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O ensino de enfermagem com base em princípios da teoria de V V Davydov um experimento didático.

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CAPÍTULO III: UMA METODOLOGIA DE ENSINO MAIS PROMISSORA PARA O DESENVOLVIMENTO DO ALUNO NO CURSO DE ENFERMAGEM

5. O ensino de enfermagem com base em princípios da teoria de V V Davydov um experimento didático.

De acordo com Freitas (2010) o experimento didático serve à investigação pedagógica da relação existente entre ensino e o desenvolvimento cognitivo dos alunos.

O experimento didático formativo visa analisar mudanças qualitativas no pensamento do sujeito em função de seu aprender e a partir de certo modo de ensinar. As mudanças são investigadas como processos inseparáveis do aprendizado e decorrentes da realização de uma tarefa. A tarefa e seus passos estruturam-se em torno de determinado conceito científico a ser aprendido. Esses passos, orientados pelo professor (sujeito e colaborador da pesquisa) ao serem cumpridos pelos alunos (sujeitos da pesquisa) exigem determinado movimento de pensamento que pode resultar em mudanças. O interesse do pesquisador recai sobre o modo como, nas ações de aprendizagem, os alunos vão formando conceitos e, assim, criando para si procedimentos de pensamento (FREITAS, 2010, p.6)

Os resultados obtidos por Vygotsky através de seus estudos experimentais acerca do desenvolvimento psicológico humano constituíram a base para os experimentos realizados por Davydov cujo objetivo era analisar a formação e o desenvolvimento do pensamento dos alunos a partir de ações de ensino realizadas pelos professores. Daí a denominação, também, de experimento didático formativo, porque enfoca a formação de funções mentais. Assim, conforme descreve Marzari (2010), o experimento didático formativo pode ser compreendido como uma intervenção pedagógica voltada às ações mentais dos alunos.

A forma de organização do ensino proposta por Davydov (1988) na verdade consiste em organizar e orientar a atividade de aprendizagem dos alunos. Como descrito anteriormente, ele propõe um caminho orientado pelas seguintes ações: 1 - Transformação dos dados da tarefa e identificação da relação universal do objeto estudado; 2. Modelação da relação encontrada em forma objetivada, gráfica ou literal; 3. Transformação do modelo para estudar suas propriedades intrínsecas; 4. Construção do sistema de tarefas particulares que podem ser resolvidas por um procedimento geral e 5. Controle (ou monitoramento) da realização das ações anteriores.

A partir dessas ações, a proposta do experimento didático foi apresentada à professora do eixo Instrumentos Básicos do Cuidar, ainda no primeiro semestre de 2010, para que pudesse ser desenvolvido no segundo semestre do mesmo ano. Embora o planejamento inicial tenha sido a realização do experimento entre os meses de setembro e outubro, devido à mudanças no calendário escolar, tivemos que alterar a data de realização para novembro, período que coincidiu com as avaliações periódicas e apresentações das monografias dos alunos concluintes (atividade em que alguns professores liberam os seus alunos para comparecerem às apresentações).

Realizamos previamente encontros com a professora com o objetivo de apresentar e discutir com ela alguns dos princípios da Teoria Histórico-cultural e da Teoria do Ensino Desenvolvimental, com a finalidade de oportunizar a aproximação, ainda que breve, do

referencial teórico a ser utilizado na pesquisa. Esses encontros foram importantes também para que a professora formasse uma compreensão dos procedimentos do experimento, tais como observação do envolvimento dos alunos, das formas de participação e das falas, associando-se ao movimento de pensamento de forma entrelaçada às ações da professora na aula.

A possibilidade de realização do experimento didático gerou, no início, ansiedade tanto para a pesquisadora como para a professora. Por parte da pesquisadora, dentre outras razões, por se tratar da primeira experiência com a aplicação da teoria escolhida e, também, pelo fato de ser docente no Eixo, o que poderia causar certo constrangimento à professora participante da pesquisadora. Por sua vez, a professora se preocupava em colaborar com a pesquisa. Além disso, era sua primeira experiência em uma pesquisa e o fato de “descobrir”, pela compreensão de alguns conceitos, que seu papel poderia interferir no modo pelo qual os alunos poderiam se apropriar dos conceitos causava ainda mais ansiedade. No entanto, no decorrer da pesquisa, a ansiedade cedeu lugar a um trabalho colaborativo, de compreensão e de parceria.

A realização do experimento deu-se a partir da elaboração de um plano de ensino envolvendo o conceito “insulinoterapia”, formulado de acordo com algumas ações descritas por Davydov (1988). A professora procedia conforme estabelecido no plano e a pesquisadora observava e realizava os registros no diário de campo. Ao final de cada aula do experimento, professora e pesquisadora reuniam-se para assistir as filmagens e conversar sobre a próxima aula.

O eixo “Instrumentos básicos do cuidar”, como já mencionado, envolve conceitos que para serem aprendidos exigem do aluno que estabeleça relações com conceitos de diversas áreas de conhecimento, fazendo relações e análises mais complexas. O conteúdo insulinoterapia é um deles e envolve conhecimentos de anatomia, fisiologia, bioquímica, endocrinologia, entre outros, como base para o cuidado de enfermagem à pessoa em processo de Diabetes Mellitus. Nesse caso, em vez de apenas um conceito, temos uma rede de conceitos de diversas áreas de conhecimento.

Para a realização do experimento didático, após a solicitação da participação voluntária dos alunos e mediante seu aceite, apresentamos a eles, em linhas gerais, a proposta de ensino. Esse procedimento foi feito porque consideramos que participação dos alunos no desenvolvimento do experimento seria mais efetiva se conhecessem e estivessem bem orientados sobre o “caminho do ensino”, diferente do que estava sendo colocado em prática no curso.

A turma pesquisada era composta em sua maioria por mulheres (43 no total de 47 alunos), situação recorrente nas turmas de enfermagem, que historicamente é exercida por mulheres, com poucos integrantes homens. As idades variam de 19 a 47 anos com uma média de 21 anos. A maioria dos alunos não trabalha fora, uma vez que o curso de enfermagem na PUC-GOIÁS é realizado em período integral, dessa forma, os alunos realizam atividades de estágio curricular, no período matutino, e cursam as disciplinas, no período vespertino, geralmente até as 18h30 min. Além destas atividades, os alunos do 5º ciclo devem comparecer ao laboratório de habilidades,14 pelo menos 11 dias no semestre para a realização dos procedimentos e das técnicas que fazem parte dos conteúdos do eixo, em horário que não coincida com as aulas e estágios.

Os alunos pareciam ter entre si um bom relacionamento. A participação nas aulas de forma voluntária acontecia por parte de poucos alunos, inclusive na solicitação de esclarecimento de dúvidas pelo professor. A distribuição dos alunos na sala de aula apresentava um padrão em que os grupos se mantinham juntos com pouca variação dos integrantes durante o transcorrer do semestre. Na turma havia um grupo formado por seis alunas que estavam em fase de conclusão do curso, mas cursavam o eixo por terem sido reprovadas.

Os alunos que mais participavam, demonstrando certo domínio e segurança, geralmente eram em geral os mesmos um conhecimento melhor sobre o conceito (função pancreática/insulinoterapia), o que permite uma participação mais efetiva (alunos 16, 22, 27, 33, 38, 42 - esta última mais tímida, se manifesta menos, mas quando o fazia era com coerência). Também a aluna 24, segundo a avaliação da professora, frequentemente fazia observações coerentes que demonstram sinais de que estava com um pensamento organizado em relação aos assuntos abordados em sala.

O aluno 38 desde o primeiro contato, em sala de aula, demonstra interesse, se dedicava e participava das tarefas propostas e das discussões. Posicionava-se sempre na frente e parecia que a turma deposita muita credibilidade em relação aos seus conhecimentos. Vale ressaltar que o referido aluno é o representante de turma e participa de outras atividades na instituição, como semanas culturais, eventos científicos, oficinas, entre outros.

A divisão dos grupos em sala de aula se dava por afinidade. Todos os grupos possuíam a figura de um aluno que se destaca por possuir uma melhor compreensão do tema e

14 O laboratório de habilidades destina-se às aulas teórico-práticas, sendo utilizado pelos alunos dos cursos da

área da saúde. Nesta laboratório encontram-se os materiais, bonecos e mobiliários que simulam o atendimento ao paciente no ambiente hospitalar.

apropriação de conceitos necessários ao movimento de pensamento em relação aos novos conteúdos em estudo. Geralmente era ele que apresentava as conclusões do grupo e, também, conduzia e finalizava as discussões. Em geral existia um aluno com tais características em cada grupo, sendo esta configuração organizada sem a influência da professora. Acreditamos que, talvez, o fato se deva à escolha, por parte dos alunos, de comporem um grupo onde pudesse contar com um colega que possuía maior domínio ou esclarecimento acerca dos conteúdos.

Apesar dos alunos estarem inseridos em uma proposta de ensino considerada inovadora, a metodologia da problematização, mantém em seu processo de aprendizagem fortes marcas do modelo tradicional, com dependência da figura do professor, com ações de aprendizagem focadas na memorização mecânica como forma de aquisição de conhecimento e com poucos hábitos de discussões em grupo.

No início do semestre em que foi realizado o experimento verificamos que a pontualidade dos alunos para chegarem à sala de aula era melhor. Ao longo do semestre os alunos passaram a demorar de 15 a 20 minutos para adentrar na sala. Tal atitude passou a ser observada no decorrer do semestre letivo, mais especificamente, a partir do mês de outubro. Acreditamos que um dos fatores que tenha contribuído para isso tenha sido a intensificação das atividades acadêmicas como: aulas, estágios e atividades avaliativas.

5.1 – Buscando Formar o Princípio Geral de Insulinoterapia e Desenvolver sua Modelação No quadro abaixo apresentamos a disposição dos alunos em sala de aula. Notamos que os alunos encontram-se dispersos. A posição para o início das atividades foi modificada, uma vez que a professora solicitou que se reunissem em grupo e orientou como seriam realizadas as atividades nos três dias destinados à realização do experimento didático. No início da aula a disposição dos alunos não apresentava uma determinada ordem no sentido da colocação das carteiras que eram dispostas, por eles, de forma a agruparem-se. Deixamos de observar a colocação de carteiras em que os alunos ficassem de costas para a docente, mas, em alguns casos ficavam de lado, posicionando-se de frente aos colegas, e, em geral, com os que costumeiramente se aproximavam. Percebemos que durante todo o semestre os alunos do sexo masculino sentavam sempre juntos.

Quadro 1: Distribuição dos alunos na sala de aula antes do experimento didático.

Nas duas primeiras aulas do ensino experimental estavam presentes 25 alunos no início da aula. Após cerca de 30 minutos chegaram mais 5 alunos e quase ao final da aula outros 5 alunos. A ausência de outros possivelmente ocorreu em função de que, naquele dia, aconteciam as apresentações dos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) por parte dos alunos de enfermagem e alguns professores (inclusive a que antecedia a aula em que era realizado o experimento) haviam dispensado os alunos para que pudessem participar das apresentações. Por um lado, isso prejudicou a freqüência e a pontualidade dos alunos, por outro, mostrou o esforço d e muitos alunos em participar da pesquisa ao comparecerem à aula.

O aluno 14, geralmente pontual às aulas, sentava-se à frente e à esquerda do quadro, juntamente com os alunos 38 e 46, porém não compondo um grupo. Durante as aulas sua participação era freqüente, mas suas intervenções revelavam ideias pouco estruturadas e havia um clima de crítica por parte dos demais colegas. No primeiro dia do experimento, em função de ter se atrasado para o início da aula, sentou-se ao fundo da sala com as alunas 31 e 23.

Nessa aula aplicamos um teste inicial no qual foi apresentado um caso clínico15 que retratava alterações orgânicas decorrentes da falta e/ou má utilização da glicose a fim de que os alunos identificassem as possíveis alterações e apontassem as causas para o quadro clínico apresentado. O caso clínico deveria ser respondido individualmente e foi solicitado que os alunos se identificassem para possível comparação com as respostas emitidas no teste final que seria aplicado no término do experimento didático.

Dos 47 alunos que compunham a turma, somente 33 participaram tanto do teste

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