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CAPÍTULO 1: A REALIDADE (FEMININA) OCULTA

1.2 Os espaços femininos na política brasileira

A participação da mulher na política brasileira só se deu em 24 de fevereiro de 1932, até então votar era um direito restrito ao sexo masculino. O voto feminino e a possibilidade da mulher participar ativamente da política só foram permitidos durante o governo de Getúlio Vargas, este último em 1933, quando as mulheres puderam se candidatar a cargos políticos. Esse avanço só foi possível depois de muita luta e discussões, mas o voto, segundo Tamára Baranov (2014), tinha restrições. A jornalista escreveu em sua matéria “A conquista do voto feminino”, publicada no ano de 2014, para o GGN – O Jornal de todos os Brasis, que:

(...) foi ainda aprovado parcialmente por permitir somente às mulheres casadas, com autorização dos maridos, e às viúvas e solteiras que tivessem renda própria, o exercício de um direito básico para o pleno exercício da cidadania. Em 1934, as restrições ao voto feminino foram eliminadas do Código Eleitoral, embora a obrigatoriedade do voto fosse um dever masculino. Em 1946, a obrigatoriedade do voto foi estendida às mulheres. (BARANOV, 2014, n.p.).

Já no Rio Grande do Norte, a inserção da mulher na política aconteceu em 1927. A potiguar Celina Viana foi a primeira a exercer o direito de voto no Brasil, cinco anos antes de o voto feminino ser incluso ao Código Eleitoral Brasileiro. Em

1928 o estado elegeu a primeira prefeita da América Latina, Alzira Soriano, eleita com 60% dos votos no município de Lajes. A jornalista Juliana Domingos de Lima, em sua matéria para o jornal NEXO, explica como esses feitos foram possíveis,

Os dois fatos foram possibilitados pela lei eleitoral colocada em vigor em 1927 pelo estado, que determinava, em seu artigo 17, que no Rio Grande do Norte poderiam “votar e ser votados, sem distinção de sexos”, todos os cidadãos que reunissem as condições exigidas pela lei – ser alfabetizado e maior de 21 anos. Com essa norma, mulheres das cidades de Natal, Mossoró, Acari e Apodi alistaram-se como eleitoras em 1928. (DOMINGOS, 2018, n.p.)

Este ano (2018), o Rio Grande do Norte foi o único estado brasileiro a eleger uma mulher como governadora, Fátima Bezerra (PT), que disputou o segundo turno com o até então prefeito de Natal, Carlos Eduardo Alves, nas eleições de 2018, com 1.022.910 dos votos, o que corresponde a 57,60% dos votos válidos, segundo a Gazeta do Povo (2018). Além da eleição de Fátima, o RN é o estado que mais elegeu mulheres em cargos executivos.

A participação da mulher na política ainda é muito pequena se comparada à masculina. As poucas mulheres que estão na câmara e no senado ainda sofrem com comentários machistas, inclusive de seus colegas de trabalho. A ex presidenta Dilma Rousseff, sofreu por uma série de insultos e teve por diversas vezes a sua capacidade intelectual colocada em dúvida por ser mulher.

Segundo o Portal de Notícia do Grupo Globo - G1 (2018, n.p.), “a lei eleitoral brasileira exige que os partidos e as coligações respeitem a cota mínima de 30% de mulheres na lista de candidatos para a Câmara dos Deputados, a Câmara Legislativa, as Assembleias Legislativas e as Câmaras municipais”.

Nas eleições de 2018, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a cada 10 candidatos apenas 3 são mulheres (VELASCO; SARMENTO; GELAPE et al., 2018). Apresento em seguida, o gráfico em que a pesquisa do G1 (2018) coloca que mesmo com a exigência da lei, a proporção de mulheres em cargos políticos não aumentou muito nas últimas eleições. Diante deste panorama, a Justiça Brasileira, a cada período eleitoral tem notificado as diversas coligações partidárias para o cumprimento desta meta pré-estabelecida.

Figura 6: Mulheres nas eleições.

Fonte: TSE e IBGE.

Nas eleições deste ano a maioria dos partidos foram notificados por não respeitarem esta exigência, outros ainda nem sequer receberam notificação, isso porque alguns partidos e coligações ainda estão passando por processo de análise.

Um dos problemas que eu detecto é que, principalmente nos interiores, as mulheres são convocadas para participarem da política como “laranjas”16

, apenas para que os partidos consigam preencher a cota exigida pela lei. Tem se tornado uma prática comum, as esposas de alguns políticos, que por algum motivo legal não podem se candidatar, ocuparem alguns destes lugares na política, não como propositoras, mas como uma extensão de seus maridos. Infelizmente em nosso país, existe uma cultura de que a política é lugar que só deve ser ocupado por homens.

Continuei a refletir sobre o papel da mulher na política, durante a leitura da tese da atriz, performer e professora universitária, Stela Fischer. Um trecho específico do texto me chamou a atenção:

Nos quatro anos desta pesquisa – transcorridos sob muita instabilidade e fluxo de acontecimentos implacáveis no cenário político do Brasil, em que a primeira mulher eleita Presidente da República foi retirada do seu cargo – acompanhei avanços e

16O termo “laranja” é usado para as pessoas que disponibilizam seus nomes, dados e/ou ocupam cargos para executarem transações comerciais, políticas, financeiras e etc.

propagações dos movimentos feministas no país. (...) (FISCHER, 2017, p. 04).

A única presidenta mulher eleita no Brasil foi Dilma Rousseff17 que tomou posse em 2011 e foi reeleita em 2014. Durante o segundo mandato, a presidenta foi perseguida e em 2016 sofreu impeachment e foi destituída do cargo.

É preciso pensar na importância dessa representatividade na política, porque esta é uma das maneiras de incluir nas pautas, as questões que dizem respeito ao universo feminino, tais como a saúde feminina, o aborto, direitos trabalhistas, licença maternidade, amamentação em espaços públicos, entre outros.

Além desta representatividade política, um outro movimento muito importante com relação a questão da representatividade da mulher frente as questões políticas ganhou força ao longo das eleições presidenciáveis de 2018. Devido às declarações de um dos candidatos que acabou sendo eleito presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro18, as mulheres criaram um movimento que tomou as ruas.

A iniciativa começou a partir da criação de um grupo nas redes sociais, por meio do Facebook, cujo nome escolhido foi “Mulheres Unidas Contra Bolsonaro”. A proposta de criação deste grupo era criar um espaço virtual de diálogo para discutir a respeito desta postura do até então candidato e propor ações e manifestações de resistência a sua candidatura. Este grupo atingiu mais de 2 milhões de mulheres, que independente de quem iriam votar, não queriam de forma nenhuma eleger o ex- capitão do exército. Durante as eleições, o grupo foi invadido por hackers duas vezes teve o seu nome alterado e o direito de expressão destas milhões de mulheres, violado. Com a invasão dos hackers, vários homens entraram no grupo sem permissão e insultaram as integrantes deste grupo. Leandro Sakamoto, em seu blog escreveu,

Quem celebrou o ataque não conta, apenas, com uma incapacidade de conviver com as regras do jogo democrático, vencendo através do debate de ideias ao invés de cala-las. É imaturo e incapaz de entender como funciona a dinâmica social. (SAKAMOTO, 2018, n.p.)

17

Dilma Vana Rousseff é economista e política, filiada ao Partido dos Trabalhadores, foi a primeira presidenta eleita do país no ano de 2011.

18

Militar da reserva, político e filiado ao Partido Social Liberal. Foi deputado federal por sete mandatos entre 1991 a 2018.

Após a revolta pela violação do direito de expressão dessas milhões de mulheres, organizou-se um movimento para que as ruas fossem tomadas e as mulheres pudessem manifestar sua indignação. No dia 29 de setembro de 2018, o ATO: Mulheres Contra Bolsonaro ocupou os quatro cantos do país. Os protestos contra Jair Bolsonaro ocorreram em 26 estados e no Distrito Federal e as manifestações a favor do futuro presidente em 16 estados, segundo o G1 (2018).

Paralelamente aos movimentos políticos e sociais, que têm reunido as mulheres, é importante destacar que as artes de um modo geral também tem criado outros espaços de manifestação. Artistas e coletivos artísticos têm promovido espetáculos, performances, coreografias, exposições que discutem e denunciam através de suas proposições temas ligados ao universo feminino, em especial a violência de gênero, como o que será abordado no segundo capítulo deste TCC. Essas artistas ampliam suas atividades artísticas à medida que suas ações também podem ser consideradas de certa forma, ativistas, pois acreditam que sua arte pode ajudar a transformar a realidade em que estão inseridas, e por fim, fazem de sua arte um instrumento de luta.

Duas iniciativas que foram criadas por atrizes e militantes que propagam a visibilidade artística de mulheres são os projetos The Madalegna Project e Vértice Brasil.

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