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III. Preditores do Envelhecimento Bem-sucedido

3.1 O envelhecer e seus fatores de proteção e de vulnerabilidade

3.1.2 Fatores de vulnerabilidade

3.1.2.2 Depressão e Ansiedade

A depressão é um tipo de distúrbio mental que perturba o humor da pessoa, sendo frequentemente usado para descrever sentimentos de tristeza profunda. Para diferenciá- la do sentimento de tristeza normal, que desaparece com o tempo, sem nenhum tratamento especial, a doença é denominada de depressão grave, distúrbio depressivo grave ou depressão clínica. Pessoas com a sintomatologia depressiva têm maior probabilidade de internação não planejada em hospitais, demandam mais tempo para a recuperação e têm um risco duas vezes maior de morte, quando comparadas às pessoas sem histórico de depressão (Guia Essencial de Depressão, 2002; Prina et al., 2014).

O termo depressão ou sintomatologia afetiva, na linguagem corrente, pode ser um estado afetivo normal (a tristeza), um sintoma, uma síndrome e uma ou várias doenças. O sentimento de tristeza (afeto normal da vida psíquica) pode manifestar-se em momentos de perda, derrota, desapontamento e indica que a pessoa necessita de atenção e companhia (Del Porto, 1999, p. 6).

Enquanto sintoma, a depressão pode apresentar-se em decorrência de situações estressantes, em circunstâncias sociais e econômicas, revelando inúmeros quadros clínicos, como transtorno de estresse pós-traumático, demência, esquizofrenia, alcoolismo, doenças clínicas e outros mais. Enquanto síndrome, a depressão se manifesta não só com alterações do humor (tristeza, irritabilidade, falta de capacidade de sentir prazer, apatia), mas também com alterações cognitivas, psicomotoras e vegetativas (sono, apetite). Enquanto doença, a depressão tem sido classificada de diversas formas: transtorno depressivo maior, melancolia, distimia (depressão crônica), depressão integrante do transtorno bipolar tipo I e II e outras (Del Porto, 1999, p. 6).

Outras características gerais do estado depressivo são: (a) nem sempre ele é marcado pelo afeto de tristeza; (b) algumas pessoas depressivas revelam a perda da capacidade de sentir prazer e interesse pelo ambiente; e (c) pode vir associado à sensação de fadiga ou perda de energia (cansaço exagerado). Os sintomas psíquicos da depressão incluem: humor depressivo; redução da capacidade de experimentar prazer nas atividades antes agradáveis; fadiga ou sensação de perda de energia; e diminuição da capacidade de pensar, de se concentrar ou de tomar decisões.

A depressão pode ser causada por três tipos de fatores: (1) biológicos (evidência bioquímica, distúrbios hormonais, curto tempo do sono com movimento rápido dos olhos15); (2) genéticos (vulnerabilidade genética à doença depressão, que pode ser afetada por perdas emocionais sofridas); (3) emocionais e ambientais (acontecimentos estressantes, estresse crônico, evento traumático ou infância infeliz). Às vezes, a sintomatologia da depressão pode ser consequência de uma doença física, efeito colateral de algum medicamento ou resultado do abuso de álcool ou drogas. Quando a depressão é proveniente dessas causas, normalmente desaparece quando a doença física é tratada (Guia Essencial de Depressão, 2002).

Cerca de 15% das pessoas com mais de 65 anos têm alguns sintomas de depressão, mas estima-se que apenas 10% recebem tratamento. Isto porque muitas pessoas, incluindo médicos, confundem os sintomas de depressão com o processo normal de envelhecimento, ou optam por tratar outros problemas físicos de saúde ou recebem o diagnóstico errôneo de demência na pessoa idosa. Quando detectada, frequentemente a

15

Também conhecido como Sono REM – Sigla de Rapid Eye Movement (Movimento Rápido dos Olhos) (Guia Essencial de Depressão, 2002, p. 99).

depressão não é tratada, pelo fato dos indivíduos considerarem este processo normal, decorrente das perdas enfrentadas (carreira, morte de amigos ou cônjuge, declínio da saúde, uso de medicamento). Afinal, muitas transformações que vêm com a idade são deprimentes. Os sintomas depressivos na pessoa idosa se manifestam de forma diferenciada, pois apresentam probabilidade menor de queixas de tristeza e maior de reclamações de dores, prisão de ventre ou fadiga (Guia Essencial de Depressão, 2002; Mathiasen, & LeVert, 1997; NIH, 1992). Um recente estudo, realizado no Nepal por Pradhan (2014), reafirma esta realidade, pois a depressão é pouco diagnosticada ou tratada entre as pessoas idosas, por falta de consciência do público em geral e pela atuação da medicina.

Sobre as reações do luto normal, que é um evento da vida de grande impacto, podem estender-se de um a dois anos, podendo ser diferenciadas dos quadros depressivos e consideradas como típicas vivências da pessoa idosa (Del Porto, 1999; Yeong, 2010). No luto normal, a pessoa, quando devidamente estimulada, preserva certos interesses e reage positivamente ao ambiente. Já no estado melancólico, o luto pode vir acompanhado de inibição psicomotora. “Os sentimentos de culpa, no luto, limitam-se a não ter feito todo o possível para auxiliar a pessoa que morreu; outras ideias de culpa estão geralmente ausentes” (Del Porto, 1999, p. 6). De acordo com Bruce et al (1994), alguns resultados indicam que idosos deprimidos têm maior risco de mortalidade, utilizam com mais frequência os serviços médicos gerais e têm aumentada a possibilidade de limitações nas atividades da vida diária.

O declínio da capacidade funcional e a perda da independência para atividades cotidianas contribuem para a depressão (Domingues, 2008). A pesquisa desenvolvida

por Burgos, Neri e Cupertino (2008) constatou que, ao viverem situações de perda de entes queridos, problemas de saúde e problemas ligados ao bem-estar pessoal, os idosos mais velhos (>80 anos) foram os mais afetados. As atividades físicas regulares promovem a melhora do bem-estar físico, porque aprimoram as habilidades e capacidades motoras, além de promoverem a regulação hormonal; a melhora do bem- estar psicológico, com a redução dos impactos do estresse, da ansiedade e da sintomatologia depressiva; e a melhora do bem-estar social, com a intensificação das interações sociais (Domingues, 2008).

O distúrbio da ansiedade está estreitamente relacionado à sintomatologia depressiva. Cerca de trinta por cento das pessoas que sofrem de depressão também apresentam sintomas de ansiedade. O distúrbio de ansiedade é uma emoção caracterizada por sentimentos de previsão de perigo, tensão e aflição, pavor, medo ou apreensão. A pessoa se sente apreensiva, incapaz de concentrar-se e de dormir bem. Alguns dos tipos de distúrbios de ansiedade são: a síndrome do pânico (o corpo e a mente sentem um medo intenso e repentino, que está relacionado à depressão); e a fobia (medo irracional de um objeto ou situação específica) (Davidoff, 1983; Guia Essencial de Depressão, 2002, p. 125-127).

Diante do exposto, fica claro que os fatores de proteção são preditores de emoções positivas e podem reduzir os efeitos das situações de vulnerabilidade que prejudicam o envelhecimento bem-sucedido.

IV.

Adaptação e Estudo Psicométrico da Escala de