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II. Atividades desenvolvidas

3. Descrição da casuística

3.2 Distribuição da casuística por área clínica

3.2.1 Medicina preventiva

3.2.2.3 Dermatologia

Na especialidade de dermatologia os canídeos foram a espécie que contabilizou mais casos, comparativamente com os felídeos e animais exóticos. Como está representado na tabela 8, a dermatite atópica em cães (Fr = 21%) contabilizou mais casos.

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Figura 3. Quadro de alopécia em cadela com prurido (fotografia

original).

Tabela 8.Distribuição das Fip, Fi e Fr por espécie e grupo de animais relativamente à especialidade de

dermatologia (n= 57)

Dermatologia Fi Fr (%) Fip Can Fip Fel FipExo

Dermatite atópica 12 21 10 2 0

Otite por Malassezia 6 10,5 6 0 0

Dermatite alérgica à picada da pulga 4 7,0 4 0 0

Dermatofitose 4 7,0 1 3 0 Laceração cutânea 4 7 2 2 0 Piodermatite profunda 4 7 4 0 0 Piodermatite superficial 4 7 4 0 0 Hipersensibilidade alimentar 3 5,2 3 0 0 Abcesso subcutâneo 2 3,5 1 1 0 Demodicose 2 3,5 2 0 0

Impactação das glândulas anais 2 3,5 2 0 0

Otite por ácaros 2 3,5 0 2 0

Seroma 2 3,5 2 0 0

Dermatite miliar 1 1,7 0 1 0

Dermatite ulcerativa do plano nasal 1 1,7 1 0 0

Fístula anal 1 1,7 1 0 0

Otite bacteriana 1 1,7 1 0 0

Pododermatite 1 1,7 1 0 0

Queimadura 1 1,7 0 1 0

n 57 100 47 10 0

A dermatite atópica (DA) é uma doença comum na prática clínica de animais de companhia. Estudo refere que a maioria dos animais exibe os primeiros sinais clínicos entre os seis meses e três anos de idade. Os proprietários normalmente descrevem que os animais coçam, lambem, mordem certas partes do corpo e abanam a cabeça, quadro característico de um animal com prurido. Estudos realizados a fim de provar a

existência de predisposição racial revelaram-se inconclusivos, concluindo-se que mais do que a raça deve ter-se em consideração a localização geográfica 41,42,43. É uma doença com predisposição genética, para o desenvolvimento de hipersensibilidade a alergénios ambientais específicos 43. Alguns alergénios são sazonais, como o pólen de algumas plantas, outros desencadeiam o aparecimento de sinais durante todo o ano, como os ácaros

43

.

É descrita como uma reação associada a anticorpos, a imunoglobulina E, em reação a antigénios ambientais 42,44.

A DA é uma doença de carácter alérgico e inflamatório, com apresentações clínicas variáveis. O animal pode apresentar-se à consulta exibindo lesões primárias, como pápulas e eritema, num estádio mais avançado com lesões secundárias ao prurido como alopécia, seborreia,

16 descamação e escoriações ou exibindo lesões indicativas de se tratar de um processo mais crónico como sinais de hiperpigmentação e liquenificação e inflamação crónica. As lesões podem aparecer ao longo do corpo, sendo mais afetadas a face, o pavilhão auricular, o ventre, as axilas, a região inguinal, a região perineal e as extremidades. É importante ter em consideração que não existem sinais clínicos patognómicos, não possibilitando o diagnóstico definitivo na primeira abordagem ao animal, uma vez que existe uma grande diversidade de apresentações clínicas, devendo ser tido em consideração a localização e extensão das lesões, o facto de ser um processo crónico, agudo ou agudização de um processo crónico e a existência ou não de infeções bacterianas secundárias 45.

O subgrupo do Comité Internacional para animais alérgicos definiu um conjunto de diretrizes que auxiliam no diagnóstico de DA em cães, que devem ser tomadas como ponto de partida no diagnóstico. Esses são constituídos por três etapas:

1. Eliminação de outras condições da pele com sinais clínicos semelhantes à DA;

2. Interpretação detalhada da história do animal e das manifestações clínicas, podendo recorrer-se ao uso de critérios clínicos conhecidos como "Critérios de Favrot";

3. Avaliação da reatividade da pele, recorrendo a testes intradérmicos (TID) ou pesquisa de imunoglobulina E específica através de testes serológicos 45.

A abordagem a um cão que manifesta como principal sinal clínico prurido, deve excluir todas as causas que podem estar na origem deste, como a pesquisa de pulgas no corpo do animal, realização de raspagem de pele para exclusão da presença de ácaros, tricograma para deteção de ácaros do género Demodex.spp, citologia de pele e pavilhão auricular para verificar a existência de bactérias da família Staphylococcal ou leveduras do género Malassezia spp 45. A realização de TID para identificar o alérgeno que causa a hipersensibilidade é recomendada quando as crises se manifestem mais de três meses por ano, e a terapêutica se verifica ineficiente, permitindo que seja instituída uma imunoterapia dirigida ao antigénio 45.

Os animais com reação adversa ao alimento (RAA) podem ser clinicamente indistinguíveis de animais com DA, no entanto a presença de sintomatologia gastrointestinal associada a sinais dermatológicos pode ser indicativo de RAA.Segundo um estudo realizado por Favrod C et al, 2009 concluiu-se que na DA com componente alimentar os sinais clínicos surgem mais precocemente, são mais frequentes manifestações de origem gastrointestinal e o prurido além de ser menos responsivo a corticosteróides não aparece de forma sazonal 42.

Para excluir que os alérgenos alimentares têm um papel importante no desenvolvimento da DA, deve restringir-se a alimentação do animal a uma dieta de exclusão constituída por alimentos com os quais o animal nunca tenha contactado anteriormente, ou usar uma dieta comercial com proteína hidrolisada, durante oito semanas, e após este período reintroduzir a dieta antiga, a fim de verificar se os sinais cessam durante a restrição alimentar 45.

Em relação ao tratamento há que primeiramente instruir o proprietário acerca do caráter alérgico da DA e da importância de controlar as causas ambientais. Animais já com diagnóstico de DA mas sem sinais há algum tempo e que se apresentam à consulta com uma agudização

17 da doença, deve investigar-se a causa do aparecimento e considerar um possível contacto com pulgas ou uma alteração na rotina, já que a abordagem terapêutica variará em função de ser uma apresentação crónica ou aguda 46.

O tratamento da DA passa por várias etapas que visam a minimização do prurido, bem como evitar os danos que este pode causar. São recomendados banhos regulares com shampoo emoliente à base de lípidos, açúcares complexos e anti-sépticos, associado a administração de complexos contendo ácidos gordos essenciais que melhoram a barreira cutânea e têm ação anti-inflamatória. Também a fim de minimizar o prurido, está recomendado o uso de glucocorticóides tópicos (aceponato de hidrocortisona) em spray para aplicação diária 47. Quando as lesões atingem maiores proporções ou quando a sintomatologia não é controlada pela terapia tópica, está indicado o uso de glucocorticóides (Prednisolona) por via oral na dose de 0,5-1 mg/kg ou o uso de oclacitinib (Apoquel®) via oral (0,4-0,6 mg/kg). Também o uso de ciclosporina via oral na dose de 5 mg /kg pode revelar-se vantajoso 47.

O uso de antimicrobianos pode ser necessário em situações de infeção bacteriana secundária, bem como o uso tópico de substâncias antissépticas 46,47.

No decorrer da realização do estágio no HVR, foram acompanhados 12 casos de DA, sendo a sua maioria agudizações da doença e para administração de imunoterapia em animais em que foram identificados os antigénios que despoletam a hipersensibilidade.

Maioritariamente os casos de DA foram agudizações sazonais da doença, com aumento de sinais como prurido e eritema. Estes animais foram tratados com anti-pruríticos como o Apoquel® (oclacitinib) ou glucocorticóides. Foi também, em alguns casos, instituída terapêutica com antimicrobianos para tratamento das infeções secundárias e com antissépticos locais em forma de champô.

No documento Clínica de animais de companhia (páginas 30-33)