.
O desafio dos tempos atuais é o exercício pleno da cidadania. Assim, o papel
da chamada empresa cidadã, nesse desafio, entra, não somente destinando
voluntariamente, parte de seu lucro para uma fundação, mas ficando mais perto da
realidade em que está inserida. Cada novo emprego pode tirar alguém da
marginalidade, dando espaço à criação de outros empregos. As empresas estão
reconhecendo cada vez mais a importância de seu papel social. Assim como os
resultados econômicos, esse desempenho também pode ser colocado no seu
planejamento e controle empresarial.
A incorporação dos aspectos sociais nas decisões e ações estratégicas das
empresas e empreendimentos econômicos globalizados ou não, é uma opção cada
Neste sentido, destaca-se que as instituições financeiras vêm demonstrando
maturidade no que se refere ao seu papel social. O sistema financeiro vem
realizando grandes investimentos para ampliar as facilidades de acesso para
clientes e usuários de seus serviços.
Cada instituição, de forma particular, investe em projetos culturais, privilegia a
cultura brasileira, patrocina esportes, visando construir uma sociedade mais humana
e justa. Neste sentido, o capítulo seguinte traz alguns aspectos sobre a organização
das informações do balanço social em uma instituição financeira, particularmente do
Banco do Brasil S/A, sendo que, inicialmente procede-se à contextualização do
3 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DA ORGANIZAÇÃO DAS INFORMAÇÕES DO BALANÇO SOCIAL NO BANCO DO BRASIL
Neste capítulo faz-se a descrição e análise da organização das informações
do balanço social no Banco do Brasil. Inicialmente, faz-se necessário proceder-se à
apresentação de alguns aspectos relacionados ao sistema financeiro nacional, em
seguida caracteriza-se a organização foco de estudo de caso. Na seqüência,
evidencia-se a organização das informações do balanço social do Banco do Brasil,
a utilização do balanço social na gestão do Banco do Brasil e finaliza-se com a
apresentação quanto aos aspectos do balanço social no Banco do Brasil.