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Internalização, apropriação e reprodução

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CAPITULO II – AS METODOLOGIAS ATIVAS ADOTADAS NO ENSINO DE ENFERMAGEM, SUAS INSUFICIÊNCIAS E A

2.2. TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL

2.2.1.3. Internalização, apropriação e reprodução

O que permite ao homem tornar-se humano é a apropriação da cultura, elaborada historicamente. Esta apropriação não se processa de forma passiva, por meio da simples assimilação e memorização de fatos ou ações. Ela se constitui de forma ativa, quando o sujeito as internaliza e re-elabora, atribuindo-lhes um significado pessoal.

A apropriação dos conceitos espontâneos ocorre desde os primeiros anos de vida, mas os teóricos ocorrem por meio do ensino escolar, intencional e sistematizado. A reprodução ocorre na medida em que o sujeito se apropria de determinado conceito e torna-se capaz de recriá-lo de forma independente.

Para o desenvolvimento do processo de interiorização é fundamental que se estabeleçam relações sociais, as quais permitem que os conceitos partilhados, inicialmente no nível social - interpsicologicamente, se processe em um segundo nível individual – intrapsicologicamente. Dessa forma, a internalização se refere a um processo mediante o qual se concretiza a reorganização de uma função psicológica socializada externa, para o plano individual, interno, cujo objetivo é a apropriação dos conceitos. Daí decorre a importância dada por Vygotsky às relações sociais. De acordo com Moura,

Concebe-se, portanto, que o desenvolvimento do psiquismo humano é decorrente da relação entre o sujeito e o mundo, mediado pelo conhecimento elaborado historicamente, que se objetiva na aprendizagem em geral e em condições particulares devidamente organizadas para esse fim, como é o caso da aprendizagem decorrente da atividade pedagógica. (MOURA, 2010, p. 46)

Nessa perspectiva, é por meio da apropriação cultural que o homem amplia seus horizontes, modifica o modo como se relaciona com a realidade e transforma a forma e o conteúdo de seu pensamento.

2.2.1.4. Conceitos espontâneos e científicos e a formação do pensamento empírico e teórico

De acordo com os pressupostos da teoria de Vygotsky (2008), no processo de desenvolvimento da mente humana destaca-se a formação de conceitos. Ele distingue dois tipos de conceitos, os espontâneos ou cotidianos e os científicos, compreendendo que sua formação e desenvolvimento ocorrem sob condições internas e externas que são diferentes conforme se originem da aprendizagem na escola ou na experiência social. Portanto, os processos que estão na base da formação desses conceitos são diferentes.

Os conceitos espontâneos são internalizados pelo sujeito a partir das relações que estabelece com o contexto cultural, ou seja, nas relações com as pessoas e os objetos. São baseados em dados sensoriais, obtidos por meio da percepção de suas características aparentes, com destaque para as suas propriedades comuns.

Já os conceitos científicos são formados a partir de mediações resultantes de conteúdos científicos, de forma sistematizada e organizada intencionalmente. Escreve o autor:

um conceito é mais do que a soma de certas conexões associativas formadas pela memória, é mais do que um simples hábito mental; é um ato real e complexo de pensamento que não pode ser ensinado por meio de treinamento, só podendo ser realizado quando o próprio desenvolvimento mental da criança já tiver atingido o nível necessário (VYGOTSKY, 2008, p. 104).

Antes da formação dos conceitos científicos a criança desenvolve, segundo Vygotsky (2008), “pré-conceitos” ou “conceitos potenciais” sendo responsáveis pela formação pré-intelectual, os quais possibilitam a formação dos conceitos científicos. Essa fase se caracteriza pela formação de inúmeras conexões de pensamento, porém ainda pobres em abstrações. Os conceitos científicos se formam, sobretudo, na educação escolarizada, por meio da exigência de formas de pensamento mais complexas, envolvendo relações mais abstratas e generalizadas. Os conceitos científicos envolvem às reais relações dinâmicas que estão na origem de um objeto ou fenômeno (social, natural, cultural etc.). Para chegar ao conceito, de acordo com Vygotsky (2008) é necessário que o sujeito realize a análise genética (da gênese, da origem) do fenômeno ou objeto, que permite explicá-lo com base na sua origem, na sua essência e não somente em sua aparência externa.

Na mesma perspectiva, Sforni aponta que “os conhecimentos científicos tem justamente que passar da descrição dos fenômenos à revelação da essência como nexo interno dos mesmos [...]”. (SFORNI, 2004, p.65)

A interpretação de Fichtner (2010) sintetiza de forma muito esclarecedora a distinção entre os conceitos espontâneos e os conceitos científicos. Para o autor, dentre outros aspectos, o que os distingue um do outro é o fato de os primeiros terem como foco a atenção nos objetos e os segundos, no próprio ato de pensar.

O surgimento de conceitos científicos em uma pessoa está diretamente ligado ao desenvolvimento de suas funções mentais, de seu pensamento, de sua capacidade cognitiva. Isto nos permite entender que para partir dos conhecimentos espontâneos e ascender aos conhecimentos científicos e, conseqüentemente, ao desenvolvimento do pensamento, um sujeito necessita de um ambiente educacional que propicie esse movimento de pensamento, possibilite formas de pensar e também de aplicar os conceitos mais elaborados. Assim, fica evidenciada a importância da ação pedagógica, do professor, dirigida à interiorização e apropriação de conceitos científicos pelo aluno, pois isso impulsiona o desenvolvimento cognitivo. (MOURA, 2010).

Daí o papel de destaque conferido por Vygotsky ao ensino, como meio de proporcionar o desenvolvimento cognitivo do aluno. Para o autor o ensino é efetivo quando encaminha o desenvolvimento do aluno no sentido de formação de funções mentais.

Van der Veer e Valsiner enfatizam que para Vygotsky a aprendizagem escolar permite à criança, ao aluno, aprender a transformar uma capacidade ‘em si’ em uma capacidade ‘para si’, cabendo ao professor criar as condições para que os processos cognitivos se desenvolvam, “mas sem implantá-los diretamente na criança”. (VAN DER VEER E VALSINER, 2006, p. 358)

DAVYDOV E O CONHECIMENETO EMPIRICO/PENSAMENTO EMPIRICO Moura (2010) elaborou, com base em Rubtsov, um quadro apresentado a seguir estabelecendo a distinção entre conhecimento empírico e conhecimento teórico.

Características Conhecimento empírico Conhecimento teórico Elaboração Mediante a comparação dos objetos às

suas representações, valorizando assim as propriedades comuns dos objetos.

Por meio de uma análise do papel da função de certa relação entre as coisas no interior de um sistema.

Tipo de generalização Generalização formal das propriedades dos objetos que permite situar os objetos específicos no interior de uma determinada classe forma.

Forma universal que caracteriza simultaneamente um representante de uma classe e um objeto particular. Fundamentação Observação dos objetos. Transformações dos objetos.

Tipo de representação Representações concretas do objeto. Representa a relação entre as propriedades do objeto e as suas ligações internas.

Relações A propriedade formal comum é análoga

às propriedades dos objetos. Estabelece uma ligação entre o geral e o particular. Concretização Por meio de escolha de exemplos

relativos a certa classe formal. Mediante a transformação do saber em uma teoria desenvolvida por meio de uma dedução e uma explicação Forma de expressão Um termo. Diferentes sistemas semióticos Fonte: Moura (2010, p.77)

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