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O DESAFIO EPISTEMOLÓGICO DO CONHECIMENTO ESPECÍFICO: AS TEORIAS DE ENFERMAGEM.

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CAPITULO I A ENFERMAGEM, SEU ENSINO E OS DESAFIOS ATUAIS DE MUDANÇA.

1.3. O DESAFIO EPISTEMOLÓGICO DO CONHECIMENTO ESPECÍFICO: AS TEORIAS DE ENFERMAGEM.

Como podemos verificar a prática do cuidado de um ser humano a outro enquanto atividade da enfermagem é secular. Mas, como campo de conhecimento cientificamente fundamentado e de práticas sistematizadas, a enfermagem é relativamente nova, com menos de um século de existência.

No entender de Trentini e Paim Apud Freitas (2002) a enfermagem moderna brasileira foi criada com base no componente cognitivo ideológico da enfermagem norte- americana. Inicialmente esforçou-se para configurar-se como profissão. Posteriormente, buscou constituir-se como ciência, estabelecer-se como área de conhecimento e apropriar-se dos requisitos e instrumentos científicos estabelecidos pela ciência moderna. Mas, em sua

gênese histórica constituiu-se como uma atividade de forte conteúdo prático, com uma divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual por meio das diversas categorias. Com isso, a profissão acabou tendo pouca sustentação científica em virtude da frágil teorização.

O saber do enfermeiro, afirma Machado (1999), não constitui um saber específico, já que é compartilhado e, ao mesmo tempo, disputado com as categorias de técnico e auxiliar de enfermagem, condição essa que restringe sua autonomia técnica e profissional.

A partir de Florence Nightingale a enfermagem tenta se firmar enquanto profissão detentora de um corpo teórico que a sustente e de uma prática metodologicamente sistematizada. Embora as idéias de Nightingale tenham sido divulgadas na segunda metade do século XIX, somente a partir da década de 1950, que se começou a articular e sistematizar novas visões teórico-filosóficas acerca da Enfermagem. Desta forma as teorias de enfermagem surgem na tentativa de prover base teórica e conhecimentos próprios para as ações da enfermagem. (GARCIA; NOBREGA, 2004).

A despeito disso as teorias de enfermagem surgem na década de cinquenta e, de acordo com Schaurich; Crossetti (2010), com o objetivo de caracterizar, explicar, interpretar conceitualmente fenômenos de domínio de interesse da enfermagem, constituindo o saber da enfermagem em bases sólidas como um referencial teórico/metodológico para o enfermeiro. A finalidade maior das teorias é a de consolidar a enfermagem como ciência. Em seu conjunto, elas apresentam em comum uma concepção de ser humano como aquele a quem se destina o cuidado de enfermagem. Outros elementos presentes nas teorias de enfermagem como seu foco de ação são o ambiente e a saúde.

Como já mencionado, no Brasil, a década de 1980 foi de grandes efervescências social, política e científica. Para a enfermagem o momento histórico foi particularmente importante, em virtude das críticas e auto-críticas que possibilitaram que os profissionais se resumiam a realizar o cuidar destituído das várias dimensões que o compõem, uma vez que implementavam uma prática fundamentada no modelo europeu nightingaleano de enfermagem e flexneriano de formação profissional, que não satisfazia às necessidades sociais do sistema de saúde e da profissão. Era necessário desenvolver a compreensão do ser humano em sua totalidade que demandava um cuidado mais complexo, capaz de atender às várias dimensões do humano, não apenas a biológica. Essa mudança dependia também da urgente necessidade da enfermagem se firmar enquanto ciência que possuía saber próprio.

Deste intento, na tentativa de sistematizar e teorizar uma prática secularmente estruturada no fazer, iniciou-se um processo de construção da identidade científica da enfermagem. A elaboração das Teorias de Enfermagem representou uma rica possibilidade.

Conforme analisam Schaurich; Crossetti as teorias amparam os enfermeiros “na definição de seus papéis, na aproximação da realidade e consequentemente na adequação e qualidade do desempenho profissional, bem como na produção de conhecimento” (SCHAURICH; CROSSETTI, 2010, p.187).

A formação do enfermeiro se estabelece também como lócus da apropriação teórica do conhecimento específico consubstanciado nas teorias de enfermagem. Assim, mais uma mudança passa a ser objeto das discussões e empreendimentos tendo como alvo a formação de enfermeiros. Para Valsecchi (2004), ao lado da superação dos modelos nightingaleano / flexneriano, acrescenta-se como desafio, a partir do final da década de 1980, era o da apropriação do conhecimento específico sistematizado nas teorias enquanto estratégia de cientificização da profissão. Todos os desafios passaram para a formação e o ensino que demandavam mudanças de variada natureza, sobretudo pedagógicas, particularmente em relação à forma de organização do ensino.

Neste capítulo buscamos mostrar que o desenvolvimento histórico do ensino de enfermagem no Brasil e em Goiás esteve fortemente entrelaçado à reprodução de determinado modelo de enfermagem, o modelo nightingaleano, reforçado pelo modelo flexneriano. Mostrou-se também que esses modelos se reproduziram por meio do ensino tradicional.

Embora seja uma busca que se empreende a tempos no ensino da enfermagem, o que percebemos é que atualmente nenhum desses modelos é capaz de promover a formação de um enfermeiro com os conhecimentos e as práticas necessárias para sustentar um cuidado voltado às reais necessidades das pessoas em um contexto social tão mais complexo, contraditório, cheio de desigualdade sociais que repercutem em todo a estrutura do sistema de saúde. Assim, são buscadas alternativas que promovam mudanças na formação desse profissional.

No próximo capítulo são apresentadas as duas principais abordagens metodológicas que vem sendo adotadas e apontada uma terceira, fundamentada na teoria histórico-cultural, que se considera uma alternativa que avança em relação a essas duas.

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CAPITULO II – AS METODOLOGIAS ATIVAS ADOTADAS NO

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