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Drogas anti-tiroideias

No documento Clínica de animais de companhia (páginas 88-91)

III. Monografia Hipertiroidismo Felino

8. Terapêutica

8.1 Drogas anti-tiroideias

Vários são os fármacos que podem ser usados no tratamento do hipertiroidismo felino.

Estas drogas têm como princípio a inibição da síntese de hormonas tiroideias pelo bloqueio na incorporação de iodo no grupo tirosil que constitui a molécula de tiroglobulina, e desta forma inibir a síntese de T3 e T4. No entanto, estas drogas não bloqueiam por completo a libertação de hormonas tiroideias 120,152. Estes fármacos não têm efeito curativo sobre as alterações estruturais da glândula tiroide 125.

Os fármacos desta classe usados no tratamento do hipertiroidismo felino são o metimazol, carbimazol e propiltiouracilo (PTU) 119,120,125.

8.1.1 Metimazol

O metimazol é o fármaco de eleição no tratamento do hipertiroidismo felino, pois as reações adversas são mínimas quando comparadas com as manifestadas com o uso de PTU 119. A eficácia da terapia com metimazol ronda os 90% 125,152.

O metimazol pode ser usado com diferentes fins no tratamento do hipertiroidismo felino. Entre as aplicações do referido fármaco, está incluída a normalização das concentrações séricas de T4, remissão dos sinais clínicos e das alterações analíticas, controlo de sintomatologia severa antes da tiroidectomia ou radioterapia e tratamento crónico do hipertiroidismo 125,152.

A ação deste fármaco é dependente da dose, tendo sido realizados estudos no sentido de encontrar a dose ideal. A dose inicial de metimazol pode variar entre 1,25 a 2,5 mg/gato duas vezes ao dia 118,119,120,125,134,152.Segundo um estudo realizado em 40 gatos hipertiroideus, 54% atingiu o estado eutiroideu após duas semanas de tratamento com metimazol numa toma única, e 87% atingiu o estado de eutiroideu com a dose de metimazol dividida em duas tomas. Desta forma, comprovou-se que é mais benéfica a dose recomendada em toma bidiária 152. A dose pode sofrer variações com base na resposta inicial durante as primeiras duas a quatro semanas. Pode ser necessário um incremento da dose quando as concentrações séricas de T4t permanecem elevadas após duas a quatro semanas do início do tratamento 125,152. Os ajustes da dose devem ser graduais, com aumentos de 2,5 mg/dia e nunca excedendo os 15- 20 mg/dia 119,120,125,152.

Se a concentração sérica de T4t estiver abaixo do intervalo de referência, a dose deve ser reduzida 132. O tratamento com metimazol pode conduzir à ocorrência de hipotiroidismo iatrogénico, com valores baixos de T4t detetados nos controlos regulares. Doses elevadas de metimazol podem conduzir ao desenvolvimento de anticorpos antinucleares 125, 152.

Durante o período de tratamento podem surgir manifestações sugestivas de intolerâncias à terapia, e se detetadas, deve ser diminuída a dose, modificada ou mesmo descontinuada a terapêutica 125. Muitas vezes, são relatados efeitos secundários durante o primeiro mês de tratamento como anorexia, letargia, vómitos, hemorragias, escoriações da cabeça e do pescoço e icterícia. Também são descritos sinais de prurido facial, com autotraumatismo e aparecimento de crostas em cerca de 2 a 3% dos animais. Estes sinais sofrem remissão após a interrupção do tratamento 152,153.

73 A hepatoxicidade é relatada em 2% dos gatos sujeitos a tratamento com metimazol, com incrementos nos parâmetros bioquímicos, como a FA, ALT e bilirrubina 152.

A eficácia do tratamento deve ser monitorizada após duas a quatro semanas do seu início, o esquema 4 ilustra a forma de proceder e os parâmetros a ter em conta como o hemograma, bioquímicas da função hepática e renal e medições de T4t. As concentrações séricas de T4t geralmente diminuem após a primeira semana de tratamento com metimazol oral e a sintomatologia sofre remissão no período de duas a três semanas. Se a concentração sérica de T4t se encontrar dentro do intervalo de referência, a dose deve ser mantida durante duas a seis semanas e, posteriormente avaliar a necessidade de reajuste na dose 118,119,125.

Após atingido o estado eutiroideu durante três meses, a monitorização da concentração de T4t deve ser realizada a cada três a seis meses. A meta a atingir em gatos tratados com metimazol é a obtenção de concentrações de T4t na metade inferior do intervalo de referência 152.

Esquema 4. Monitorização da terapêutica com metimazol. Adaptado de Feldman E.C et al (2014).

8.1.2 Metimazol na forma transdérmica

A causa mais comum de insucesso da terapia com metimazol oral deve-se às dificuldades por parte dos proprietários em administrar a medicação. A formulação transdérmica facilita o fornecimento do fármaco, pois a sua aplicação é feita no interior do pavilhão auricular

119,120,125,152,153,154

.

A dosagem e a frequência de administração é igual à da terapêutica oral, no entanto a

biodisponibilidade e a eficácia são variáveis 119. Estudos relatam que no tratamento

transdérmico cerca de 4% dos animais manifestam efeitos adversos gastrointestinais, em contraste com 24% registados em animais que foi administrada a fórmula oral. Na fórmula transdérmica, o efeito adverso mais comummente descrito foi o surgimento de eritema no local

74 Estudos relativos à eficiência do tratamento com metimazol transdérmico, em contraste com a formulação oral, revelam que a via transdérmica pode demorar mais tempo a atingir concentrações séricas de T4t dentro dos intervalos de referência, no entanto o estado de eutiroideu é alcançado. Quando comparada a eficiência das fórmulas transdérmica e oral, concluiu-se que às quatro semanas de tratamento, 67% dos animais tratados com metimazol transdémico encontravam-se eutiroideus, em contraste com os tratados por via oral em que a percentagem foi de 87% 125,152,153,154.

A formulação transdérmica do metimazol ainda não está disponível em Portugal 155.

8.1.3 Carbimazol

O carbimazol é outro princípio ativo que pode ser usado no controlo do hipertiroidismo felino. É

semelhante ao metimazol, sendo convertido neste ao nível do trato gastrointestinal.

A comparação da eficácia do metimazol e do carbimazol sugere que administrados em dose igual (5 mg) o carbimazol produz concentrações plasmáticas de metimazol 50% mais baixas. A conversão do carbimazol em metimazol no trato gastrointestinal reflete o facto de 5mg de carbimazol originarem cerca de 3 mg de metimazol, o que torna necessário uma adequação da

dosagem quando este é administrado 120,125,152,153,154,156.

A dose inicial deve ser de 5 mg a cada oito ou 12 horas, no entanto, recentemente foi desenvolvida uma formulação de libertação prolongada em que a dose recomendada é de 10-

15 mg em toma única 125.Estudo comparativo entre a eficácia da terapêutica com carbimazol

em toma bidiária e toma única de comprimido de libertação prolongada concluiu que a fórmula

de libertação prolongada obtém melhor controlo das concentrações de T4t 156.

Está descrito por alguns autores uma diminuição no surgimento de reações adversas quando usado o carbimazol, comparativamente com o que acontece com o metimazol, apenas sendo referido o aparecimento de distúrbios gastrointestinais associados a este fármaco 125,152.

O uso de carbimazol no tratamento do hipertiroidismo felino deve ser evitado em animais que já manifestaram reações adversas ao metimazol 134.

8.1.4 Propiltiouracilo (PTU)

O PTU foi o primeiro fármaco usado no tratamento do hipertiroidismo felino. Embora seja eficaz no bloqueio da síntese de hormonas tiroideias, o uso de PTU pode dar origem ao aparecimento de alguma sintomatologia adversa que pode variar de leve a grave, o que faz com que atualmente não seja usado no tratamento deste distúrbio 125.

Este fármaco necessita de ser administrado em doses mais elevadas do que os outros fármacos anti-tiroideus para normalizar as concentrações séricas de T4t 152.

Os efeitos adversos causados pelo uso de PTU são semelhantes aos que habitualmente se manifestam em gatos tratados com metimazol ou carbamizol. Também a deficiência em taurina compromete a eliminação do fármaco, exacerbando os efeitos colaterais do PTU 125,152.

75 O uso de metimazol está desaconselhado em animais que desenvolveram sintomatologia adversa ao PTU, pois estes são bastante semelhantes a nível estrutural. Alguns autores referem que embora semelhantes, o PTU origina efeitos adversos mais severos 125,152,157.

No documento Clínica de animais de companhia (páginas 88-91)