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CAPÍTULO 2: O QUE PENSO ENQUANTO FALO

2.2 Depoimentos

Em agosto deste ano quando resolvi escrever sobre esse trabalho na minha monografia de conclusão de curso, criei um questionário com onze perguntas e enviei para as dez mulheres que junto comigo, apresentaram o enquanto FALO

destas mulheres, oito responderam. O formulário era composto pelas seguintes perguntas:

1- De quem partiu o convite para participar da performance "enquanto FALO"?

2- Você já havia assistido a performance antes de apresentar? Onde? Quais as suas impressões?

3- Como foi a sua preparação e a do grupo antes da apresentação? Que tipos de exercícios foram feitos (individuais/coletivos) e quais sensações/impressões te causaram esse momento antes, durante e após a apresentação? Caso tenha participado de mais de uma apresentação, pode incluir outros relatos de experiências.

4- Na sua opinião o que o "enquanto FALO" aborda? 5- Para você o que é ser mulher?

6- Para você o que é feminismo?

7- Qual a importância da arte feminista?

8- O "enquanto FALO" foi idealizado por um homem, em sua opinião isso diminui a força da performance?

9- A lei Maria da Penha completa 12 anos, e vemos que a violência contra mulher ainda persiste. Você vê na arte uma maneira de conscientização eficiente?

10- Você já foi vítima de assédio verbal ou físico? Pode exemplificar? Não precisa citar nomes.

11- A universidade tem se preocupado com a segurança da mulher?.

Vou mostrar algumas respostas27, da maioria das perguntas feitas, para levantar questões sobre a relevância desse trabalho dentro do meu processo de formação na Universidade e como é trazer o tema do feminino pra cena. A maioria das mulheres relataram que foram convidadas por Pablo e algumas por mim. Quatro meninas não haviam assistido a performance antes de participar, três já haviam assistido, uma delas mais de uma vez e outra estava na performance desde a primeira apresentação. Sobre a preparação para a performance, segue o relato de uma delas na integra:

“Me recordo que antes da performance nós nos arrumamos juntas, escolhemos a roupa que mais deixava cada uma bem, fizemos

27

Por uma questão ética optei por não revelar os nomes das autoras dos depoimentos e para cada um destes textos adicionei uma sigla que foi elaborada por mim.

nossas maquiagens de forma coletiva e descontraída. Logo após estarmos todas prontas, nos reunimos em uma sala e nos foi proposto que cada uma das mulheres ali presentes relatassem algum tipo de agressão ou assédio que já haviam passado. Esse momento foi de certa forma muito acolhedor e emocionante, ouvir as meninas falarem e falar também, me fez sentir acolhida e abraçada por cada uma, me deu mais força ( de vida e para seguir a cena que viria). Durante a apresentação eu creio que não poderia ser diferente, uma emoção tomou conta de todas enquanto executávamos cada ponto planejado, entre ações corporais e vocais que haviam sido acordadas anteriormente. Mesmo com toda emoção executamos tudo que havíamos planejado. Depois da apresentação eu voltei para casa ainda tomada por toda emoção e desprendimento que a performance me fez ter e escrevi um texto no meu bloco de notas e não compartilhei com ninguém. Mas escrevo agora para você: Enquanto Falo é foi um grito, um grito que havia sido silenciado por 3, 4 anos não sei ao certo. Pela primeira vez não senti vergonha ou medo de me apreenderam diante das pessoas mostrando a elas minha maior fraqueza, meu maior medo, meu maior trauma. O que vão falar sobre uma jovem se ela diz que foi violentada? Quantos medos guarda esse coração?

E pela primeira vez falei, a outras mulheres sobre minha maior vergonha e vi apenas olhares de forças e amor, ouvi outras dizerem que viveram a mesma história eu certamente não estava sozinha e nem sendo julgada. Enquanto Falo Grita! Grita o medo preso dentro de tantas mulheres amedrontadas, eu me sinto livre e grata.” (C.A., 2018).

Diante desse depoimento, nós da Cia. Matriona reafirmamos que nosso desejo foi alcançado, que a arte de alguma forma tocou e libertou outras mulheres, pelo menos naquele dia e isso foi gratificante. O mais incrível é que apesar de militante essa performer nunca havia conseguido externar o que passou/sofreu, e conseguimos através daquela cumplicidade momentos antes de entrar em cena tocá-la de alguma forma, e ao mesmo tempo protegê-la, e mostrar que ela não estava só.

Ligia e Luciana no livro Bonecas Quebradas falam “No que diz respeito às artes da cena, que têm no corpo e na presença o coração de sua existência, como responder a uma realidade na qual o corpo tem sido constantemente desmoralizado, despedaçado, desaparecido? (...)” (TOURINHO, Ligia; MITKIEWICZ, Luciana, 2016, p. 57). Estar em cena é submeter-se a exposição, e como é complexo ver mulheres que já tiveram seu corpo violado, invadido, marcado, prontificarem-se para expor esses corpos e através deles dizerem NÃO a todas as violências, não a objetificação do corpo feminino.

A quarta questão perguntava o que na opinião de cada uma, o enquanto

FALO abordava. Segue alguns depoimentos das participantes:

Aborda força. Entender a necessidade da força do falar o que muitas vezes não conseguimos dizer, quando somos mutadas/caladas e ali criamos o elo mais forte do mundo: o da empatia feminina. (A.C., 2018).

Aborda o falo enquanto instrumento de opressão contra a mulher. O machismo como causa da dor feminina. Aborda a dominação masculina através do falo. Une experiências de mulheres que sofreram algum tipo de violência vinda de um homem, e mostra através das imagens criadas as formas em que somos afetadas. (C.M., 2018).

Acredito que a performance enquanto Falo aborda o tema de violência contra mulher (física ou verbal) escolhendo elementos que remetem ao universo masculino e feminino em uma certa harmonia. (C.A., 2018).

No primeiro depoimento a atriz relata que naquele dia criamos o elo mais forte do mundo, o da empatia. Para dialogar com essa colocação eu trago mais uma citação das atrizes e autoras do livro Bonecas Quebradas, “(...) como repensar a função do teatro nesse contexto? Para quê teatro? Para suportar a dor? Mas e quando esta se torna insuportável? (...)” (TOURINHO, Ligia; MITKIEWICZ, Luciana, 2016, p. 58).Naquele dia todas as nossas dores foram colocadas na roda e o Teatro nos impulsionou e encorajou a tornar nossas dores, a nossa forma de dizer NÃO, de dizer BASTA, isso só foi possível, pois todas ali presentes foram empáticas as dores umas das outras, sem julgamentos, sem perguntas, sem culpa, o amor nos circundava. Como descreve o segundo depoimento, o enquanto FALO possibilitou a união de mulheres que já haviam passado por violações, mas é importante ressaltar que só descobrimos isso pouco antes da cena.

C.M. também fala que através das imagens mostramos as formas como somos afetadas diariamente, e isso não é algo combinado, nossos corpos durante as ações mostram nosso medo, nossa raiva, nossa revolta, e isso só se torna visível para outras pessoas, porque estamos fazendo arte. E a harmonia citada no terceiro depoimento, está relacionada a elementos como os falos – universo masculino, e ao símbolo do feminino, ou ao sangue menstrual (uma das leituras possíveis) - universo feminino. Creio que os elementos dialogam, mas a ideia inicial não era criar uma

harmonia dos signos, mas evidenciar por meio destes, as relações violentas que se dão entre homens e mulheres.

Como falei anteriormente, sempre colocamos que a interpretação de cada um é o que definiria nosso trabalho para aquela pessoa, podemos identificar distinções nas respostas das diferentes atrizes e isso é muito bom, pois a performance tocou de uma forma distinta e ao mesmo tempo todas as respostas se encaixam e definem o enquanto FALO.

Perguntei também sobre o que é ser mulher e o que para elas seria o feminismo, e as respostas me reviraram do avesso, tais como:

É sofrer mas ainda assim conseguir ser feliz. A mulher tem essa força de ser capaz de se erguer cada dia mais, de ir se encontrando no mundo, cumprindo seus objetivos de vida e se realizando. Assim, se suporta todo esse sufoco diário, preconceitos, diferenciações, agressões e tantos comportamentos "intrínsecos" ao ser humano que somos obrigadas a suportar. Até o dia em que não seremos mais. (R.G., 2018).

É sentir orgulho da minha força e não me imaginar em outro corpo, se não o feminino. Mas também é sentir medo de homem na maioria das horas do dia. (P.S., 2018).

Feminismo é um movimento político e social que busca construir a condição de igualdade de direitos e oportunidades entre os gêneros na sociedade. Da mesma forma, luta pelo fim das diversas formas de violência contra a mulher. (M.S., 2018).

É a luta pela libertação da mulher. A retomada do comando de sua própria vida. A luta pelo direito à igualdade. (C.M., 2018).

Nos é dada uma sobrecarga injusta por sermos mulheres. Para sermos respeitadas, precisamos provar que merecemos através da nossa luta e dói lutar enquanto outras pessoas te desmerecem, mas permanecemos lutando, pois desistir não é da nossa natureza, a nossa vida importa. Infelizmente vivemos em uma sociedade machista e patriarcal, muitas mulheres lutaram antes de nascermos, nós lutamos hoje e muitas ainda precisarão lutar.

Parafraseando Stela Fischer, posiciono-me enfaticamente, a partir do lugar de feminista, simplesmente porque ainda é necessário ser feminista. Ao ler os depoimentos acima, me alegro e tenho a certeza que outras mulheres, assim como eu, não desistiram de salvar outras mulheres e além disso, temos consciência da necessidade do feminismo em nossas vidas.

A atriz Julia Varley em seu livro Pedras D’água (2010) me representa ao falar que,

Ser atriz me ensinou a ter confiança na vulnerabilidade e a valorizar minha diferença como mulher, evitando pretensões igualitárias ou dominantes. Na história do teatro, prefiro me espelhar em uma presença visível e paradoxal: uma história na qual pessoas anônimas tem rosto e voz. (...) (VARLEY, Julia, 2010, p. 26).

Eu não conseguiria expressar tão bem o que sinto, como Julia conseguiu, quando iniciei a performance me questionava se realmente poderia falar por outras mulheres, se seria capaz e se tinha a força necessária para isso. Lendo as palavras de Julia, me sinto confortada, eu aprendi a confiar na mulher e na atriz/performer que sou. Segue as respostas das mulheres entrevistas sobre a relevância da arte feminista:

Crucial para que o diálogo chegue em outras mulheres, nos aproxime, quebre correntes e dê voz ao nosso eu/nós mais profundos. (B.L., 2018).

A arte feminista é importante por ser um meio de expressão e comunicação das histórias de vida, de sofrimento e de luta das mulheres, é uma forma de denunciar, exigir direitos, lutar pelas nossas causas, e principalmente mostrar que somos donas de si e que não nos calaremos enquanto mulheres estiverem sofrendo agressões, recebendo salário inferior ao homem que assume o mesmo cargo que ela, enquanto não sejamos tratadas dignamente na sociedade em que vivemos, é uma arte poderosa e necessária. (A.R., 2018).

Nos depoimentos colocados acima, ambas concordam que a arte feminista é relevante, uma delas cita a necessidade de que essa arte aproxime e liberte cada vez mais mulheres, e a outra aponta a arte como denúncia, como ferramenta de luta. Stela em sua tese coloca que, “Partilhamos a dor da morte de “irmãs”, sendo que o ato de testemunhar essas perdas significa registrar a maneira pela qual a violência do feminicídio reverbera em nós em atitudes ao mesmo tempo artísticas e éticas. (...)” (FISCHER, 2017, p. 175).

Não podemos esquecer a importância da ética ao tratar de temas tão delicados, é essencial manter o fazer artístico sempre em conformidade com a ética, parafraseando Stela, o limite é até onde uma pessoa é capaz de comprometer-se. A arte não se guia pela moral, mas pela ética.

A pergunta seguinte surgiu de uma inquietação, quando pensamos em nos inscrever para um festival de performances no México e ao ler o edital enfatizavam que o trabalho deveria ser apenas de mulheres, que homens não eram aceitos no evento, as mulheres eram extremistas e não permitiam que um homem estivesse ligado a nenhum projeto que se apresentasse no festival. Perguntei as participantes da performance, se elas achavam que isso diminuiria a força do enquanto FALO, todas disseram que não.

Não diminui em nada a força da performance, ao contrário é bom saber que tem homens que também enxergam potência no feminismo enquanto arte. (C.A., 2018).

Para mim não diminui, pois acredito que os homens devem participar ativamente na luta por uma sociedade mais justa e igualitária. É importante ressaltar que ele não quis ocupar o lugar de fala da mulher, colocando sempre mulheres para performarem. Além disso, é um homem gay, que também sente na pele o ódio, o preconceito, o assédio, as ameaças, a violência que infelizmente é tão grande no Brasil com relação aos LGBT. (M.S., 2018).

Concordo que não diminui e eu acompanhei toda a criação dessa performance e acompanhei a preocupação de Pablo a cada elemento colocado, ele sempre se preocupou em não invadir nosso espaço. Ele é um homem sim, mas um homem gay que sofre diariamente com a homofobia. Pablo sabe o que é ter medo de apanhar de um homem. É claro que nossas dores tem particularidades, mas ele foi empático e generoso. Eu sempre tive orgulho de falar que o enquanto FALO havia sido idealizado e era dirigido por um homem, afinal nem todos os homens são iguais.

Tendo em vista a importância de Pablo neste trabalho, pedi que ele me escrevesse como foi para ele, a visão dele disso tudo, abaixo o relato do diretor e idealizador da performance na íntegra.

Num primeiro momento eu não pensei em uma performance. De cara eu queria mesmo era escrachar os funcionários do departamento de artes que estavam fazendo uma reforma e também os pedreiros que trabalhavam em frente à residência universitária. Depois de dias pensando e vendo o assédio acontecer, cheguei à conclusão de que a melhor forma de falar sobre isso seria a partir da arte.

Em seguida veio a problemática de "como" fazer. Eu pensei em colar cartazes. Pensei em fazer lambes. Pensei em exibir documentário, fazer campanha etc. Naquele período eu estava muito atravessado pela linguagem performática e resolvi fazer dessa forma. Construir

ações que viriam falar, mostrar e causar reflexão sobre os assédios que a mulher sofre no cotidiano.

Criei uma sequência de ações que envolviam baldes com líquido vermelho simbolizando o sangue que seria levado a uma bacia que estaria dentro de um desenho do símbolo do feminino feito de calcinhas e sutiãs até que transbordasse ensanguentando as roupas íntimas. O problema dessa ideia é que não sou mulher e então me vi no dever de convidar mulheres para executar. Com a chegada das meninas no coletivo, aperfeiçoamos a performance e algumas coisas saíram e outra foram adicionadas.

Realizamos elas muitas vezes e durante esse tempo sofreu muitas alterações. Estávamos sempre em discussão sobre o que funcionava e o que não. Participamos de uma residência artística e acredito que isso foi muito importante para Thâmara que pode conhecer mulheres incríveis e ouvir suas histórias de como superaram obstáculos internos, doenças e machismos. Realizamos também uma apresentação na marcha das mulheres do RN no dia internacional da Mulher e arrisco dizer que essa foi umas das experiências mais dolorosas e incríveis que as meninas tiveram (sofri bastante também). Foi lindo ver as meninas executando o trabalho e as mulheres presentes ajudando-as a carregar os falos. Os fardos. Dividindo o peso. Dividindo a força para continuar.

A performance foi executada uma outra vez com cerca de 10 mulheres e novamente foi um momento muito emblemático porque o momento antes da apresentação foi muito íntimo e todas compartilharam suas histórias de abuso, assédios e de como o machismo interferia em sua vida pessoal e profissional todos os dias. Senti vontade de pedir desculpas as meninas TODAS as vezes que elas se apresentaram. Pelo fato de enxergar o que elas sentem e às vezes não poder fazer nada.

Eu sei que esse discurso não é incrível como ele parece, mas eu sempre pensava em minha avó, mãe e irmã, em como elas já sofreram e sofrerão somente pelo fato de serem mulheres. Preciso enfatizar que entendo que devemos respeitar, cuidar e garantir os mesmos direitos as mulheres por serem cidadãs como os homens, mas não posso deixar de pensar em minhas referências de força enquanto família.

Depois de um tempo realizando a performance comecei a refletir sobre o meu papel nela e alguns questionamentos chegaram com tal reflexão. Isadora e Thâmara se sentiam donas e co-autoras do trabalho? Quantas vezes eu fui machista com elas? Quantas vezes eu falei a voz delas? O trabalho precisou da validação de um homem (eu) para ganhar força? Eu ensinei ou aprendi com esse trabalho no tempo que estivemos juntos?

Acredito que algumas dessas perguntas já consigo responder e nem todas são satisfatórias ao meu ego, porém sou muito orgulhoso de ter construído junto com elas esse trabalho incrível que tocou tanta gente por onde passou. Manchamos de vermelho e branco o chão em frente a câmara municipal e para mim essa foi a imagem mais marcante de todas.(COSTA, Pablo, 2018).

Sabe o que difere Pablo dos outros homens? A necessidade que ele teve de fazer alguma coisa para denunciar os assédios às mulheres que ele via diariamente.

Foi a primeira vez que eu vi um homem incomodado, revoltado com isso, e ele estava disposto a usar a arte como protesto e ele só precisava de mulheres que se dispusessem a participar da performance. Pablo relata que não podia falar por nós, mulheres, ele tinha consciência que eram as mulheres que deveriam expor os assédios que sofriam e só assim a performance tocaria outras mulheres.

O diretor da performance relata também que após a última apresentação ele sentiu a necessidade de se desculpar com todas nós, como se ele fosse o representante de toda população masculina. Pablo é um exemplo a todos os homens, se outros homens pensassem dessa forma, a nossa luta estaria repleta de outros representantes do gênero masculino. Eu sempre me perguntei se os homens que assistiam a performance se faziam as mesmas perguntas que ele expõe em seu depoimento. Nenhum homem nunca veio conversar comigo após as apresentações. Pablo recebia uma carga emocional que provavelmente o machucava muito, ele nos acompanhava e via o quanto sofríamos apenas por sermos mulheres, talvez ele tomasse pra si a culpa masculina. Sempre fizemos questão de agradecer a ele, ao fim de todas as apresentações, ele sabe o quanto somos gratas a esta iniciativa dele.

Pablo foi indispensável na minha construção e no meu empoderamento artístico e pessoal, eu não acho que precisamos de um homem para validar nossa fala. Em minha opinião o olhar sensível de Pablo, o seu desejo de falar sobre essas violências diárias contra a mulher, principalmente o cuidado, a atenção às nossas problematizações e todo o carinho e a amizade que construímos foi essencial para me libertar dos meus medos e angústias e me dizer que eu era sim capaz de falar por outras tantas mulheres. Pablo me fez acreditar no meu potencial enquanto atriz e performer, ele me deu tudo que eu precisava, uma chance de me expressar.

Durante as apresentações me deparei com duas grandes dificuldades, a primeira era não me afetar pessoalmente após as apresentações,com as emoções que a performance me suscitava. E, a segunda era me diferenciar a cada apresentação, não ser a mesma, pois as ações seriam semelhantes e era interessante que o público visse algo novo. Nas palavras de Julia Varley:

Um dos meus objetivos é me comportar como se fosse a primeira vez. Imagino que existam atrizes capazes de parecer espontâneas a cada noite, sem que tenham de se empenhar para obter esse resultado. Eu não sou uma delas. O frescor de um personagem ou

de uma ação cênica chega só depois de uma contínua repetição, que me faz recuperar a espontaneidade feita de memória incorporada, esquecida e livre para brotar de novo a cada espetáculo. (VARLEY, Julia, 2010, p. 105).

Ao aceitar participar do enquanto FALO, eu precisei separar as coisas, me encontrei com muitas dores que estavam escondidas e era complicado não me afetar durante as apresentações, então eu precisei refletir sobre minha participação e como aquela experiência não podia me afetar ao ponto de me paralisar. A performance tinha um papel não apenas artístico, mas também ativista.

Me recordo da apresentação durante a marcha feminista no dia internacional da mulher em 2016, durante a caminhada com os sacos pretos pesados nas mãos, eu chorava de emoção por estar no meio de tantas mulheres militantes. De repente uma senhora se aproxima e pede para me ajudar, ela me tocou por dentro, tocou

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