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Na maioria dos municípios, a mobilização social limita-se aos con-selhos obrigatórios nas áreas de saúde e educação. Concon-selhos de política urbana ou habitação são pouco expressivos. Mas em mui-tos se destaca o trabalho das comunidades de base feito pela Igreja Católica, ou a organização das comunidades rurais em função da produção.

A abertura de espaços institucionais de participação terá muito mais chance de sucesso (tanto em pequenos municípios como em gran-des), se houver vontade política de romper com a prática tradicional:

autoritária, clientelista e vertical. Não faz sentido reproduzir, para a estrutura social de uma pequena cidade, os complexos instrumentos de mobilização presentes nas grandes metrópoles, com a sua multi-plicidade de arenas representativas e mecanismos de participação.

Outro grande diferencial na capacidade de planejamento dos municípios de mesmo porte resulta do seu grau de integração microrregional, nas suas diversas formas: consórcios, associações microrregionais, pactos, fóruns de desenvolvimento, comitês etc. A capacidade municipal para elaborar o Plano Diretor será tanto maior quanto mais o município estiver articulado com os demais municí-pios da microrregião e iniciar seu processo de planejamento a partir da identifi cação da sua vocação regional, da divisão de papéis, entre outros pontos.

Essa articulação, não só potencializa a solução de problemas co-muns e qualifi ca os resultados, como permite otimizar recursos no processo de elaborar o Plano Diretor, ao possibilitar a contratação de serviços comuns como consultorias, elaboração de cadastros, estu-dos, mapeamento, dentre outros.

fenômeno poderá ser tanto mais provável quanto menor seja a real mobilização social em torno do processo de realização e implemen-tação de um Plano Diretor.

Considerando as especifi cidades dos pequenos municípios, assim como experiências com êxito, como a de Pernambuco, em que, se a simplifi cação e a estratégia gradual de elaboração dos Planos Di-retores possibilitou grandes avanços, cabe concluir com algumas recomendações de caráter aplicativo.

A primeira dessas recomendações é que, independente da aborda-gem metodológica que se adote, o processo de elaborar o Plano pode ser resumido em organizar a comunidade local para responder três perguntas-chave: Que município temos? Que município desejamos?

Que acordo podemos fi rmar para alcançar essa situação desejada?”

O Estatuto da Cidade prevê que as respostas a essas perguntas devem estar representadas num conjunto mínimo de diretrizes, comuns a todos os Planos Diretores, independente do porte do município. Os Planos Diretores devem contemplar, pelo menos, a delimitação da zona urbana e rural; estabelecer em que áreas o município pode crescer em termos construtivos e também populacionais (adensa-mento construído e populacional); a identifi cação de áreas de risco ou muito vulneráveis (como encostas íngremes, áreas inundadas ou áreas de mangue); a reserva de espaços de preservação ambiental e de desenvolvimento das potencialidades municipais; a valorização do patrimônio cultural,a reserva de terrenos para produzir moradia digna para população de baixa renda, instrumentos para regularizar as moradias e a economia informal e para a gestão compartilhada na implementação e monitoramento do Plano Diretor.

Quatro aspectos, de caráter mais geral, devem também ser ressalta-dos no contexto específi co da elaboração de Planos Diretores para municípios de pequeno porte.

O primeiro deles é a identifi cação clara dos problemas prioritários a se enfrentar, na escala do município, refl etindo as suas especifi

ci-dades, evitando-se repetir modelos e soluções supostamente arroja-das, espelhadas nos processos e instrumentos aplicados em grandes centros urbanos.

O segundo aspecto diz respeito a uma imprescindível leitura e arti-culação na escala regional, reconhecendo-se que o foco necessário no município não pode ser fator limitante para que se compreenda o papel do município no contexto de uma rede urbana mais ampla abrangendo o cenário microrregional e as relações com as principais cidades no estado.

O terceiro refere-se à necessidade de buscar integração e apoio ins-titucional da esfera estadual e, na medida do possível, federal. Com esse apoio, as administrações locais terão melhores condições para realizar o Plano Diretor, particularmente no que diz respeito a mobi-lizar pessoal qualifi cado e sistemas de informações estruturados.

Qualquer que seja o porte do município, é importante ter um cadas-tro bem feito, que identifi que todos os lotes e construções, seus usos, a rede de infra-estrutura da cidade. Hoje, é possível ter um cadastro informatizado para um pequeno ou médio município a custo relati-vamente baixo e utilizando os dados do IBGE por setor censitário. É possível atender uma planta físico-territorial com informação socio-econômica sobre as famílias moradoras e as atividades instaladas.

Para uma pequena cidade, o levantamento em campo apenas com equipe de topografi a para atualização de planta também não é mui-to cusmui-toso. Na falta de opção melhor, pode-se mui-tomar como base as plantas dos serviços de abastecimento de água ou da rede elétrica.

A contratação dos serviços de levantamento e cadastro, se feita por um conjunto de municípios, pode otimizar recursos e melhorar as condições de existência técnica.

O último aspecto remete à dimensão política do planejamento, reco-nhecendo-se que há sujeitos e interesses distintos no contexto local e que somente a construção de um processo aberto e representativo será capaz de dar lugar a um Plano Diretor que represente os inte-resse da maioria e tenha possibilidade de transformar efetivamente a realidade local.

tema 6

plano diretor e política habitacional

A Constituição Federal de 1988 reconhece o direito à moradia como direito social básico e amplia o conceito além da edifi cação, incor-porando o direito a infra-estrutura e serviços urbanos. As diretrizes dessa política serão defi nidas no Plano Diretor municipal.

A política habitacional é instrumento para alcançar o direito à mora-dia e passa, necessariamente, pela esfera municipal. A importância da política habitacional no desenvolvimento urbano, econômico e social das cidades relaciona-se com o processo de reprodução social do espaço urbano, em pelo menos três aspectos: social, econômico e territorial.

A política habitacional não pode ser compreendida simplesmente como política de construção de conjuntos habitacionais, reurbaniza-ção e requalifi careurbaniza-ção de edifi cações. Seu objetivo deve ser satisfazer uma das necessidades básicas da população – um povo com carên-cias habitacionais sérias é um povo amputado na sua capacidade de desenvolvimento e de progresso social e cultural.

Os aspectos sociais da política da habitação podem ser discutidos e encaminhados, em três políticas:

• Uma política de subsídio que consiste em o poder público mobilizar recursos para viabilizar a produção e comercia-lização subsidiada de habitação para população de menor renda, atendendo parcela da população que não tem condi-ções para adquirir, locar ou arrendar uma moradia no preço de mercado;

• Uma política de redistribuição do rendimento, que facili-ta o acesso à habifacili-tação mediante bonifi cações fi nanceiras, incentivos fi scais, subsídios de renda, entre outros, de uma

parte signifi cativa da população, que tem difi culdade cada vez maior para pagar os preços no mercado de compra ou aluguel de imóveis;

• Uma política de integração social, que é destinada a combater os fenômenos de segregação urbana, a formação de ghettos na periferia das grandes cidades, os fenômenos de segregação urbana; os desequilíbrios sociais e urbanísti-cos, com as respectivas conseqüências da elevação da crimi-nalidade e da degradação social.