4.5 Teorema da ´ Area
4.5.1 Demonstra¸c˜ao do Teorema da ´ Area dos Buracos Negros
RabKakb ≥ 0 para todo ka nulo. Sejam 1 e 2 superf´ıcies de Cauchy do tipo espa-
cial para a regi˜ao globalmente hiperb´olica ˜V com
2 ⊂ I+(
1) e seja H1 = H ∩
1,
H2 = H ∩2, aqui H denota o horizonte de eventos H2 ≥ H1 [34].
Prova: Teorema da ´Area
Estabelecendo-se primeiramente a expans˜ao ε de geradores de geod´esicas nulas de H. Seja
uma superf´ıcie de Cauchy do tipo espacial para ˜V passando por p e considerando as 2-superf´ıcies H = H ∩ . Sendo ε < 0 em p, pode-se deformar para
Figura 4.5: Ilustra¸c˜ao da forma¸c˜ao de um buraco Negro de colapso gravitacional esfericamente sim´etrico - diagrama de Finkelstein [25], [41], [58].
al´em em uma vizinhan¸ca em p para se observar uma superf´ıcie H′ sobre com entradas
J−
(I+) e que ε < 0 em toda parte de J−
(I+). Isso leva a uma contradi¸c˜ao. Seja
K ⊂ uma regi˜ao fechada entre H e H′
e seja q ǫ I+ com q ǫ J+(K). Ent˜ao, o gerador
de geod´esica nula de J+(K) ´e aquele sobre o qual q deve encontrar H′ ortogonalmente e
ent˜ao, ε ≥ 0 em todo H.
Um dado p ǫ H1 est´a sobre a geod´esica nula futura enextens´ıvel γ que est´a contido
em H. Sendo
2 uma superf´ıcie de Cauchy γ deve intersectar
2 no ponto q ǫ H2.
Ent˜ao, obtem-se um mapa natural em H2.
Sendo ε ≥ 0, a ´area da por¸c˜ao de H2 dada pela imagem de H1 sobre este mapa,
deve ser ao menos t˜ao grande quanto a ´area de H1. Adicionalmente, sendo o mapa n˜ao
necessariamente sobrejetivo, poder-se-˜ao formar novos buracos negros entre
1 e
2 e a
´area de H2 n˜ao ser´a menor que H1, como pode ser visualizado na figura 4.6.
Nesta sec¸c˜ao foram estabelecidas conex˜oes entre a f´ısica dos buracos negros e a termodinˆamica, atentando para eventuais semelhan¸cas e diferen¸cas entre ramos aparente- mente bem distintos da f´ısica moderna [34].
Tais propriedades, foram inicialmente verificadas e estabelecidas na d´ecada de 1970, gra¸cas aos trabalhos de S. Hawking e Jacob D. Bekenstein, entre outros, e a profundadas nos anos seguintes [34].
No desenvolvimento do cap´ıtulo, inicialmente procurou-se estabelecer a emiss˜ao de radia¸c˜ao com espectro t´ermico por buracos negros em geral, incluindo os buracos negros de Schwarzschild. Em seguida, foram correlacionadas as leis termodinˆamicas cl´assicas
Figura 4.6: Diagrama de Finkelstein ilustrando a colis˜ao de dois buracos negros [58].
com processos envolvendo buracos negros.
Findo o estabelecimento das propriedades gerais, pode-se enfim derivar a termodi- nˆamica destes buracos, relacionando-se entropia e ´area, a fim de se obter express˜oes para a temperatura de corpo negro dos mesmos. Com a temperatura, pode-se ainda estudar as capacidades t´ermicas, reveladoras de propriedades t´ıpicas de buracos negros, ou seja, n˜ao compartilhadas por sistemas cl´assicos [34].
Quanto `a descri¸c˜ao da Hip´otese da Censura C´osmica, esta oculta a presen¸ca do horizonte de eventos, descreve o que ocorre nas cercanias da singularidade e possui um importante papel, pois desta forma n˜ao h´a necessidade de se preocupar com o que acon- tece pr´oximo `a singularidade. Nesse contexto, Roger Penrose em 1969 [40], introduziu a chamada Conjectura da Censura C´osmica, onde afirma que toda singularidade formada a partir de um colapso gravitacional deve obrigatoriamente apresentar um horizonte de eventos que a oculte dos observadores externos, n˜ao obstante, existem ainda v´arias ev- idˆencias favor´aveis por´em, esta conjectura ainda n˜ao foi provada [7].
Tornou-se poss´ıvel por interm´edio da analogia entre a termodinˆamica e a dinˆamica dos buracos negros, interpretar conceitos que s˜ao caracter´ısticos da f´ısica dos buracos negros, como seu calor espec´ıfico negativo e o Teorema da ´Area. Tendo como ponto de partida esses estudos pode-se explorar novos modelos de buracos negros e ser´a um prel´udio para o pr´oximo cap´ıtulo.
Cap´ıtulo 5
Aspectos quˆanticos dos buracos
negros
De acordo com Bekenstein [47], uma imediata consequˆencia dos teoremas de uni- cidade ´e a grande quantidade de informa¸c˜ao perdida ap´os o total colapso gravitacional. Assim, como discorrido anteriormente, de acordo com o teorema da ausˆencia de cabelos, embora um buraco negro seja caracterizado por sua massa, momento angular e carga el´etrica, sua origem prov´em de algum material composto seguramente por um grande n´umero de configura¸c˜oes [6]. Por n´umero de configura¸c˜oes, fazer-se referˆencia ao n´umero de microestados de todas as poss´ıveis estruturas no interior do objeto em quest˜ao. Evi- dentemente, se os efeitos quˆanticos fossem considerados, esse n´umero de configura¸c˜oes para um buraco negro seria infinito, j´a que ele poderia ter se formado por um n´umero ar- bitrariamente grande de part´ıculas de energia arbitrariamente baixa. Assim, o conte´udo de informa¸c˜ao e, consequentemente de entropia, associado ao buraco negro deveria ser incrivelmente alto, ou mesmo ilimitado.
Assim, de acordo com Davies, considerando-se a natureza quˆantica da mat´eria, verifica-se que a entropia associada a um buraco negro deve ser finita [38, 59].
Esta verifica¸c˜ao repousa na rela¸c˜ao quˆantica entre energia e comprimento de onda, E = h/v, que restringe o tipo de part´ıcula contido no buraco negro `aquela categoria cuja energia ´e tal que seu comprimento de onda esteja compreendido no interior do buraco negro. Escolhendo o comprimento de onda de uma part´ıcula t´ıpica como sendo aproxima- damente igual ao raio de Schwarzschild, r = 2M , pode-se estimar que sua energia deve ser da ordem de h/M . Logo, o n´umero m´aximo de tais part´ıculas que estar´a na composi¸c˜ao
de um buraco negro de massa M ´e algo em torno de M2/h. Uma estimativa r´ustica para
a entropia nesse caso, conduz a
˜
S(bn)= ζ
kM2
h , (5.1)
em que, ζ ´e um parˆametro adimensional a ser determinado por meio de uma teoria quˆantica efetiva da gravita¸c˜ao, e k ´e a constante de Boltzmann. Esta express˜ao possui um limite cl´assico; a saber ˜S(bn)→ ∞ quando h → 0 [36].
O resultado obtido em (5.1) demonstra a proporcionalidade entre a entropia asso- ciada ao buraco negro e sua ´area, exatamente como indicado pela segunda lei da mecˆanica dos buracos negros. Substituindo o valor da ´area superficial de um buraco negro de Sch- warzschild na equa¸c˜ao (5.1), obtem-se,
˜ S(bn)= ζk 16πh A. (5.2)
Finalmente, a partir da rela¸c˜ao termodinˆamica ∂S/∂M = 1/T , deduz-se que a temperatura de um buraco negro de Schwarzschild seria dada por
˜ T(bn) = h 2ζk 1 M, (5.3)
que somente no limite cl´assico, h → 0, afirma que o buraco negro ´e completamente negro ( ˜T(bn) = 0). Utilizando o valor da gravidade superficial de um buraco negro de
Schwarzchild, k = 1/4M , a equa¸c˜ao 5.3 pode ser reescrita como
˜ T(bn) = 2h 2ζk k, (5.4)
demonstrando a porporcionalidade entre a temperatura associada ao buraco negro e sua gravidade superficial, segundo a correspondˆencia anteriormente levantada [36].
As equa¸c˜oes (5.4) e (5.2) s˜ao um vislumbre do que seria a temperatura efetiva de um buraco negro e sua respectiva entropia, segundo alguma Teoria Quˆantica da Gra- vita¸c˜ao. Contudo, o verdadeiro significado f´ısico atribu´ıdo a esses resultados foi dado por Hawking [53] em 1974, com sua descoberta do efeito t´ermico de cria¸c˜ao de part´ıculas ao redor de um buraco negro [36].
Tal descoberta se ap´oia na gravita¸c˜ao semi-cl´assica, tamb´em conhecida como Teoria Quˆantica de Campos em Espa¸cos-Tempos Curvos, em que os efeitos gravitacionais ainda
s˜ao descritos por um espa¸co-tempo cl´assico, mas os demais campos de mat´eria e radia¸c˜ao, tais como o escalar e o eletromagn´etico, s˜ao agora tratados como campos quˆanticos que se propagam neste espa¸co-tempo de fundo1 [36].
Mostrou-se neste contexto que um campo quˆantico inicialmente em qualquer estado (n˜ao singular), livre de intera¸c˜oes como outros campos e consigo mesmo, propagando-se no espa¸co-tempo de um buraco negro de Schwarzschild, emitir´a part´ıculas para o infinito com um espectro t´ıpico de um corpo aproximadamente negro [59] `a temperatura
T(bn) =
k
2π, (5.5)
denominada temperatura Hawking. Portanto, a temperatura f´ısica do buraco negro ´e realmente diferente de zero. Nas palavras de Hawking “classicamente o buraco ´e negro mas quˆanticamente ele ´e cinza” [7, 41].
Este efeito quˆantico de cria¸c˜ao de part´ıculas, radia¸c˜ao Hawking, ´e aplic´avel a todos os campos quˆanticos livres, permitindo ao buraco negro emitir para o infnito todas as esp´ecies de part´ıculas [34].
O fato de k/2π realmente representar a temperatura f´ısica de um buraco negro, fornece uma evidˆencia decisiva de que as leis da mecˆanica dos buracos negros n˜ao s˜ao meramente an´alogos das leis da termodinˆamica usual, mas antes, uma manifesta¸c˜ao das leis da termodinˆamica ordin´aria aplicadas a buracos negros. Dessa forma ´e de se esperar que
S(bn) =
A
4, (5.6)
deva representar a verdadeira entropia f´ısica de um buraco negro. Logo, ζ = 4π em ˜S(bn)
e ˜T(bn) (e α = 1/2π) [36].
Outro aspecto a ser enfatizado pelo efeito Hawking ´e que a temperatura dada pela equa¸c˜ao (5.5), ´e representada como medida por um observador pr´oximo ao infinito. Para qualquer observador seguindo uma ´orbita do campo vetorial de Killing tipo-tempo ta no
espa¸co-tempo de Schwarzschild, a temperatura localmente medida ser´a
T = T(bn)
χ , (5.7)
1Presumivelmente tal esquema seria somente uma aproxima¸c˜ao para um teoria mais profunda (ainda
a ser encontrada), na qual o espa¸co-tempo tamb´em seria quantizado. Entretanto, espera-se que esse esquema seja uma boa aproxima¸c˜ao para muitos prop´ositos, exceto nas proximidades de singularidades do espa¸co-tempo.
em que, χ =√−gu. Em outras palavras, a temperatura da radia¸c˜ao Hawking localmente medida obedece `a rela¸c˜ao de Tolman [60].
A equa¸c˜ao (5.5) mostra que, quando efeitos quˆanticos s˜ao levados em conta, um buraco negro estar´a envolto por uma “atmosfera t´ermica” gerada pela radia¸c˜ao Hawking.
5.1
Radia¸c˜ao de Hawking
Em meados da d´ecada de 1970, Stephen Hawking [25] mostrou que um buraco negro n˜ao ´e t˜ao negro assim gra¸cas `a mecˆanica quˆantica. Num campo de for¸ca muito intenso, como aquele criado pelo campo gravitacional de um buraco negro, ´e poss´ıvel a cria¸c˜ao de pares de part´ıcula e antipart´ıcula. Se um dos elementos do par cair no buraco negro, o outro ser´a lan¸cado em dire¸c˜ao oposta pela conserva¸c˜ao do momento. Isto dar´a origem a uma radia¸c˜ao de part´ıculas que parece emanar do pr´oprio buraco negro. Essa ´e a famosa radia¸c˜ao de Hawking. Portanto, o buraco negro pode emitir radia¸c˜ao e n˜ao ser´a completamente invis´ıvel gra¸cas `a esse mecanismo.
Ocorre que a energia tamb´em deve ser conservada. Como a part´ıcula emitida tem energia positiva, o seu par, que caiu no buraco negro, tem que ter energia negativa, como pode ser observado na figura 5.1. A existˆencia de part´ıculas com energia negativa, durante um intervalo de tempo muito pequeno, ´e permitido pelas rela¸c˜oes de incerteza da mecˆanica quˆantica. Como consequˆencia, al´em de emitir radia¸c˜ao, a massa do buraco negro tamb´em vai diminuindo. A relatividade restrita n˜ao faz distin¸c˜ao entre massa e energia, por isso absorver uma part´ıcula de energia negativa diminuiu a massa do buraco negro. Outra maneira de compreender a perda de massa ´e lembrar que ele est´a emitindo part´ıculas. Esse processo de perda de massa continua at´e n˜ao restar mais nada do buraco negro. Ele parece ter evaporado-se completamente, emitindo radia¸c˜ao e n˜ao deixando nada atr´as de si.
A radia¸c˜ao emitida pelo buraco negro ´e de um tipo especial chamada radia¸c˜ao t´ermica. Tal tipo de radia¸c˜ao transporta apenas informa¸c˜oes gen´ericas sobre o buraco negro, como sua massa, carga e momento angular. Se, por exemplo, um par de part´ıculas correlacionadas cair no buraco negro, a radia¸c˜ao de Hawking s´o revelar´a a massa dessas part´ıculas e a informa¸c˜ao sobre sua correla¸c˜ao estar´a irremediavelmente perdida depois do processo de evapora¸c˜ao. Isso vale para qualquer coisa que caia no buraco negro. A
Figura 5.1: Ilustra¸c˜ao onde se observa que em (A) o par forma-se e desaparece sem atravessar o horizonte, em (B) o par forma-se do lado de fora e ambas as part´ıculas atravessam o horizonte e em (C) o par forma-se do lado de fora mas apenas uma das part´ıculas atravessa o horizonte.
Informa¸c˜ao ´e perdida `a medida que o buraco negro evapora-se e n˜ao ´e poss´ıvel recuper´a-la. Por´em, a mecˆanica quˆantica n˜ao permite a existˆencia de tais processos onde haja perda de informa¸c˜ao. Isso violaria um dos preceitos b´asicos da teoria: a evolu¸c˜ao unit´aria. Este ´e o paradoxo da informa¸c˜ao do buraco negro. ´E um conflito entre a relatividade geral e a mecˆanica quˆantica [61].
A radia¸c˜ao de Hawking, tamb´em denominada radia¸c˜ao de Hawking-Bekenstein ´e uma radia¸c˜ao t´ermica com um espectro de corpo negro cuja emiss˜ao ´e prevista para buracos negros devido a efeitos quˆanticos. ´E denominada assim devido ao trabalho de Stephen Hawking, que forneceu um argumento te´orico para a sua existˆencia em 1974, e o trabalho de Jacob Bekenstein, que previu que buracos negros deveriam ter um n´umero de temperatura e entropia finito e n˜ao nulo.
O trabalho de Hawking surgiu a partir de sua visita a Moscou em 1973, onde cientis- tas sovi´eticos como Iakov, Zel’dovich e Alexander Starobinski [62, 63, 64], mostraram-lhe que consoante ao princ´ıpio da incerteza da mecˆanica quˆantica, buracos negros rotativos deveriam criar e emitir part´ıculas. O processo de radia¸c˜ao Hawking reduz a massa e a energia do buraco negro, processo que denomina-se de evapora¸c˜ao do buraco negro, per- mitindo que eles percam sua massa e energia. Os buracos negros que perdem mais mat´eria do que eles ganham por outros meios, tendem a se dissipar, encolher, e finalmente desa- parecer. Prevˆe-se que os micro buracos negros sejam maiores emissores de radia¸c˜ao do que os buracos negros mais massivos. Verteu-se a an´alise de Hawking na primeira percep¸c˜ao convincente sobre uma poss´ıvel teoria da gravita¸c˜ao quˆantica [61].